A Culpa de Haruhi escrita por Sereny Kyle


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/32460/chapter/1

Era mais um dia da minha vida que eu acreditava que seria normal. E mais um dia que eu estava me iludindo ao acreditar nisso.


Eu já estava mais do que acostumado a frequentar a estranha sala da Brigada SOS, todas as tardes depois das aulas durante o ano.


Sem pensar, eu me dirigi novamente até lá, foi quando meu sentimento de que seria só um dia normal se esvaiu: encontrei apenas Suzumiya Haruhi na sala. Nem Nagato estava lá.


- Não tem mais ninguém aqui? – eu perguntei fechando a porta e colocando minha mochila a cadeira.


- Só eu – ela me respondeu e pareceu ofendida.


- Eu quis dizer “além” de você!


- Ninguém veio ainda! – Haruhi mexia no computador, mas não parecia concentrada.


- Que estranho! Pensei que eu seria o último a chegar aqui hoje! Nem a Yuki está aqui...


- Se está tão incomodado com a ausência deles, saia também! – ela gritou de repente, furiosa.


            - Não! Eu só quis dizer que é estranho. Só isso – não estava em clima de discutir com Haruhi hoje.


            - Se é a minha presença que incomoda você, me fale que eu saio também! – ela ainda gritava, agora de pé.


            - O que você tem hoje?


            Ela ao respondeu, chutou a cadeira e eu pensei que faria uma saída dramática, mas não se moveu. Em minha mente veio a lembrança daquele mundo monocromático que eu me vi jogado sozinho com ela, da maneira como ela soltou minha mão quando eu lhe disse que queria retornar ao nosso mundo original, quando eu... Por que eu tenho que pensar nisso?


            - Não tenho nada! – ela se sentou e não gritou dessa vez. Parecia deprimida como quando Asakura tentou me matar.


            - Você não me parece bem... Por que não vai a enfermaria?


            - Eu não estou doente! Será que não percebe?


            - Você só me parece estranha... É claro que eu percebo!


            - Você não enxerga nada! Você é tapado!


            - E o que eu fiz agora? Você enlouqueceu?


            Nós dois estávamos de pé, gritando um com o outro, por um momento, achei que ela ficaria em cima da mesa e chutaria a minha cabeça, mas ela puxou minha gravata e me sacudiu pra frente e pra trás, quase me estrangulando.


            - Você quer parar com isso? – eu segurei sua mão, fazendo-a largar minha gravata. Ela tentava se voltar, mas ainda sou mais forte que uma garota, mesmo que esta garota seja Haruhi.


            - Solta, Kyon! Solte-me agora! – ela gritou.


            - Você precisa aprender uma lição! Sabe o que eu devia fazer? Eu devia... Dar umas palmadas em você!


            - Não se atreva! Ouviu? – ela vociferou. – Não se atreva!


            Eu ri dela e de mim mesmo. Eu parecia mais um tarado agarrando ela e minha ameaça e pareceu mais sensual do que furiosa. Que pervertido eu sou! Mas ainda com isso em mente, eu agarrei a cintura dela e deixei nossos corpos muito próximos. Ela se assustou e parou de se debater em meus braços. Por um momento, nós dois não nos movemos nem dissemos nada, quase ao respirávamos.


            - Você é idiota? – ela voltou a gritar depois de um tempo, parecendo furiosa, mas não tentava mais se soltar. Eu segurava seu braço esquerdo no alto de nossas cabeças e sua cintura com meu braço livre, ela estava praticamente a centímetros do chão, completamente colada em mim. Um pulso elétrico correu por todo o meu corpo e eu senti uma enorme vontade de encostá-la à parede e beijá-la com mais intensidade do que já tinha feito antes. Assustado com meu próprio ímpeto, soltei-a.


            - Vê se melhora esse seu humor! – eu voltei a me sentar e isso pareceu deixá-la mais furiosa.


            Ela se aproximou de mim, pegou meu paletó e sacudiu meu corpo com força e fúria.


            - Você me irrita! – e me soltando ela saiu. Mas eu sabia que voltaria, porque deixara suas coisas ali.


