A Caçadora E O Vampiro escrita por Dory


Capítulo 7
Ameaças


Notas iniciais do capítulo

Oi leitores lindos!!! Como foi o Carnaval de vocês? O meu foi chato, choveu todos os dias =/
Voltei de viagem hoje e já estou postando mais um capítulo para vocês!!!
Espero que gostem... não esqueçam de me contar o que acharam, viu???



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Era uma noite fria, o vento forte agitava as águas fazendo os barcos que estavam atracados no porto balançarem em um ritmo próprio. Abracei meu corpo, o casaco preto que usava não estava ajudando a me manter aquecida. As luzes vindas dos postes estavam fracas, conferindo ao cais um ar sombrio e depressivo. A porta de um bar se abriu, me fazendo parar. Um marinheiro forte e baixo saiu de lá com uma garrafa de cerveja na mão, abraçado a uma mulher que trajava um vestido vermelho cor de sangue muito curto e salto alto preto. Os dois cambalearam até uma viela escura, tropeçando o tempo todo até sumirem de vista, me deixando sozinha novamente.

Estava com medo. Nunca tinha feito isso antes. Mike falou que era necessário e que estaria me vigiando o tempo todo para evitar que algo desse errado. Era reconfortante saber que ele estava lá em algum lugar cuidando de mim, mesmo que não pudesse vê-lo. Quando ele falou que para acabar meu treinamento teria que ir caçar, meu coração quase rasgou meu peito de nervosismo. Não me sentia pronta.

Mike era um ótimo treinador, paciente, otimista e confortador. No começo a ideia de me treinar o deixara irritado, ele não queria deixar que fizesse parte de seu mundo, mas eu era teimosa, ele sabia disso, e acabou cedendo. Depois de pouco tempo ele percebeu que tinha potencial e toda aquela atitude de durão se suavizou, revelando o amigo doce e gentil que ganhara desde a morte de meu pai.

Acordávamos cedo, íamos correr pela cidade e voltávamos para o apartamento. Lembro de quando ele me levou a sala de treinamento pela primeira vez. Era a única parte da casa na qual ele não me deixava entrar. Foi uma surpresa muito grande quando ele abriu aquela porta e me deixou entrar e explorar o lugar. Lá dentro tinha tudo que se possa imaginar. Parecia uma academia, mas uma academia muito diferente, com vários aparelhos para aumentar a força da pessoa e para colocar a prova nossa resistência física. Em um canto ficavam as coisas de boxe – ele falava que era o melhor esporte para aprender a lutar, algo que seria muito importante nessa nova profissão que tinha escolhido seguir. Vários bonecos emborrachados estavam pendurados no meio do cômodo com vários buracos neles – que mais tarde viria a descobrir que foram feitos pelas estacas de madeira usadas em partes mais avançadas do treinamento. Em uma das paredes ficavam várias armas estranhas e peças de madeira que só havia visto em filmes.

O treinamento foi árduo e exigiu muito de mim. O fato de ser atrapalhada e tropeçar nos próprios pés só piorava minha situação. Até então nunca havia ido a uma academia, fazer musculação era exaustivo. Aprender a lutar era pior ainda, me rendeu vários hematomas – já que Mike não pegava leve. Não demorou muito para as coisas mudarem. Em poucos meses já havia aprendido muito, mas sabia que ainda não era o suficiente, nunca havia treinado com as armas ou os bonecos, de qualquer forma o fato de não cair com tanta frequência já me deixava exultante.

A parte do treinamento na qual usávamos os bonecos foi a mais interessante, mas a mais exigente. Tudo que aprendera antes tinha que ser usado, força, equilíbrio, habilidades. Aprendi para que servia cada arma, qual usar em determinadas situações, como e onde aplicar o golpe para que tivesse mais efeito. Nessa parte do treinamento Mike era mais tolerante, sabia como era difícil aprender tudo isso, mas ainda assim era rígido, principalmente quanto a minha dieta. Ele insistia para que comesse melhor, para ingerir mais vitaminas e conseguir ter um corpo saudável e obter um resultado melhor como caçadora, lanches eram coisas raras na minha alimentação.

