Sol De Inverno escrita por RosangelaC


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada, acho que tenho que colocar alguns apelidos que a Yachiru vai acabar usando e que vocês talvez não entendam. D:
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Kenpachi: Ken-chan;
Ikakku: Dairiseki (bola de gude) ou Pachinko-dama (bola de Pachinko, que é um jogo parecido com pinball, no qual se usa uma bola metálica);
Kurosaki Yuzu: Yu-chan;
Nnoitra: Sukini(magricelo);
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Acho que é só por enquanto, o resto dos apelidos eu vou postar nas notas finais. o/



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Um alarme estridente fez se ecoar por toda a cadeia de prédios que estavam dispostos naquele local, anunciando para todos os estudantes do colégio Soul Society que as aulas estavam encerradas naquele dia. Apesar do nome peculiar, a instituição era uma das mais conceituadas do país, tendo em sua propriedade um dos maiores campus do Japão, onde treze unidades disposta em prédios davam aos estudantes todo o suporte necessário para sua formação acadêmica e pessoal, proporcionando atividades extracurriculares das mais diversas.

O tempo naquela tarde não era dos melhores devido à chegada do inverno que, apesar de que não estivesse chovendo e nem nevando, tornavam as temperaturas baixas e o céu nublado. Em consequência desse fator, vários estudantes agasalhavam-se bem, incluindo duas garotas que saiam do 11º prédio, das quais conversam banalidades.

Ambas eram adolescentes, estavam no primeiro ano do Colegial e chamavam muito a atenção dos garotos que estudavam no mesmo prédio que elas. Isto não ocorria apenas por serem belas, mas sim porque a concentração de garotas naquele prédio em especifico não era muito grande, sendo de três garotas para dez rapazes.

E a aparência delas ajudava em muito tal admiração de tantos. Sendo uma delas morena de cabelos curtos, estatura mediana para uma garota, com curvas suaves no corpo e uma expressão sempre desafiadora devido a seu gênio forme, do qual acabava por incentivar que os garotos que conviviam a seu redor tentarem conquista-la, porem, sem sucesso. Chamava-se Kurosaki Karin, irmã de um dos senpais mais famosos de todo o Soul Society, mesmo que Kurosaki Ichigo já tivesse se formado há tempos.

Já a outra era menor, alcançando com esforço 1,55 de altura, possuidora de curvas mais acentuadas, deixado evidente os seios e os quadris mais largos, de longos cabelos cor de rosa naturais e olhos da mesma tonalidade peculiar, a qual se chamava de Kusajishi Yachiru. Ao contrário de sua amiga, Yachiru tinha a personalidade mais amigável, interagindo e apelidando a qualquer um que estivesse a sua volta, menina de sorriso fácil e brincalhona, viciada em doces e até mesmo birrenta como uma verdadeira criança. Muitos caiam nos seus encantos naturais, mas poucos eram os corajosos a se aproximarem de Yachiru, devido a seu protetor Madarame Ikkaku.


— Você vai buscar a Yu-chan? — perguntou Yachiru enquanto desembalava um pirulito e caminhava para a saída do campus.



Trajava um sobretudo azul, o qual era padrão do colégio, seus longos cabelos estavam soltos, ondulando conforme o vento batia sobre eles. Um cachecol protegia seu pescoço do frio e mesmo assim, ela se encolhia um pouco.



— Fazer o que, ‘né?! Preferia que ela ficasse no mesmo prédio que a gente, assim não teria que andar até o 4º só pra buscar aquela chorona. — em tom estressado respondera Karin.


Karin tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo alto, com o mesmo sobretudo que a outra. A diferença da vestimenta delas era unicamente que a morena usava luvas negras no lugar de um cachecol.


— Yu-chan é delicada demais para ficar aqui. — usando seu tom de voz manhoso e brincalhão, a de madeixas rosa apertara as bochechas da outra — Fora que o Icchi não iria querer ela perto de tantos garotos.



— Tá, tá. Agora me larga! — desvencilhando-se das mãos que atacavam seu rosto, voltava a falar — Você vai aparecer hoje no dojo?



— Ah... — por um instante o semblante sempre animado de Yachiru murchara — Hoje não, eu tenho algumas coisas para fazer... — forçara um sorriso, demonstrando seu desconforto com o assunto.



— Não deveria perder treinos assim... Mas você quem sabe. Vou indo, até mais. — dando de ombros, a outra seguira seu caminho entre os prédios, deixando Yachiru para trás.



Por um instante a pequena ergueu seu olhar para os céus nublados, onde grossas nuvens escuras vagavam de um lado para o outro, nuvens estas que lhe traziam más recordações de invernos passados. Com um suspiro longo, ajeitara o cachecol rosa que aquecia seu pescoço, subindo-o e cobrindo também seus lábios e a ponta de seu nariz, aquecendo-os.


Mesmo tendo o olhar vago, quando alcançara a calçada do local, não fora difícil reconhecer o homem careca, de feições rígidas e assustadoras – isto na opinião de alguns que cruzavam seu caminho – que a esperava encostado em uma BMW 4x4 preta. Ikkaku tinha um sorriso irônico enquanto observava Yachiru se aproximando.


— Teve um bom dia de aula? — indagou amável, tendo agora um sorriso terno nos lábios, tornando-o menos assustador para alguns.



A garota fizera menção de que o abraçaria e no impulso, Ikkaku apenas deixou que ela se aproximasse, mantendo a guarda baixa e seus braços abertos.



— Como se você se importasse, Dairiseki! — em um movimento rápido, ao invés de passar os braços em volta do corpo do rapaz, Yachiru deu-lhe um peteleco de surpresa na testa.



E antes que houvesse o troco, ela tratou logo de entrar no carro e se sentou no lugar do passageiro, abaixando o vibro só o suficiente para mostrar a língua ao homem, que tinha uma veia saltando de sua testa por ter sido enganado.


Com um suspiro, o careca deixou com que suas feições se suavizassem novamente, sorrindo levemente ao caminhando para o lado do motorista e assumindo seu lugar. Afinal, já deveria estar acostumado. A garota nunca deixaria de brincar com sua falta de cabelos, era assim desde o dia em que se conheceram.

Logo o carro seguia as ruas da cidade, das quais não estavam com transito algum, tornando a viagem tranquila.


— Você deveria parar de comer tantas besteiras assim. Vai acabar ficando uma bola rosa e diabética.



— O único que deveria se preocupar em parecer uma bola aqui é você, Dairiseki. — fingindo-se de emburrada, jogara a embalagem do pirulito que chupava na careca do homem, fazendo olhá-la com os olhos afiados — Mas você já se parece com uma bola de boliche lustrada, né?! Então já não tem mais jeito.



— Sua pirralha... — sem desviar o olhar da estranha, esticou o braço na direção da menor ao seu lado, agarrando-lhe a bochecha entre o polegar e o indicador, apertando-a.



