Evil From Hell - WEBSERIE escrita por Luke Rodrigues


Capítulo 6
Capítulo 6 - Apocalipse Now




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Não costumamos pensar no futuro como uma coisa que simplesmente devia acontecer, mas sim nas ações que possivelmente poderiam muda-lo dali pra frente. Talvez aquilo só estivesse acontecendo por que todo o tempo a culpa fosse somente nossa, humanos, sujos e indignos de paz. 

Eu estava em um estado em que apenas meu corpo se encontrava ali, sem perceber comecei a montar minha defesa, por que não queria ninguém morto, e se isso acontecesse acho que poderia ter um ataque do coração.

Jéssica correu à frente e começou a desferir golpes nos zumbis, mas eram tantos que ela mal conseguia fazer força para cravar os dentes de ferro da ferramenta nos crânios duros. Os braços e mãos ensanguentados estavam quase alcançando ela, e naquele ponto ela já estava no chão. Os zumbis a estavam puxando pela perna e ela estava gritando.

Eu fiquei paralisado, sem reação alguma.

- Faça alguma coisa Lucas – Gilberto estava gritando na minha frente.

Giba correu em direção da Jéssica, atirando e gritando. Os corpos caíram em cima dela e Giba finalmente estendeu a mão para Jéssica e a puxou. Um zumbi agarrado à sua perna foi puxado junto, se levantou e derrubou Gilberto no chão. Jéssica se levantou, tentou dar um golpe no morto vivo, mas estava ocupada demais com mais dois tentando atacá-la.

Giba estava numa luta com o zumbi no chão enquanto a trilha sonora no fundo eram tiros, uma serra falhada, e corpos molhados caindo no chão. Giba ergueu o braço com muita dificuldade até conseguir mirar no zumbi, mas antes de atirar percebeu que os zumbis aos seus pés já estavam devorando sua perna, chegando ao duro-máter, já branco com tantas línguas disputando por um pedaço. Gilberto abaixou a arma como se estivesse desistindo de lutar e ao mesmo tempo foi puxado para dentro de um grupo de mordedores furiosos. Não pudemos perceber, mas havia muito sangue e Gilberto já não reagia mais.

Maytê estava gritando na minha frente, e nesse momento o choque de realidade bateu na minha cara como um soco. Pisquei e voltei a realidade.

Meu corpo tremeu ao ver pedaços do meu melhor amigo na boca daqueles malditos.

- N-não – Gaguejei, andando de vagar com o machado em direção ao grupo de zumbis.

Maytê me puxou com força. – TEMOS QUE SAIR DAQUI. AGORA.

- Espera.

Corri em direção ao grupo e dei uma machada em cima de um zumbi, me abaixei o suficiente para ver as entranhas de Giba no chão. Cai pra trás, me rastejando, em choque.

- Que ideia maluca foi essa? – perguntou Maytê.

Mostrei a arma do Gilberto pra ela.

- Ótimo. Agora vamos.

Os outros estavam um pouco à frente, já correndo e Maytê estava me puxando com força. Os zumbis estavam se aproximando rápido. Comecei a correr para tentar salvar o resto do grupo, passamos pelo perímetro dos dormitórios e deixamos tudo para trás, comida, água, remédios. Estávamos apenas correndo. Chegamos na área limpa, mas aos poucos os corpos lentos e podres estavam gemendo alto como se estivessem com muita raiva.

- Temos que sair daqui – Gritou Jéssica – Ela estava meio desordenada.

- Vamos voltar pro ônibus, eu dirijo – André estava com as duas mãos no ombro de Jéssica, tentando acalmá-la.

- Ok, ok.

Ramona estava correndo logo à frente, já abrindo o portão sem nem olhar se tinha alguma coisa do lado de fora. Por sorte não havia nada, nem ninguém. Tiveram um pouco de dificuldade por causa do arame farpado, mas nada que não descem conta.

O Ônibus estava intacto e já não tínhamos mais o motorista original. As meninas entraram no ônibus, seguidos de mim, Jéssica e André. Os zumbis estavam chegando perto e a porta estava aberta.