Dois anos depois os treinos ainda aconteciam todos os dias, mas minhas habilidades haviam superado todas as expectativas, tanto as minhas quanto as de Mike. Aprendera muito rápido, tinha adquirido força e habilidades que nunca imaginara que teria. Por mais que Mike ainda não quisesse admitir, eu era boa no que fazia, tinha potencial para ser uma caçadora.

Um som alto no fim do cais me tirou de minhas lembranças. O chão de madeira denunciava a aproximação de alguém. Não demorou muito para a pessoa surgir em meu campo de visão. Um homem alto de pele morena e cabelo castanho escuro ondulado usando jeans e jaqueta bege olhou em minha direção. Ele sorriu, um sorriso que mostrava todos seus dentes perfeitos. Sabia o que ele era, estávamos analisando seus hábitos há alguns dias.

“Boa noite” falou, educadamente com uma voz sedutora.

“Boa noite” respondi, sentindo meu coração acelerar loucamente com o jato de adrenalina que percorria meu corpo.

Ele caminhou até o fim do cais, se apoiando na grade de madeira, observando o mar. Caminhei lentamente até onde ele estava, prestando atenção em todos os barulhos, mas apenas meus saltos quebravam o silêncio que se apoderava do cais. Me debrucei na grade ao seu lado sentindo meu estômago se retorcer dentro de mim, estava nervosa e ansiosa com o que estava prestes a fazer. Ele permaneceu calado, mas pude ver sua postura enrijecer com a proximidade, sua respiração parou por alguns segundos, mas logo voltou ao normal.

Olhei para o mar, tentando pensar no que fazer. A lua cheia estava reluzente e o mar negro que se abria a minha frente o refletia como se fosse um espelho. Era uma paisagem muito bonita, mas não conseguia a apreciar inteiramente, meu corpo estava em estado de alerta, prestando atenção a cada movimento do homem ao meu lado, até mesmo o subir e descer de seu peito enquanto respirava me deixava alarmada.

“Está uma noite bonita hoje” comentei, tentando chamar sua atenção.

“Está linda” falou, ainda sem me olhar “Você não devia andar por aqui tão tarde” comentou tristemente“é muito perigoso, especialmente estando sozinha”

“Agora não estou mais sozinha” falei, olhando-o em uma tentativa de flerte, não era muito boa nisso, mas foi o suficiente para fazê-lo sorrir e me olhar minuciosamente.

“Você mora na cidade?” perguntou, me olhando maroto.

“Sim, mas sou nova por aqui” menti, tentando soar convincente, sabia que não resistiria o fato de não ter que limpar a bagunça depois“Me mudei faz menos de uma semana” falei, tentando ser mais detalhada “E você?”

“Sou um viajante, mas estou morando aqui há algum tempo” respondeu, ainda sorrindo maliciosamente.

“Você podia me mostrar a cidade, provavelmente a conhece melhor do que eu” tentei fazer com que parecesse inocente e atrevida ao mesmo tempo. Tinha que fazê-lo gostar de mim de algum modo.

“Podemos começar agora mesmo se quiser” respondeu, seus olhos cravados em meu pescoço, algo que passaria despercebido por qualquer um a não ser um caçador que já estaria esperando por esse tipo de reação.

“Eu iria adorar” falei, me endireitando, fazendo-o sorrir.

Ele se endireitou, colocou as mãos nos bolsos das calças e caminhou ao meu lado, me levando por uma rua estreita e mal iluminada não muito longe de onde estávamos. O lugar estava deserto, o som de meus sapatos batendo no asfalto esburacado era o único som que quebrava o silêncio que se apoderara do lugar.

“Vem aqui” falou, pegando minha mão e me puxando para que eu ficasse com as costas apoiadas na parede úmida de um armazém abandonado.

Nessa hora sabia o que fazer. Meu coração voltou a bater normalmente, meu estômago voltou a ficar calmo em seu lugar. Era hora de entrar em ação, isso era reconfortante, poderia acabar logo com isso, me vingar de meu primeiro vampiro, vingar a morte de meu pai através de outro da espécie.

Vi o rosto do homem bem de perto pela primeira vez. Seu rosto estava sereno, com feições jovens. Seus olhos castanhos esverdeados me olhavam intensamente, mas sabia o que esse olhar significava: fome, podia ler isso em seus olhos, sentir a necessidade que emanava de seu corpo. E logo tudo isso iria acabar. Para sempre.