— Solta, solta, solta, SOLTA! — quando ele a pegava assim, era impossível se soltar sem que ele permitisse, o que geralmente levava a um belo vergão vermelho nas bochechas da garota, mesmo que o homem jamais usasse força o suficiente para machuca-la de verdade — Ikkaku para!



Após ouvir um pouco os resmungos e suplicas para que parasse com o aperto, Ikkaku finalmente a libertara, soltando uma gargalhada quando notara o estrago feito na bochecha da garota.



— Isso é pra aprender a não me irritar, pirralha!



Continuou a rir, mas desta vez era da careta emburrada que Yachiru fazia e do ato infantil da mesma ao mostrar-lhe a língua, o que só fez com que a gargalhada aumentasse. Entretanto não mexeria mais com ela, pois gostava mais quando ela sorria do que quando ela estava zangada.


Parando para pensar por um instante, o tempo havia passado muito rápido, nem aparentava que logo faria onze anos que aquela criaturinha havia entrado em sua vida. Sendo que desses anos, cinco deles ele havia cuidado dela sozinho, acompanhando seu crescimento e cuidando para que nada e nem ninguém a fizessem mal. Cuidado esse que até ele mesmo admitia que era um pouco possessivo.

Todavia não tinha como evitar. Há algum tempo já havia notado que seus sentimentos para com a menor não era um simples carinho, muito menos um amor fraterno – apesar de não terem nenhum parentesco de sangue –, tratava-se de algo mais forte. Notara isso há alguns meses atrás quando havia ido busca-la em seu colégio.

Era um dia típico de verão, abafado e muito quente, lá estava Ikkaku esperando Yachiru na frente de seu colégio, como fazia há tantos anos. Não demorou muito para que a avistasse correndo em sua direção com os cabelos soltos, usando o uniforme de verão do colégio, do qual acompanhava uma saia muito curta na concepção dele. Porem tinha que admitir, a garota de madeixas rosa ficava uma graça naquelas vestimentas.


—Ikkaku, me leva pra tomar sorvete, ‘plis. Não aguento mais esse calor!— resmungava ela, toda espalhada pelo banco de trás do automóvel, aproveitando do ar condicionado.



—Já disse que não! Sei muito bem que vai acabar me falindo se te levar para algum lugar que tenha doces. — mantinha-se firme perante sua decisão. Nem se dignando a olha-la enquanto dirigia.



—Você é muito chato, Dairiseki. — fazendo um bico adorável, Yachiru passou a ignorar o outro em grande parte da viagem, voltando sua atenção para sua mochila, procurando nela algum doce reserva que pudesse ter guardado ali. Entretanto não achara nenhum doce e sim, algo que não era comestível — Nem me lembrava de mais disso.



—O que foi? — indagou o outro distraidamente.



—Uma carta de amor que recebi hoje. — falara Yachiru, como se não fosse nada demais.



—O QUE?! — quase causando uma batida, o homem se sobressaltou quando ouvira “carta de amor” na frase.



Saindo do meio da pista, evitando um real acidente, Ikkaku fora para o acostamento, sentindo seu sangue subir-lhe a cabeça. Quando finalmente encostou o carro e o parou, virou-se na direção da garota, olhando o papel que se encontrava nas mãos dela.



— Ikkaku baka! Quase batemos! O que esta pensando... — entretanto, o homem não ouvira nenhum dos resmungos e acusações que levava, apenas estava em choque.



Como se algo o tomasse aos poucos, fazendo com que os músculos de seu corpo se tornassem rígidos, Ikkaku pulara para o banco de trás, arrancando a tal carta das mãos da menor, lendo-a logo em seguida.




— O que você respondeu a essa carta? — entre dentes, soando mais como um sussurro ríspido, perguntou enquanto amassava o papel em mãos, devido à força que o segurava.


— Ah, não respondi nada, oras. Vim correndo para cá porque estamos atrasados para o treino. E falando nisso, por que paramos? Vamos log-.



— Se não ia responder nada, por que a pegou então? Pretende sair com esse cara? — perdendo o controle, Ikkaku acabou por pega-la por um dos braços sem medir a força que usava, trazendo a mais para perto, para que encarasse seus olhos.



— Não, eu só peguei e sai correndo, não pensei... — confusa e até mesmo um pouco assustada, Yachiru respondeu em voz baixa, murchando o sorriso que sempre trazia nos lábios. Era a primeira vez que ele agia assim consigo, nem mesmo quando o tirava do sério Ikkaku usava a força que usava naquele instante para segurar seu braço — Ikkaku, ‘ta me machucando...



— Eu não quero você perto desse cara, entendeu? Ouviu-me bem, Yachiru? — ameaçava, ainda tendo sua mandíbula serrada.



— Você esta me machucando! — gritou por fim, irritava, a menina o empurrou com força, fazendo-o soltá-la e abrindo uma distancia entre eles.



Caindo em si novamente, Ikkaku notara a besteira que havia feito quando viu Yachiru encolhida no banco, o mais longe o possível de si, segurando o braço a qual ele havia agarrado, afagando-o para amenizar a dor que sentia. O braço de Yachiru estava vermelho escuro, com as marcas da mão do rapaz, do qual se desesperara ao notar que foi o causador da dor dela.



— Ya-chan, me desculpe, eu... — mas quando tentara chegar perto dela à mesma lhe lançara um olhar raivoso, avisando do perigo se se aproximasse mais.



Com um sentimento de vergonha e culpa, Ikkaku voltara para o banco do motorista, alisando sua própria nuca em busca de se acalmar, mas não sem antes deferir um soco sobre o volante. Sentia-se o cara mais estupido do universo.


Naquele dia Yachiru recusara-se a ir treinar no dojo e quando chegaram a casa em que moravam, ela passara o dia todo em seu quarto, sem responder aos chamados de Ikkaku, voltando a falar novamente com o mesmo somente dois dias depois do ocorrido.

Pensando nesse incidente, Ikkaku ainda sentia-se meio envergonhado ao ser tomado pelos ciúmes daquela forma. Mas apenas de imaginar outro chegando perto daquela a quem nutria tanto carinho e amor, pensar em alguém tentando colocar as mãos no corpo inocente e imaculado de Yachiru, podendo fazer os atos mais desprezíveis e assim machucar a quem tanto queria proteger... Era inadmissível deixar que isso acontecesse.


— Então, preparada para o treino? — tentando livrar sua cabeça dos pensamentos que o surgiam, puxando assunto.



— Eu quero ir para casa... — respondera Yachiru, tendo sua face virada para a janela, como se admirasse as ruas.



— Mas por quê? — perguntara o homem, tendo sua testa franzida — Toda vez que seu aniversário chega você começa a se isolar. Sabe que todos do dojo ficam chateados quando faz isso, até parece que não gosta da companhia deles...



—Não é isso, Ikkaku. — diferente de sua fala mansa e manhosa de sempre, ela usava um tom de voz sério — Sabe que pra mim, não é a mesma coisa sem ele...



