Violinos e Veneno escrita por Mariana M


Capítulo 10
Veneno




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Capítulo 10 – Veneno

Depois que fui raptada voltei para a casa de Regina como se nada tivesse acontecido, tentei ficar calma, mas por dentro eu estava explodindo. Assim que pisei em casa veio uma chuva de perguntas ‘’o que aconteceu?’’ ‘’porque você chegou agora?’’ ‘’você está bem?’’ ‘’você foi pra escola?’’ ‘’o que você estava fazendo na escola até agora?’’ Foram algumas delas, eu só queria tomar um banho e esquecer aquele dia, mas isso parecia uma tarefa muito difícil. Assim que contei como tinha sido meu dia João Pedro surtou. Eu tentei acalmá-lo dizendo frases do tipo ‘’está tudo bem’’ e ‘’ele não fez nada comigo’’, mas parecia que quanto mais eu dizia aquelas frases mais nervoso ele ficava. Regina não sabia o que fazer e nem o que falar então ela se trancava no quarto e ficava lá por horas, eu nunca sabia o que ela estava fazendo. Os dias foram se passando eu não tinha visto Sarah ainda, eu ligava e ela não atendia. Também não tinha a visto na escola, devia estar sem coragem de aparecer em público por causa do cabelo, ou então ela teria ido embora. Eu iria se pudesse, ela não tinha motivos para ficar aqui, só se ela quisesse mesmo se vingar do Max. Mas o que é uma vingança besta quando você pode fugir e salvar a sua vida? Eu não sabia se estava feliz ou com raiva dela ter ido embora, eu ficaria feliz porque eu estava gostando dela e vê-la fora dessa confusão toda era uma coisa boa, mas por outro lado eu meio que precisava dela, eu não tinha a inteligência que Sarah tinha, ela tinha prometido ajudar e simplesmente foi embora? Pare de ser egoísta, Ariane. Você sabe que se estivesse no lugar dela você também teria ido embora.

As coisas finalmente estavam se acalmando, as pessoas da escola não tinham tanto medo de mim agora. Mas ninguém falava comigo, nem um oi e nem nada. Aquilo me incomodava muito porque eu não suportava o silêncio das pessoas, eu queria ouvir suas vozes, queria que elas falassem comigo, queria que elas acreditassem em mim pelo menos uma vez. Eu não era uma assassina, eu não matava nem mosca quanto mais pessoas que eu conhecia. Mas agora isso era o que menos me preocupava, por dentro eu estava até feliz que a Sarah tivesse sumido, assim eu não teria que contar sobre um erro que eu havia cometido no passado, um erro que ficaria comigo para sempre. E outra coisa que estava me preocupando muito era a minha falta de roupas, eu precisava ir a até a minha casa buscar um pouco já que a Caroline havia parado de falar comigo e não trazia mais as minhas coisas para a casa de Regina. Minha mãe estava viajando e a Caroline havia pegado meu cargo na livraria já que eu tinha sido demitida porque os clientes ficavam com medo de serem atendidos por mim. Isso quer dizer que não havia ninguém em casa a essa hora, então era uma boa oportunidade. Avisei a Regina que eu estava saindo e ela se ofereceu a ir comigo, mas eu precisava de um tempo sozinha, então disse que não precisava.

Quando cheguei em casa e o cheiro de vinho antigo ainda impregnava, o mesmo cheiro de sempre. Meu quarto estava exatamente como eu tinha deixado, a cama bagunçada, os livros todos arrumados em cima da prateleira, meu computador estava todo cheio de poeira e o quarto estava cheirando a mofo. Ali era o único lugar da casa que eu gostava, era meu porto seguro, o lugar que eu ia sempre chorar quando as coisas não davam certo, quando eu brigava com a minha mãe – sempre – e quando eu estava cansada de tudo. Sentei-me na cama e fiquei lembrando de todas as vezes que eu chorei ali. Mas algo me atrapalhou a lembrar das coisas, 3 batidas na porta da frente, eram batidas nervosas e parecia que a pessoa estava com muita pressa. Mas quem podia ser? Peguei o canivete que eu sempre levava na bolsa e fui atender, abri a porta devagar quando me deparei com a Sarah me encarando. Estava bem diferente comparada a última vez que nos vimos. Seus cabelos estavam na altura do seio, eram ruivos e agora estavam pretos e enrolados nas pontas, ela também tinha trocado a armação do óculos, agora eles eram quadrados com a armação preta e grossa.

– Seu cabelo... – eu disse

– É uma peruca – ela disse e ao mesmo tempo entrou sem ser convidada

– Pensei que ia querer uma peruca da cor do seu cabelo natural

– Não... eu estava cansada de ser ruiva.

Por um momento nós ficamos nos encarando e as vezes desviando o olhares, eu me sentia tão culpada pelo que havia acontecido com ela, mas ao mesmo tempo sabia que não era minha culpa.

– Senta aí – eu disse apontado para o sofá – Como sabia que eu estava aqui?

– Eu fui lá na Regina e ela disse que você tinha vindo pra cá.

– Ah, você quer uma água? Alguma coisa? – eu estava completamente sem graça que nem conseguia olhar ela nos olhos direito

Sarah suspirou

– Eu só quero uma coisa: que você me conte toda a verdade, Ariane. – ela cruzou as pernas e ficou me encarando

Eu não estava preparada pra contar tudo aquilo, nunca tinha contado aquela história para ninguém, nem para Regina e João Pedro. Era um segredo que eu tinha prometido que ia morrer comigo, e agora estava sendo obrigada a conta-lo.

