Survive escrita por Moony, Adrielli de Almeida


Capítulo 1
Capítulo 1 - Fugitivas - Amy


Notas iniciais do capítulo

Oiii pessoas, essa é a nossa primeira fic de A Hospedeira. Espero que aproveitem. Capítulo narrado pela Amy.
/Blue



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/324187/chapter/1

"Quisera eu poder agora resgatar os fragmentos de minha simples vida."


Estava totalmente escuro, exceto pelos pequenos fachos de luz liberados por nossas lanternas. Estava muito quente, haviam tábuas bloqueando as janelas. Meus cabelos estavam grudandos no suor em minha testa.

– Amy. – chamou Christina. Virei-me para ela. – Eu procuro lá em cima.

– Tudo bem. – concordei.

Observei-a subir as escadas cautelosamente. Andei para a cozinha e agachei perto dos armários velhos e tateei, quase desesperadamente, a procura de comida.

Nada.

Levantei-me e segui para as prateleiras mais altas. Nada também. Estávamos sem comer há dois dias, meu estômago doía. Christina havia sugerido que fossemos para o deserto. Não havia sentido nisso, então não concordei.

Após um tempo, Christina desceu as escadas sem nada em suas mãos. Lançou-me um olhar significativo, teríamos de tentar uma casa que não estivesse abandonada. Ela odiava o fato de eu ter que me arriscar, mas nós duas sabíamos que isso era necessário.

– Achei armas. – disse ela tirando dois revólveres de sua mochila. – Estavam debaixo do assoalho. Ainda tem munição.

Estendi a mão em direção aos objetos, mas ela puxou-os por impulso. Arqueei uma sobrancelha.

– Eu sei como usar uma arma. – pressionei.

Ela suspirou e estendeu uma das armas, peguei-a e guardei em minha mochila.

– Vamos. Vai começar a chover. – disse ela puxando meu pulso.

Saímos da casa pelos fundos, Tina me empurrou para que ficasse atrás dela. Era sempre essa sua atitude comigo: protetora. Ficamos sentadas atrás de um conteiner esperando que os moradores saíssem, já se podia ouvir os trovões retumbando.

Nunca pensei que minha vida tomaria este rumo. Nunca pensei que estaria com a minha melhor amiga fugindo de extraterrestes que ocupam nossas mentes. Parece que restou apenas nós, parece que somos as únicas humanas. E quando morrermos, a humanidade morrerá conosco.

Tina me cutucou, levantei o olhar para e vi que os parasitas estavam saindo de casa. Ela se levantou lentamente e caminhou na ponta dos pés até a portas dos fundos, fiquei aonde estava esperando que ela me chamasse. Era sempre assim.

Ela empurrou a porta, seu rosto estava apreensivo.

A chuva começou a cair, droga.

Tina me chamou com a mão e corri para a porta, se nos molhássemos isso deixaria um rastro pela casa. Ela tirou sua lanterna de dentro da mochila, fiz o mesmo. Andamos cautelosamente pela casa, parecia não haver ninguém lá.

– Olhe a geladeira e eu olho a dispensa. – disse ela. Assenti.

Notei que minhas mãos tremiam, devia ser por causa da adrenalina. Meu coração batia freneticamente. Forcei-me a ir para a geladeira. Assim que abri a porta, uma luz inundou a cozinha, Tina me olhou e mandou apagar. Pressionei o botão e fui recolhendo as coisas que iríamos precisar e colocando no chão.


(...)


Ouvi o barulho do motor de um carro, olhei para Tina sobressaltada. Ela correu para a janela e espiou através da cortina.

– Não são eles. – sussurrou ela.

– Como assim? Quem poderia ser então? – sussurrei de volta.

– Não sei, é um jipe.

– Vamos logo, temos muita coisa.

Tina soltou a cortina e veio até mim. Reunimos nossas coisas e caminhamos para a porta dos fundos na ponta dos pés. Ouvimos a porta da frente se abrir e então Tina puxou meu pulso e me forçou a correr. Sua mão esquerda agarrou a maçaneta enquanto eu corria aos tropeços atrás dela. Conseguimos sair antes que nos pegassem, mas pude ouvi-los gritar: "Ei, esperem!".

Tina continuava correndo e me puxando pelo pulso, e eu continuava tropeçando. Até que senti braços fortes envolverem minha cintura e me puxarem para trás. Olhei de relance para trás e pude ver que era um homem de cabelos escuros, seus olhos pareceram ameaçadores por um segundo, mas a expressão suavizou.

– Solta ela. – ouvi Tina dizer. Olhei para ela e vi que em sua mão havia um dos revólveres, e ela mirava no peito do homem que me segurava. Mas ele também ergueu uma arma. Com um único braço ele conseguiu envolver meus braços e minha cintura.

