Acaso escrita por Simone
Yugi estava em seu quarto, deitado na cama e olhando para a janela. Seus pensamentos estavam longe dali. A estranha luva que recebera na manhã de segunda-feira estava junto à roupa que colocaria no dia seguinte. O grande dia. O garoto já havia programado tudo: sairia de casa três horas antes de embarcar para a ilha onde aconteceriam os jogos, passaria na casa de Joey, Tea e Tristan e de lá partiriam para o aeroporto. Só de pensar o que o esperaria naquele campeonato mundial já dava certo friozinho na barriga. Yugi duelaria com profissionais, campeões de seus respectivos países, acostumados com platéia e tudo mais. Mas o que o deixava mais perturbado era o fato de ser convidado para participar se nem ao menos disputara uma seleção. Seria por ter vencido Kaiba, o atual campeão mundial? As notícias correriam assim tão rápido?
No dia seguinte, Yugi pulou da cama antes mesmo do relógio despertar. Colocou sua roupa e calçou a luva. Ao descer as escadas, percebeu que havia levantado cedo demais, pois nem vovô levantara. Foi em direção à cozinha, serviu um copo de leite, preparou um sanduíche de queijo e sentou-se na sala. Ao ligar a televisão, viu que a maioria dos canais enfatizava o torneio que tanto esperava. Em um deles, os competidores eram apresentados detalhadamente, o que chamou a atenção do garoto.
- “Seto Kaiba, atual campeão mundial e possuidor dos três Dragões Brancos de Olhos Azuis, vem ao torneio defender seu título pela segunda vez”.
- Com certeza pegarei o Kaiba em algum momento da competição...
- Yugi! O que faz tão cedo fora da cama? Não conseguiu dormir? – Vovô Salomon vinha em direção à sala com cara sono.
- Bom dia vovô! Não, eu consegui dormir sim, mas é que eu não estava mais com sono e decidi levantar. Fiz muito barulho?
- Oh não... Eu também não consigo mais dormir... O que está assistindo?
- É a apresentação dos competidores, vovô. Olha, vão apresentar a Sara.
- “Sara Jim, a campeã brasileira, com seu deck zumbi, vai tentar surpreender mais uma vez o mundo com seus duelos”.
- É se depender dela, vai mesmo... – Brincou vovô Salomon levantando do sofá e indo para a cozinha – Quer mais um sanduíche, Yugi?
- Não vovô, eu vou lá para cima terminar de arrumar minhas coisas e depois já vou passar no Joey, Tristan e Tea para depois irmos ao aeroporto.
- Ótimo, quanto antes vocês chegarem lá, melhor.
~x~
- Sara, vamos, tu já pegaste tua mala? Sara?
Um ar gélido saiu de dentro do cômodo logo que dona Jim abrira a porta. O ambiente completamente escuro fez com que um arrepio lhe percorresse a espinha.
- Sara minha filha, por que tu insistes em deixar esse quarto nessa penumbra?
- Já peguei a mala. Vamos? – A garota passou pela mãe que lhe lançava um olhar interrogativo sem dar muita atenção.
- Teu pai já está te esperando no carro... Minha filha, tem certeza que não quer por uma roupa mais... alegre? – Com um sorriso nos lábios e alimentando falsas esperanças, dona Jim apenas recebera um olhar sem emoção da garota que entrava no carro.
- Não mãe. Eu estou bem.
- Ora... Então, boa sorte lá minha filha! Qualquer coisa venha para casa!
- Deixe de besteiras Martha! A guria já é uma moça e tu vens com essas baboseiras...
- Besteiras? Baboseiras? Tu achas que desejar sorte para um filho e deixá-lo confortável é besteira, Julho?
Sara apenas abaixara a cabeça e fechara os olhos. Começaria tudo outra vez. Qualquer coisa, qualquer acontecimento era motivo de começar a discussão, e sempre que presenciava as brigas, tinha certeza de que aquilo não terminaria bem.
- E tem mais Julho, não esqueça que quando voltares ainda temos que conversar sobre o carro do Ariel!
- Eu já falei pra ti que aquele guri só vai ganhar o carro quando me aparecer com a matrícula da universidade, Martha!
- Nosso filho precisa do carro, Julho!
- E a Sara precisa ir ao aeroporto! – Dizendo isso, o senhor Jim deu a partida no carro e acelerou, deixando Martha acenando ao longe.
- Quando é que a tua mãe vai tirar essa história maluca da cabeça, ein?
Tanta coisa se passava pela cabeça da garota naquele momento... O torneio, o vestibular que prestaria no mês seguinte, o estágio que tentaria com seu tio no hospital em que ele trabalhava... E seus pais preocupados com o traste do seu irmão que estava tentando pela quarta vez passar no vestibular. Realmente esse mundo não era justo...
- Sara, eu sei que tu estás preocupada com esse torneio por causa do dinheiro... Mesmo tu não demonstrando, eu sei. Eu só quero que tu saibas que, independente de ganhar ou não, o teu carro já está garantido!
Uma troca repentina de opinião acontecera na cabeça da garota. O mundo não era injusto. Ela é que não pertencia a ele... O discurso estava ótimo até a parte do carro. E tudo o que conseguia pensar em dizer era...
- Obrigada pai.
Julho estacionou o carro e ajudou Sara a descer com a mala. Se despedindo de seu pai, a garota atravessou a rua e entrou no aeroporto com confiança. Sua figura não passava despercebida, e muitas pessoas a fitavam por alguns segundos. Não era pra menos. Sara vestia preto dos pés a cabeça e sua pele estava ainda mais pálida.
Enquanto caminhava em direção ao portão de embarque fechado especialmente para ela, um menino conseguiu se desvencilhar da mão de sua mãe e correu em direção a Sara, abraçando-a.
- Sara, tu vais ganhar! Tu és a melhor jogadora do mundo! Eu sou teu maior fã!
Todos pararam para ver a cena, apreensivos em esperar qual seria a reação da garota.
Sara olhou para o menino e abaixou-se, ficando da mesma altura que ele.
- Mesmo com jogadores como Kaiba e até mesmo Mutou, ainda torces por mim?
O menino olhou profundamente nos olhos de Sara por segundos, que mais pareciam horas e num gesto inesperado, a abraçou.
- Nem mesmo Pegasus me faria mudar de idéia!
Aquela demonstração de carinho Sara com certeza não esperava. Ao terminar o abraço, alcançou ao garoto uma carta de seu baralho, deixando-o eufórico.
- Olha mãe, Sara me deu um dragão zumbi!
A mãe do garoto lançara um olhar agradecido à garota que retribuiu apenas com um aceno discreto com a cabeça.
Mais uma vez houve uma troca de opinião na cabeça de Sara. Quem sabe fizesse parte desse mundo... Os extraterrestres eram sua família... E com esse pensamento, Sara viu o avião decolar rumo à ilha onde aconteceriam os duelos mais importantes de sua vida.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Esperando coments... ;**