A Substituta escrita por Erika N


Capítulo 5
Capítulo 2 - Parte 1




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A Substituta

Autora: Érika

"Saint Seiya" é propriedade de Masami Kurumada, Shueisha e Toei Animation.

Capítulo 2 - Parte 1



Jabu caminhava pelo Santuário enquanto ia meditando sobre o significado da morte de Seiya. Mas não teve que pensar muito para concluir que isso não lhe importava, afinal, eles nunca tinham sido amigos, ao contrário: o falecido cavaleiro de Pégasus não perdia uma oportunidade para debochar do cavaleiro de Unicórnio, e poucas foram as vezes em que eles conversaram civilizadamente. Provavelmente, foram só umas duas vezes, naquelas poucas semanas que antecederam a partida de Athena e seus cavaleiros para Asgard. Ou seja, havia apenas poucos meses, mas mesmo assim, Jabu não se recordava com clareza sobre o que Seiya e ele tinham conversado, embora estivesse certo de que não havia sido nada importante ou interessante, pois Seiya e ele não tinham nada em comum, a não ser talvez uma certa semelhança física, para desgosto de ambos. Mas agora Seiya estava morto, portanto Jabu não precisava mais se preocupar, a tranqüilidade voltaria a reinar.

Ele estava plenamente consciente de suas deficiências como cavaleiro (pois eram muitas), mas felizmente sua deusa regressara, assim, a luz retornara à sua vida. Então, ele tinha muitos motivos para sentir-se animado e treinar muito, até se tornar um cavaleiro digno de Athena. Ele reconhecia que no momento não tinha sequer o direito de se aproximar de Saori, menos ainda de olhá-la nos olhos, pois era um fraco, uma vergonha como cavaleiro, ainda que fosse o mais poderoso do seu grupo, formado também por Nachi, Ichi, Geki e Ban (o que não significava muito, já que estes quatro eram os cavaleiros mais medíocres da ordem de Athena). Todavia, Jabu estava sentindo um ânimo, uma vontade de viver como havia muito não sentia; ou melhor: será que alguma vez ele se sentira assim? Porque ele já não era mais a sombra por trás de Seiya, agora ele tinha seu próprio espaço, seu caminho estava livre, ninguém nunca mais poderia impedi-lo de alcançar Saori.

Ela estivera muito distante dele desde que Seiya, Ikki, Hyoga, Shiryu e Shun voltaram ao Japão e, depois de alguns percalços, acabaram se tornando grandes amigos da deusa, e em seguida começou a formar-se um laço especial entre ela e Seiya. Jabu não poderia afirmar que nunca houvera nada entre eles, mas esperava que não, afinal , por mais irreverente que fosse, Seiya não poderia "faltar com o respeito" à senhorita Kido/deusa Athena. Na verdade, no princípio, Jabu não notara nada, parecia que Saori tratava Seiya de maneira impessoal, mas à medida que ele ia tomando parte nas batalhas e se ferindo (algumas vezes gravemente), Jabu percebia como Saori se preocupava, e não parecia uma preocupação típica de deusa para com seu cavaleiro, pensando que se ele morresse, seria um a menos para protegê-la. Não, Jabu estava convicto de que esse pensamento egoísta jamais passara pela mente de Saori, e de que ela até se culpava pelos obstáculos que seus cavaleiros enfrentavam para defendê-la, como se isso não fosse obrigação deles. Pelo menos, Jabu, especificamente, ficaria feliz em sofrer os piores tormentos e entregar não só sua vida como também sua alma para proteger Saori. Mas infelizmente ele ainda não tivera o privilégio de poder defender sua deusa.

Por fim Jabu concluiu que agora que Saori mudara, não era mais a típica riquinha mimada e arrogante (mas que mesmo assim ele sempre adorara, desde a mais tenra idade), e sim uma pessoa doce e suave, e sem Seiya para interpor-se entre ele e sua deusa, tudo seria mais simples; talvez ele finalmente pudesse encontrar o caminho para o coração dela. Jabu ignorava que, ainda que Seiya jamais voltasse ao mundo dos vivos, ele teria outro concorrente: Julian Solo, ou melhor, Poseidon. E também nunca imaginaria que Saori ressuscitaria o cavaleiro de Pégasus.

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Shaina estava em sua humilde casinha no Santuário, pensando se ainda valeria a pena voltar a usar sua máscara, que fora quebrada mais uma vez quando ela tentava proteger "Seika", durante a batalha contra Hades. Contudo, ela chegou à conclusão de que isso seria inútil; se todos já tinham visto seu rosto, que proveito ela teria se voltasse a ocultá-lo? Ademais, seu único amor estava morto, portanto, ainda que ela voltasse a cobrir o rosto e outro homem partisse sua máscara, ela não se importaria, pois não sentiria nada por ele, já que nunca poderia apagar a imagem de Seiya de sua mente e de seu coração. E de qualquer modo, outro homem antes de Seiya já tinha visto sua face descoberta, mas naquele caso ela mostrara seu rosto por livre e espontânea vontade.

