Ice And Fire - Os Jogos Vão Começar escrita por Carol Weasley Everdeen Jackson


Capítulo 3
Aliança




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Acordei, sentindo-me estranhamente incapaz de me mexer. Abri os olhos e deitei uma espiadinha ao meu corpo. Nada de facas na barriga ou qualquer outra arma na pele.

Então, percebi que não me podia mexer porque sentia um pressentimento no ar. Qualquer coisa.

- Ginny! - Chamei pela minha aliada, olhando por todos os lados. Talvez ela tivesse sido atacada pelos Carreiristas, quem sabe. Não me perdoaria se ela morresse enquanto eu dormia. - Ginny!!!

- Estou aqui, Lorence. - Disse ela, acenando do topo do morro, puro terror nos olhos. - Os Carreiristas... chegaram...

Peguei rapidamente numa clave que roubara do tributo do 12, que matara em seguida, e corri para lado da minha aliada, já com uma pedra na mão.

A imagem que vi aterrorizou-me. Os Carreiristas, aliados aos tributos do 9, estavam em volta de uma pequena bolinha humana, com uma trança ruiva a sair do cimo. Era uma criança. Estavam em volta dela, rindo enquanto preparavam o ataque.

Atirei-me para o chão, desejando salvar aquela pequena bola inocente. Era uma garota, afinal de contas! Tinha uma vida!

Enquanto devaneava por eles estarem ainda longe e eu andar lentamente, um dos tributos levantou a espada. Era alto e forte, obviamente do 2.

A espada começou a descer e quis gritar, quis ajudar a criança. Mas ela fez tudo sozinha.

Esticou-se repentinamente, como um tatu, e tirou uma seta de uma aljava nas suas costas. Depois, trespassou os crânios dos tributos do 9 com apenas uma flecha e cortou a garganta do tributo feminino do 1 com uma faca, fazendo os outros dispersar deixando a comida e os mantimentos.

Pisquei os olhos, pensando estar a alucinar.

A garota escondera, por algum milagre, o arco e as outras armas rente à barriga. E era muito mais alta do que a bolinha sugeria. Aos 14 anos, parecia mais um adulto do que uma adolescente.

Sorriu e executou alguns passinhos de dança, fazendo-me ter vontade de rir. E percebi mais uma coisa sobre aquela garota: Estava a ser engraçada e a fazer o Capitol rir para ganhar patrocinadores. O que eu não daria por uma aliada assim...

Aproximei-me lentamente, fazendo-a parar de dançar e levantar uma espada. Onde conseguira aquela garota tantas armas?

E lembrei-me que a conhecia. Ela era do meu Distrito. E ela já matara muita gente com estratégia, força e jogo sujo.

Era Caroline Archer, a garota que despistara o tributo do 4 e o fizera partir o crânio, escorregando por uma gruta escorregadia de gelo. Era aquela garota que afogara o tributo do 3, irmão de Ginny. Fora ela que...

Valham-me as agulhas do 8!

O irmão de Ginny!!! Como iria eu juntar a minha melhor amiga e a garota bonita que matara o irmão dela? E... espera, eu chamei ela de bonita? Eu não estava a pensar sobre como iria fazer a Ginny trabalhar com ela, mesmo que a Ginny não fosse tão bonita e...

LORENCE!!! ACORDA!!! Pensei, batendo com a testa numa árvore.

Carol deu um salto, pegando numa flecha e apontando-ma. Os olhos brilharam, avaliando-me. E depois, do nada, começou a falar sozinha.

- Alto e franzino, provavelmente não muito forte. - Avaliou, inclinando a cabeça para a esquerda. - Não muito perigoso, posso matá-lo com neve.

Ok, ela podia ser bonita e perigosa, e tudo o que valha, mas não me vai matar.

Investi com a clava, tentando acertar-lhe na cabeça, mas ela bloqueou com a espada. Parecia ter o diabo no couro, mexendo-se rapidamente como se aquilo fosse uma dança. Era movimentos fluídos e parecia um felino, uma pantera.

- OI!!! - Gritei para Ginny, que olhava para mim do outro lado do barco. - UMA GAROTA ARMADA ESTÁ TENTANDO ME MATAR!!! S.O.S!!! AJUDA!!!