Mesmo que Yachiru tenha falado em tom de sussurro, fora o suficiente para que ele a ouvisse, instalando um clima tenso no automóvel. Nenhum dos dois ousara falar nenhuma palavra. A garota logo vira o “primo” fazendo o desvio e seguindo o caminho da casa onde moravam. Agradecia mentalmente por isso, mas o culpava também por ter a feito fazer menção a ele.


Zaraki Kenpachi, um demônio sanguinário, seu salvador, quem a protegia, que fazia sentir-se segura, a quem nutria um amor gigantesco, do qual às vezes a sufocava. O homem que se tornara seu mundo há anos atrás.

Se era o que era atualmente, devia a aquele homem. Se ele não tivesse cruzado seu caminho, era bem capaz que não estivesse viva hoje. Mesmo que fosse apenas uma criança quando acontecera, lembrava-se bem.

Morava no Rukongai 79º, um bairro chamado Kusajishi. Era muito pequena enquanto habitou aquele ambiente hostil, mas uma das coisas que sempre lembrava daquele lugar era o constante cheiro de ferro, o cheiro do sangue de quem acabava perdendo sua vida por aquelas ruas imundas. Os gritos desesperados, o choro constante de crianças e mulheres eram perturbadores. Yachiru encontrava-se cercadas por pessoas que eram mais animais do que humanos.

O trafico de drogas e a criminalidade ali eram tão comuns, que era raro uma pessoa não estar envolvida com um desses negócios sujos. O que não era diferente da mãe da garota. Uma mulher perdida na vida, a qual havia se juntado a bandidos para poder sobreviver de algum modo a aquele lugar, não se saindo muito bem nisso, já que fora estrupada e o fruto daquele ato fora a pequena Yachiru que, nesta na época, nem ao menos tinha esse nome. A menina não tinha nome, apenas a chamavam de “criança”.

Como sua mãe ainda tinha âmbito de sobreviver, continuava metida com a pior espécie de bandidos da cidade, levando o pequeno bebê junto a si, correndo o risco até que ela fosse esmagada por algum troglodita que ali perambulava.

Todavia a criança sobrevivera ali até completar seus cinco anos, sendo que ainda não andava direito e apenas balbuciava algumas palavras.

O dia estava frio, há onze anos atrás uma fina camada de neve cobria a cidade e em Kusajishi, além da neve que caia e cobria o chão, havia sangue banhando aquelas ruas. Em um armazém, ocorria uma reunião “secreta” entre alguns bandidos e traficantes. As mulheres de tais criminosos também estavam ali, incluindo a mãe da criança de cabelos cor de rosa, que naquela época namorava um traficante e aos poucos, tornava-se uma viciada. Yachiru por sua vez havia sido deixada em um canto escuro, como a criança não andava direito, concluíram que não seria um problema larga-la ali, já que não atrapalharia.

Quando a noite já estava alta, barulhos de gritos e tiros eram ouvidos do lado de fora do ambiente, logo todos os homens que estavam reunidos naquele armazém sacaram as armas e prepararam-se para o que estava vindo de encontro a eles. Porem nem as armas de fogo e as armas brancas que empunhavam poderiam deter o furação que ali passou. Logo o local fora coberto por membros decepados, pessoas agonizando em seu próprio sangue e alguns que tentavam fugir.

Kenpachi era um assassino de aluguel. Não se importava com quem teria que matar ou quem teria que passar por cima para finalizar seu serviço. Contanto que o deixassem lutar sem nenhum impedimento e ganhasse o dinheiro suficiente para sobreviver, estava satisfeito. Se não necessitasse do dinheiro, faria de graça seu trabalho. Era tão eficiente que “cachorros grandes” sempre iam a seu encontro para usufruírem de seus serviços. Sendo contratado, vez ou outra, pela própria Yakuza.

Naquela noite o desafio não fora grande. Apesar de numerosos e armados, Zaraki lidou facilmente com todos e eliminou quem deveria. Apenas precisava recolher o corpo e mostra-lo a seu contratante.

Enquanto tratava de empacotar os restos mortais de sua vitima, o assassino ouvira ruídos vindos de um canto escuro do armazém. Com a espada em punho, caminhou devagar, até que uma criaturinha minúscula viera caminhando em sua direção.


— Mama... — a garotinha balbuciou quando se aproximara de Kenpachi, olhando ao redor, sem encontrar a mulher que a carregava pra cima e pra baixo.



—De onde você veio, menina? — a voz rouca que não carregava nenhum sentimento indagou.



Entretanto a criança não respondera, apenas fizera alguns ruídos – aparentemente de felicidade – e se aproximara mais. Zaraki sentou-se no chão para fita-la melhor e consequentemente apoiou a lamina de sua espada sobre o chão também. Não esperava que a criança se aproximasse o suficiente para tocar em sua arma com as pequenas mãos, sujando-as de sangue.



— Esta é minha espada. Não tem medo? Esta é uma ferramenta de matar pessoas. — perguntou, monocórdio, observando enquanto a pequena sujava as mãos com o sangue das pessoas que ali tinha matado. Quando os olhos rosa fitaram-no, um sorriso brotou nos lábios da pequena, o que fizera o assassino estreitar seus olhos — Menina, você tem nome? — esperou que ela respondesse, mas nada aconteceu — Não tem, ‘né? Eu também não tinha.



Os grandes olhos da criança o observaram, curiosa, mesmo que as feições duras do rosto do homem nunca mudassem, havia algo nele que lhe chamava a atenção. Como se sua aura ameaçadora a convidasse a se aproximar do perigo. Vivia em um ambiente tão conturbado, que talvez nunca tive noção do que poderia custar-lhe a vida ou não.



— Eu esqueci por um longo tempo... Como é a dor de não ter um nome. Embora todos tivessem um nome, eu não tinha. Você sabe como é isso? — o homem vislumbrou o nada, mergulhado nos fantasmas de seu passado. A única variação na voz de Kenpachi, fora um breve instante de raiva e tristeza, da qual logo se decepou e voltou a o tom que sempre usara. Voltando seus olhos para a menina, disse — Yachiru. Eu só tinha uma pessoa... Com quem me importava. Darei o nome dela a você.



—Ya... chiru. — a doce voz infantil disse, soando compreensível pela primeira vez.



—Eu sou Kenpachi. Este é um nome apropriado para os mais fortes. E sou conhecido assim. — podia soar como algo prepotente, mas realmente combinava com aquele homem.



E a partir dali ele a acolheu em seu mundo. Zaraki morava em um bairro não tão longe dali, porem era um lugar de melhor situação. Dividia uma casa não muito grande com seu sobrinho Ikkaku, do qual ficou surpreso quando seu tio chegara a uma noite carregando uma criança adormecida nas costas. A criança por sua vez, não demorou a se adaptar com o novo ambiente. Kenpachi ensinou-a a andar, falar e lutar. Mesmo não demonstrando visivelmente carinho em suas ações, Yachiru podia senti-lo em cada ordem que era lhe dada por ele, ou em cada momento que estava com ele.


