A Thousand Years escrita por Maatt


Capítulo 1
Capítulo Único




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‘ O coração bate rápido... ’

Eu conversava com meus amigos quando ela apareceu. Eu podia sentir o meu pulso acelerando, embalado pelo som de minha respiração. Aquele perfume que eu reconhecia tão bem, que eu poderia distinguir entre milhares de aromas.

Cores e promessas...

Há quanto tempo eu a conhecia? Não me lembrava de minha vida antes do acidente, mas eu sempre soube que ela estava ali, sendo minha melhor amiga, me apoiando nas principais decisões. Não podia enganar a mim mesmo, não mais. Eu a queria por perto, queria que ela fosse minha, não suportaria se outro a tomasse de mim.

***

Como ser forte? Como eu posso amar quando eu tenho medo?

Resistir ao Lysandre se tornou cada vez mais insuportável e doloroso. Não podia mais aguentar, mas o medo de que tudo desse errado me consumia. Ele tinha aquele olhar que eu conhecia tão bem, intenso, instigante, que me hipnotizava, fazendo com que eu sustentasse o meu, sem conseguir desviá-lo. E eu sabia que aquele olhar era o meu ponto fraco, que eu me renderia a ele se não tomasse o controle o mais rápido possível. O problema é que eu simplesmente estava fora de controle.

***

Medo de me apaixonar?

Megan, seu nome era tão estranho, todo aquele sentimento era estranho. Como se alguma coisa tivesse estado fora do lugar, errado. Ela sempre resistia quando eu passava dos limites, não entendia o motivo de tanto medo de se envolver comigo. Eu teria deixado de lado se ela demonstrasse interesse por outro alguém, mas Megan era fria com todos. O único que ela permitia aproximação era e sempre fui eu.

Mas vendo você em pé sozinha...

Caminhei até ela. Seu vestido era tão lindo quanto seus olhos. De longe, era a mulher mais linda daquele baile. Era incrível como ela podia ficar incrivelmente bonita em tudo o que vestisse, aquele vestido de época lhe caía tão bem, como se fosse feito exclusivamente para ela. Peguei a sua mão direita e beijei, antes de olhar e ficar sem ar, efeito que ela me causava constantemente.

- Poderia me dar a honra Milady?

Eu vi o seu sorriso e podia jurar que já vivi essa cena em outro lugar. Em meus sonhos talvez.

***

Todas as minhas dúvidas de repente somem de alguma forma...

Eu não podia resistir a ele. Não aquele dia, com aquele terno, aquele vestido e o tema do Baile. Não podia resistir o pedido, assim como não pude da primeira vez que ele fez. E de repente, eu bloqueei todos os pensamentos que minha mente insistia em lembrar. Todos aqueles pensamentos que gritavam que eu não poderia me deixar entregar, que precisaria ser forte essa noite.

Um passo mais perto...

Me esforçava para segurar as lágrimas quando ele parou e olhou nos meus olhos. E eu sabia o que ele queria dizer. Fazia tanto tempo, mas eu sabia que olhar era aquele. Foi quando desviei minha atenção em uma tentativa frustrada de manter o controle e vi quatro homens de terno vindo em nossa direção.

***

O tempo permanece o mesmo… Beleza em tudo o que ela vê...

Estava olhando naqueles olhos e procurando uma resposta, uma afirmação, um sinal, para que eu pudesse beija-la. Nada me impediria hoje. De repente tocaram em meu ombro.

- Sr. Lysandre, poderia nos seguir por favor?

Eu serei valente, eu não deixarei que nada leve embora o que está de pé na minha frente...

Eu não os seguiria, se não tivessem me mostrado as carteiras do governo. Provavelmente seria sobre o meu acidente há seis anos. Segurei a mão da Megan e os segui até uma sala escura. Não soltaria a sua mão, não hoje, responderia as perguntas e nós dois poderíamos ir embora.

- Lysandre, sabe quem é essa senhorita que está ao seu lado?

