The Darkness is Coming escrita por Liran Rabbit


Capítulo 11
O diluvio dos homens vem dos seus erros




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Ela dormiu em seus braços, tranquila e serena, como se o mundo fosse uma bolha limpa e pura. Karma era a criatura mais incrível e esplendorosa que ele já tinha visto. O respirar dela ao dormir conseguia fazer a relva verde respirar e se mexer com sua respiração, como se a natureza fizesse parte dela e ela parte da natureza. A Toca a contemplava e saudava a filha da grande Mãe Natureza, a herdeira de tantos bens não materiais, a herdeira de uma história manchada pela tragédia pelo avô, da tristeza e solidão da mãe.  

Coelhão viu quando a mãe dela chegou e transformou tudo quando ainda estava adormecida. O poder que ela recebeu transbordando dela. Karma era humana demais para aparentar ser poderosa, mas era. 

Ele foi preso em uma das leis dela. As leis da Karma não era algo que ela utilizava, que nunca tenha falado, mas quando a mesma nasceu e as consequências do mundo dos humanos veio aparecer em uma parte do mundo da qual ela nasceu, a Mãe Natureza usava dessas leis antes. Agora ele conseguia entender melhor... Conseguia absorver o que estava acontecendo com sua cabeça e se negava a acreditar que ele estava sentindo aquilo, sentimentos eram um erro e um pooka não deveria sentir algo tão... Humano. 

Quando ele conseguiu entregá-la para a mãe dela, a mesma o encarou com desconfiança quando galhos pegaram sua filha, firmes o suficiente para segurá-la e a envolver com firmeza como braços. Outros braços que a levavam para longe, um lugar seguro dele. 

“Eu não quero que isso acabe...” 

Ele lembrava das palavras dela, a forma sussurrada como se fosse um segredo intimo entre os dois. O olhar brilhando em dourada e nem mesmo ela reparando na mudança que estava fazendo. Lembrar dela tão radiante e confortável ao lado dele trazia o conforto que ele não sentia a muito tempo, um calor que fazia o peito tremer. 

“Então não irá acabar, prometo que não...” 

O que ele tinha pensado com aquilo? Como poderia ter sugerido aquilo? Se aproveitar da felicidade e serenidade dela não era certo, do momento trágico que estava passando. Mas ele ofereceria seus braços para confortá-la novamente se preciso. 

Deveria acabar com aquilo o quanto antes. Se afastar o máximo que pudesse. Ser o covarde que era, um simples estudioso do seu antigo lar, um não soldado, um covarde. 

“Me encontre na antiga cama abandonada em uma semana, eu irei espera-lo"  

E ele aguardou. Ansioso e distraindo a mente, seguindo normalmente como se alguém o estivesse vigiando, as grandes pedras guardiões do seu santuário patrulhavam nos limites, como se sentissem o mesmo que ele com relação a não serem os únicos ali. Mas nada realmente apareceu e ele enfeitava alguns ovos como podia, usando a criatividade. A musa da criatividade parecia rondar sua cabeça e fosse isso algo bom ou ruim, aceitou de bom grado. 

Quando uma semana passou, ele deixou a toca e andou longe dos olhares das crianças. Sabia muito bem que alguns pequeninos sempre passavam por ali para cortar caminho. 

Agora, Coelhão se focava em apenas apagar o medo de sua cabeça já que era ali a parte em que estava se arriscando além dos limites, indo ao limite para salvar o seu amigo, salvar a mãe de criação daquele planeta. Temia que Breu falasse algo além do aceitável e afetasse os poderes de Karma, a ameaçasse. 

Coelhão não sabia como iria reagir a isso. 

Ao vê-la, ela estava usando roupas diferentes e se acobertando do frio, sorrindo para ele como uma doce manhã ensolarada, mas não, ventava e congelava as patas dele e ao tremer pelo vento gelado, ela deu a risada da qual ele adorava ouvir.  

— Está enterrado, mas acho que consigo abrir — Ela falou, apontando para o chão e atraindo a atenção para a cova coberta pela terra, a grama crescendo murcha e acastanhada ali — Espero não ser cedo demais para isso, para convocar o meu avô para ajudar a gente. 

— Uma hora ele tem que sair do buraco que ele chama de casa — Resmungou, se aproximando um pouco mais e vendo o cenho franzido dela com um sorriso nascendo em seus lábios — Deixe com que eu falo com ele, se acabar em violência, quero que corra e não pense em nada e nem mesmo olhe para trás, entendeu? — Perguntou, vendo o sorriso murchar do rosto dela, concordando com ele — Consegue abrir? 

