Era terça-feira, provavelmente algum dia de setembro, o tempo estava meio frio. Por volta de umas 9 horas. Estava acontecendo um show de talentos na escola de Julie. A turma dela não iria apresentar nenhum número, eles nunca participavam dessas coisas. Alguns de seus colegas estavam zombando daqueles que se apresentavam, filmando, gritando e rindo, babacas. A diretora não estava com uma cara de alguém muito feliz.

  Já haviam apresentado uns 10 números, talvez 15. As seis meninas de mini saia dançando deviam ser as penúltimas. O próximo era Filipe. Filipe, Filipe, Filipe. Que menino era esse? Subiu no palco envergonhado. Tocou no piano uma música triste. Sem nenhuma partitura, nenhuma folha, decorada. Parecia que ele tocava aquela música há anos. Parecia difícil, e as ouvidos de quem não entendia, ele não havia errado nenhuma nota.

     Agora Lívia e Tereza entraram na onda das risadas. Mel havia faltado aula. Quando o tímido garoto terminou sua música, e a diretora, e os coordenadores estavam com os olhos marejados, por conta da música, o show finalmente terminou. Julie decidiu que queria falar com ele, dizer qualquer coisa, que sua música era bonita, que ela gostou do seu cabelo bagunçado, pra ele não ligar pros comentários, enfim, qualquer coisa bastava.

-Ei, ei, menino, você, você ai! Você que tocou piano, ta me ouvindo? -“Como é mesmo o nome dele? Fil, Fernando, não, não é assim, FILIPE!”-Espera Filipe!

    Filipe parou no meio do corredor. Olhou pra trás, viu Julie. Pensou que ela podia ser uma maluca querendo o telefone dele, ou querendo zombar dele, ou perguntar se ele não tinha nenhuma “noção de estilo” pra usar aquela roupa, e o cabelo bagunçado. Mas pensou que ela podia ser legal então esperou. Ela era bonita. Tinha covinhas, ele gostava de covinhas.

-Oi, meu nome é Julie, seu nome é Filipe, é isso? Bom, eu só queria dizer que você tocou muito bem aquela... Hã... Música triste, e... –Ela falou ofegante, havia corrido entre os outros alunos.

-Ah, oi, prazer Julie, muito obrigado, eu gosto muito dela, muito mesmo.

      Ela olhou pra trás, Lívia e Tereza estavam rindo. Pensando no quanto ela estava sendo careta por falar com ele. Julie não via nada de mais nisso. Ela era diferente das outras garotas. Ela se sentia diferente. Não esquisita, mas diferente.

-Bom, eu preciso ir, tenho física agora, a gente se vê, algum dia... – Disse Julie saindo correndo, com medo de se atrasar. Sem nem deixar Filipe terminar de falar.

-Tudo bem, e Julie, Julie seu sorriso é lindo.

-Obrigada Filipe!

Ela já estava longe.Com as amigas. Com os colegas. Aqueles que haviam zombado e feito gracinhas e Filipe. Ele esperava poder vê-la de novo algum dia. Talvez amanhã.