Here Without You escrita por lawlie


Capítulo 28
Clausura.




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A visão turva da garota percorria toda imensidão nostálgica da mansão Uchiha. Takari estava em frangalhos e não tinha mais forças para resistir. Chorar tornou-se algo inútil e mesmo que ela machucasse seus olhos até suas lágrimas secarem, nada mudaria as ordens e pretensões de Fugaku.

 

Por mais que a garota amasse Kakashi, por mais que ela sonhasse em conseguir ficar junto dele, a presença de seu meio-irmão limitava todas as suas fantasias reprimidas. Era esta sua sina. Viver para sempre presa a uma coleira, sendo dominada violentamente pelo destino que Fugaku lhe impunha.

 

Seria ela uma mulher infeliz, que viveria em Nova York de acordo com a vontade do Uchiha. Ela com certeza se tornaria aquele tipo de mulher que todos do mundo dos negócios acham ideal: triste, sozinha e submissa. Quando os anos se passarem, Fugaku possivelmente a obrigaria a se casar com um de seus magistrados que a maltrataria até a sua morte. Esse era o sonho do Uchiha. Vê-la sofrer nas mãos de um homem como ele, sendo forçada a atender todos os desejos e vontades desse marido rude e sufocador.

 

O futuro de Takari estava traçado. Se Fugaku morresse antes de um de seus filhos completar a idade necessária para assumir as Empresas Uchiha, a presidência ficaria nas mãos de Takari. Logo, para tanto, o homem sabia que precisava casar a meia-irmã com um de seus homens de confiança. Mas para isso acontecer, ele precisava urgentemente se livrar de um incômodo que o assolava: Hatake Kakashi.

 

Já estava tudo planejado. Em Nova York, Takari aprenderia como se portar como uma verdadeira dama obediente. Seria recatada ao tocar piano nas festas do futuro marido, submissa ao ceder às carícias dele e principalmente obediente ao aceitar seu papel de procriadora e mãe dos futuros Uchiha.

 

Mas antes, a rebeldia da garota precisava ser contida. Nem que Fugaku a internasse num hospício ou a mantivesse dopada com calmantes, Takari necessitava ser mantida sob controle novamente.

 

“Isso é apenas uma questão de tempo.” Pensava Fugaku. “Dentro de uma semana, ela estará em Nova York. E dentro de seis meses, ela estará casada e muito bem longe daqui.”

 

---x---

 

A garota dona de olhos cansados foi sendo novamente arrastada de dentro do carro em direção a casa. Fugaku, impiedosamente, a segurou firme pelos cabelos e a colocou de pé.

 

- Você entendeu, não? – falou ele ríspido. – Você não vai escapar de mim!

 

Takari agonizava, sentindo os tratamentos cruéis de Fugaku. Mas, ela apenas permaneceu manipulada por ele, subindo as escadas de mau jeito até atingir a porta de carvalho e depois o hall de entrada.

 

Instantaneamente, Mikoto apareceu, segurando um de seus filhos nos braços, parecendo consolá-lo. Fugaku olha com desprezo para ela, como se exigisse que ela se retirasse. Mas a mulher, não cumpriu a ordem e foi ao encontro de Takari.

 

- Querida... como você está? – perguntou ela mansamente se aproximando da garota e tocando sua face com sua mão livre.

 

Takari abaixou o olhar. Ela estava cansada de permanecer presa naquela casa e se sentia como um fardo para Mikoto. A gentil mulher repousou suas mãos delicadas sobre a face da Uchiha, em sinal materno.

 

- Takari... – fala ela.

 

- Saia já daqui, mulher! – ordena Fugaku. – Vá cuidar de seus filhos!

 

Mikoto lance um olhar de desaprovação para o marido, como se fosse revidar. Mas permanece calada.

 

- Você não vê?! Você não serve nem para cuidar de uma criança! – grita ele. O garotinho começa a chorar.