— Não sei, não cheguei tão perto para ver... — Murmurou. 

Devagar, ele ficou ao lado dela e se abaixou assim como a mesma. Antes mesmo de conseguir tocar o chão soterrado, um buraco se abriu e o chão cedeu na frente deles, revelando uma escuridão imensa de uma coisa tão pequena que conseguiria engolir ambos, caso caíssem. Mas essa era a intenção. 

A pegando pela mão e se inclinando para que ela ficasse em suas costas, Karma o segurou ainda mais firme quando caíram. Coelhão correu em quatro patas enquanto seguia o caminho único que aquele lugar levava, respirando fundo com o quão apertado aquilo era e ele dependia apenas da habilidade para não tropeçar e ficar entalado. 

O lugar era imenso. Uma luz vinha do topo do covil do Breu, mas não mostrava como a luminosidade chegava até ali, haviam gaiolas penduradas em vários cantos e painéis suspensos como no palácio das fadas, mas havia o toque sombrio ali. Algo mórbido e triste e sem a presença dos pesadelos, dos medonhos ou de um ser se esgueirando para surpreende-los ali, o que atraia a desconfiança de Coelhão. 

Deixando com que Karma saísse de suas costas, a segurou com sua pata e a mão dela o apertou, o olhando com aquele mesmo olhar da toca, a confiança de que nada daria errado e que ele deveria se manter firme, como sempre foi. Foi esse o ato dela que trouxe uma risada, ecoando pelo lugar e conseguindo atrair a atenção de ambos. 

— Minha adorável neta veio me ver? — A voz ecoou pelo lugar, mas conseguindo se focar em apenas um, se mostrando então uma figura alta e esguia na frente de ambos. 

— Você está péssimo, Breu... — Coelhão resmungou — Como sempre. 

Um sorriso mostrando os dentes nunca era algo bom de alguém que machucou e matou inocentes, presas como de um tubarão e a lábia de um mentiroso nato, mas tanto coelhão como Breu estavam cientes de que estavam ambos fracos pela grande ameaça do mundo, da falta de crença. Nem mesmo o bicho papão escapava dos males que deveriam beneficiá-lo. 

Ornamentos em ouro nos pulsos e olhos cheios de olheiras, o cansaço evidente e se inclinando como carregasse um enorme peso nas costas. Era deplorável... 

— Deveria estar surpreso com a visita de vocês? — Fingiu interesse, os analisando e o olhar parando em algo mais abaixo. 

A mão de Karma na sua pata. Isso não fez com que Coelhão a soltasse. 

— Ou deveria estar surpreso com a sua visita, netinha? — Apontou para ela, brevemente — Não sou um bom hospitaleiro com visitas, fazem exatos oito anos que vocês me humilharam e agora vem até mim para pedir favores... O mundo está decaindo mesmo, vocês estão afundando do navio e eu, tocarei o violino para assisti-los.... 

 — Sem drama, não tem como perdoar os seus crimes! — Vociferou, avançando e sendo contido por Karma, atraindo finalmente a atenção de Breu. 

— Estou sóbrio como nunca estive e tenho noção de cada erro e morte gerada por mim, não precisa me contar o que fiz, eu sei o que fiz e não me esqueço em nenhum momento cada minuto que passou sobre isso, não preciso de ninguém me recordando o óbvio — Vociferou, contido — O que aconteceu na Rússia foi o início de algo inevitável e o que aconteceu aqui na América também era inevitável. 

— Você é nojento... 

— Eu sei — Suspirou, olhando do guardião para a neta — Mas se acha que trazer uma parente meu irá me persuadir para ser cooperativo com a causa de vocês vá adiantar de algo, esqueça — Falou, virando-se e lhes dando as costas. 

— Breu? 

Apenas por ela o chamar conseguiu com que ele ficasse parado, sem se virar ou olhar de soslaio, mas parado para os dois ali. Ela soltou a mão dele e se colocou na sua frente, não havia medo da figura na frente deles e sim... Esperança. Ele sentia esperança de Karma fluir como um perfume doce de flores. 

— Não viemos obrigar você a nada, nem em nós ajudar ou ajudar os humanos — Argumentava, vacilando no final da frase e atraindo o olhar de soslaio do ser sombrio na frente deles — Minha mãe... Ela est—. 