Shaina ainda se admirava com o seu autocontrole frente ao cadáver de Seiya, mas refletiu que talvez isso se devesse ao fato de que ela sempre imaginara que ele estava condenado a morrer cedo, pois não poderia resistir por muito tempo ao mundo de batalhas no qual vivia. Por outro lado, a amazona não conseguia compreender como não reagira frente a Athena, por que não lhe dera uma lição. Mas não, ela não poderia fazer isso, pois se regenerara, por isso, mesmo que não quisesse, deveria comportar-se, afinal, antes de ser uma mulher, ela era uma amazona e Athena era sua deusa. Neste caso, nunca poderia levantar sequer um dedo para ela, e se o fizesse, certamente seus fiéis cavaleiros a defenderiam, como fizeram depois que "Seika" a esbofeteou. De qualquer forma, Shaina sempre se recordaria com ternura de Seiya, aquele menino moreno e alegre que poderia ter sido muito feliz... mas o destino já tinha outros planos para ele. "É curioso. Dentre os cinco cavaleiros, somente Seiya morreu. Até mesmo aquele jovem de cabelos verdes... Shun, com uma aparência tão frágil, sobreviveu. E Seiya, tão obstinado, forte e otimista... A quem Cássios defendeu só para que eu não sofresse. Cássios. Meu pobre Cássios. Como eu lamento que seu sacrifício tenha sido inútil. Você o salvou só para que ele morresse poucos meses mais tarde", pensou Shaina, enquanto lágrimas iam molhando seu rosto, embaçando sua visão, mas ela nem notara. Na verdade, não sentia nada, parecia estar anestesiada. "Eu queria... queria sentir... e não sinto. O que será que eu tenho de errado? Para onde foi minha dor? Eu deveria gritar com todas as minhas forças até ficar sem fôlego... mas não encontro minha voz... Por que sou tão fria? Não, estou equivocada. Por que estou sentindo tanto frio?"

Então, Shaina percebeu que estava tremendo, e nesse momento voltou à realidade, seus sentimentos invadiram toda a sua alma de forma avassaladora, e ela se odiou por ter sido fraca, por ter chorado, por ter permitido que Cássios morresse... De fato, odiou-se por tantos motivos, que em um instante já não sentia mais ódio... só lhe restou o vazio de sua vida, na qual ela caminhava... e nunca chegava a lugar algum. Logo, Shaina começou a recordar sua infância, como havia muito tempo não fazia. Era uma época difícil (e quando foi que houvera uma época "fácil" em sua vida?). Mas ela era feliz, tinha seus pais, e muitas pessoas no mundo não podiam orgulhar-se disso.

A mãe de Shaina fora uma das melhores amazonas de Ofiúco da história (ela era amazona de ouro) e seu pai era um soldado do Santuário, mas não tinha nenhuma inveja da esposa, pelo contrário: admirava-a muito por ser uma amazona do mais alto nível. Assim, apesar da simplicidade em que vivia, Shaina teve uma infância tranqüila. Claro que às vezes seus pais tinham alguma discussão, pois ambos possuíam personalidades muito fortes (ou seja, ela herdou seu caráter dos dois), mas no fim sempre se entendiam. Porém, ocorreu uma fatalidade: a mãe de Shaina teve leucemia. O Santuário custeou seu tratamento, mas mesmo assim foi muito difícil encontrar um doador de medula compatível, e como a mãe de Shaina tinha um temperamento irrequieto, odiava não poder lutar e ter que ficar o tempo todo em repouso. Esta foi uma época muito difícil na vida de Shaina, pois ela tinha que suportar as constantes crises de mau-humor de sua mãe e tentar ajudar o pai que entrara em profunda depressão.

Passou-se algum tempo, e finalmente encontraram um doador compatível, fez-se o transplante de medula e aparentemente a mãe de Shaina ficara curada. Apenas aparentemente, pois como a doença da amazona de ouro já havia chegado a um ponto crítico, ela acabou falecendo. Nesta época, Shaina tinha treze anos e só estudava; por ser muito nova, naturalmente ainda não tinha decidido o que fazer da vida, pois mesmo morando no Santuário, ainda não pensara em ser amazona. Mas com a morte de sua mãe, decidiu-se e passou a treinar com o sonho de se tornar amazona de Ofiúco também, em memória de sua progenitora. Evidentemente, o objetivo de Shaina era converter-se em amazona de ouro, mas apenas conseguiu chegar ao nível de prata, e mesmo tendo conseguido tornar-se amazona de Ofiúco, ficou frustrada, pois sentiu que falhara com a mãe ao não poder alcançar o nível de ouro.