Passou a amar cada sorriso – que para muitos era um sorriso doentio – e cada gargalhada cheia de empolgação de quando ele tinha algum desafio.

O dia em que Zaraki Kenpachi havia a resgatado e adotado tornou-se o dia mais importante para si, o dia de seu aniversário, porque foi a partir daquele momento que passou a viver novamente, naquele dia frio de inverno, onde a neve estava manchada de sangue.

Onze anos após este incidente, lembrar-se de que nunca mais veria ou simplesmente ouviria a voz monocórdia dele, deixava o coração de Yachiru apertado, tão apertado a ponto de fazer lágrimas indesejadas subirem a seus olhos. Porem não iria chorar, recusava-se a isso há anos e não seria agora que o faria.

Yachiru mal havia notado quando o carro de Ikkaku parara na casa onde ambos moravam há quatro anos. Diferente da casa onde moraram quando a pequena ganhou uma nova vida, aquela era bem mais espaçosa. Ikkaku tinha um bom emprego, do qual era bem remunerado e o permitia dar o conforto que achava necessário a sua “prima”.


—Vai entrando primeiro enquanto eu vou ajeitar algumas coisas aqui no carro. — pediu o careca e em resposta só ganhara um aceno afirmativo da garota.



Após pensar em tantas coisas, Yachiru sentia-se cansada. Só queria ir para seu quarto e dormir um pouco para esquecer o que tanto a atormentava. Andou sem pressa até a porta da residência e a abriu, notando que tudo estava escuro demais lá dentro, devido às luzes apagadas e as persianas fechadas. Tateando a parede a seu lado, em busca do interruptor, o que não demorou a encontrar.


Quando as luzes do lugar tomaram o local, a garota ficara em choque no mesmo lugar observando tudo em sua volta.


— SURPRESA! — do nada, várias pessoas começaram a surgir dos mais diversos lugares, até mesmo de debaixo dos sofás.



Eram todos os seus amigos e conhecidos, que faziam parte desta nova vida que levava há onze anos, estavam presentes ali.



— Ojii-chan, Neko-neko, Shun-Shun, Piero, Icchi, Ka-chan, Yu-chan, Au-Au-chan, Izurun, Re-chan, Mune-chan, Bya-kun, Maki-Maki, Pururun, Shitsu-me, Ruki-chan, Mune-chan, Hana-hana, Haku-Haku, Tabako-chan, Boshi-boshi, Aba-chan... — e Yachiru cantava a lista de apelidos que dera aos amigos que ali estavam presentes, fitando cada um e conforme via mais e mais pessoas, um sorriso de orelha a orelha crescia em sua face.



— Preparei tudo isso pra você, sua peste. — Ikkaku dizia, pegando-a de surpresa com um forte abraço por trás. Não deixando de exalar o doce perfume que os fios sedosos que Yachiru possuía ao ceder-lhe um beijo neles.



— Arigatou, Pachinko-dama — ainda nos braços do homem, ela virou-se e lhe deu um devido e apertado abraço, do qual enchera o coração dele com mais sentimentos ainda.



E sem mais delongas a festa começou, Yachiru apenas teve tempo de tirar o uniforme e trocar de roupa, colocando um suéter vermelho com a estampa de gato, calças jeans e um gorro bege que cobria o topo da sua cabeça.


A festa começara no meio da tarde e não tardou para que a musica começasse a soar na casa toda. Pessoas conversavam, riam, comiam e bebiam. Yachiru estava totalmente elétrica, hora falando com alguns dos convidados, comendo doces e pulando por ai, feito uma verdadeira criança. É claro que a aniversariante não quis nem esperar cantarem parabéns para atacar o bolo, arrancando risadas dos convidados e olhares repreensivos de Ikkaku. Já este, estava bebendo com Shunsui, Urahara, Yoruichi, Matsumoto e Yumichika. Karin estava discutindo sobre futebol com Touchirou. Ichigo, Sado, Inoue, Rukia e Ishida conversavam banalidades e sobre o trabalho, sendo que os cinco tinham um negocio juntos. E vários outros grupos se formavam ali, todos interagindo entre si.

A garota aniversariante estava com os irmãos Jinta e Ururu, discutindo por qualquer besteira enquanto devorava seus amados doces.


— Mas como o Au-au-chan não parece um cachorro mesmo? Ele é um cachorro! — indignada, Yachiru mantinha sua perspectiva e não mudaria de opinião tão fácil.



Aquela discussão havia começado quando os garotos foram cumprimentar Sajin Komamura, o qual era um homem comum, com cabelos castanhos claros meio arrepiado. Entretanto, desde o primeiro dia que Yachiru havia colocado os olhos sobre ele, insistia que o mesmo era igual a um cachorro fofinho. Sempre tentando convencer os outros da mesma coisa.



— Ele ‘ta bem mais pra uma raposa. Deixe de ser cega, Yachiru-chan. Já não basta eu ter que aguentar a burrice da Ururu. — rebateu Jinta, logo desviando o rumo de sua perturbação para a irmã, onde ambos começaram a brigar um com o outro.



Achava aquelas brigas de irmãos engraçadas, talvez fosse esse o motivo de sempre estar tentando irritar Ikkaku, só para ambos começarem a discutir daquela forma. Via o rapaz como um verdadeiro e amado irmão mais velho.


Antes que pudesse se meter na briga de Jinta e Ururu, Yachiru foi puxada pelo braço para um dos corredores da casa, onde não havia movimentação de pessoas e estava um pouco mais escuro, devido as luzes dos cômodos seguintes estarem apagas.


— Pachinko-dama, seu chato. O que foi? — perguntou ela a Ikkaku, mas este só continuou a fita-la intensamente, tendo seu rosto sério — Eu fiz alguma coisa? Se não quer nada, eu vou ali pegar aqueles biscoitos e...



Entretanto, quando ela tentara voltar a onde estava à concentração de pessoa, o homem a segurou, colocando-a entre a parede do corredor e seu corpo. A garota de madeixas rosa sentiu o corpo do mais velho muito próximo, o suficiente para sentir os músculos de seu abdômen. Rapidamente os braços, dos quais também eram fortes, enlaçaram a pequena cintura, enquanto a face dele ficava mais perto a cada instante. Yachiru não compreendia o que acontecia.



— Você cresceu e se tornou tão linda... — disse ele por fim, deixando que ela inalasse seu hálito carregado de um cheiro de álcool. Porem, apesar de estar mais “alterado”, tudo o que dizia ali era sério — Eu quero você ao meu lado para sempre, já não me imagino vivendo uma vida sem você, Yachiru.



—Ikkaku, o que esta dizendo? Eu não vou a lugar nenhum... — não o compreendia, mas toda aquela aproximação estava causando-lhe um leve arrepio, devido ao corpo quente que a prensava, atordoando-a.



