O Passado E O Futuro De Peixes escrita por Filha de Hades


Capítulo 8
Capítulo 8: Apenas o começo.


Notas iniciais do capítulo

Até que fim.. Até que fim (8)
É gente, tah acabando. Eu não vou ficar falando aqui, vamos logo pra história.
Boa leitura.



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“Mas não sei porque

Ainda prefiro acreditar

Que um pouco de mágica, sorte ou fé

Ajuda muito se quiser.

Um final feliz, como poucos por ai

É tanta gente igual... “Tanta história sem final.”

— Terra Celta



No dia seguinte.


— Já está pronta?


— Calma Afrodite!


— Não sei como consegue demorar tanto.


— Eu tenho coisas demais para arrumar. Roupas, livros, algumas amostras raras de plantas... Ainn... Eu não vou conseguir.


— Ann... Calma.


— Não me manda ficar calma! – Disse em um tom elevado.


— Hey?! – O pisciano aproximou-se por trás da garota lhe afagando os ombros. — O que houve?


— Eu estou nervosa. – Ela admitiu suspirando profundamente e encolhendo-se.


— Você sabe que tem escolha. E de um jeito ou de outro vai ficar tudo bem agora. Eu prometi não foi?


— E desde quando suas promessas são confiáveis? – Disse com um risinho forçado.


— Não são... Mas que escolha melhor você tem?


— Idiota! Qualquer homem de verdade tentaria me animar agora.


— Segundo a sua definição eu não sou um homem de verdade lembra-se? – Ele se afastou e jogou-se na cama espreguiçando-se e olhando o teto. — Acho que eu vou esperar deitado. Me avise quando acabar.


— Arg... Eu odeio você.


— Hurum... Posso sobreviver a isso.


A pequena suspirou baixando a guarda. Deixou as sacolas prontas no chão e foi até a cama. Sentou-se ao lado do rapaz, com as mão juntas repousando sobre seu colo. Afrodite de imediato sentou-se e a acolheu.


— Não precisa fazer nada que não queira. – Ele disse sério desta vez.


— Não é isso. Nem... Nem faz mais sentido eu continuar aqui. – Ela sussurrou baixando a cabeça.


— E então...?


— Eu estou com medo.


— Medo de que?


— De não ser aceita novamente. – Afrodite ia interrompê-la porem, ela não permitiu a intervenção. — Eu... Eu passei a minha vida toda sendo rejeitada Dite, até... Até chegar neste lugar, porque seria diferente agora?


— Porque você é uma pessoa diferente agora. – Ele começou por impulso. — As pessoas e o mundo costumam mudar pequena. Você mudou, mas se escondeu tanto tempo de mundo que nem sabe mais dizer como ele é. Não seja como eu... Vá lá e descubra-o.


— Você se esconde do mundo atrás dessa mascara de beleza e soberba a muito mais tempo que eu e nem tenta lutar contra isso, mas quer que eu lute. O que te faz pensar que eu seja muito melhor que você?


— Porque você é uma pessoa boa Ann. E pessoas boas merecem uma oportunidade de vez em quando.


— Mas...


— Mas nada. – A cortou. — Vendo por outro ângulo, você não tem que agradar ao mundo, só a você mesma. E você pode ser quem é aqui ou no meio de uma multidão. Você pode se render aos julgamentos do mundo ou ignorá-los.


— Mas como eu posso ignorá-los?


— Você tem que tentar. A verdade é que se você acabar com uma vida miserável e medíocre porque resolver ouvir o que ‘o mundo todo’ tinha a dizer sobre como viver a sua vida, a culpa será toda sua e você vai merecer.


O silencio mortal pairou pelo quarto por alguns instantes que pareceram uma eternidade. Por fim o pisciano voltou a se deitar.


— Já terminou de arrumar as suas coisas?


— Vou terminar. – Ela sorriu, parecia mais animada e determinada a realizar seus desejos, e no fundo, a única coisa que ela queria agora era ficar com a única pessoa que sentia que poderia amar. Ann não ia deixar nada, nem ninguém a impedir de ser quem ela era, nem mesmo um chato metido a besta que queria tira-la de casa. Ela riu com o pensamento e voltou ao que fazia antes.


