The Darkness is Coming escrita por Liran Rabbit


Capítulo 14
Quando os tambores da guerra tocam


Notas iniciais do capítulo

Aqui lhes apresento o último capítulo e logo após ele, um epílogo bem breve.
Espero que gostem.



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O céu estava explodindo e com a visão ali no chão e cercado pela natureza tão velha e cansada, Coelhão não sabia dizer o que Jack deveria estar vendo ou atacando, se era algo construído de natureza humana ou obra de Breu para dominar e colocar o mundo em uma nova era das trevas, sentia a raiva fluir por todo o seu corpo apenas por conta do pensamento e de como foi idiota em não ter se esforçado ainda mais para livrar aquela que amava das mãos de um tirano louco pelo poder da escuridão.

Sóbrio? Ele tinha suas dúvidas e por ter sido afastado como um empecilho só provava a desconfiança dele para com Breu, mas ali ele não pensaria em Breu e sim, se focaria no desastre que a natureza estava se tornando, ficando quebradiça e quase morta, alaranjada como no outono e fora da própria estação.

A tormenta nos céus ficou mais intensas e ele pôde ver as areias dos pesadelos sendo impedidas de chegar em algum destino, mas o mais estranho das mesmas eram que estavam misturadas com algo já conhecido por Coelhão... As areias dos sonhos de Sandman. Essas que deveria estar fazendo o que Jack estava que era lutando contra aquele tormento e pesadelo que eram, mas ao contrário disso estavam... Tranquilas, como se aquilo fosse a coisa mais tranquila do mundo.

Quando as areias de pesadelos também vieram pelo chão, Coelhão logo se colocou diante do que estava por vir, o peso dos quatro sabres russos pesavam sim nele, mas aquilo não seria uma preocupação maior já que ele trouxe o maior veneno para um pooka, a arma de guerra que seu povo utilizou contra a guerra dos medonhos e seus pesadelos, na invasão de Breu e mesmo assim, sucumbindo diante da enorme dizimação que ele fez com inocentes.

Chocolate.

Antes de um soldado e explorador da Terra, Coelhão foi sim um estudioso que teve a graça do tempo e espaço a sua mercê e palma da pata, mas não mais. Ele já conseguiu entrar nos túneis que o levariam a ver o futuro, mas aquele dom e estudo acabaram ficando fora de mão e ele não conseguia acessar o futuro como antes, alguém também impedia que ele fosse longe demais.

Os efeitos não eram nada agradáveis, era como se algo rasgasse sua pele e acabasse crescendo, mas era o que estava acontecendo. Em cada lado, dois braços a mais cresceram e sua anatomia se alterou, crescendo. Conseguia ouvir os ossos do seu corpo quebrando em pedaços, rugiu em dor e mesmo assim, desembainhou os quatro sabres russos e avançou contra a ameaça, sentindo seu lado mais selvagem dominá-lo aos poucos.

Como uma besta, não lembraria de todos os detalhes quando o efeito passasse, mas com toda certeza lembraria da raiva, angustia e tristeza. A dor do passado sempre acabava vindo com o efeito do chocolate, dos medonhos que matou em batalha antes de fugir sem rumo, dos primeiros cem anos que passou na Terra e tendo as memórias o atormentando durante os sonhos, sem areias do sonhos de Sandman para ajudá-lo, ele ficou sozinho. Perdido. Apenas um coelho estranho e que se enterrou nos estudos quando Norte o encontrou com a garotinha humana, Katerine.

Cada sabre cortava os pesadelos ao meio, as formas distorcidas junto aquilo que deveria ser Sandman os auxiliando, um dos seus sendo um traidor? Sand deveria uma longa explicação, mas o foco se mantinha na violência e na raiva, aquilo não poderia chegar a nenhuma cidade humana ou desencadearia o caos e colocaria a humanidade em escuridão, no medo.

— Coelhão, pare! – Uma voz distante e que ele não queria a atenção dela, não deveria se distrair – Seu canguru idiota! Pare!

Ele estava cego, se dependesse dele para parar, não o teria feito. Seu corpo foi congelado dos pés até o pescoço e não era apenas um gelo fraco, era o tom de azul escuro como de uma geleira, isso o irritava, mas também o tranquiliza por estar parado e sem queimar literalmente em combustão com o efeito do chocolate.

— Escuta e eu quero você consciente do que vou falar – Era Jack que estava ali com ele, falando e tirando cada sabre do Coelhão, o garoto não se importava com o risco que estava tendo ali – Temos que deixar os pesadelos e os sonhos irem as cidades, amigão – Contou, o ar ficando gélido e leve, algo novo – Não podemos atacar algo inevitável, Coelhão.