 

- Shiii... – fala Mikoto tentando embalar o sono do pequeno Sasuke. – Sasuke-kun... fique tranqüilo.

 

- Você não vê que ele está incomodado! Vá pra lá mulher! Leve-o daqui! – bradava o Uchiha.

 

- Papai... – choramingava o pequenino nos braços da mãe.

 

- Leve-o! Agora!

 

Mikoto se assustou com o repúdio que o marido mantinha pelo filho mais novo. Fugaku jamais permitiu demonstrar algum afeto por Sasuke, que sempre foi cuidado por empregadas e pela mãe. Mikoto, ao ver que sua criança permanecia chorando, subiu as escadas para o quarto, em silêncio.

 

- Imprestável! – urra Fugaku maldizendo a mulher. Takari o olha com revolta, mas não podia fazer mais nada.

 

O Uchiha acariciou sua têmpora sentindo-se completamente desgastado com a situação de sua família. Ele exigia demais da esposa, mas Fugaku jamais cumpria seus deveres como pai presente e marido carinhoso. Mikoto sofria muito com isso. Takari podia ver, em seu olhar, a vontade que a mulher tinha de se libertar das algemas do homem. Mas algo, talvez o costume, a impedia de se rebelar.

 

- Você! Venha já comigo! – ordenou Fugaku segurando o braço ferido de Takari e a arrastando para as escadas.

 

O caminho ia percorrendo a medida que Fugaku fazia Takari prosseguir.

 

O Uchiha foi arrastando Takari pelas escadarias. Passaram pelo imenso corredor abarrotado de portas trancadas. Provavelmente eram quartos que jamais foram habitados naquela casa abandonada.

 

Caminhos suntuosos surgiam a cada virada de corredor e Takari se sentia perdida à medida que Fugaku a conduzia rumo a um lugar desconhecido.

 

Num ímpeto, Fugaku parou em frente a uma porta insignificante que, com certeza, passaria despercebida, sufocada pelas outras portas grandiosas e imponentes. O homem tirou uma chave do bolso e abriu a passagem. Fugaku fez a porta ranger assustadoramente ao abri-la. Lentamente, Takari pôde ver que ambiente era aquele.

 

Os olhos azuis da garota se arregalaram a perceber o cômodo. Chegava a ser mortificante o ar que saí de lá de dentro. Ela estremeceu. Fugaku encostou sua mão sobre o ombro da garota.

 

- Você vai ficar aí. A partir de agora. – sussurrou ele.

 

Takari sentiu o calor de suas lágrimas percorrerem seu rosto. Ela não queria ficar ali. Aquele lugar causava-lhe arrepios e só de pensar o tanto de sofrimento entranhado naquelas quatro paredes, ela já sentia seu estômago revirar em ânsia.

 

O sótão. Era esse o lugar. O mesmo lugar que a matriarca Uchiha ficara trancafiada de desgosto com sua amarga vida cheia de traições e mentiras. E ficara ali até seus últimos dias miseráveis.

 

- Esse quarto me traz lembranças, Takari. – disse Fugaku nefastamente. A garota engoliu em seco.

 

- Era o meu quarto. – falou Takari com um fio de voz se relembrando do inferno que passara ali.

 

- Mas antes de ser seu, minha mãe ficou ali por muito tempo. – falou o Uchiha projetando um sorriso. – Eu espero que você sofra aí. Da mesma forma que ela sofreu. Vamos. Entre!