— Não vai mesmo? Nem se você se apaixonar? — a essa altura, ele encontrava-se tão próximo que a testa de ambos estavam coladas uma na outra.



Aquilo a pegara de surpresa, nunca imaginaria que uma pergunta daquele tipo um dia seria feita por alguém, ainda mais Ikkaku. Já era uma adolescente e é claro que a essa altura já havia pensado sobre esses aspectos, mas toda a vez que pensava em amor ou paixão, a imagem de Kenpachi vinha em sua mente.


Uma vez, quando conversava com Karin e Yuzu, o assunto veio à tona. Na hora ela apenas disse que não se interessava em ninguém e quando a conversa mudou de foco para o “relacionamento” de Karin e Touchirou, sentiu-se aliviada por nenhuma delas ter feito pressão para que falasse sobre alguém que gostasse ou algo do gênero.

Naquela mesma noite, enquanto dormia, sonhara com Ken-chan – como costumava chamar Kenpachi – e naquele sonho ele estava mais velho do que se lembrava, porem, o que sentiu quando o viu, fora mais forte do que qualquer coisa que já sentira. No sonho ela corria para os braços do homem que considerava ser seu mundo, sendo que ele a erguia no ar e retribuía tal abraço da maneira mais terna que jamais usara consigo. Num instante eles estavam se abraçando e no outro os lábios se encontravam. Apesar de imaginar eles sendo um tanto ásperos, o beijo que compartilhou com Ken-chan de seus sonhos era melhor do que saborear qualquer doce. E não foi somente beijos, houve caricias, quentes caricias que pareciam que iriam derretê-la por dentro.

Na manhã seguinte, quando acordara, estava ofegante e sentia seu corpo tremulo. Sua intimidade estava quente, assim como o restante de seu corpo. Yachiru podia ser infantil muitas vezes, mas não demorou a notar que aquilo que sentira era paixão, amor... Mas como amaria alguém que não estava ali? Ela estava amando um fantasma que jamais poderia ter e aquilo a arrasava.


—Pare de dizer besteira! — voltando a realidade ela sussurrara, sem forças ao lembrar-se do que guardava em seu coração.



—Me diga, Yachiru. Você ama alguém?



— Claro que amo. Amo todos os meus amigos, a Karin, a Yuzu, a Ururu...



—E ama algum homem? Você já se apaixonou por alguém? — indagou ainda sério, mas temeroso pela ideia. Não queria ela com ninguém e sim com ele, ao lado dele, para que ele a fizesse a mulher mais feliz do mundo.



—Pare com isso, Ikkaku. — desviando seu olhar, que até momentos atrás estava firme, ela se denunciara. Ikkaku conhecia-a bem de mais para interpretar aquilo como uma resposta.



Foi ali que ele notara, ela realmente gostava de alguém, aquele olhar envergonhado e as bochechas mais coradas do que o comum realmente a denunciavam.


Não soube dizer o que sentira naquele momento, mas era como se um animal despertasse em si novamente, como a alguns meses atrás. Uma mistura de raiva, tristeza, desespero e paixão se misturaram de uma vez só, deixando a visão de Ikkaku embaçada. Segurou firme, sem delicadeza nenhuma, o queixo da garota, erguendo-o suficientemente para que tomasse os macios lábios dela em um beijo feroz.

Por sua vez, Yachiru ficou estática, enquanto sentia os lábios do outro sobre os seus, devorando-os de maneira apaixonada, porem com um resquício de brutalidade, do qual a assustava mais ainda. A língua de Ikkaku passeava sobre os lábios dela, buscando uma abertura, mas sem muito sucesso. Com uma das mãos, o homem agarrara os cabelos rosa da nuca dela, puxando-os um pouco e fazendo com que ela os abrisse suficientemente para que sua língua se chocasse contra a dela.

Sabia que não estava sendo correspondido devidamente por conta dafalta de experiência dela e a surpresa, mas era difícil parar quando estava tão bom. Os lábios de Yachiru eram doces, como a mais suculenta fruta jamais seria para ele.

Não tinha como negar, o beijo era bom e em certo momento, ela começara a retribuir minimamente, porem era errado. Algo gritava para ela que aquilo erra errado. Ikkaku era como seu irmão e não nutria aquele tipo de sentimento por ele.


— NÃO! — a garota gritou ao empurra-lo com força, afastando-o o suficientemente para que criasse uma distancia “segura”.



Quando Ikkaku finalmente recobrou os sentidos, notara a besteira que havia feito por conta do álcool. Yachiru encontrava-se escorada na parede, com o corpo levemente tremulo, com uma expressão confusa e assustada.



—Ya-chan, eu não queria... — tentou se aproximar, erguendo a mão até ela.



—KEN-CHAN! —inconscientemente ela chamou por aquele a quem julgou que sempre a protegeria. Entretanto ele não viria, nunca mais viria ampara-la.



Um clima estranho se instalou entre os dois, onde Ikkaku apenas observava a encolhida garota com os olhos fechados à frente de si, quando algo lhe passou pela cabeça. Mas era surreal demais, porem quando notou as palavras já haviam saído.



— Você ama o Kenpachi?



Aquilo fez com que os belos olhos rosa se abrissem assustados, com lágrimas pesadas caindo deles, entregando seu segredo a Ikkaku naquele instante.


Sem forças, o corpo do homem afastara-se mais, encostando-se a outra extremidade do corredor e deixando-se despencar aos poucos. Agora entendia, não podia lutar contra aquele adversário, jamais poderia ganhar. Nunca ganharia de Zaraki Kenpachi em uma luta de espadas e muito menos no coração da pequena.

Por sua vez, sem olhar para trás, Yachiru correu quando ouvira o primeiro soluço de choro escapando de sua garganta e da garganta de Ikkaku. Não aguentaria chorar na frente dele e muito menos vê-lo chorar por ela. Então correu, correu para longe dele, longe da casa, longe da festa e seus convidados. Quando notara, já estava na rua, apenas com meias nos pés para protegê-la no asfalto frio. Quando já havia se afastado o suficiente, parou de correr e apenas caminhou sem rumo.


—Ken-chan, por que você me deixou? — ouvira sua própria voz dizer sem vida, enquanto as lágrimas que tanto queria reprimir caiam.



Não queria recordar, nunca mais queria recordar daquele incidente, mas era impossível naquela altura. As memorias encheram sua mente, devastando todo o sentimento de alegria que pudesse restar em si e inundando-a em um mar de tristeza e saudades.


Faziam-se seis anos que aquilo havia acontecido, na época Yachiru tinha apenas dez anos e a cinco morava com Kenpachi e Ikkaku.


—Quando o Ken-chan vai voltar? — emburrada, perguntara pela quinta vez ao rapaz careca que, na época, não tinha mais do que vinte anos.



