Eu estava ali, sentada no piso gelado do banheiro, ainda tinha ânsias de vômito, mas eram apenas contrações, como se já não estivesse acostumada, ainda a espera de Lysandre.

Com certa dificuldade levantei-me e apoiando-me na parede até parar a tontura e fui às pias, lavei meu rosto, pulsos e nuca, olhei-me no espelho e estava simplesmente horrorosa.

Ouvi o estalo da porta se abrindo e através do grande espelho vi Lysandre entrando no banheiro segurando uma daquelas bebidas para reidratação.

–Aqui, demorei pois comprei-te isso, ajuda a reidratar.- estendeu-me a garrafa que aceitei e levei aos lábios devagar e aos poucos fui engolindo o liquido azedo levemente adocicado e bem gelado.

Ele me observava com o canto dos olhos, aqueles belos olhos de cores diferentes que sempre me encantaram, mas infelizmente nunca pude fazer mais do que simplesmente observa-los.

Seu olhar era quase hesitante, e parecia que estudava-me com um cuidado mútuo.

– Bem... Obrigada por ter-nos salvo...- disse ele procurando as palavras certas.

Balancei a cabeça em uma afirmativa muda e então ficamos ali... Parados em silencio sem saber ao certo oque dizer.

–Sente-se melhor?- perguntou.

–Sim , obrigada.- disse baixo.

Então novamente o silêncio se fez presente até eu quebra-lo.

–Vamos?- me dirigi a porta, Lysandre afirmou e seguimos de volta aos corredores, que agora estavam vazios.

–Despedimo-nos aqui então.- disse ele.

–Tudo bem então... Até amanhã?

–Sim, e... Bem vinda de volta Anne.

Sorri fraco para ele o qual retribuiu e foi-se, respirei fundo e entrei na direção.

A diretora estava com outra roupa, outro sapato e seus cabelos agora estavam levemente molhados e soltos e ela passava creme entre os fios grisalhos, vi meu irmão sentado impaciente em uma das poltronas de couro.

Ele me viu e veio rápido em minha direção e me abraçou forte.

–Francamente.- suspirou e beijou o topo de minha cabeça.- Logo no primeiro dia...- Ele deu uma risadinha e estalou a língua.

–Mas você está bem, certo?- perguntou segurando meu rosto em suas mãos frias, peguei-as e sorri fraco.

–Estou bem, não se preocupe.

A diretora grunhiu e indicou nervosa para que sentássemos.

–Agora me explique oque aconteceu mocinha. - começou impaciente.

–Aconteceu oque a senhora viu- disse indiferente.

Meu irmão me cutucou com os pés.

–Olha como fala comigo garota, já não chega o estrago que você me causou hoje.- ameaçou.

Pude ver Johnny enrubescer de raiva.

– Olha diretoa Evelyn com todo respeito, mas nada do que acontecera foi culpa da Anne, foi tudo por causa de um raio, a porcaria de um fenômeno natural, e a Anne salvou alguns alunos de uma morte trágica então acho que seria melhor a senhora parar de culpa-la por algo que foi culpa da natureza coisa que ninguém controla, então se a senhora poderia nos liberar tenho coisas a fazer e acredito que não tenhamos mais assuntos á tratar. –Juro que o nervosismo da diretora era tanto que chegava a ser quase palpável, ela ficou quieta e com um gesto de mãos nos liberou... Fiquei admirada com a convicção de meu irmão e me senti segura e acolhida perto dele... Era como um amor... Mas coisa de irmão.

Voltamos para meu apartamento.

–Ah que nojo daquela diretora... Ela não mudou nada desde a minha época de colégio.- riu e se jogou no sofá verde musgo.

Ele olhou em volta e torceu o nariz.

–Como você consegue morar aqui?- perguntou.

–Melhor que morar na rua.- respondi indiferente largando minhas coisas em qualquer lugar.

–É tão frio e depressivo, AAAH Anne temos que nos livrar dessa sua decoração sem graça e acabada.

–Não começa estou morrendo de sono, e preciso descançar o dia foi cheio.

–Que nada aposto que encontrou o Ken e ai passou o resto das aulas na sala de artes.- disse indo em direção a minha janela abrindo-a e arrancando a cortina bege já velha e mofada.

Fiquei estática... Ah claro ele não esqueceria do Ken... Já que nós... Enfim não gosto de lembrar essas coisas.

–Ai que bom o sol já está se abrindo.- sorriu e virou-se pra mim.- Olha Anne eu vou ser obrigado a passar uns dias com você e te ajudar a organizar esse apartamento velho e mofado, mas primeiro vai tomar um banho e descansar até o sol abrir.- disse tirando o colete ficando apenas com a blusa cinza que era... Meio justa.

Arqueei a sobrancelha e segui ao meu quarto, mas ouvi-o dizer algo do tipo “deixa de ser boba e vem passar um tempo com seu irmão” ignorei, mas não por muito tempo.

Ele me pegou no colo tipo “saco de batata” e correu comigo pelo apartamento fazendo-me cosquinhas e barulhos engraçados com a boca e eu não pude evitar e ria feito louca.

A campainha tocou.

–AAh me larga seu retardado tem alguém na porta.- gritei socando suas costas.

–Fica quieta e não faça movimentos bruscos se não cai.

E ele simplesmente abriu a porta comigo pendurada em suas costas.

–A-ah que merda é essa ?!- uma voz masculina se fez presente.

Não sei como mas de um jeito meio “ninja” desci das costas de meu irmão, quase cai no chão, mas tudo bem, desamarrotei o vestido, felizmente estava de leging por baixo, e quando olho para ver quem era...

–Félix!!!??- disse assustada, mas feliz ao mesmo tempo, uma alegria invadiu meu peito...

Como era bom revê-lo.