 

O Uchiha empurrou a meia-irmã para dentro. O quarto era medonho. Havia uma cama de ferro, com um velho colchão, encostada na parede. Era a mesma cama que rangia horrores quando ela era criança e fomentava seus pesadelos pelas noites frias, sozinhas e apavorantes. Nas paredes, havia quadros com fotos remanescentes de Paris em um papel antigo que fedia a antiquário. Já nas prateleiras de madeira colonial e bastante empoeiradas, bonecas medonhas, descabeçadas, faltando partes, retorcidas e ao mesmo tempo com um sorriso bizarro e assustador estampado na fria porcelana do início do século, olhavam como se estivessem vivamente presas a torturas a fitar Takari de todos os ângulos. Elas encaravam a Uchiha como se debochassem de sua desgraça e procurassem em meio àquele olhar triste a garotinha que só sabia chorar do passado. Contudo, os traços de menina iam desaparecendo no rosto de Takari e dando lugar a um rosto de uma mulher em amadurecimento. Uma mulher amarga, triste a um passo da morte.

 

Ao lado das bonecas, caixinhas de música com sintonias melancólicas que remetiam ao balé também estavam estáticas, paradas no tempo, com as bailarinas de porcelana congeladas em seus movimentos de ziques-zaques.

 

O armário estava aberto e lá dentro, via-se algumas roupas de balé cheirando a naftalina, todas corroídas por traças. O tule amarelado balançava de vez em quando, fazendo Takari se lembrar dos momentos de dor e angústia que vivera dentro daqueles colans. As sapatilhas doloridas e despedaçadas estavam em um canto e podiam ser vistas na reflexão de um espelho sujo e empoeirado.

 

“Un, deux, trois, quatre” a voz da velha professora de balé ecoava em sua mente. “Mademoiselle Uchiha! Dobre os tornozelos! Errado! Errado! Você nunca vai conseguir ser uma bailarina! Vamos! Faça um Demi-plié! Agora um Enchainement! Un, deux, trois, quatre!”

 

Do outro lado do quarto, encontrava-se o piano. Estava fechado e coberto por uma grossa camada de pó. Sobre ele, existiam pesados livros de francês, os quais Takari fora obrigada a decorar quando era apenas uma garotinha. As partituras velhas e amarelas ainda se encontravam ali. Beethoven, Bach, Chopin, Mozat, Haydn... esses eram os nomes que mais ouvia na sua infância, todos eles sendo pronunciados pela esquelética Srta. Morgan e sua palmatória a estalar na pequenina mão de Takari.

 

Quantas vezes a garotinha tivera que dedilhar aquele piano com os dedos encharcados de sangue e os olhos vertendo lágrimas...

 

- Ela passou seus últimos momentos aqui. – repetiu Fugaku virando-se para encarar as bonecas pavorosas e tirando Takari de seu estado de recordações. – Morreu de desgosto, ouvindo as últimas notas de “Fantasie” de Chopin.

 

Takari começou a se apavorar. Sabia que Fugaku a trancaria ali de novo, como fizera em sua infância. Desde criança, ela escutava as histórias apavorantes que contavam-lhe, dizendo que fora ela quem provocara a morte da matriarca Uchiha. Nunca se soube ao certo se ela morrera por depressão oi se envenenara-se depois de tocar uma última sinfonia qualquer. Mas todos tinham certeza que fora Fugaku quem a trancafiara naquele sótão.

 

- Este é o seu destino, Takari. – murmurou o Uchiha colocando para tocar uma caixinha de músicas.

 

De forma melancólica, começou a tocar O Lago dos Cisnes e a bailarina de louça começou a se mover sutilmente. Takari fitou triste aquilo tudo. Ela queria apenas ser salva. De novo...

 

Fugaku virou-se e se dirigiu rumo à porta. Segurou a maçaneta e de costas, falou o que Takari já sabia:

 

- Você ficará trancada aí. Por pelo menos uma semana. Eu estou ordenando que você faça o combinado. O piano está aí. Você tem sete dias contados para compor sua música. Depois disso, irei te levar para Nova York e você estudará na Filarmônica. Se você não fizer isso, Takari, você vai para Munique no primeiro vôo que eu encontrar.