—Já disse que não sei, pirralha chata! — irritado, ele respondeu. Voltando sua atenção para o jogo e ignorando a menor.



Ikkaku estava sentado no chão da sala da casa de seu tio, encostado no sofá, enquanto Yachiru estava sentada encima do móvel. Quando a resposta mal criada veio de seu primo, ela simplesmente o mordera na parte careca de sua cabeça, arrancando um urro de dor do rapaz.



—DESGRAÇA DE GAROTA! —sem ligar se iria perder no jogo ou não, o que mais queria agora era estrangular certa garota de cabelos rosa.



— Dairiseki! Pachinko-dama! BAKA! — gritou em resposta a ele, fugindo.



E a perseguição começara. Ambos faziam artes marciais, Ikkaku sendo quase um especialista com a arte de lanças e Yachiru sendo a prodígio com espadas curtas. Eram habilidades distintas, o que dava vantagem à garota, já que ela era mais nova e precisava sempre ser mais ágil.


Todavia a confusão só acabou quando o “feche” da casa chegara, o qual arqueou uma das sobrancelhas quando vira a cena que se sucedia.


—Ken-chan! Okaeri. — o mais rápido que pode, ela correra para trás do homem, escondendo-se do outro.



—Ainda bem que você chegou! Não aguento mais ter que cuidar dela. — sabendo que não poderia fazer mal algum a Yachiru – caso contrario seu tio o mataria – o rapaz sairá a passos firmes, rumando para seu quarto.



Mesmo sem saber o que acontecia, Zaraki limitou-se a gargalhar da situação. Não entendia como aqueles dois conseguiam agir daquela forma um com o outro, mas de certa forma o divertia.


A gargalhada do homem poderia parecer assustadora a qualquer um, mas para Yachiru era simplesmente linda. Demonstrava que ele estava feliz.


—Ken-chan! Por que demorou tanto? — com um adorável bico, a criança indagou.



— Tadaima, Yachiru. — ignorando a pergunta, ele apenas afagou os cabelos dela, em uma forma de cumprimento.



O homem trazia consigo uma sacola, da qual entregada para a menina, que sorriu ao ver que se tratava de uma caixa de bolo.


Mesmo com aquele jeito indiferente, sabia que aquele tipo de atitude era o máximo que receberia dele, o que já era muito, por isso não adiantava perder tempo fazendo manha, tinha que aproveitar seus momentos com seu amado assassino.


—Vem, vem comigo. Comprei algo para você. — agarrando na mão no maior, obrigou-o a segui-la, fazendo Kenpachi largar sua espada em qualquer lugar da sala, indo para o quarto da garota — Você é sempre muito silencioso, Ken-chan. Mesmo sendo tão grandão, nunca escuto você chegando e só consigo te ver se ficar acordada esperando. Então comprei isso.



O quarto era todo enfeitado, cheio de fotos de todos que havia conhecido até aquele momento. Havia muitas pelúcias e também uma katana e uma espada curta, ambas bem conservadas e cuidadas com esmero por sua dona.



—O que é? — com seu timbre rouco, o mais velho pegara a caixa da qual a menor havia lhe entregado, sem entender do que se tratava, mesmo depois de tendo a aberto.



—Baka, baka! São guizos. — como se fosse a coisa mais obvia do mundo, ela pegou uma das bolinhas douradas e sacudiu, fazendo um suave som.



—E o que eu faria com isso? — arqueava uma sobrancelha.



—Usar no cabelo oras. Assim quando você andar, elas vão tocar e eu vou saber que você voltou. — falava altiva, orgulhosa pela própria ideia.



O homem pareceu refletir por um momento e novamente gargalhou. A ideia de um assassino, que deveria ser silencioso – como ele mesmo era – com guizos barulhentos nos cabelos era uma ideia ridícula e genial ao mesmo tendo. Fazendo barulho ou não, Kenpachi se garantia o suficiente para eliminar qualquer preza, ela o escutando com antecedência ou sendo pega de surpresa. A ideia de fazer um barulho sutil enquanto se aproximava, feito uma cascavel quando fosse dar o bote, agradava-lhe.



—Certo! Yachiru, ponha essas coisas em meu cabelo. — com um sorriso perverso, ele sentou-se no chão, tendo as pernas cruzadas. Daquele jeito ficava suficientemente baixo para que ela alcançasse seus cabelos se subisse encima da cama.



Com um sorriso de orelha a orelha a garotinha colocou as mãos na massa, recolhendo tudo o que seria necessário para que pudesse arrumar o cabelo de seu Ken-chan.


Quando começara, era inicio da noite e apenas depois de duas horas que finalmente Yachiru veio a terminar todo o serviço. Por ser pequena e o homem ser possuidor de uma grande madeixa de cabelos, teve bastante trabalho. E mesmo tendo que ficar sentado por muito tempo, tendo seu cabelo puxado de um lado para o outro, nenhuma reclamação ecoara da garganta de Zaraki.

Um novo sorriso, desta vez sem dentes, veio aos lábios do homem quando este andou e os guizos retiniram. Enquanto andava e testava o som que as pequenas bolinhas metálicas faziam Yachiru já estava em suas costas, sendo carregada. Era costume dela fazer isso sempre que podia, apesar de já estar ficando um pouco velha para aquilo.

Yachiru tinha um sorriso de satisfação, não só por ter convencido ele a fazer sua vontade, mas também por estar próxima a quem tanto amava. Naquela posição, nas costas dele, sentia-se extremamente protegida, como se fosse o melhor lugar do mundo. Ali também podia sentir o cheiro amadeirado da pele dele, sentir suas costas subirem e descerem conforme a respiração e vez ou outra, quando Kenpachi estava irritado ou agitado, podia ouvir as batidas do coração dele. Aquilo a fazia sentir-se vida de algum modo.

Juntos foram para a sala da residência, onde a garota comera seu bolo entre as pernas o homem, assistindo a desenhos animados enquanto o outro tirava um cochilo. Era habito deles passarem algum tempo assim, fosse daquela forma, treinando ou dormindo próximos um ao outro. Não admitiria que sentisse necessidade de garantir o bem estar de Yachiru, mesmo que amasse lutar, sempre que podia, passava o máximo de tempo com ela. Até que algo aos surpreendeu.


—Yachiru, afaste-se! — em tom de ordem ele mandou, acordando de súbito e levantando-se. Pousando a pequena no chão e colocando-se a frente dela antes de chamar — Ikkaku!



—Ken-chan, o que foi...?



—Zaraki-san?! — rapidamente o rapaz careca surgira, estranhando o tom de voz de seu tio.



—Leve Yachiru daqui. Agora! — ignorando a pergunta da menor, ordenou ao sobrinho.



—O que esta acontecendo aqui? — não entendendo nada, o rapaz perguntou confuso.



— Só a tire daqui! — tendo sua aura mais maligna do que jamais qualquer um dos outros dois jamais havia visto, ordenou mais uma vez — Não há mais tempo. Merda!