- Fecha a porta André – Gritei.

-Eu não sei onde fecha – André estava tentando localizar qualquer botão no meio de tantos outros que indicasse o fechamento das portas.

Ramona se aproximou dele rapidamente – Nos tire daqui. Vou fechar manualmente.

Ramona começou a pressionar as duas portas para se encontrarem e finalmente fecharem, mas parecia estar emperrado. Os zumbis estavam cercando o ônibus e de dentro podia se ver o mar de mortos no lugar onde achávamos que estaríamos a salvo.

- Rápido Ramona – Falei indo ajuda-la a empurrar a porta.

André ligou o ônibus e os zumbis já estavam na frente, dificultando a passagem.

- Vamos sair assim mesmo – Falei por fim.

Ramona foi puxada para fora do ônibus por um zumbi sem uma das pernas. Estava agarrado com uma mão na lataria do ônibus.

- ACELERA!

André começou a atropelar alguns corpos, mas o ônibus começou a derrapar em sangue e tripas no chão e já não saia do Lugar.

Ramona estava no chão brigando com o zumbi. Ela era durona, mas não foi o suficiente. O zumbi mordeu seu rosto e puxou um pedaço de sua sobrancelha junto com um pedaço do rosto, fazendo o olho ficar exposto. Ela estava gritando muito, mas os zumbis já estavam na porta do ônibus, entrando.

- RAMONAAAAAAAAAAAAAAAAA.

- TODO MUNDO PRO FUNDO DO ONIBUS! – Gritou André pulando o banco e pegando a arma.

Corremos para o fundo e um por um eles foram entrando. Começamos um massacre dentro do veiculo e o sangue e o cheiro já estava ficando insuportável.

- May, quebre o vidro – Pediu Jéssica.

Maytê tentou ligar o moto serra, mas a gasolina já estava acabando e a maquina começando a falhar.

- Não consigo ligar.

Comecei a dar machadas no vídeo que trincou rapidamente, os estilhaços caíram no chão junto com pedaços grande de vidro. André pegou um pedaço de vidro e enfiou na cabeça de um zumbi, que agonizou de pé, impedindo a passagem dos outros que acabaram ficando mais furiosos. Começamos a pular pra fora do ônibus, que por sorte ou ironia do destino, dava de cara com o portão de saída. Teríamos que sair correndo.

Quando me dei conta estávamos longe do quartel, correndo na rua, sem olhar para trás. O cenário era cinza, como se estivéssemos em São Paulo. As ruas estavam desertas, mas logo atrás da gente, alguns zumbis insistiam em nos perseguir.

- Eu não aguento mais correr – Avisou Maytê.

- Nem eu – Eu estava exausto, sem ar e quase tento um treco. Precisamos nos esconder e descansar.

- Não, precisamos continuar correndo – André não hesitou e era o que corria mais rápido.

Eu parei de correr, e Maytê parou do meu lado. Largou a moto serra que já não funcionava mais.

- Vamos nos esconder – Disse novamente.

André voltou andando, com uma expressão assustadora. Estava furioso – Se não continuarmos vamos morrer.

- Se continuarmos vamos morrer! – Conclui.

- Gente... Eles estão vindo... Vamos entrar em algum prédio logo – Sugeriu Jéssica.

- Ah sim, porque esse é um ótimo plano, deu muito certo da última vez que te escutamos – André ainda parecia nervoso.

- Se está querendo dizer alguma coisa, fale logo – Jéssica estava chorando.

- Vocês fizeram agente sair do Shopping, se tivéssemos ficado lá, a Ramona ainda estaria viva - o lábio superior de André começou a tremer e é claro que o fato de sua melhor amiga estar morta o incomodava. Na verdade incomodava a todos.

- Não me culpe! Não obriguei ninguém a sair de lá.

Intervi – Olha, é o seguinte, todos aqui perdemos amigos ok? Agente nem sabe onde está a nossa família. Então eu acho bom agente parar de birra, e pensar em alguma coisa rápida. Eles estão vindo e agora somos apenas quatro.