Eu preciso parar essa coisa!— Rosnou, alterado – Ele a usou, tenho que parar aquele monstro! Aquele homem sem escrúpulos!

— E vai ajudá-la quando têm a força de um exército? Use a cabeça e volte ao normal, não tem como parar uma das leis da Karma, Coelhão. Ela está causando isso, posso sentir, posso sentir a inocência nos pesadelos e nos sonhos e nenhum deles têm a maldade dos humanos, nenhum – Explicou e aos poucos, Coelhão parava de se debater – Ela está neles, canguru...

O quê você disse...? — Vociferou em um tom contido – Ela não tem a força de se manter onipresente...

— Ela é a encarnação de literalmente “você colhe o que planta”, Coelhão... O poder dela poderia não ser assim antes, mas é agora – Sussurrou.

— Se manter onipresente é o mesmo que... Ela... – As palavras não vieram, o pensamento se mantinha em negação e a combustão voltava, mas não de raiva e sim...

Tristeza.

Você está errado! — A voz grave voltou, mas dessa vez ele se sentia fraco para se libertar – Errado!

Mexeu como podia o corpo para se soltar, mas o gelo apenas trincou diante do seu esforço e antes que Jack o controlasse novamente, a areia de pesadelos e sonhos ainda passava e por conta disso, um pouco de pó atingiu seu rosto, trazendo de imediato o sono.

Quando acordou, estava no último lugar que conseguiria sair sozinho e em um possível silêncio, o Palácio das Fadas.

Estava sem as espadas, não tinha mais a barra de chocolate consigo e seu corpo tinha voltado ao normal daquela vez. Sem a deformidade e anatomia bizarra, sem o efeito colateral ou lembranças desagradáveis, bem... Tirando um sentimento de perda, de alguém da qual se foi e por sua culpa, ele estava sozinho.

Por que aquele sentimento doía nele como uma facada no peito? Por que doía como ser apunhalado por mil medonhos? Ele estava tão fraco a ponto de sucumbir a algo tão baixo como... Amar? Arranhou o próprio peito para ver se isso ficava insignificante, sacudiu a cabeça levemente para tirar tais pensamentos da cabeça, mas isso só trouxe uma enorme dor de cabeça pelo uso irresponsável do chocolate, o gosto daquela droga ainda estava na sua boca, sentia a barriga revirar com aquilo.

— Você sabe que chocolate faz mal para os seus dentes, não é?

Devagar, ele viu a figura de Dentiana se aproximar. Diferente das outras vezes, ela estava quase de volta ao normal, suas asas não estavam mais em sua forma animalesca de Fada do Voo, mas havia uma mistura das duas coisas nela e até mesmo ela parecia ainda mais grandiosa e como uma rainha das fadas. Estava ali e logo atrás dela, Jack a acompanhava.

— Era um mal necessário... – Comentou, mais resmungando do que respondendo – Desde quando ele é um engomadinho? – Indagou, acenando para Jack e tendo uma careta dele – Apenas a aristocrática da Era de Ouro se vestia assim, onde conseguiu essas roupas?

— Não mude de assunto, Coelhão – Dentiana advertiu, sua feição agora séria e preocupada – A Mãe Natureza está furiosa com você e acabei por trazê-lo até aqui, para mantê-lo a salvo – Contou e ele olhou confuso para sua amiga – Comeu quanto chocolate quando estava parando os pesadelos e os sonhos? – Perguntou.

— Metade de uma barra... Precisava de força o suficiente para não ficar cansado tão rápido ou parar tão cedo... – Comentou, a vendo o censurar com o olhar.

— E conseguiu – Jack falou, suspirando e deixando seu cajado flutuando para apenas se sentar ao lado de Coelhão – Afinal, você ficou apagado por quatro dias – Contou, dando de ombros e ignorando o olhar incrédulo do amigo – Sand queria deixá-lo fora da confusão que foi e deixou tudo pra gente, o trabalho sujo...

— O que aconteceu? – Perguntou, olhando para Dentiana e vendo que ela não estava envergonhada e sim... Séria.

— Se as areias dos sonhos e pesadelos não tivessem intervindo no mundo, ele estaria em guerra agora – Ela explicou, deixando de voar e ficando com os pés no chão – Mãe Natureza está com uma imensa tristeza que o mundo chorou e algumas florestas voltaram a respirar, os animais não temem mais o homem e o homem não interfere mais na natureza – Contava.