Só ouve tempo de o maior sacar sua espada, da qual sempre ficava ao seu lado, e desembainha-la. Em instantes um ruído alto fora escutado, passos pesados e o tinir de metal em pedra. No instante seguinte a porta da residência havia sido feita em duas, num estrondos que jogara o que restara da porta longe. As lascas de madeira só não acertaram Yachiru e Ikkaku porque Kenpachi estava entre eles, o qual sofrera todo o dano.


Um homem alto e esguio entrara pela porta, trajando vestes brancas impecáveis e tendo consigo duas espécies de foices, feitas de aço, onde suas laminas, no lugar de serem longas e curvas em apenas um dos lados da haste de metal, eram curvadas em forma de meio circulo. E além de terem este formato estranho, possuíam um tamanho desproporcional, mas o homem que as portava não parecia se incomodar.


— Ora se não é o famoso Zaraki Kenpachi. — com prepotência, o outro se pronunciara com uma voz que parecia sufocar um riso de excitação — Pronto para terminar o que começamos?



—Ikkaku! — ditou irritado novamente Zaraki, fazendo que seu sobrinho entendesse bem que queria suas ordens obedecidas imediatamente.



—Ora, vejam só. Eu não sabia que um exímio assassino como você também possuía família. —o desconhecido dizia debochado, dando passos em direção aos dois mais jovens. Mas antes que ele chegasse a qualquer um dos outros, Kenpachi estendera sua espada, encostando-a ao peito do outro sujeito — Bom, parece que você já esta pronto para brincar. ENTÃO QUE A BRINCADEIRA COMECE, MALDITO!



Em uma velocidade sobre humana, uma das foices de formato estranho ganhara velocidade, indo na direção do flanco direito do assassino que com a mesma velocidade e maestria defendera-se. Pensando em pega-lo de surpresa, o homem esguio usara sua outra foice, desta vez atacando pelo flanco esquerdo, esperando que seu oponente não pudesse se defender devido ter aparado seu primeiro golpe. Mas o intruso se enganara.


Com destreza, Kenpachi dera um salto para trás, escapando por pouco do corte da lamina, da qual havia apenas raspado por suas vestes. Sem esperar, Kenpachi avançou, fazendo os novos guizos de seu cabelo soarem suavemente e quando o intruso se deu por conta, teve que defender um ataque deferido de cima para baixo, direcionado em seu pescoço. Se tivesse sido mais rápido, o cara com as lanças teria sofrido um terrível golpe. Entretanto era difícil se concentrar com Yachiru gritando tanto.


—Não! Deixe-o em paz, Sukini. — berrara Yachiru antes de ser afastada a força por Ikkaku, tendo o braço dele sobre sua cintura.



Os golpes ainda eram ouvidos, mesmo que a pequena não pudesse ver a batalha que acontecia. O rapaz careca havia a arrastado primeiramente para seu quarto, buscando a espada curta e a katana da criança e depois rumara para o seu, pegando sua lança de madeira com a ponta de aço.


Entretanto, não poderiam sair pelos quartos e teriam que cruzar a batalha novamente para seguirem para a saída dos fundos.


— Dairiseki, seu covarde! Me solta, eu tenho que ajudar o Ken-chan. — pediu desesperada quando passaram novamente perto dos dois em combate.



A velocidade com que eles deferiam golpes era surreal, onde faíscas de suas laminas brilhavam quando os golpes eram defendidos. A garota sabia que nunca conseguiria acompanha-los no nível que estava agora. Só que se recusava a deixa-lo ali sozinho, não podia, não queria. Sendo assim, tentou de tudo para se soltar de seu primo, mordendo-o com toda força sobre o braço que prendia sua pequena cintura.


Ikkaku sentira dor quando a pequena o mordeu, mas não afrouxaria o aperto. Tinha que a proteges a qualquer custo. Ainda carregando as armas, o rapaz jogou a garota sobre seu ombro, impossibilitando a maioria dos movimentos dela, mas deixando-a com os olhos virados para a batalha enquanto saiam pelos fundos.

Zaraki estava de costas a eles, protegendo sua passagem, mas em um momento teve que se locomover um pouco mais para a direita, deixando sua face a mostra para Yachiru que viu sangue. Havia sangue escorrendo de uma ferida na testa e no peito dele. Aquilo apertou o coração da menor.


—KEN-CHAAAAAAN! — com lagrimas escorrendo por seus olhos ela gritou por ele, estendendo seus braços na direção do homem em combate.



E antes de perdê-lo totalmente de vista, pode ver Kenpachi lançar-lhe um sorriso cheio de dentes, aquele que ela tanto gostava de ver e que naquele momento significava uma despedida silenciosa.


Após aquilo, finalmente os dois mais novos estavam fora da residência, ao que Ikkaku corria o mais rápido que podia, sem olhar para trás e pronto para atacar a qualquer um que cruzasse seu caminho. Defenderia a chorosa Yachiru com sua própria vida se fosse necessário.

Naquela noite encontraram abrigo na casa de Shunsui Kyouraku, o qual era amigo da família de Kenpachi a anos e não deixaria os dois jovens desamparados naquelas ruas perigosas. A casa de Shunsui era extremamente protegida por seguranças armados tanto de armas quanto de espadas. Corria o boato de que o homem era um Yakuza.

Aquela noite fora conturbada para todos, especialmente para a pequena de cabelos rosa, que não pregada o olho até ser medicada a força. O estresse da menor era tanto que, quando conseguira acordar novamente, já era à tarde do outro dia. Lembrando-se do desespero da noite anterior, a garotinha buscou noticias do que havia acontecido e se Kenpachi já havia voltado, mas todos pareciam esconder os fatos dela.

Após muita insistência, Ikkaku e Yumichika contaram-lhe o que ela recusava-se a acreditar. Disseram-lhe que a casa onde moravam estava aos pedaços, todos os cômodos estavam destruídos devido à batalha. Pelos destroços, era evidente que Kenpachi não havia lutado sozinho contra Nnoitra – o qual fora revelado depois, sendo um assassino como o próprio Zaraki – e a desvantagem numérica era muito grande, devido à quantidade de corpos. Porem, nem o corpo de Nnoitra e nem o de Kenpachi foram achados.

As investigações de Shunsui revelaram que ambos os assassinos já haviam cruzado o caminho um do outro, trabalhando para famílias inimigas da máfia. Na primeira ocasião em que se enfrentaram, Kenpachi havia matado o parceiro de Nnoitra, Tesla.

Foram dias agoniantes, esperando que o assassino voltasse ou se comunicasse, mas nada aconteceu. Até que acharam o corpo de Nnoitra descartado em uma correnteza rio abaixo, o qual havia sido carregado por dias pelas águas. As buscas se encerraram quando isto aconteceu, julgando que tanto Nnoitra quanto Kenpachi haviam caído no rio enquanto lutavam e que, devido a seus ferimentos, haviam morrido afogados. Entretanto um segundo corpo nunca foi encontrado.