Ginny semicerrou os olhos, apercebendo-se que a garota que tentara matar o irmão estava a tentar matar-me. Começou a correr pelo morro abaixo, agitando a pedra acima da cabeça.

Carol olhou para dois inimigos e, rapidamente, começou a trepar para a árvore com as armas presas em volta do pescoço com cordões. Aquela garota pensa em tudo?

Quanto mais a observava, mais me lembrava certos animais: primeiro, lembrava-me o tatu, depois a pantera e, agora, lembrava-me um macaco. 

- Fala sério. - Disse a Ginny, olhando para a garota fortemente armada no cimo de um ramo mais ou menos alto, as pernas abanando alegremente. - Lorence, você deixou ela subir?

- Sabe como é. - Retorqui, procurando razões para a ter deixado subir. - Foi porque... porque... porque... porque...

- Porque o cachorro mandou. - Disse Carol, pronunciando-se pela primeira vez. Tinha uma voz estranha, como se tivesse descendência de vários países.

- Desculpe? - Inquiriu Ginny raivosamente.

- Como na música. - Riu Carol.

O cachorro que eu tenho

Nunca, nunca me quis bem

Me mandou escovar-lhe o pelo

Me botou num vai-vem

Quando eu vejo uma garota

Ele me manda deixá-la fugir

Pois não quer que eu seja feliz

Porque me quer em casa p'ro servir

Era uma cantilena infantil que ouviamos na escola, sobre um rapaz que tinha algo, uma pessoa, que não o deixa ficar com a mulher que ama.

Ginny piscou os olhos, confusa. E percebi que ela não entendera o sarcasmo quando perguntou:

- E você ouviu o cachorro?!!!

Senti que era objecto de troça em todo o Capitólio. Ali estava eu, praticamente babando por uma guerreira cantora que estava em cima de uma árvore e sendo massacrado pela minha melhor amiga.

Como é bela a vida, hein?

- Desça! - Gritei para a garota. - Nós temos armas! Você gosta de armas... né?

Carol agitou as pernas do seu tronco, observando uma flecha.

- Ooooouuu... - Fez ela. - Posso matar você. E pego suas armas e a sua comida! Um bom plano!

- Eu não gostei. 

- Mas eu sim, e a sua opinião não tem qualquer ajuda para a minha sobrevivência. - Falou Carol, observando as unhas com ar snobe. 

Ginny  começou a dar pontapés na árvore, que apenas tremeu e deitou alguma neve em cima dela.

- DESÇA DAÍ!!!

Carol brincava com uma pinha, agora. Arrancava os seus frutos com dificuldade, mas prazer. Depois, comia-os.

Então, percebi que uma das pernas estava muito estranha: o tecido que a cobria era estranho, muito mais vermelho que o das minhas calças. E estava molhado, com uma estranha coloração verde.

- Você errou. - Falei. - Você deitou veneno na ferida. Só sobreviveu porque ele foi corroído pela água da neve normal.

Carol parou de comer frutos, os olhos mostrando terror. Começou a tremer, e a ferida pareceu escurecer. Percebi que ela estava a esvair-se em sangue, muito lentamente.

- Ha! - Riu Ginny. - Vai morrer, Archer! Morrer como o meu irmão! Boa, Lo...

- Por isso, quero propor uma aliança. - Anunciei. 

- Lorence, lembra do elogio que eu ia dar para você? - Relembrou Ginny. - Esqueça...

- O que eu ganho com isso? - Perguntou Carol, a perna magoada a pender no ramo como se estivesse morta.

- Temos ungento e remédios. - Disse. - Presentes da garota do 11.

Carol pareceu fazer um breve inventário dos seus mantimentos e vi, pelo seu olhar, que não tinha qualquer coisa que a salvasse daquilo.

- Está bem. - Cedeu. - Mas ela tem de esperar fora daqui.

E apontou para Ginny, que saiu da clareira, contrafeita. Carol desceu agilmente da árvore, mesmo que eu tivesse de a apoiar quando a perna magoada bateu no solo.

- Só mais uma pergunta. - Disse, enquanto ela passava o braço pelos meus ombros e eu corava. - Como subiu numa árvore tão grossa?

- Simples. - Disse Carol. - Acampei ali no começo dos Jogos. Limitei-me a fazer degraus cavados com uma faca.

Que legal. Pensei. Gosto dela à cinco minutos e já me humilhei. Bravo...


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