— Ela conseguiu – Jack falou, sorrindo fracamente – É uma heroína e eu sempre fui um babaca por achar que ela iria atrair a ruína... – Murmurou.

Ela se foi. Karma... Não se tornou uma princesa sombria ou trouxe a era das trevas novamente, ela apenas se foi. Se foi...

— Precisamos encontrar o Norte no polo – Dentiana proferiu, cortando o que restava da linha de pensamentos de Coelhão – Venha, vamos ajudá-lo, Jack.

Eles fizeram um pouco de esforço e com isso, Jack utilizou o seu cajado para fazer algo que Norte fazia com os globos de neve e Coelhão com os túneis, ele conseguiu abrir um portal como o globo ao simplesmente bater o cajado no chão. O moleque tinha ficado forte...

A sala principal do polo tinha sua lareira quente e que crepitava quente para aquecer do frio, tendo já dois três reunidos ali. Norte estava sério e sem a aparência de um bonachão, Sandman parecia sereno como sempre e a sua feição infantil e brincalhona tinha lhe largado a face, mas então, Coelhão viu Breu ali e sua barriga revirou de enjoo. Queria pular no homem e culpar a ele pelo que aconteceu, mas não era sábio.

— O que ele faz aqui? – Vociferou, contido.

— Coelhão... – Norte o chamou, quase como um aviso.

E é claro que Coelhão escapou do apoio que Jack e Dentiana ofereciam apenas para tentar avançar no idiota, mas acabou caindo no chão ao dar o primeiro passo sozinho. Ele estava...

— Patético... – Breu resmungou, o olhando com desdém – Eu os reuni para verem algo e não jogarem maldições em mim – Dava de ombros e Dentiana apertava o ombro de Coelhão, como se isso fosse trazê-lo a realidade – Sandman, primeiro você.

E a figura do guardião dos sonhos se tornou ainda mais séria, suas areias se formando em um amontoado dourado no centro de todos ali na sala e junto dele, os pesadelos de Breu se estranharam junto para conseguirem explodir e trazer uma figura conhecida para eles.
Era Karma.

Coelhão não ouviu o falatório ou explicação de Breu, ignorou a todos que o chamaram e se arrastou até a garota, a tomando em seus braços. Ela estava molhada dos pés a cabeça, a pele pálida e seu cabelo estava enorme. Era ela, mas estava dormindo.

— ... E então ela apareceu no mesmo lugar onde salvou que estava morrendo o animal – Terminou – Só viemos descobrir isso quando estávamos a caminho.

— Ela precisa de um agasalho... – Coelhão falou – Jack, me ajude a carregar ela até a lareira e—.

— Tire as patas da minha neta, sua besta – Breu vociferou — Você não merece ela...

— E você não merece nem estar aqui – Rebateu, sério – O que ele faz aqui, Norte?

— Breu é um mal necessário agora, Coelhão – Norte contou, olhando para todos – Isso não é uma bandeira de paz, mas sim uma trégua de dois lados da moeda. Os crimes de Breu não serão perdoados, sua loucura não será esquecida, mas o mundo não pode esquecer.

— Vocês querem trazer o medo para o mundo? – Coelhão olhou para o seu velho amigo, incrédulo.

— Mas foi o medo que fez o mundo parar, canguru – Jack falou – Foi ideia da Karma e ela fez os poderes dela refletirem pelo mundo... E ele respondeu a ela – Falou, cauteloso ao ver a face alterada de Coelhão

— Mas com o medo vêm outra coisa... Vem a esperança... Você não ficou forte só por causa do chocolate.

— Desde quando você sabe das coisas, garoto? – Rosnou – Ela precisa de um cobertor e ficar perto da lareira. Podem falar que eu sou um idiota assim que ela melhorar... – Murmurou, a abraçando.

Jack o ajudou a carrega-la até a lareira e um dos yetis trouxe um cobertor para isso ajudar no frio. Com o olhar atento, ele viu a demonstração de carinho que Dentiana compartilhava com Jack de forma intima e por um momento, Coelhão lembrou quando ele e Karma ficaram juntos n'toca, recordando do pensamento de que algum dia, Karma e Jack teriam algo, mas ali ele se importava por Karma estar viva, mas ele duvidava que ela fosse querer olhar na cara dele outra vez.

Quando ela enfim se mexeu e abriu os olhos dela, sorrindo ao vê-lo, ele nunca esteve tão errado por pensar antes da hora.


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