Meses já haviam se passado desde Aquele dia.

O dia em que os muros que separavam as duas realidades da cidade 6. Shion sentia uma profunda falta de sua amiga Safu, mas o fato de saber que ela o havia salvo da morte o fazia sentí-la a seu lado. Ele ainda podia lembrar da alegria do momento em que pôde abraçar sua amada mãe, depois de tanto tempo se vê-la. Um abraço forte, o rosto dela em seus ombros, as lágrimas escorrendo do rosto de ambos... Shion sentiu-se aliviado como jamais o havia feito em toda a sua vida. A mãe mostrou-se um tanto surpresa com sua aparência, mas nada que a deixasse assustada. Logo, ele guiava aqueles que viviam no exterior da cidade para dentro desta, e podia ver as pessoas reconhecendo seus familiares que haviam desaparecido, sem qualquer informação...

Karan logo o levou até a casa, onde passaram a noite conversando, falando sobre tudo o que havia acontecido desde o último dia em que Shion fora visto por sua mãe. Risos, nervosismo, alegria e tristeza se misturavam naquela miscelânia de sensações... Por fim, a noite finalmente havia chegado. Embora ainda estivessem muito emocionados, ambos estavam exaustos. Karan e Shion deitaram-se, com este último pondo o rosto sob o ventre da mãe, como não fazia desde que ter criança. Ela dormiu facilmente, mas o jovem de cabelos albinos manteve-se acordado por um bom tempo. ''O que Nezumi está fazendo agora?'', pergunta-se preocupado. Sabia que o moreno se virava muito bem sozinho, mas ainda não conseguia deixar de se preocupar com ele. De se perguntar onde ele estava. De se perguntar se o moreno estava pensando nele...

Shion adormeceu com a cabeça cheia de pensamentos e perguntas, e nenhuma resposta. No fundo, no fundo, ele sabia que muitas noites como aquela se seguiriam. E ele estava certo.

Muito tempo se passou, e a cidade parecia imersa em outra realidade. Não haviam mais muitos recursos que a tecnologia controlada pela Mãe lhes permitia, no entanto o fervor humano e desejo de viver fazia com que os habitantes resolvessem todos os problemas e dúvidas que lhes surgiam.

Naquele novo modo de vida, Karan conseguia se virar muto bem com suas vendas, e seu fiel filho sempre a lhe ajudar. No entanto, como toda mãe, ela podia ver nos olhos do filho o que se passava no coração do mesmo. Um sentimento de saudade, de ansiedade, de necessidade. Sensação esta cujo motivo tinha nome: Nezumi. Sim, o rapaz que havia salvo a vida de Shion e que fora uma das peças-chaves na revolução que a cidade havia vivido. Como imaginava ela, não era possível que alguém vivesse emoções tão fortes com alguém sem que uma ligação se desenvolvesse. Ligação esta que poderia superar os limites da amizade...

Um dia, enquanto via o filho com um olhar triste e distraído na varanda da casa, Karan se aproximou.

- Shion, acho que precisamos conversar...

- Uh- o jovem tomou um leve susto- si-, sim mamãe...

- Filho... você se sente feliz aqui?

Shion sentiu o coração apertar um pouco.

- Claro que sim, mãe!

No entanto, ela sabia que aquilo não era 100% verdade,

- Você se sente completamente feliz?

Shion olhou para o lado, um tanto nervoso. Os sentimentos sobre Ele pareciam ressoar mais e mais alto diante daquela conversa.

- Eu...eu...

- Você sente saudade de Nezumi... e quer vê-lo.

- Não! Não é isso! È só que...

- Shion, por favor, você não precisa mentir para mim... - Karan sentou-se ao lado do filho , e lhe deu um sorriso gentil – Eu sei como você se sente em relação a Nezumi... E depois de tudo o que vocês viveram, nada seria mais natural do que isso...

O jovem de cabelos brancos nada dizia, apenas olhava para baixo, pensativo. Pouco a pouco, lágrimas brilhantes desciam de seus olhos fechados, e seus lábios demonstravam a apreensão que ele sentia.

- Mãe, eu não consigo mais ficar aqui, sem saber onde ele está, como ele está... Eu... eu me sinto culpado por estar aqui, deixando-o lá, sozinho. Eu preciso vê-lo. Preciso abraçá-lo. Preciso...

- Precisa dele... e ele também precisa de você.

Shion olhou surpreso para a mãe, que observava atentamente o filho. Ela passou a mão sob as lágrimas do mesmo, e vinha-lhe as lembranças de quando aquele garoto praticamente independente ainda era apenas uma criança indefesa, que vivia sob sua proteção. E que agora havia se tornado um alguém tão completo, tão cheio de sentimentos e lembranças, e sensações.

- Filho... se seu coração está te chamando para perto dele, você precisa seguí-lo. Vá, Shion.. Siga seus sentimentos!

O garoto não poderia se sentir mais emocionado... Levantou da cadeira e abraçou-a, abraçou-a como havia feito n'Aquele dia. O apoio dela era uma das sensações mais quentes e fortificantes que ele podia ter.

- Mãe, obrigado... - disse à Karan, enquanto enxugava suas lágrimas- eu... eu juro... juro que voltarei em breve!

- Sim... eu acredito em você, Shion... Agora vá!

O garoto saiu apressado, nervoso. Pegou algumas coisas, aquelas das quais iria precisar, e saiu em disparada ao distrito Oeste. Em suas mãos, a carta que o moreno lhe havia lhe deixado. Em seu coração, o desejo de vê-lo.