- Claro que sei. Sem parecer rude senhor, mas eu não estou entendendo o porque de sua visita. Achei que fosse algo relacionado ao meu acidente e a Megan não tem nada a ver com a situação.

- Senhor Lysandre, iremos perguntar de outra forma. Quem é essa mulher que está ao seu lado? E como se conheceram?

- Megan, minha vizinha. Nos conhecemos um dia depois que eu cheguei do hospital, ela havia se mudado para casa ao lado. Senhor, eu não sei porque está me perguntando esse tipo de coisa, mas se me derem licença eu devo uma dança a essa senhorita.

Eu me virei e puxei Megan pelo braço, até um dos homens de terno me empurrarem e me jogarem em um sofá e colocar a Megan de frente a mim.

***

Cada respiração, cada hora se resume a isso...

Ele não se lembrava. E eu senti tudo desabando ao meu redor. Não podia mais segurar minhas lágrimas, elas jorravam pelo meu rosto. Essa era minha última chance, era o único momento que eu podia nos libertar. Mas não dependia mais de mim, dependia dele. Só dele. Achei que com o Baile, com o meu vestido, ele se lembraria. Como não se lembrou? Como pôde repetir o modo de me chamar para dançar, sem que tenha se lembrado? Olhei para um dos homens e ele fez um sinal, para que eu repetisse a mesma pergunta que ele havia feito minutos atrás.

- Lysandre, tem que se lembrar. Por favor, você precisa se lembrar.

Ele me olhava atordoado, como se eu estivesse louca.

- Por favor, - eu implorava - se esforça só um pouquinho. Não se lembra? Esse vestido? O seu pedido de dança? Você fez como da outra vez. Por favor, se lembre.

- Eu não sei do que você está falando Megan, é algum tipo de brincadeira?

- Chega, vamos. – Um dos caras de terno falou.

- Não, por favor, me dê mais uma chance. Só mais uma chance, por favor.

- Acordo é acordo. Se entregue.

- Não, por favor. -eu implorava.

- Sinto muito, seu tempo acabou.

Fechei meus olhos. Estava tudo acabado. Fui entregando os meus pertences, os meus documentos ao homem de terno. Tirei um dos colares do meu pescoço e sem dizer nada, coloquei um deles no pescoço do Lysandre. E o outro deixei aberto, não havia dado tempo de fecha-lo. Estendi as mãos a um dos homens. Não me sentia triste por morrer. Por morrer não. Certamente a morte era menos dolorosa do que aceitar que havia perdido o homem que eu amava pelo resto da vida. Ele nunca se lembraria. Nunca saberia ao menos o motivo de minha morte. Enquanto ele colocava as algemas abaixei a cabeça e o meu colar com o coração de vidro caiu e se partiu em mil pedacinhos na sala, como da outra vez. E novamente, meu coração quebrava junto com ele.

***

Um passo mais perto...

Não entendia o motivo que fazia a Megan chorar tanto. Porque ela insistia pra que eu me lembrasse de algo? Porque? Eu tentei me levantar pra tira-la dali, mas aqueles homens não deixavam, eu queria gritar, pedir por ajuda, mas sabia que ninguém ouviria. Até que ela veio até a mim e colocou um colar no meu pescoço e eu tive outra vez, a mesma sensação, como se eu houvesse vivido aquilo outra vez. Até que um deles a algemou e eu me levantei da cadeira para defendê-la, mas o seu colar caiu com aquele mesmo som. Foi quando pedaços de memória e de sonhos se uniram em minha mente.

Eu tenho morrido todos os dias, esperando por você..

1011, Roma.

Estávamos dançando no baile. Ainda me custava a acreditar que conseguimos chegar ali e ficarmos tanto tempo juntos. Dois órfãos, cuidando um do outro sozinhos, desde crianças. Por sorte, encontrei um bom senhor que me deu um emprego, não ganhava muito bem, mas soube investir e me tornar influente com pessoas desconhecidas, que não soubessem o meu passado. Dois homens me puxaram e me levaram junto com minha noiva para um quarto escuro. E reconheci o homem que nos recrutou para uma experiência, da qual eu me arrependi no início, mas soube usa-la ao meu favor por um bom tempo. Não queria estar ali, mas sabia que não podia lutar contra eles. Felizmente eles nos deixaram viver esses últimos seis anos longe de suas ideias absurdas, tempo esse que parece ter chegado ao fim. Ele iniciou o discurso sobre algum problema meu de memória mas não conseguia prestar atenção, procurava um jeito de sair dali. Até que o desespero na voz de minha noiva, fez com que eu voltasse a realidade.