– É uma história muito longa. – Eu me sentei ao lado de Sarah

– Tenho tempo de sobra – ela cruzou os braços calmamente

– Eu nem sei por onde começar...

– Pelo começo.

Sarah começava a ficar impaciente

– Tem uma parte da história que eu não contei para você. E Regina também não sabe.

– Para de enrolar – Sarah não parava de bater o pé esquerdo calmamente no chão

Tomei coragem e falei de uma vez por todas:

– O Max não veio para se vingar porque nós descobrimos a verdade sobre ele, ele veio porque eu matei o irmão dele.

Sarah me olhava incrédula. Eu sabia o que ela estava pensando sobre mim. Eu era uma farsa, precisava da ajuda dela para provar minha inocência, mas eu nem era inocente. Eu merecia estar presa, merecia essa vingança do Max, merecia tudo que estava acontecendo comigo.

– Você o que? – Sarah começou a gaguejar – Você está me dizendo que eu estou te ajudando a provar sua inocência sendo que você é realmente uma assassina?

Ela gargalhou ironicamente

– Eu não sei se eu realmente o matei...

Tentei dar uma explicação, mas Sarah me interrompeu:

– Cale a boca! E esse tempo todo eu me arrisquei por você! Eu realmente acreditava que você era a mocinha da história, como eu sou burra.

– Me escuta, eu não sei se eu realmente o matei, dá pra você se calar 1 minuto e me escutar?

Sarah gargalhou novamente

– Como você mata uma pessoa e depois diz que não sabe se matou? Você é burra ou o que? Se você matou você matou né Ariane!

Eu tinha certeza que eu havia matado ele, mas tinha sido sem querer.

– Olha, eu não tinha intenção de matar ninguém, foi um acidente.

Agora ela ficou me encarando com aquela expressão de ‘’não estou acreditando que você está falando tanta besteira’’

– Está me dizendo que matou uma pessoa acidentalmente? Como?

Eu respirei fundo e comecei:

– Quando eu e Regina descobrimos toda a verdade sobre o Max, eu armei um plano para prendê-lo.

Sarah suspirou

– E parece que não deu certo né?

Odiava quando ela usava aquele tom de ironia comigo

– A Regina tinha ido viajar e eu resolvi colocar o plano em prática

– Que plano era esse?

– Haviam boatos de que no final da rua da escola morava uma senhora que era um pouco feiticeira, nunca acreditei que ela fosse mas resolvi pagar pra ver. Fui até a casa dela e ela me disse que fazia poções e eu a perguntei se havia alguma para apagar uma pessoa por algumas horas e ela me deu um frasco com um pouco da poção. Ela também me disse para colocar em algo líquido e colocar só um pouco porque os danos poderiam ser fatais.

– E o que aconteceu depois disso?

– Eu coloquei um pouco na água que estava na geladeira, no filtro, na jarra de suco e no guaraná, assim haveria mais chances dele beber.

– E o que o irmão dele tem haver com isso tudo?

– Eu nem me lembrei do irmão dele na hora, eu só queria prender o Max e nem pensei que o irmão dele poderia beber o veneno no lugar dele.

Sarah colocou a mão na cabeça, parecia inconformada com aquela situação.

– Deixe-me adivinhar o que aconteceu depois: Max viu o irmão morto e culpou você pela morte e depois fugiu para armar um plano maligno e voltar três anos depois para te colocar na cadeia?

– Mais ou menos isso, a velha tinha me dado a poção errada, invés de um calmante mais forte para fazer uma pessoa dormir ela me deu um veneno mortal.

Sarah parecia não acreditar em tudo aquilo

– Isso não faz sentido, porque Max ia querer o irmão vivo? Ele matou os pais e os tios, porque poupar o irmão?

– O irmão dele sempre o defendeu quando seus pais o batiam, acho que era o único membro da família que Max realmente gostava.

Sarah abaixou a cabeça uns 2 minutos e depois levantou tão bruscamente que me assustou

– Olha só, você nunca devia ter me escondido isso Ariane. E porque a Regina não sabe dessa história?

Porque eu não conseguia conta-la, imagine o que minha melhor amiga ia achar quando eu a contasse que eu era uma assassina, será que ela me expulsaria da casa dela?

– Nunca tive coragem de contar. – fiquei envergonhada a falar isso

– Me prometa uma coisa: nunca me esconda mais nada, ok? Se você quiser realmente que eu te ajude terá que confiar em mim inteiramente Ariane. Não tem como me esconder esse tipo de coisa.

– Eu prometo não esconder mais nada, mas, por favor, não conte isso para ninguém.

Ela suspirou.

– Apesar de eu não ir muito com a cara da Regina eu acho que você tem que contar isso para ela e para o João Pedro também. Você mora na casa deles, Ariane. Eles são a sua família.

Abaixei a cabeça, estava arrependida por esconder aquela história deles por tanto tempo, e seria mais difícil contar sobre isso agora, eu realmente não sei fazer escolhas boas na vida.

– Tudo bem.

Sarah deu um sorriso meio torto e me abraçou.

– Eu vou te ajudar, vamos todos sair dessa. Eu tenho certeza.


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