Norte já tinha muitos anos vividos para poder afirmar que aquele era o momento mais assustador que a era das trevas. Pior do que sua invasão para o vilarejo do grande mago e que foi seu mento, talvez pior do que a era das trevas que extinguiu várias famílias e parentes do Homem da Lua, mas o que aterrorizava Norte era realmente não ter capacidade para ajudar realmente o jovem Jack Frost e a todos seus amigos.

Por um momento desejou que Noiteluz pudesse realmente estar com eles para guia-los, mas como o primeiro guardião, abdicou do seu dever por ter amado uma humana e a protegida de Norte. Katerine foi uma das jovens do vilarejo que serviu de exemplo para o espadachim e ele seguia o caminho justo que ela desejou seguir.

Nem mesmo o Homem da Lua dava respostas, não usava mais o grande cristal que uma vez foi de sua família para se comunicar com a Terra. Parecia que ele tinha desistido dos humanos, tinha desistido das crianças que habitavam aquele lugar, como se cada esperança tivesse se apagado com cada tela de aparelho eletrônico.

Norte sentia que se cada brinquedo tivesse vida, levantaria e criaria uma sacola com suas lembranças com a criança.
Ele sentia que deveria fazer algo, mas o quê?

A sua oficina não funcionava como antes. Claro, alguns meses antes do natal sempre tinha o movimento agitado por conta de as crianças quererem os tão desejados brinquedos, mas até mesmos essas peças perderam o encanto por conta dos seus donos não serem tão bonzinhos.

Estava em seu escritório, olhava e folheava livros antigos em busca de alguma resposta, mas sempre tinha algum escrito de como Breu foi enfraquecido durante a era das trevas, de como Raioluz se sacrificou e de como a Mãe Natureza se colocou para que seu pai não enlouquecesse de vez novamente, que fosse lucido.

Mas aquela não era uma história, o "agora" estava acontecendo e Norte deveria escrever aquele momento antes que a ruina caísse sobre todos. Era teimoso e sabia disso, ninguém tirava um desafio do grande Norte.

As crianças estavam mudando e eles precisavam mudar com elas, mas a que custo? O que custaria a eles? A existência de Jack? Não iria sacrificar um garoto que estava com medo.

Medo.

O medo de Jack era sumir, mas não apenas sumir e deixar de ser visto, era de que ninguém mais o visse, de que deixasse de existir e ninguém lembrasse dele. Talvez Norte tivesse descoberto um dos sintomas que alastrava ainda mais a peste dos medonhos no garoto de neve, uma descoberta que Norte não sabia como solucionar em alguém já iludido pela "morte".

Essa cura dependia de Jack e apenas dele.

Mas o velho iria desistir? Claro que não!

Procurou ainda mais nos livros, buscou a sabedoria deles da qual sempre negou a eras atrás, mas quando estava tão avançado com suas pesquisas... Ele acabou cochilando e tendo umas das nuvens de Sandman em si, mostrando o que seria mais perto de uma resposta.

Sand o fez lembrar do passado, quando estavam prestes a enfrentar Breu em um último confronto. Com o Pooka, ou melhor, Coelhão contando a sabedoria de manter o tempo-espaço em ordem por sua espécie fazer assim, por ser o guardião daquele planeta Terra junto do Homem da Lua. Por ter presenciado o momento em que Breu se tornou Breu.

Por ter visto o senhor dos medonhos que destruiu seu planeta ser criado.

De supetão, Norte acordou e buscou ar como se não respirasse bem a séculos. Agora ele tinha a resposta e graças a Sandman.

Mas antes que pudesse agradecer, notou o pequeno homenzinho ali em seu escritório, as mãos tremulas e seu olhar antes confiante, cheio de receio e com medo. Um medo que não era característico a Sandman.

— Sei o que vi... Você acabou de salvar a vida do menino, Sandman – Norte falou, massageando a têmpora e sorrindo fracamente para o amigo, mas o desfez ao notar a mesma expressão que não o abandonava – Nunca consegue ser claro com que tenta falar, não é, velho amigo? – Suspirou.

Sabia que não iria ser fácil, mas as vezes, ninguém facilitava mesmo o que queria para chegar ao objetivo.

A areia do sono de Sandman se mexia e formava no topo de sua cabeça, tentando conversar com o que Norte provavelmente não entendia e isso acabou deixando o velho cossaco russo ainda mais confuso e frustrado. Não estava chegando a ponto nenhum.

Então a imagem de Breu e sua neta, Karma se fez em sua cabeça, o que deixou Norte ainda mais confuso.

— O que a pequena Karma tem com essa história, Sand? – Perguntou e Sand recuou – A menina vai se machucar nesse conflito? Por tudo que é importante, queremos apenas salvar a pele de Jack e não começar outra era as trevas! – Resmungou.

Mas a verdade era que eles já estavam em uma era das trevas, mas relacionar a menina como uma princesa das trevas era algo pior, alguém com pouca idade e pureza dela seria uma catástrofe como foi com Breu com seu desejo de transformar Katerine em uma princesa das trevas.

Mas o poder de Karma era mais poderoso, se alguém tentasse impedi-la, teria o ataque recebido por uma de suas leis, a primeira lei da Karma.

— Sand, você quer ajudar ou não? – Resmungou, frustrado e cansado por ter tentado achar uma resposta – Olhe, sei que entre todos, consegue se comunicar através dos sonhos por eles nos mostrarem o que conhecemos, por nós mostrarmos o que já passamos, mas isso não está ajudando...

Sand ficou ao chão e bateu o pé, em teimosia e raiva pela fala do Norte. Mas então ele formou outras figuras com Karma que era os acessórios que afastavam as crianças da infância um círculo entre ambas as imagens e uma terceira, a dos medonhos envolta de Karma.

— Não vamos fazer isso, em hipótese nenhuma iremos nos rebaixar a maldade dos pesadelos – Norte controlou sua voz e Sand negou com a cabeça, as mãozinhas apontando para o próprio peito como se negasse que aquela ideia era dele.

Então o pequeno homem de areia sugeriu outra ideia, usando a imagem de Jack rodeado de pesadelos e Norte não deixou com que o pequeno terminasse, apenas se virou de costas e respirou fundo. Não gostava de ver o menino que via como um filho sendo tomado pela escuridão.

— Não podemos desistir... Simplesmente não podemos... – Sussurrou.

Se Karma fosse tomada pela escuridão, usaria os pesadelos a seu favor para afastar as crianças da tecnologia.

Mas Norte não iria permitir aquela escolha.