- 1000 anos? Não podem fazer isso com ele!

- Não temos escolha. Vocês dois são preciosos demais para mim.

- Somos apenas uma experiência de vocês que deu errado.

- Não diria isso Lysandre. Vocês são os únicos órfãos que recrutamos que sobreviveram ao teste. Tudo bem, que nossa tentativa de encontrar uma cura para a doença deu errado, mas descobrimos a fonte da juventude! Vocês nunca envelhecerão. As suas células foram totalmente modificadas devido ao vírus. Vocês não compreendem a maravilha que são? São como duas formas anatômicas perfeitas, encontradas aleatoriamente, vocês sequer tem alguma característica igual, não são da mesma família e os dois sofreram a mesma mutação.

- Você é um louco. Um bruxo. Ninguém tem o poder de oferecer isso. As pessoas lá fora vão nos queimar, achando que somos feiticeiros.

- Essa sociedade ainda não está pronta para a ciência.

- Ciência? De onde tirou isso?

- Cale-se garota insolente. Como eu estava dizendo meu jovem, você tem apresentado alguns defeitos. Esse seu problema de memória precisa ser modificado. Não podemos cometer os mesmos erros. Vamos aproveitar, já que a sua memória foi a única que nós pudemos apagar. A cada 10 anos, iremos apagar a sua memória, fingiremos que sofreu um acidente. De acordo com meus cálculos o seu cérebro deverá ser apagado 100 vezes, até que volte normalmente e em 1000 anos você poderá ter sido curado. Usaremos a sua noiva, já que ela será um bom motivo que o fará lembrar. Se daqui a 1000 anos você não se lembrar dela, nós apagaremos sua memória outra vez e revertemos o processo, fazendo com que você viva sua vida normalmente, como um adolescente de 17 anos.

- Eu tenho 23 anos.

- Seu corpo parou nos 17. 

- E o que fará comigo?

- Sua memória não pode ser apagada, portanto não teremos outra escolha a não ser mata-la.

- Eu não vou assinar esse acordo, não vou permitir que a matem.

- Então, trate-se de lembrar dela daqui há 1000 anos.

Não havia outro jeito, resistir era impossível. Segurei a mão dela, precisava conversar, antes que eles me levassem.

- Pode nos dar um minuto?

Amor, não tenha medo, eu tenho te amado por mil anos.

Ele nos deixou a sós. Não tínhamos como fugir. Não tínhamos qualquer escolha. Não podia pedir isso a ela. Mil anos era muito tempo, até pra quem tinha a eternidade. E eu ainda não podia me acostumar a isso.

- E se você não se lembrar de mim? –Ela me perguntou com voz de choro.

- Como poderia esquecer? Eu te conheço desde os meus 12 anos e sempre soube que me casaria com você. Eu sempre cuidei de você não foi? Nós dois, órfãos, tendo que dormir em cabanas improvisadas e roubando frutas até eu conseguir um emprego pra não deixar você passar fome.  Eu vou cuidar de nós dois. Eu prometo. Pode ficar com outro se quiser, eu vou entender. Daqui há 1000 anos eu me lembrarei de você, e vou te salvar.

- Como poderia ter outro?

- Mil anos é tempo demais.

- Eu vou esperar você.

Segurei a sua mão e deslizei a minha outra mão pelo seu rosto e encostei meus lábios nos seus, mas fui interrompido pela voz do Dr.

- Tempo esgotado Lysandre. Diga adeus a sua noiva.

- Eu comprei isso pra você, eu iria te dar no dia do nosso casamento semana que vem.

