(900) Dias Com Ela escrita por Sappho


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Faz tempo desde que eu não posto algo, então...
Sério, me perdoem.
Mas isso... Isso eu precisava escrever.



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2020. p.o.v. Emma.
Não importa quanto tempo passe, eu sei que ainda me lembrarei do seu sorriso. A forma como seu nariz franzia quando eu a fazia sorrir.
E aquele cheiro? Ah! Eu ainda posso sentí-lo preso em minha pele, embrenhado em todas as roupas esquecidas no meu quarto durante nosso relacionamento. Até mesmo nos meus lençóis, mesmo depois de comprar novos, é quase como se ela ainda estivesse ali, como se ela dormisse comigo todas as noites desde que me deixou.
E tem aquele olhar, o olhar desesperado e vazio da nossa despedida. Seus olhos molhados com lágrimas que eu sabia que ela não deixaria escorrer, eu sabia que Regina jamais demonstraria que ela sabia que aquela era, de fato, a ultima vez que me veria. E eu não a culpo, afinal, deve ser realmente difícil viver com uma mãe como Cora.
Eu não queria deixa-la. Eu sabia que não podia. Eu podia sair de sua cidade, sair de sua vida, mas Regina jamais deixaria meu coração. As vezes repasso todas as outras, os outros. Eu tentei de tudo desde que ela partiu. Acho que só encontro consolo nela. Ah. Quem não encontraria consolo em uma fada tão bela? Tão verde como meus olhos e com a magia mais deliciosa e poderosa do mundo. O esquecimento. É só o que eu preciso, esquecer dela, pelo menos por essa noite. E a noite seguinte. E a próxima. E a depois daquela.
Eu não queria deixa-la. Mas eu sabia que devia, pelo menos até que as coisas se acalmassem, deixar que Cora pudesse me perdoar por ter traído sua confiança, por ter mudado sua filha, por tê-la tirado do curso normal. Eu não fiz nada disso, eu não fiz nada além de amá-la com todo o meu coração. Ainda a amo. Não se passa um dia sem que eu sinto a dor de tê-la deixado sozinha na escola.
Peguei o trem pra sair da cidade dela. Foram as duas horas mais doloridas da minha vida. As ruas estavam tão desertas quanto meu interior parecia estar, como aqueles filmes Western americanos, faltando apenas as bolas de feno voando de um lado para o outro.
Eu me lembro que chorei o caminho todo, desabei. Até pensei em ir à uma Igreja, me confessar, sei lá. Talvez Deus me ajudasse se eu pedisse ajuda, se eu precisasse absurdamente dessa ajuda.
Então cheguei em casa, Mary sempre muito atenciosa. Ela me amava, mesmo sabendo que eu era gay, e sempre, sempre fez de tudo para que eu e Regina ficássemos juntas, mesmo tendo sido meio contrária no começo, afinal, a filhinha dela está saindo da cidade para conhecer alguém cujo primeiro contato fora virtual. Posso entender sua dor. Acho que eu surtaria se o meu pequeno fizesse o mesmo. Mas não importa, ela me deu colo, disse que tudo ficaria bem, mas não ficou, não é? E nem vai. Nunca mais.
Copa do mundo de 2010. Quartas de finais. Holanda e Eslováquia. Estava torcendo para os Holandeses, claro. Sempre tive essa queda pela Holanda. Ela disse que fugiríamos pra lá, um dia. Não demorou para o jogo começar, eu cheguei em casa devia ser umas 10:30 e ele começaria as 11h. Aquele jogo nós ganhamos. Pelo menos aquilo. E eu não estava feliz, She will be loved não saia da minha cabeça, por que até hoje, se eu tivesse uma chance, mesmo que irrisória, eu não me importaria de esperar todos os dias, na sua esquina, embaixo da chuva.
Ainda mantenho em mente como falhei na minha missão de protegê-la de tudo. Até por que eu jamais pude protegê-la de mim.
Posso sentir meus lábios entorpecidos pelo álcool da bebida. Absinto sempre me ajudou, mas hoje ainda estou aqui, cheia de devaneios, olhando para o teto do quarto onde costumávamos nos amar incontáveis vezes, durante incontáveis noites mesmo sabendo que éramos apenas crianças. Eu 16, ela 17.
E se eu fechar os olhos, se eu fechá-los bem forte, ainda posso sentir seu abraço. A forma como suas mãozinhas seguraram firme no meu corpo, como se quisesse me prender nela pra sempre, mesmo sabendo que ela não poderia. Ela sabia que seria nossa ultima vez, que seria o ultimo abraço.
E naquele segundo, o seguinte ao abraço, quando suas mãos já não estavam mais em mim, eu soube, eu só tinha uma certeza, que carrego até hoje: eu jamais seria plenamente feliz, ou completa novamente.
A menos que ela voltasse pra mim.


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Notas finais do capítulo

Reviews?
___
Quanto à Bette, ela não existe, só tentei imitar o começo do filme.