E mesmo no funeral improvisado sem o corpo do homem e mesmo passando-se tantos anos, Yachiru sempre se negou a chorar a morte dele. Não podia aceitar que isso estivesse acontecendo. Ele era forte, era praticamente um monstro lutando e não poderia ter morrido daquela maneira. Jamais aceitaria.

Todavia estava ali agora, aos prantos. As teimosas lágrimas escorriam por suas bochechas, marcando seu belo rosto e deixando-o mais frio, devido ao vento que soprava contra a direção que seguia. Como estava apenas com meias nos pés, o chão gelado logo começou a incomodar, deixando aos poucos seus membros inferiores mais gelados.

Já era inicio de noite quando erguera seu olhar aos céus nublados. Parecia que logo uma tempestade viria.

Yachiru sempre fora muito boa em se perder e se continuasse andando sem o mínimo de atenção, tinha ciência de que se perderia entre as ruas da cidade. Não que realmente se importasse, talvez fosse aquilo mesmo que precisasse, ficar um pouco só. Em sua andança acabou por deparar-se com uma ponte larga que cruzava a correnteza do rio abaixo de seus pés. Não resistiu em debruçar-se sobre a murada e observar a neblina sobre a água. Perguntava-se se Kenpachi havia tido uma visão similar antes de morrer.

Ao notar que até mesmo sua mente a traia, aceitando que a morte de quem tanto amava era realmente real, as grossas gotas de lágrimas voltaram.


—Baka... Baka, baka, BAKAAAAAAAAH! — gritou a todo pulmão, fazendo com que sua voz se quebrasse num som esganiçado, devido ao choro e ao desespero — KEEEN-CHAAAAAN!



Porem, em meio ao seu desespero, pode escutar um som peculiar, algo que nunca pode esquecer. Um som que, ao mesmo tempo em que era belo, era assustador. O suave tilintar dos guizos ecoou atrás de si, congelando seu corpo de maneira mais intensa do que o ar gélido que por ali circulava.


Suas pernas fraquejaram e sentira seus pés dormentes abaixo de si. Talvez tivesse andado mais do que havia imaginado, mas aquilo não importava no momento. Puxando o ar gelado para os pulmões, buscando coragem, virara seu corpo lentamente para trás, em busca de encontrar a fonte daquele som. Implorando internamente para que não fosse apenas fruto de sua imaginação.

Só teve tempo de mirar na outra extremidade da ponte um homem alto, mais alto do que em suas memorias de infância, olhos pequenos e sobrancelhas curvas deixavam seu rosto mais assustador ainda, sem contar à cicatriz que ia do olho esquerdo até seus lábios em uma linha reta. E além de parecer maior em altura, os músculos deixavam-no mais largo dentro do sobretudo negro que encontrava-se aberto e o protegia das baixas temperaturas. Seus cabelos estavam jogados para trás e na ponta dos fios ela pode ver pequenas bolinhas que brilhavam a pouca luz que iluminava aquela ponte.

Entretanto seu vislumbre não durou muito, pois as pernas dela cederam e seus joelhos tocaram o chão. Mais lágrimas vieram, embaçando totalmente sua visão e deixando que a imagem do homem a sua frente perdesse o foco. Eram tantos anos desejando que aquilo acontecesse que, agora que ocorria, sentia-se sem forças até mesmo para voltar a ficar em pé, mas não fora necessário que ela se levantasse. Zaraki Kenpachi veio até si, retinindo os guizos que havia ganhado anos atrás de sua protegida.

Foi questão de instantes para que estivessem frente a frente, sendo que Kenpachi havia agachado bem próximo à pequena Yachiru.


—Como... Você tinha... Eu pensei que... Ken-chan. — era impossível formular uma frase concreta, porque as palavras lhe fugiam.



Porem não deixou de toca-lo, segurando o rosto de maxilar quadrado entre as mãos, para ter certeza de que realmente estava ali. Quando seus delicados dedos tocaram a pele áspera e quente do rosto do assassino de expressões duras, não pode conter o sorriso que dera, um sorriso tão puro e verdadeiro do qual não se recordava de ter dado há muito tempo. Fechou até mesmo a rir, soltando o mesmo som que fizera quando o fitou pela primeira vez há anos atrás. No final, acabou por não se conter.


Ele estava perto o suficiente para que Yachiru impulsionasse seu corpo para frente e tocasse os lábios dele com os seus. Era realmente uma pessoa impulsiva e acabou agindo sem pensar, mas não poderia chamar aquilo de beijo, pois ocorrera apenas um roçar de lábios das duas partes. Entretanto fora tão aquecedor aquele contato, como se seu corpo todo se esquecesse do frio que os rodeava, como um raio quente de sol em meio à neve. Não pode deixar de lamentar quando o contato se encerrou.

Kenpachi havia retirado seu gigantesco sobretudo e colocado sobre os ombros da pequena a sua frente. Apesar dos anos e de ela ter crescido, aos seus olhos ainda era tão miúda quanto a como a encontrara pela primeira vez. Afagou o todo da cabeça dela, deixando seus dedos se misturarem nos sedosos fios cor de rosa.


— Idiota. — fora a primeira coisa que ouvira dos lábios dele após anos, com aquela mesma voz rouca. O sorriso maligno tomou os lábios de Kenpachi, fazendo com que ele mostrasse seus belos dentes serrilhados antes de voltar a falar — Okaeri, Yachiru.



—Tadaima, Ken-chan!







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Notas finais do capítulo

Lista de Apelidos =
Orihime: Pururun
Ichigo: Icchii
Rukia: Ruki-chan
Yoruichi: Neko-neko (gato)
Rangiku: Mune-chan (peitos)
Kyouraku: Hana-hana (Flor)
Ukitake: Haku-haku (branco)
Byakuya: Byaku-chan
Mayuri: Piero (palhaço)
Yumichika: Tabako-chan (viadinho)
Urahara: Boshi-boshi
Abarai Renji: Aba-chan
Komamura: Au-au-chan
Yammy: Yam-yam
Yamamoto: Oji-chan (vovô)
Fonte = http://bankaipearls.blogspot.com.br/2010/07/especial-o-mundo-segundo-yachiru_09.html
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Acho que é só isso de apelidos, se esqueci de algum, me avisem.
Espero que tenham gostado, pois eu escrevi com muito carinho cada paragrafo. Esses dois são meu personagens preferidos do anime todo, mesmo que faça algum tempo que eu não acompanhe bleach. Essa relação de carinho que existe entre a Yachiru e o Kenpachi é algo que eu sinto para com uma pessoa que é muito importante para mim, talvez seja por isso que eu goste tanto desses dois. xD
Deveria fazer um capitulo extra? Bom, caso esse tenha um bom feedback, posso pensar no caso. Então comentem, ok?! ò_ó
Até a proxima. x)