A mestra de Shaina fora Helena Marin, mas nunca houve particular afeição entre elas, pois Shaina era muito rebelde, o que ocasionava várias discussões entre elas, e isso perturbava deveras Helena Marin, já que esta era uma pessoa de caráter dócil, portanto não sabia como lidar com pessoas geniosas como Shaina. Por isso, a relação entre elas restringia-se tão somente aos treinamentos. E quando Shaina tornou-se amazona, perdeu totalmente o contato com sua mestra. Dois anos depois, Helena Marin conheceu Seika, passou a treiná-la e com esta sim manteve um bom relacionamento, já que Marin, como a discípula passou a se chamar, era uma pessoa tranqüila. Mesmo assim, Helena sempre reconhecia que Shaina fora uma de suas melhores alunas, e poderia ter sido a melhor, se não fosse tão impetuosa e um pouco autoconfiante demais, razão pela qual não conseguira obter a armadura de ouro de Ofiúco, tendo que conformar-se com a de prata.

O pai de Shaina ficara muito triste com a morte da esposa, nunca conseguiu recuperar-se dessa melancolia, tanto que, menos de um ano depois, ele também morreu, pois nem Shaina serviu-lhe de consolo, ao contrário: sempre que ele olhava para a filha, seu coração sangrava, pois ela era parecida com a falecida mãe; não era uma semelhança devastadora, mas tinha o mesmo olhar e o mesmo porte altivo. Por outro lado, Shaina também se via refletida no pai, já que também parecia-se com ele. Por isso, não foram poucas as vezes em que as pessoas pensaram que os pais de Shaina eram irmãos, quando ainda não sabiam que eles eram casados, devido à sua semelhança física.

Depois da morte do pai, Shaina ficou totalmente perdida, mas nunca deixara transparecer isso a ninguém, nem mesmo a certo homem que fora muito mais do que um grande amigo para ela, e hoje, tudo o que Shaina tinha de seus pais eram as lembranças. Ou seja, ela não tinha nada.

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Kiki estava em alguma parte do Santuário, chorando pela morte de Mu (ele não sabia que o cavaleiro de Áries tinha entrado em khoma, mas que não havia morrido e que Athena o salvara), que fora não só seu mestre, mas também um grande amigo. Na verdade, para Kiki, Mu fora seu irmão mais velho (primeiro pensou na palavra "pai", mas como Mu tinha vinte anos e ele dez, concluiu que isso não seria possível).

Quando Kiki mudou-se para Jamir, junto com sua família, sentiu-se muito sozinho, pois aquele era um lugar deserto, e Kiki não conseguiu fazer nenhuma amizade, já que não havia ninguém por lá. Ou melhor, quase ninguém, pois Kiki conheceu Mu. O cavaleiro de Áries afeiçoou-se muito a Kiki, e o menininho também apegara-se muito a ele. Mu contava àquela criança sobre o Santuário e foi assim que a amizade entre eles cresceu e Mu começou a treiná-lo. Os pais de Kiki não se importaram, pois Mu também conseguiu cativá-los. Ademais, Kiki tinha três irmãos, todos mais novos que ele e igualmente travessos, por isso, seus pais ficaram aliviados em poder "se livrar", pelo menos por algumas horas, de um de seus filhinhos. Mas à medida em que foi se estreitando o relacionamento entre Mu e seu discípulo, este último começou a passar mais tempo ao lado de seu mestre, até que finalmente foi morar no seu pagode. Ainda assim, os pais de Kiki não viram nenhum problema nisso, já que sua casa ficava relativamente próxima ao pagode do cavaleiro de Áries. Além disso, Mu era uma pessoa totalmente confiável, por isso não havia motivos para preocupações. Por fim, os pais de Kiki estavam orgulhosos por terem um filhinho "paranormal". Apenas não gostaram muito quando, dois anos mais tarde, ele teve que ir para o exterior, acompanhando seu mestre. A princípio, eles não permitiram, mas Kiki fez um imenso escândalo, começou a berrar e a chorar. Seus pais sentiram uma impaciência de matar e, por isso, deixaram (com prazer) que seu garotinho finalmente fosse embora com Mu.

E hoje Kiki, que tinha sido tão feliz naqueles dois anos inesquecíveis, apesar de ter somente dez anos, soube finalmente o que era a dor. E como ninguém nunca estava preparado para a sua chegada (menos ainda uma criança), Kiki sentiu-se tão pequenino... Mas preferia estar ali, sozinho mesmo, pois não queria incomodar ninguém com sua tristeza; todos já estavam muito deprimidos, então Kiki não queria ser um peso a mais. Por isso, ao notar que soluçava, cobriu sua boca para que, se alguém passasse por ali, não pudesse escutá-lo, e fechou os olhos como se assim pudesse fechar também a ferida que começava a se formar em seu coração.


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