            Eu fiquei um grande tempo sozinho, até finalmente Nagato entrar e se sentar sem dizer uma palavra. Depois, Asahina-san chegou e Ayana e Koizumi não demoraram muito tempo para também chegarem à sala de reuniões daquela estranha Brigada, que se encontrava reunida, exceto por sua líder, que ainda não retornara.


            Foi de repente que tudo aconteceu: a luz se apagou e tudo ficou em completa escuridão e silêncio. E identifiquei um novo espaço restrito.


            - Mas o que foi agora? – eu perguntei, vendo todos os outros membros da Brigada ficarem em pé.


            - Esse não é um espaço restrito comum – Koizumi informou em sua voz calma, mas demonstrando uma leve preocupação, se aproximando disfarçadamente de Ayana-san.


            - Pensei que só você pudesse entrar nesses negócios! – vociferei.


            - Por isso não é comum! Parece mais com aquele espaço em que lutamos com o grilo cavernícola! – Koizumi explicou e eu pude olhar a mão de Ayana-san voar desesperada para sua blusa.


            - Isso quer dizer que podem ter mais deles? Mas, afinal, como isso apareceu aqui? De repente? – eu disse, olhando para o lado de fora de nossa janela.


            - Acho que acabou de ser criado por Suzumiya-san. Mas não entendo o que houve... Foi totalmente sem aviso, como um lapso de sentimento momentâneo – ele olhou para Ayana-san, buscando uma confirmação do que pensara, talvez ela, ao contrário de mim, tivesse entendido...


            Ayana-san levou a mão que não agarrava com força a blusa de Koizumi ao seu livro de encantamentos e fechou os olhos, se concentrando.


            - Ela está triste, Koizumi! – ela disse, abrindo os olhos e nos encarando.


            Nós cinco saímos andando pela escola estranhamente deserta naquele horário. Koizumi, Ayana e Nagato andavam a frente, Asahina-san vinha agarrada ao meu braço desesperada com quando enfrentamos o grilo cavernícola.


            O pátio monocromático daquele mundo angustiante parecia deserto também, exceto por um barulho medonho de seres enormes se aproximando. Reparem: plural!


            Dessa vez não era um grilo, lembrava muito mais um louva-a-deus gigante! E havia cinco deles. Eu pude ver Nagato e Koizumi avançando para dois dos monstros; Ayana fez um feitiço que a permitia pular como se fosse elástica e tivesse molas nos pés, atirando bolas de fogo contra o louva-a-deus que avançava desembestado pra ela.


            Eu e Mikuru tentávamos apenas não ficar no caminho deles para não atrapalhá-los e ela gritava desesperadamente e chorava. Mais uma vez eu me odiava por ser um humano comum naquela situação!


            Koizumi foi o primeiro a derrubar seu oponente, que logo se recuperou e o encurralou com ajuda de outro monstro.


            - Ayana! – eu o ouvi gritar. – Ayana, será que você poderia me ajudar aqui?


            - Agora não dá! – Ayana tinha conseguido desviar de um ataque com dificuldade e também se via encurralada.


            Nagato conseguiu se livrar de seu oponente e foi ajudar Koizumi. Quando quatro dos monstros tinham sido derrotados, o último avançou pra Ayana e Koizumi o atingiu na cabeça e voou pra ele, que revidou furioso e atirou-o pra longe. Mikuru e eu fomos ajudá-lo a se levantar. Ayana pareceu furiosa e fez o bicho levitar e o atirou longe. O espaço restrito começou a se desfazer e nos vimos de volta a ensolarado pátio da escola.


            Quando voltamos à sala da Brigada SOS, Ayana tirou da bolsa um pó azul que ela despejou em uma xícara de chá quente e aproximou dos lábios de Koizumi, fazendo-o beber. Se me restasse alguma dúvida sobre o que estava rolando entre os dois, todo cuidado e preocupação de Ayana confirmaram naquele momento.


            - Você está bem, Koizumi? – ela disse tocando o rosto dele carinhosamente, parecendo muito preocupada.


