A Alma De David escrita por Ruperthy
E então David tinha seis anos de novo, estava no banco de trás do carro brincando com os cachos negros que eram os cabelos da mãe. A mulher inclinou a cabeça para trás, do banco do carona, deixando que o filho a despenteasse como quisesse. Ele ria abobado, embaraçando os fios lisos.
O pai dirigia rápido, impaciente, mas aquilo era tão normal para David que ele não deu importância. A paisagem passava rápida pelas janelas e o cinto incomodava um pouco o garoto. Sem pensar ele o desprendeu, chegando com mais facilidade às madeixas da mãe.
Tudo aconteceu muito rápido: em um momento ele estava feliz, brincando, e no outro uma confusão de imagens e barulhos o assolaram. Vidro e ferro retorcido o mantinham preso ao chão, mas ele não entendia o que tinha acontecido. Estava de cabeça para baixo, e de repente fez-se um silêncio aterrador. David gritou, sentindo uma dor extrema na perna esquerda, mas mais que isso, sentiu pânico.
Seus pais não responderam. Ele não conseguia vê-los e um cheiro diferente o enjoou instantaneamente. Esticou os braços para tentar sair daquele emaranhado, mas perdeu os sentidos, desmaiando.
David jamais conseguiu esquecer aquele dia, o acidente, ou mesmo o que sentiu na hora. Perdera a sua mãe, mesmo ela sendo a única usando o cinto, mesmo ela sendo a única que o amava de forma boa e pura.
Desde então a morte passou a ser um mistério para o garoto, e quanto mais pensava a respeito, mais não a compreendia. Estava disposto a vencê-la, não havia dúvidas.
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