 

Fugaku não tinha tom de aviso. Possuía um terrível timbre de ordem que Takari estava cansada de ouvir. O homem então, saiu do quarto e bateu a porta. Desconsolada, Takari sentou-se na velha cama, que rangeu. Ouviu a maçaneta sendo trancada. Instantaneamente, colocou as mãos no rosto, chorando.

 

Ela já estava cansada demais. Deitou-se e adormeceu profundamente.

 

-x-

 

Kakashi chegara em sua casa há um bom tempo. Tomou um banho para tentar relaxar, sentindo a água quente traspassar pelos seus cabelos prateados, na esperança que seus pensamentos preocupados sumissem juntos com ela.

 

O garoto estava, agora, sentado no chão de seu quarto, com a cabeça apoiada na parede, não conseguindo frear seus pensamentos em Takari. A cada minuto, Kakashi se martirizava por ter deixado Fugaku levá-la, por não ter conseguido tirá-la das garras daquele monstro.

 

- O que eu vou fazer de agora em diante?! – perguntava ele em voz alta, para si mesmo. – Eu tentei de tudo...

 

A noite já perdurava e, então, o Hatake escutou o barulho do carro de seu pai chegar. O garoto pouco se importou, pois ele sabia que em breve Sakumo teria que sair novamente.

 

Em poucos minutos, Kakashi ouvia as batidas preocupadas de seu pai em sua porta.

 

- Kakashi, você tá aí?

 

- Tô. – respondeu ele quieto.

 

- Deixe-me entrar. – pediu ele. Apesar de Kakashi não estar nem um pouco interessado nas constatações óbvias de seu pai a respeito de sua relação com Takari, o garoto abriu a porta.

 

- Pensei que você ia ficar em Nova Jersey até amanhã.

 

- Resolvi voltar antes. O enterro do meu amigo será aqui mesmo. – falou ele. – Foi um acidente horrível. Engavetamento.

 

- Sinto muito. – murmurou Kakashi indiferente.

 

- Eu vim hoje, Kakashi, por sua causa. Você está em pedaços. Nunca te vi tão triste desse jeito. Eu estou preocupado com você.

 

- Tá tudo bem, pai. Tudo bem. – Kakashi sentiu um aperto imenso no coração no momento que pronunciara tais palavras. O garoto sentia-se como se fosse chorar. Mas não queria fazê-lo na frente de seu pai.

 

 

- Você não acha que está indo longe demais por essa garota que você mal conhece?

 

Kakashi fechou os punhos. Ninguém era capaz de compreendê-lo. Seu pai, seus amigos, nenhum deles entendiam que ele tinha uma ligação misteriosa com Takari, como se os corações dos dois estivessem sido entrelaçados há um bom tempo.

 

- Ela precisa de mim. – falou Kakashi.

 

- E você? Precisa dela tanto assim? – perguntou seu pai.

 

- Pai! – ralhou Kakashi sentindo-se ofendido.

 

- Eu falo sério, Kakashi. Eu já disse muito, já te alertei o suficiente para ficar longe dos Uchihas. Te dei mil motivos para se afastar dessa menina. Você está tão apaixonado assim?! Desse jeito vai acabar estragando sua vida...

 

- Ela completa meu destino, pai. Preenche meu vazio. E ela sempre está perto de mim. Não importa o quão longe ela esteja. E nada mais importa.

 

Kakashi não prestara atenção instantaneamente no que falara, mas depois se deu conta que ele murmurara a frase de Takari, a música que o fazia lembrar dela: Nothing Else Matters.

 

- Ela é só uma garota, Kakashi. Haverá outras... – tentou Sakumo.

 

- Não adianta, pai. Eu não vou desistir dela.

 

- Kakashi, - ele fez uma pausa. – Eu só mão quero que você se decepcione e se machuque no final.

 

O pai do garoto saiu do quarto e deixou Kakashi sozinho mais uma vez. O Hatake deitou-se na cama e, lentamente, caiu em sono profundo.


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