André olhou para baixo – Eu não aguento mais isso.

- Hey, ninguém aqui aguenta ok? – Eu estava na frente dele, olhando em seus olhos – Você precisa me ajudar cara, temos que nos proteger. A Ramona morreu tentando nos proteger, se morrermos terá tudo sido em vão.

- Tudo bem. Vamos entrar em algum prédio abandonado.

Continuamos correndo, dessa vez de porta em porta até achar alguma coisa aberta. Depois de um tempo arrombamos uma porta e entramos. O prédio estava escuro e mal dava pra ver um palmo à frente. Fechamos a porta e começamos a subir os lances de escada correndo, podia ouvir a respiração de cada um ali, mas em nenhum momento paramos de subis as escadas numa velocidade muita acelerada. La de baixo já era possível ouvir os zumbis batendo na porta, mas não era inteligente o suficiente para abri-la. Depois de alguns minutos paramos no terraço. A vista de cima era ainda pior. A cidade já não existia mais, foi tomada por fogo, fumaça e morte. Ficamos ali descansando por uma hora, ninguém disse uma palavra sequer.

- Eu vou procurar alguma coisa pra gente tomar – Maytê quebrou o gelo.

- Eu vou contigo – Avisei.

Descemos dois lances de escada e arrombamos um apartamento. Quem morava ali tinha uma ótima vida, móveis novos e sob medida, eletro eletrônicos de alta qualidade. E uma geladeira com tudo do melhor.

Era a primeira vez que via Maytê sorrindo depois do acontecido todo. Resolvi deixar daquele jeito.

Maytê estava tomando água e eu comecei a ficar incomodado com algum detalhe. Comecei a fazer careta, tentando esconder da May.

- Você esta bem? – Ela perguntou.

- To sim...

May olhou para meu ante braço.

- Você está sangrando.

- Eu estou bem.

Maytê puxou meu braço e viu a mordida. Estava feio, começando a infeccionar e pingando sangue.

- Não pode ser... Não pode terminar desse jeito.

- Não sabemos se é contagioso.

- Sabemos Lucas... 

Um barulho foi ouvido de dentro como se alguma coisa tivesse caído no chão.

- Espere aqui, eu vou lá ver o que é.

- Eu vou contigo.

- Não... Fica aqui!

Maytê foi até o quarto e demorou um pouco. Fui atrás dela e a vi sentada em cima da cama, parada como uma estatua.

- May? – Cheguei perto dela e a cutuquei.

Ela se virou de vagar, mas seu maxilar já não existia mais, estava babando sangue e gemendo. Meu corpo estremeceu. Dei passos lentos de costas e bati no zumbi que havia mordido ela. Gritei.

No minuto seguinte, Jéssica e André estavam no quarto e me viram brigando com o zumbi no chão. Jéssica enfiou o tridente em sua cabeça e Maytê continuava parada, apenas babando sangue.

- O Que aconteceu aqui? – Jéssica estava ofegante.

- O Zumbi a atacou – Falei gaguejando.

André olhou para Maytê – Ela é um deles agora?

- Eu não sei... Podemos esperar... – Falei ainda assustado.

Maytê levantou-se e deu um berro assustador e começou a andar em nossa direção. Batendo o que ainda restava de dentes, estava indo na direção de André.

- Atira nela – Gritou Jéssica.

André ficou paralisado.

- ATIRA!

Maytê pulou em cima de André e mordeu o braço dele, arrancando um pedaço da pele. André caiu no chão gritando e Maytê permaneceu em cima dele, tentando morde-lo.

Jéssica tomou a arma de André, apontou para Maytê.

- Desculpa – Disse ela chorando.

Naquele momento eu também estava chorando. Jéssica atirou e pedaços da cabeça de Maytê voaram pela sala, fazendo o estampido nos deixar surdos e inconscientes por alguns segundos.

Estava tudo perdido.

Jéssica olhou para André que estava no chão, desmaiado pelo choque.

- Eu preciso fazer isso best.

