A luz do estacionamento ligou, deixando o ambiente claro como o dia para que então víssemos a bagunça do local. Parei pra pensar por um segundo no quanto de zumbis havíamos matado e em minha mente passou por frações de segundos que éramos guerreiros e merecíamos viver. Havia mais uns sete zumbis prontos para o ataque.

Olhamos para cima e vimos uma silhueta feminina em cima do ônibus, parada com as pernas entre abertas. Estava usando uma cinta liga preta rasgada e uma bandana escrita Green Day. Ela era muito bonita, cabelos negros e olhos marcantes. Tinha uma cintura fina que dava mais valor a sua silhueta escultural. Ela estava segurando um taco de baseball firmemente com as duas mãos, fitando todos os movimentos com muito cuidado. Ele calculou tudo durante alguns segundos e pulou de cima do ônibus. Ela estava caminhando na direção de dois zumbis e preparou o taco, com tanta calma, como se já estivesse acostumada a fazer aquilo há muito tempo. Os zumbis começaram a correr em sua direção, com tanta pressa que tropeçavam nos próprios pés, rosnando e babando sangue. A menina fez um leve e rápido movimento com os braços e a madeira dura do taco quebrou os dois crânios um de cada vez, fazendo a pele da testa rachar e espirrar sangue. Os dois zumbis caíram no chão, um seguido do outro.

Logo atrás dela estava Gilberto lutando com um zumbi no chão. Ela assoviou e chamou a atenção do zumbi que no mesmo momento levantou a cabeça, quase mutilada e começou a correr em direção à menina. Ela preparou o taco de baseball, mas no último instante tirou uma 9mm e disparou no meio da testa do zumbi. Ela olhou para trás e viu os últimos quatro zumbis correndo em sua direção, chamados pelo forte assovio.

Ela deu um breve sorriso.

No primeiro zumbi ela esticou a perna dando um chute no queixo, fazendo com que caísse de joelhos no chão. Antes do corpo descansar no chão gelado, ela pulou e apoiou o pé sobre o ombro do zumbi pegando impulso e ao cair deu dois tiros na cabeça de outra fera mordente.

Os últimos dois zumbis vieram logo e ela trancou a cabeça de cada um em baixo de cada braço, respirou e fez um movimento quebrando os dois pescoços de uma só vez. Ela soltou os corpos que caíram no chão, totalmente moles e sem vitalidade.

Ela se virou e dessa vez estava séria, olhando para cada um de nós ali.

- Quem é você? – Perguntei.

- Alguém foi mordido? – A menina tinha a voz filme e não demonstrou nenhuma emoção.

- Eu fiz uma pergunta.

- Ramona – A menina olhou sério para mim e depois voltou a olhar para todos – Alguém foi mordido?

Todos se entreolharam e por muita sorte, ninguém havia sido mordido.

Ramona deu um sorriso – De nada.

Ela virou as costas e começou a andar pra dentro do Shopping, logo começamos a segui-la, limpando o sangue e tirando os restos de pele e entranhas de cima da gente.

- Você abriu o portão pra gente, não foi? – Perguntou Maytê.

- Era isso ou vocês iam morrer tentando chegar à entrada principal – Respondeu Ramona.

- Obrigada – Disse Jessica por sua vez.

Ramona sorriu e dessa vez pareceu sincero – De nada.

- Você veio pro shopping logo depois do ataque? – Perguntou Giba.

- Ontem à noite, quando eu estava saindo, houve dois ataques. Voltei pro shopping com meu amigo e me escondi.

- Amigo? – Perguntei.

- Sim, amigo.

Ramona continuou andando, passou pela praça de alimentação, subiu um lance de escada rolante, passou por uma loja de games e finalmente chegou a uma escada rolante muito grande. A música do shopping ainda estava ligada. Estava tocando qualquer música, ninguém estava preocupado com isso no momento. Subimos e por fim ficamos pela praça de alimentação no último andar. Ao chegar lá vimos um menino branco, com os cabelos negros. Estava concentrado, limpando um winchester até que nos viu. Apontou um calibre 22 numa sequencia de tempo muito rápido.

- Quem são eles? – Perguntou o rapaz.

- Calma André, eles estão limpos – Avisou Ramona

André deu um sorriso e guardou a arma – É bom ver gente via, pra variar.

André demonstrou uma caricia imediata, o que fez todos relaxarem e por alguns minutos esquecerem o caos lá fora.

Estávamos todos sentados em uma mesa, comendo calzones frios e conversando.

- E o governo? – Perguntou Ramona – Alguma novidade?

- Saiu do controle do governo. Eles autorizaram o uso de armas de fogo e é cada um por si agora – Respondeu Giba.

- Esse shopping não vai aguentar muito tempo. Meu medo é que as pessoas comecem a vir pra cá na tentativa desesperada de se esconder, por que a maioria vê filmes e acham que é o lugar mais obvio. E se eles tentarem vir pra cá, conseguindo ou não entrar, vão chamar a atenção dos zumbis lá fora. A porta de vidro é única coisa que nos separa deles – André falou tudo muito rápido.

- Precisamos de um plano de fuga. A minha ideia era pegar o máximo de mantimentos e ir se abrigar em algum lugar seguro – Avisei.

- Tipo o exército – Jéssica deu a ideia.

- As tropas abandonaram. Não tem ninguém lá – Avisou André.

- Melhor ainda André. Teremos um lugar só nosso, com armamento pesado – Terminou Jéssica.

- E quem garante que não levaram as armas? – Disse Giba.

- Pois é, tem isso – Maytê já havia terminando de comer e estava tomando uma coca.

- Temos que correr o risco... Ou esperamos a morte aqui – Tornou a falar Jéssica.

Ramona olhou para André como se esperasse uma resposta.

- Ok. Como vamos sair daqui? – Disse André por fim.

 Começou a tocar ‘’Die young’’ no vácuo do shopping extremamente vazio. Jéssica sorriu – Eu tenho um plano.