E te amarei por mais mil anos...

Ela colocou um colar com um coração em meu pescoço. Ela tentou colocar o outro no pescoço dela mas um dos homens de preto a algemou antes que pudesse fazê-lo, fazendo com que o pingente de coração se espatifasse. Uma lágrima percorreu meu rosto enquanto ela era levada pra longe de mim.

- Eu te amo. Sempre vou amar. –Sussurei.

***

E durante todo o tempo eu acreditei, que eu encontraria você

Já tinha desistido quando coloquei o colar no pescoço dele. Eu morreria e ele não se lembraria, nunca mais. Abaixei minha cabeça e segui, mas a voz dele fez todos pararem.

O tempo trouxe o seu coração pra mim...

- Demetria?

Era o meu nome. Ele tinha se lembrado do meu nome verdadeiro. Ele tinha se lembrado! Eu me senti liberta. E foi como se tudo houvesse parado. Como se apenas a sua voz pudesse ressoar, repetindo meu nome outra vez e outra vez. Eles me impediram de dizer meu nome, era o acordo. Ele devia lembrar dele. Não segurava mais os soluços. Eu estive tão perto do fim. Mas isso não importava mais.

Eu sorri e me virei. Os homens de ternos me soltaram e ainda com as algemas eu passei os meus braços ao redor do pescoço dele. As lágrimas continuavam jorrando no meu rosto.

- Acabei de me lembrar que fomos interrompidos da última vez e que você me deve um beijo e uma dança.

Ele me beijou, era um beijo desesperado, de entrega, de sofrimento, de angústia. Foram anos sofrendo, anos morrendo pouco a pouco, vendo ele ser apagado, ser mudado de cidade, trocando de ‘família’,  ser feito de boneco nas mãos deles. Foram anos querendo me entregar, querendo toca-lo, querendo senti-lo, querendo contar a verdade, sendo impedida toda vez que chegava mais perto. Ele diminuiu a intensidade do beijo, até que parou.

 - Me desculpe por não me lembrar antes.

- Nada mais importa. Só que você se lembra.

- Como você me esperou por mil anos? Ao meu lado, o tempo inteiro.

- Eu poderia esperar por mais mil. Por você. Só você.

Os homens de terno me soltaram. Era parte do acordo que eles nos deixariam em paz e que deixariam conosco a escolha de continuarmos sem envelhecer. Eu voltei ao baile de mãos dadas ao meu noivo. Ele ainda era meu noivo não era?

- Ainda se lembra de nossa dança?

- Como eu poderia esquecer qualquer coisa relacionada ao meu noivo?

- Esse foi o casamento mais enrolado de toda a história. Mas porque eles não repetiram a experiência? Quer dizer, era o sonho daquele Doutor prosseguir com isso. Seria normal ter muita gente sem envelhecer hoje.

- Parece que a sala de pesquisas dele foi invadida misteriosamente e modificaram as fórmulas e a fórmula verdadeira foi perdida, o doutor enlouqueceu um ano depois, mas garanti com os outros responsáveis que o acordo seria cumprido e a fórmula da juventude virou uma lenda.

- Misteriosamente?

- Acha que eu ficaria quietinha enquanto ele continuasse a fazer experiências?

Ele sorriu, tínhamos tantas coisas para esclarecer, mas nada podia nos impedir. Nada mais. Éramos livres!

- Demi, eu te amo tanto.

- Eu também te amo Lysandre, sempre te amei.

Lysandre sorriu. Era tão bom vê-lo perto de mim. Vê-lo me abraçando, sentindo. Dizendo o meu nome verdadeiro. Era a melhor coisa que eu poderia sentir em mil anos!

Nos casamos na semana seguinte.  E a música que tocava quando eu entrei no casamento, não poderia ser outra...

Eu morri todos os dias esperando você

Amor, não tenha medo

Eu te amei por mil anos

Eu te amarei por mais mil

O tempo todo eu acreditei que te encontraria

O tempo trouxe o seu coração ao meu

Eu te amei por mil anos

Eu te amarei por mais mil


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