Eu olhei para ela.

- Faça – Eu estava chorando como no dia em que tudo começou. Eu tentava manter a sanidade, mas as lagrimas apenas escorriam e meu corpo tremia.

Jéssica atirou na cabeça de André.

Depois de alguns minutos resolvemos que tínhamos que sair do prédio. Estava perigoso demais, e eu não conseguia falar para a Jéssica que eu havia sido mordido. Voltamos para o terraço e os zumbis lá de baixo tinham ido embora. Todos. Era a hora da nossa deixa.

Novamente estávamos correndo no meio da rua, sem olhar para trás. Apenas chorando.

Não havíamos sobrevivido como planejamos. Não era divertido do jeito que queríamos que fosse. Na verdade era doloroso. Perdemos amigos. Amigos.

Não estávamos pensando e paramos de nos importar. Como se nossa humanidade estivesse desligada. Viramos uma esquina e tivemos uma surpresa. Não sei por que não nos surpreendia mais.

O mar de zumbis estava ali, vagando de um lado para outro. Infelizmente a horda nos viu e vieram em nossa direção ao mesmo tempo.

- Jéssica deixou escapar outa lagrima – Que horror.

- Best... Corre.

- Você vem comigo!

- Eu não posso.

- Como assim? Claro que pode! – Jéssica me puxou pelo braço e pegou o ferimento.

Mostrei a mordida pra ela.

- NÃO. Não!

- Best, você tem que ir. Eu vou atrasa-los.

- Eu não vou sem você! NUNCA! – Jéssica estava nervosa.

- Mas eu estou infectado!

Jéssica passou a mão no meu ferimento, enfiou um dedo dentro do machucado e colocou o dedo na própria boca, engolindo o sangue.

- Então eu também estou.

- Você não fez isso.

- Eu fiz best. Ou vamos os dois e viramos zumbis longe daqui, ou somos comidos e sentimos dor.

- Não... Você vai sair correndo... Ninguém sabe se assim a infecção é contagiosa.

- Best, deixa de ser teimoso.

Olhei no fundo do olho dela.

- VAI! Pela nossa amizade – Uma lagrima escorreu – E não vale usar as palavras.

Jéssica estava chorando na minha frente.

Ela abaixou a cabeça, virou-se e saiu correndo. E naquele momento eu senti a pior dor de todos os tempos. Uma dor no coração.

Enquanto ela corria pude sentir os braços inchados e fedorentos chegarem até mim.

                                   *

Jéssica correu durante uns vinte minutos, até que a febre começou a aparecer, ela passou mal e desmaiou no meio da rua.

- Você está bem? – Uma voz masculina perguntou.

Jéssica acordou e olhou para o garoto. Era jovem e bonito. Com tatuagens pelo corpo todo. Estava acompanhado de uma menina, cabelos longos e negros e era realmente linda.

- Ela está infectada – Disse a menina. 

Jéssica não reagiu, estava fraca demais. Apenas perguntou – Quem são vocês?

O menino olhou no fundo do olho dela.

- Meu nome é João. Minha amiga aqui se chama Tamara.

- Jéssica abaixou a cabeça – Vocês vão morrer.

- Talvez sim, talvez não – Disse a menina – Mas não vai ser agora.

Ainda de cabeça baixa Jéssica sussurrou.

- Por favor... Acabem com a minha dor.

Tamara mirou um revolver na cabeça de Jéssica e disparou um tiro. O corpo desfalecido de Jéssica repousou no chão suavemente, como se estivesse indo dormir.

A dor não era causada pelo vírus, muito menos pela febre. Era uma dor de sentimentos. Não havia mais nada pra ela lutar ali. Nada seria pior do que a morte dos amigos, ou talvez de uma família que já nem existisse mais. Essa era a ideia. Era pra isso que servia o fim do mundo. Acabar com o mundo. O Fim do mundo não tem dia marcado. É bobeira pensar nisso. Quando você mesmo esperar, vai acordar e perceber que as pessoas estão devorando uma as outras.

                               


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