O dia passou mais rápido do que eles imaginaram. A garota fez questão de ajeitar tudo o que podia, levando apenas o necessário, não pretendendo voltar mais para aquele local. Enquanto isso Afrodite realizou um desejo de Ann, que insistiu para que o corpo de seu falso mestre fosse tratado como deveria, o cavaleiro preparou um belo funeral de rosas com tudo que já estava naquele local. Ninguém ousaria entrar naquele cômodo e perturbar o sono eterno daquele homem do qual, nem sabiam o nome. Ann sugeriu por indiretas varias vezes que seu amado e querido mestre Pefko ainda poderia estar vivo em algum lugar. Mesmo depois de Afrodite ter lhe contado a verdadeira história por de trás daquele que era um garoto a mais de 200 anos atrás. Ann ficou impressionada, mas não surpresa, sempre soube que seu mestre era muito mais do que demonstrava em sua grande humildade. E o pisciano não matou a esperança da garota em reencontrá-lo. Era difícil, mas não impossível, não depois de tudo. Deixou-a com aquele sonho, afinal, todos precisaram de sonhos, não deles que nascem os objetivos, e estes por sua vez geram as metas e é esse conjunto que nos motiva a continuar vivendo.


Já era fim de tarde quando conseguiram em fim deixar a casa, Ann pediu para aproveitar a natureza do local uma ultima vez antes de ir e eles se sentaram perto do riu como na primeira vez que conversaram sério. Ali podia observar o sol começando a querer se pôr.


— Sabe... – Afrodite quebrou o silencio. — Foi aqui que eu comecei a te ver diferente pela primeira vez, depois que me falou mais... Sobre você.


— É... E o que achava de mim antes?


— Achava que era... Uma garota chata, implicante, cabeça dura, teimosa da qual eu teria que fugir antes que fosse tarde demais.


Ela riu.


— E a que conclusão chegou depois?


— Que já era tarde demais!


— E... – Ela corou e ficou um pouco corada com a possibilidade do que as ultimas palavras dele poderiam significar. Mas por fim um ultimo pensamento a fez o encarar um pouco contrariada. — Espere ai.. Quer dizer que você ainda acha que eu sou uma garota chata, implicante, cabeça dura e teimosa?


— Não claro que não.


— Ah bom... – Ela sorriu.


— Agora eu tenho certeza. – Ele riu quando ela tentou acerta-lhe um tapa no rosto do qual ele desviou elegantemente segurando seu pulso. — No rosto não!


— Fesco!


— Chata.


— Idiota!


— Mimada.


— Não... Mimada não.


— Mimada sim. Está acostumada a ter tudo do jeito que quer, mas pode ter certeza que daqui em diante as coisas vão mudar.


— Há! – Ela riu e o encarou. — Vai brigar comigo se eu mexer nas suas maquiagens também?


— Não... Mas se tocar no meu kajal você morre.


Ela pensou em esganá-lo naquele momento. Mas teve uma idéia melhor.


— Ah é? Sabe o que combina perfeitamente com isso?


— O que?


— Isso! – Ela escorregou a mão pela margem enlameada no rio e passou irregularmente no rosto do cavaleiro que não teve tempo de reação. Ela estreitou os olhos e sorriu travessa. — É bom pros poros meu bem.


— AHHH... Sua... – Ele engoliu a seco depois de pequeno grito de pavor. — Você sabe a quantidade de germes que fazem mal pra pele podem estar contidos aqui?


— Não tenho a mínima idéia. – Ela disse rindo. Porem o cavaleiro não deixou por menos, pegou a mesma quantidade de lama e passou na face alva da garota que parou de rir no mesmo instante. — Isso não tem graça Afrodite.


— Do meu ponto de vista tem.


Os dois se encararam por alguns instantes até rirem juntos deixando a raiva pra outra hora. Lavaram os rostos no rio juntos já que não poderia sair dali assim.


— Afrodite...?! – Ela chamou baixinho erguendo os olhos para o lado dele, ainda estava com o rosto meio molhado.


— Sim?


— Você vai me ajudar não é?


— Deixe de ser boba, não vou te deixar sozinha lá. Não se preocupe.


— Obrigada.