– Elas podem ser almas. – disse uma voz masculina vinda atrás de mim. Não era o mesmo que me prendia.

– Vamos conversar. Primeiro, abaixem as armas. – argumentou outro homem. Meus olhos deviam quase estar saltando das órbitas. Eram três Buscadores?

– Ian, e se elas forem almas? – argumentou o homem que me segurava.

– É, um humano agora não teria uma arma. – concordou o outro.

– Mas a que você está segurando não reage. – disse o que deveria ser Ian.

– Como eu poderia reagir? – perguntei retoricamente.

– Kyle, elas não parecem ser almas. – argumentou Ian.

– As únicas almas que têm armas são Buscadores. – rosnou Tina. – Não vamos nos entregar.

Ouvi pequenos passos atrás de nós.

– O que estão fazendo? – ouvi a voz aguda de uma garota.

– Me dê a sua lanterna, Peg. – pediu Ian.

Tina continuava olhando fixamente para Kyle, seu dedo pronto para apertar o gatilho. Ouvi um clique e um indício de luz, Ian deve ter acendido a laterna.

Ouvi Tina arfar, e então tudo aconteceu muito rápido.

Dois estalidos irromperam pelo ar, Kyle me empurrou para o chão e tentou me proteger com seu corpo. Tina caiu no chão e o homem que estava atrás de mim girou seu corpo e empurrou a garota para trás de si, mas ele também ofegou de dor. Levantei o olhar para Tina e vi que ela estava desfalecendo.

O cheiro de sangue preencheu o ar, e então compreendi que minha amiga estava morrendo.

Empurrei Kyle para o lado e fui correndo para Tina. O sangue encharcava sua blusa e minha visão estava ficando embaçada por causa das lágrimas.

– Por que fez isso, Jared? – ouvi Ian gritar.

– Ela atirou na Peg, foi a primeira coisa que me veio na cabeça. – o outro retrucou.

A garota veio até mim, notei que ela não era maior que eu. Tinha cabelos louros e olhos cinzentos, mas mesmo com a pouca iluminação pude notar um círculo de luz ao redor de sua retina. Não consegui sentir medo dela, parecia ser inofensiva. Ela me olhou como quem pede desculpas. Vi outra mulher correr até nós, era o oposto da que estava comigo. Era alta, os cabelos eram castanhos assim como seus olhos. Ela se abaixou ao meu lado e levantou a cabeça de Tina.

– Ian. – a menor chamou.

– Nós vamos salvar a sua amiga. – disse a mais alta. – Não se preocupe. Peg, você vai ao hospital com Jared. Kyle, Ian e eu vamos para a estrada e ficamos lá esperando vocês.


(...)


– Me desculpe. – disse Jared. Já deveria ser a décima vez que ele repetia.

– Está tudo bem. – sussurrei. – Ao menos ela já está bem.

– Não usamos o Acordar porque pensei que ela deveria descansar um pouco. – explicou Peg.

– Você também deveria. – sugeriu Jared. – Durma um pouco.

Balancei a cabeça em negação.

– Aonde vamos? – perguntei.

– Temos um refúgio no deserto. Há muitos humanos lá. – respondeu Peg.

– Quantos mais ou menos?

– Em torno de 60 a 70.

Arregalei os olhos. Pensei que havia apenas eu e Tina, mas eu deveria saber que não. Humanos não desistem facilmente.

– Há mais...?

– Almas?

– Sim.

– Três. Sunny, Cal e eu.

– Por que vocês ficam entre os humanos? Pensei que quisessem nos dominar.

– Alguns de nós veem além disso.

E o silêncio se estabeleceu novamente. Olhei para fora da janela, o céu estava completamente salpicado de estrelas, não havia prédios para atrapalhar a visão. Abaixei o olhar para Tina que dormia serenamente em meu colo.

Encostei minha cabeça na janela e deixei minha mente vagar.

Como uma alma poderia se virar contra os seus? Não. Escolha errada de palavras. Como uma alma poderia deixar os seus? Será que ela estava cansada do mesmo sistema? Ou ela se apaixonou por alguém que não era de sua espécie. Um humano.

– O que te fez mudar de ideia? – pensei em voz alta.

– Hã? – os dois perguntaram.

– O que te fez mudar de ideia sobre os humanos? – reformulei a pergunta.

– A esperança. – respondeu ela.

E então me calei novamente.

Quem imaginaria que o futuro seria tão estranho? Que nossas histórias sobre ficção científica se tornariam realidade. Que apenas a esperança nos manteria em pé, lutando até o último momento.

Eu não queria confiar em uma alma. Mas aquela alma tinha uma coisa diferente. Uma coisa que nos igualava a ela.

A esperança.

A única coisa que mantém a humanidade de pé.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mandem reviews =*