— Morrendo? — A interrompeu, completando sua fala e soando doloroso ao falar — Eu consigo sentir isso, minha criança, cada parte dela luta como uma guerra interna, mas ela está sim, morrendo... 

— Então me ajude, por favor... — Suplicou, a voz vacilando e olhando para Coelhão, como se pedisse ajuda — Eu não tenho como negociar com você, sei de tudo o que me falaram de você e que era para nunca chegar perto para causar uma ameaça. 

— Eles a fizeram ter medo de mim, então — Concluiu. 

— Sim, fizeram — Contou, não vacilando dessa vez e se mantendo firme. 

— Karma? Não precisa fazer isso... 

Aquilo não era o planejado, não era para acabar assim. Mas recordava quando pensou como deveria acabar e sentia o peso tomar suas costas, deveria sair com ela dali o mais rápido possível antes que um dos três ali perdesse o controle primeiro. 

— Uh? Isso é medo? — Breu indagou, se virando e em seguida, caindo no chão e sendo engolido pelas sombras, surgindo na frente de Coelhão e ficando tanto ele como de Karma — Que estranho, nunca senti outras coisas além do medo e sinto isso em você, ratinho australiano. 

— Não me provoque... — Vociferou, mas suas palavras não foram firmes como deveriam, nem mesmo pegar seus bumerangues eram garantia de algo quando estava tão na frente do senhor dos pesadelos. 

— Sentimentos novos? Os medonhos estão evoluindo...? — Indagou mais para si mesmo que para os outros ali, olhando para Karma e arregalando o olhar — Droga... 

— Breu? — Karma voltou a chamá-lo e isso causou uma reação imediata no outro, indo até o Coelhão e segurando o braço da qual segurava os bumerangues para conte-lo — Viemos pedir sua ajuda, não para brigar... Por favor, é a única coisa que pedimos. 

— Eu não sei como ajudar vocês, nem a sua mãe — Murmurou, olhando para a neta, surpreso — Mas você pode... — Apontou para ela, a deixando surpresa. 

— Não tente iludi-la — Coelhão falou, a pata apertando ainda mais sua ferramenta de defesa e atraindo uma risada irritante de Breu. 

— Iludir? Não é o que você está fazendo com ela, criatura besta? — O condenou, o olhar severo sob ambos e mesmo que Coelhão tivesse pensando em não olhar para Karma, acabou por ver o olhar confuso dela sob si — Você fala de mim, mas é um covarde, do pior tipo! E usando a minha neta! 

— Coelhão? Do que ele está falando...? — Murmurou, mas não se afastando e sim, o apertando ainda mais. 

— Ele não disse para você, minha adorável criança? — Breu riu, descrente — E eu que sou sanguinário... Agora, quando você iria contar? — Indagou, olhando para ela e não para o alvo de sua pergunta. 

— Não vou acreditar em mentiras suas... — Ela falou, receosa e isso atraiu um sorriso triste do outro, sendo afastada por Coelhão. 

— Assim como a felicidade mostra a verdadeira e genuína verdade, o medo mostra o lado feio e nojento dela também, criança — Contava, a mão erguida para tocar a cabeça dela e assim, Coelhão a afastou do toque e rosnando para o outro — Eles evoluíram, assim como os seus sentimentos com ela, criatura...  

— Ele não vai ajudar a gente, vamos embora — Declarou, recuando e pronto para ir, sendo acompanhado por Karma. 

— Sua mãe já contou que você é meio humana, criança?  — Provocou — Você nasceu durante o conflito mais desastroso e cruel da humanidade, a primeira guerra mais mortal do mundo e quando as crianças não tinham fé alguma em nós, quando preferiam não passar fome do que achar que o bom Noel entraria em uma chaminé de uma casa destruída — Continuou, nem se importando dos outros irem embora, mas ele continuou, firme — O medo consegue ser perigoso para os mais fracos de mente, mas o amor é a coisa mais mortífera que existe — Declarou. 

Isso fez Karma parar, segurando Coelhão logo na entrada de onde viram. As palavras de um homem perigoso sempre eram afiadas e ele não gostava de como aquilo iria terminar, fosse esse pensamento que atraiu outro sorriso de Breu, um não ameaçador e que mostrasse os dentes, mas um fraco que combinava com a figura fragilizada dele. 