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Existem certos períodos da vida em que passado, presente e futuro se misturam, deixando tudo nublado e atrapalhando a visão das coisas. Os traumas e medos passados te impedem, muitas vezes, de tentar acertar nas probabilidades futuras. E no meio desses medos passados e incertezas futuras acabamos nos esquecendo de viver o único dia que realmente importa, o presente. Todo o dia nos é dado uma nova oportunidade cabendo a nos aproveitá-la ou não. Podemos assim fazer coisas em um segundo que mudarão nossas vidas para sempre. Lembrando sempre que a cima de tudo, oportunidades nunca são perdidas... Alguém sempre vai aproveitar as que você desperdiçar. E apenas no momento em que o passado não te afetar mais e o futuro não te preocupar mais, é que você vai conseguir aproveitar o grande presente que é o hoje.


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— Hey Afrodite!


— O que foi dessa vez? – Ele revirou os olhos.


— Eu posso estar muito enganada, mas o santuário não é por ai.


— Eu sei que não. – Ele disse caminhando entre as arvores floresta a dentro. Olhou para trás por um momento e pode ver o ponto de interrogação na face da garota, então suspirou. — Eu tenho algo importante para fazer ainda.


— Que seria?


— Você vai ver.


Os dois caminharam por alguns minutos em meio a floresta tomando cuidado com o caminho, agora que estava começando a escurecer. Não demorou muito para que os dois chegassem aquela casa no meio do nada, ela parecia ainda mais sombria e morta que da ultima vez. Talvez pela luz quase noturna que recaia sobre o local, ou talvez ele não tivesse mesmo reparado o quanto aquele lugar era estranho por estar com outras coisas em mente da primeira vez.


— Não sabia que tinha um lugar assim aqui. – Ann disse se abraçando como se aquele lugar lhe causasse arrepios. — Que lugar é esse?


— Um lugarzinho morto, no meio do nada, entre Deus me livre e cruz credo. Um lugar abandonado pelos Deuses.


— E porque veio aqui?


— Nem eu sei bem o porque, mas algo me diz que eu precisava fazer isso.


— Isso o que?


O cavaleiro não disse mais nada, largou o que estava segurando e caminhou até a frente da casa, se lembrando da conversa que teve com aquela garota estranha que encontrou ali da ultima vez. Agora com a cabeça mais limpa, e novos conceitos quase sentia o coração partido daquela criança ao ver a morte rondando tudo que ali tentava viver. Talvez a maldade realmente dependa dos olhos de quem vê.


No meio daquele jardim o cavaleiro começou a elevar seu cosmo lentamente, era uma energia pura e limpa, cheia de vida que se espalhava por todo aquele lugar aumentando aos poucos. Ann sentia-se estranhamente quente e acolhida. Afrodite se abaixou apoiando a mão direita no chão próximo a entrada da casa. O local parecia mais iluminado agora e podia-se ver, sentir um pouquinho de vida fazendo o “coração daquela terra” voltar a bater mesmo que lentamente. Entre os dedos do pisciano algumas folhinhas verdes começavam a aparecer. Algumas plantas murchas começaram a ganhar um pouco de cor. E em poucos instantes uma bela roseira começou a florescer em lindas e vistosas rosas vermelhas. Eram as preferidas de Afrodite, eram rosas diabólicas, porem ele sabia que elas não fariam mal à criança. E seria o bastante para trazer um pouco de vida aquele lugar de morte. A energia aos poucos foi diminuindo, Afrodite estava de joelhos no chão apoiando-se com a mão que tocava o solo. Ele ficou na mesma posição por tempo demais, sua respiração estava pesada. Ann estava alguns passos para trás do rapaz. Com a demora ela resolveu se aproximar. Apoiou a mão em seu ombro e o olhou de cima.


— Afrodite... Está tudo bem?


Ele voltou seu olhar pra ela e sorriu, parecia bastante cansado. Balançou a cabeça positivamente.


— Estou bem. Só um pouco cansado. Ela tinha razão... Esse lugar estava mesmo... Morto.


— Quem é ‘ela’? E porque esse lugar estava morto? Não está mais?


— Não sei quem ela é. É uma garota, ela estava aqui ontem, quando “ele” veio aqui, como lhe contei. Ela não me pareceu... Má. E não agora o coração dessa terra voltou a bater.


— Coração?


