How to love

Passou-se algumas semanas desde aquele dia da festa, confesso que mudei bastante depois da minha decisão. Julie continua minha melhor amiga e Math também, o único motivo que me faz ir para a escola, estudar agora não é o minha praia. O Justin sumiu nessa ultimas semanas, perdeu algumas provas, que pela primeira vez em anos, eu fui mal.

Confesso que pensei nele todo o tempo que ele não estava comigo e o que ele poderia estar fazendo a não ser ter sido preso por uso ilegal de maconha ou de álcool. Ok, estou exagerando um pouco além da conta. Mas nunca se sabe.

Exatamente um mês depois da festa, ele apareceu do nada em uma quinta-feira nublada, onde a chuva já estava me estressando. Odeio chuva, prefiro calor e sol. Não me atrevi a falar com ele, lógico que não, apenas fiquei sentada em meu lugar na primeira aula, onde ele tinha saído para eu sentar.

Na hora do almoço não vou ao refeitório, pois estou evitando comer muito nos últimos tempos. Pego meu suco de caixinha, que por sinal deve estar estragado, mas tomo mesmo assim, fingindo que é a melhor refeição da minha vida. Sento perto do campus sozinha, lendo meu livro e admirando aquele dia horrível.

- Está sem fome? - um voz rouca soa acima de mim e eu imediatamente viro pra olhar. É ele.

- Sim - volto para olhar meu suco e sinto que ele se sentou ao meu lado.

- Você deveria comer alguma coisa - ele fala olhando nos meus olhos

- E desde quando você manda em mim? - olho ameaçadora

- Guria guria, não fala comigo assim, aproveita que hoje eu to de bom humor - dá uma risadinha sínica.

- Nossa, que medo de você. Se manda cara - desvio o olhar para meu tênis

- Não vai perguntar por quê eu sumi tanto tempo? - assumo que quero muito saber o motivo, mas não posso dar uma de me preocupei com você

- Não, obrigada - então ele pega minhas duas bochechas com a mão e as segura, enquanto me da um longo beijo. Sinto gosto de remédio ou de droga, vai saber.

- Para de fingir que você não se importa, garotinha inútil - ele me da um tapinha de leve na cabeça, levanta e vai em direção a entrada. Me deixou aqui sozinha, completamente sem fala.

Corro imediatamente para o banheiro e vomito sem saber mesmo se cheguei ao vaso. Aquele gosto me enjoou por completo, então lavo minhas mãos e fico pensando no que fazer. Vejo meu reflexo no espelho, estou mais magra que o normal, meus ossos da costela estão a mostra, mas eu abaixo a blusa e finjo não ligar. Fico me olhando durante uns dez minutos, olho no relógio e ainda faltam quinze para uma.

Sento no chão do banheiro e sem mesmo saber, sinto lágrimas descendo como fogo, queimando minhas bochechas. Então seguro meu pulso por um minuto, aquele osso magro de quem não come a semanas. Vejo minhas veias saltarem e sem pensar, começo apertá-las até minha mão ficar roxo. Estou descontando minha raiva e parece estar funcionando.

Vou direto na minha mochila, jurei que nunca ia fazer isso, prometi pra Julie que desde que a minha mãe morreu eu nunca mais iria me cortar. Desculpa, eu penso, mas eu preciso. Pego meu apontador e piso nele, tentando quebrar. Já que funciona, eu vou direto a pia e corto apenas uma parte, vejo o sangue escorrendo e começo a chorar. Olha a que ponto você chegou.

Faço apenas dois riscos, ambos mais pra cima, descontando a raiva da merda do meu pai e outro pelo ódio que sinto por aquele menino. Saio com um sorriso em direção ao corredor, então de repente eu paro, minha respiração está ofegante. Ele não pode fazer isso comigo, não pode. Sinto que minhas pernas vão despencar ali mesmo e que meu coração vai parar. Então saio correndo, chorando, para o campo, onde posso ficar sozinha.

Ele beijou outra garota. Ali mesmo, na minha frente. Primeiro ele tenta me levar para as drogas, depois tenta abusar de mim, beija outra garota na minha frente, meu pai não acredita no meu esforço e minha vida está completamente um inferno. As palavras de Julie passam pela minha cabeça "Ele é apenas um maconheirinho que quer curtição com as meninas, e pode te magoar". Como que naquela porra de festa eu não lembrei disso e me deixei levar?

De algum modo, eu tenho que voltar para as aula, não quero repetir de ano, por mais que eu não esteja mais preocupada com porra nenhuma. Enxugo as lágrimas e me olho no mini espelho que tem na minha bolsa. Quando subo meu casaco vejo que meus cortes pulsam e doem muito, abstraio a dor e pego o rumo da classe.

A aula de culinária foi um saco, me enjoei depois de comer um bolinho de baunilha, mas prometi pra mim que eu não iria vomitar, precisava de alguma coisa no estômago, pelo menos até o fim da noite. Quando as aulas acabaram Julie veio me dar um beijo de tchau enquanto recusava sua carona.

Estava esperando o ônibus quando avisto a mesma ferrari branca de Justin. Ele está lá dentro com alguém, outra menina quem sabe, mas não me importo, é isso ai. Percebo que não é a mesma menina que ele beijou à alguns minutos atrás, escondo meu rosto para não avistarem minhas lágrimas. Preciso definitivamente chegar em casa.