            - Estou sim! – ele retribuiu o carinho dela. – Obrigado, Ayana.


            - Certo. Eu preciso encontrar logo o que melhore o ânimo de Suzumiya-san, ela está chegando...


            - Como você sabe? – eu perguntei, enquanto voltava a me sentar na “normalidade” da nossa sala. Ayana parou de procurar dentro da bolsa o que quer que fosse que melhoraria o ânimo de Haruhi e me encarou como se a resposta pra minha pergunta fosse óbvia demais. – Está bem, você é uma bruxa!


            Ela riu e voltou a procurar dentro da bolsa o que eu desconfiava ser algo magicamente misterioso e desconhecido. A maneira com que ela se curvava pra dentro da bolsa dava a estranha impressão de que fosse mais fundo do eu realmente parecia e eu tinha até medo de perguntar o que ela levava lá dentro.


            - Aha! – ela gritou tirando dois potes de dentro da bolsa. – Achei!


            Ela levou pra perto de onde Asahina-san esquentava a água para o nosso chá e despejou em uma chaleira um líquido branco como leite e dentro de uma xícara ela colocou um pó castanho avermelhado como terra, que misturou ao líquido depois de fervido e exalou um aroma fantástico.


            - O que é isso? É um pó mágico que melhora o estado de espírito da pessoa? – eu perguntei me aproximando curioso da bruxa.


            - Não. É chocolate quente! Nem tudo se resolve com magia Kyon!


            - Ah... Eu ao sabia...


            - Por acaso você falou com ela? – Ayana me perguntou.


            - Haruhi?


            - É. Você chegou a encontrá-la depois das aulas?


            - Ela estava aqui quando eu cheguei...


            - E vocês brigaram, não brigaram?


            - Como sabe disso? – disse assustado com sua clarividência.


            - Pare de me perguntar isso! – ela riu divertida com meu espanto. – Então foi isso que causou o espaço restrito incomum!


            - Está dizendo que é culpa minha? – perguntei ofendido.


            - É claro que é culpa sua! Mas não vai ajudar em nada apontar o culpado!


            - E que o diga... – cruzei os braços, mal humorado. Como uma coisa daquelas seria culpa minha?


            - Que era por causa do Kyon, nós já sabíamos, Ana... – Koizumi caminhou até ela, tocando seus ombros e chamando-a carinhosamente. – O que ainda não faz sentido é como estava tão anormal? – ele parecia bem melhor, pois já implicava comigo. Não sei se quero ver esses dois juntos.


            Foi quando Haruhi entrou estrondosamente.


            - Olá, Suzumiya-san! – Ayana disse alegremente. – Quer chocolate quente?


            Haruhi aceitou a xícara que a bruxa lhe oferecia sem dizer nenhuma palavra. Quando seus olhos cruzaram com os meus, pensei que fossem me fuzilar. Decidi não manter aquela conexão e abaixei os olhos, evitando causar sua ira prematura.


            Depois de beber o chocolate quente de Ayana, o humor de Haruhi melhorou intensamente e ela voltou a ser expansiva e mandona, o que me fez questionar se aquele pó não era mesmo mágico. O clima ficou menos pesado e ela já não me encarava com ódio.


            Ayana e Koizumi foram os primeiros a ir embora naquela tarde e eu me retirei para que Asahina-san trocasse de roupas. Atrasei meu passo ao máximo para não flagrar o casal que foi na minha frente em uma terrível cena constrangedora para nós três.


            Minhas pernas ao tinham pressa e, sem esperar, Haruhi se atirou nas minhas costas e foi me dando ordens pendurada em meu pescoço.


            - Eu não sou seu transporte! Desça!


            Ela desceu das minhas costas e, antes de sair correndo pra casa, ela beijou meu rosto de uma maneira que nunca tinha feito. O estranho impulso que me dominara mais cedo voltara a se acender dentro de meu corpo e eu entendi porque tudo tinha sido culpa minha, mas o fato de ser completamente anormal era culpa de Haruhi!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!