— Tudo o que é vivo, tem um “coração”, algo que permite que a vida ainda exista naquele ser. Seja lá o que for, não precisa ser um coração como o nosso, mas sim a fonte da vida de qualquer planta, animal ou lugar. E a fonte da vida deste lugar havia secado. Tentei aquecê-la um pouco. Se for bem cuidada, a vida volta para esse lugar.


— E quem é que vai cuidar?


— Não importa muito. A minha parte eu fiz.


— E porque era tão importante fazer isso?


— Só não gosto de ficar em debito com ninguém. É meu modo de... Agradecer. – Ele sorriu para a garota novamente que estendeu a mão para que ele pudesse levantar. Afrodite aceitou a ajuda, cambaleou um pouco antes de se estabilizar.


— Tem certeza que está bem?


— Tenho sim. Só preciso de um pouco d’água. – Ele caminhou até uma arvore mais forte, encostou-se ali por um breve momento. Ann lhe ofereceu uma garrafa de água e ele tomou um gole, respirando fundo em seguida.


— Posso te fazer uma pergunta?


— Claro.


— Afrodite... – Ela corou e desviou o olhar para baixo. — Você... Está...


— Fale logo garota. – Ele quase riu. Guardou a garrafa e pegou as sacolas começando a caminhar ao lado dela, agora na direção do santuário.


— Cale a boca, assim eu na consigo. – Ela esbravejou. — Você... Está apaixonado por mim? – Ela corou ainda mais e não conseguia olhá-lo.


Afrodite sorriu com a pergunta e esticou o braço livre passando por trás do pescoço da garota, quase como se estivesse espreguiçando-se e a puxou para mais perto. Olhava o horizonte quando começou a falar.


— As pessoas apaixonadas tornam-se muitas vezes susceptíveis, perigosas. Perdem o sentido da realidade. Perdem o sentido de humor. Tornam-se nervosas, psicóticas, chatas. Tornam-se, mesmo, assassinas.


Ann sorriu nervosa e por fim o olhou.


— Vou considerar isso um sim. Mas... Eu não sabia que citava Bukowski.


— Há muitas coisas sobre mim que você ainda não sabe.


— Saberia mais se você me contasse.


— Posso mostrar.


— Pois bem. Mostre.


— Você não sabe a vontade louca que eu estou de fazer isso.


Afrodite a tomou nos braços tomando seus lábios para si sem aviso prévio selando o dia com um beijo demorado enquanto caminhava em direção a suas novas vidas, ao menos era isso que pensavam agora. O beijo não demorou tanto quanto ele gostaria, já que o susto a obrigou a pará-lo.


— Você não tem jeito mesmo.


— O que vai fazer quanto a isso? Me lançar um feitiço de ervas?


— Não é uma má idéia.


— Oh mundo... Cuidado com a bruxa malvada. – Ele riu.


— Me chama de bruxa mais uma vez e você vai pagar caro!


— Eu acho que já vi essa cena. – Ele riu. — Essa é a parte em que eu corro e você pega a vassoura?


— Idiota. – Ela deu um tapa na cabeça dele e ele a largou no chão.


— Essa doeu.


— Vai doer bem mais.


— Ah é?


— É.


— Duvido.


— Corre!


A voz dos dois foi sumindo na imensidão juntamente com as suas silhuetas iluminadas pelos últimos raios de sol.


Enquanto isso, ao longe, da porta da velha casinha já não tão morta alguém lhes observava. Um risinho baixo porem agudo como o de uma criança travessa foi ouvido ali. A garota colocou uma mecha de cabelo prateado para trás da orelha. Segurava algo em suas mão, algo que se assemelhava a um coelhinho de pelúcia velho quase em trapos brancos.


— Está vendo Niu? Não disse que eles iriam ficar felizes? E eu também estou feliz. – Ela riu e abaixou-se pegando a mais bela das rosas vermelhas, e a roseira voltou a murchar logo que a garota começou a desaparecer para dentro da casa. — Obrigada Afrodite, era tudo o que eu mais queria. Agora vamos para casa Niu, mamãe deve estar preparando o jantar.


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Notas finais do capítulo

É isso ai pessoal. Acho que eu só tenho a agradecer e espero que tenha gostado desse ultimo capitulo. E foram vocês que me acompanharam até aqui que me insentivaram a continuar até o fim. É pra todos vocês tah. De coração.
Beijinhos... E até a proxima. ♥



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