— Ele ama você, Karma. 

Ela o soltou quando Breu proferiu aquela frase, não o olhando e sim para o avô, confusa e perdida do que aquelas palavras poderiam significar. 

— E por amar, ele voltou atrás do plano estupido de sacrifício antes de conhecê-la como a conhece hoje — Contava — O mesmo amor que o seu pai sentiu pela sua mãe, abandonando o exército e pátria apenas para se afastar da sociedade, agora — Apontando para o Coelhão, ela o encarou, mas ele não queria ver o olhar dela — Você não é digno para ficar com ela, o pai dela era um verdadeiro soldado e guerreiro e você é um covarde. 

Apenas por tentar avançar, Karma apenas colocou a mão em seu ombro e isso o fez ficar parada ao invés de avançar com a raiva que sentia, o ódio cego que ele estava sentindo com aquilo. Não iriam ter ajuda e foram ali apenas para que Breu os humilhasse? Era ridículo!  

O erro dele ao invés de sair dali correndo com Karma foi justamente olhara para ela. Ele vacilou, cada força de raiva no seu corpo o enfraqueceu e ele caiu de joelhos. 

— Eu... Karma, por favor... 

— Como eu posso ajudar a minha mãe, Breu? — Indagou, desviando o olhar de Coelhão para o senhor dos pesadelos. 

Esse não sorriu e nem ficou satisfeito, apático seria a descrição ideal. A esperança vinda dela estava fraca, ele não a sentia mais e o seu peito se apertou, algo em sua mente gritou e aquilo começava a doer. O que era aquilo? 

— Salvar o mundo requer sacrifício — Falou — Você entende isso, criança?  

— Entendo... — Respondeu, a mão afastando de Coelhão e ele levantou com pressa e cambaleando pelo esforço, mas voltando ao chão. 

— Karma, não — Pediu, sussurrando. 

— Salvar os humanos requer cooperar com o sacrifício, poupar as crianças como há cem anos atrás requer sacrifício — Ditou, se aproximando de ambos — Não irei usá-la, mas você mesma deve saber que não existe volta caso diga “sim” — Alertou — Sua mãe não me perdoaria e me mataria caso você estivesse envolvida com pesadelos, se tornasse como eu, ficasse bêbada pelo poder e loucura como eu. Demorei séculos para ficar sóbrio e aqui estou eu, a aconselhando de pensar bem. 

— Sei como dar um fim a isso... — Declarou, em um fio de voz e olhando para Coelhão. 

— Não, por favor... Não faça isso, eu imploro... — Murmurava, tentando e se frustrando ao tentar se levantar, mas caindo e caindo no chão, se arrastando até ela — Karma, não. 

E ela andou até ele, devagar e com delicadeza, segurou seu rosto em suas mãos e com o mais afetuoso gesto desde que se conheceram, ela o beijou onde uma lágrima estava e se afastou da mesma forma, indo até Breu e pegando sua mão, o olhando e falando algo antes da escuridão banir o guardião do covil de Breu e o levar para o mesmo lugar onde entrou. 

Quanto tempo ele ficou ali? Quando a neve caiu dos céus e ficou em si? A noção de tempo... Onde estava...? 

Neve. Se estava nevando e Jack não estava voando... E não haviam flocos enfeitados e sim... Pingos de gelo sujos com algo... Preto. O seu amigo! Estava fraco demais, mas iria saber o que estava acontecendo para então, depois, encontrá-la.  

“Eu amo você” 

Ele era um covarde. 


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Notas finais do capítulo

:v falta pouco para o fim, já tô empolgada pra não estragar nada do que fiz até agora. Espero que tenham gostado desse capítulo, muito obrigado por acompanharem.

ps.:sim, nos livros o breu é dito e mostrado como um assassino, não apenas como o bicho papão nos filmes. Na "Era de Ouro" da família real da qual o Breu servia como General, ele acabou sendo tomado pelos pesadelos da qual jurou ficar de vigília enquanto presos, somando também o fato de ter perdido a esposa e sua filha (que não morreu e sim deixada a deriva no espaço), ele ficou louco e dominado pelos medonhos e pesadelos, piratas de sonhos. Ele matou muitas pessoas do reinado da Era de Ouro, incluindo a corte e a família do Homem da Lua.

Obrigado e até o próximo capítulo, esse que eu posso afirmar que não vai demorar para chegar.



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