O homem era forte e musculoso, sabia que, até mesmo se fosse humano, ele seria muito mais forte do que eu, mas tinha aprendido técnicas muito úteis e me sentia preparada – pela primeira vez desde que Mike dissera que iria me levar para caçar.

Ele chegava cada vez mais perto, sua respiração estava irregular, sua boca aberta. Ele hesitava, tentando fazer com que parecesse que ele fosse apenas me beijar. Já o tinha visto caçar, sabia o que estava por vir.

Seus lábios tocaram os meus gentilmente. Seus braços me envolveram, me prendendo no lugar, vi seus lábios começarem a se aproximar de meu pescoço. Sabia que essa era a hora. Acionei o mecanismo da arma que estava atada em meu pulso, fazendo com que a estaca cravasse fundo em seu coração com a maior força que pude juntar. Girei-a levemente para me assegurar de que havia atingido o órgão certo. O homem me olhava surpreso e boquiaberto enquanto, lentamente, caía para trás, seu corpo acinzentando conforme suas forças iam se esvaindo.

Estava ofegante, me sentia extremamente bem, minha primeira caçada havia sido realizada com sucesso. Arrastei o corpo grande e pesado demais para um canto, escondendo-o com algumas latas de lixo, sabia que logo o sol nasceria e os raios solares tocariam o corpo, fazendo ele virar pó.

“Como se sente?” perguntou Mike, saindo de uma rua lateral não muito longe de onde estava.

“Bem, por mais estranho que pareça eu me sinto muito bem.” respondi, olhando para o corpo com uma mistura de nojo e ódio.

“Você se saiu bem, melhor do que esperava” ele guardou a arma que carregava dentro do casaco – ele a carregava para o caso de algo dar errado. Ele parecia orgulhoso e isso era muito importante para mim.

“O sol já vai nascer” falei, olhando o horizonte começar a clarear.

“Vamos para casa” falou, finalmente.

“No que está pensando?” perguntou Mike, me libertando de minhas lembranças.

“Lembra da primeira vez que cacei?” perguntei, colocando minha caneca de café vazia na pia, não tinha percebido que havia bebido tudo, estava muito imersa nas lembranças que me desligara do mundo a minha volta.

“Lembro sim, você se saiu melhor do que esperava” sorriu, me abraçando orgulhoso. “Ainda fico admirado que sua falta de equilíbrio não a afete quando está caçando” sorriu debochado “Como foi na casa da Alice?” perguntou mudando de assunto.

“Foi... estranho” falei, queria muito compartilhar tudo o que acontecera com ele, mas tinha prometido a Alice que não contaria a ninguém, principalmente para Mike.

“Estranho como?”

“Não posso contar, eu prometi”

“Tem algo a ver com a missão?” perguntou desconfiado, me soltando para me olhar melhor.

“Provavelmente” respondi, tinha me esquecido completamente da missão, estava apenas vivendo minha vida. Lembrar que tudo fazia parte de um dos esquemas de D me deixava enjoada, era como se estivesse traindo todos que conhecia e aprendera a gostar.

“Então você tem que me contar” falou, carrancudo “Não queria ter que dizer isso, mas você está se envolvendo muito, era pra você se enturmar, mas não pra se envolver”

“Posso falar o mesmo de você” o acusei, sabia que ele entenderia.

“Não muda de assunto. Você também está se envolvendo demais, talvez até mais do que eu”

“Eu sei, mas eu me sinto bem aqui. Até mesmo feliz. Não quero perder tudo isso por causa dessa missão.” falei, o que o fez me olhar com ternura, ele sabia como eu me sentia, me sentir feliz em algum lugar estava fora de cogitação para mim, me sentir assim neste lugar era algo novo para nós dois.

“Isso não é bom, se o D descobrir isso vai ficar furioso” falou, passando a mão pelos cabelos recém cortados.

“Eu sei, isso torna tudo muito mais difícil” falei, me sentindo frustrada, era incrível que tenha conseguido me esquecer completamente de D e da missão, estava apenas aproveitando o fato de estar feliz e ter amigos que me faziam sentir querida.

“Nós vamos ter que fazer alguma coisa” falou, pensativo “Não podemos deixar que o D atrapalhe sua felicidade, te conheço a anos e nunca te vi assim. Você merece ser feliz, maninha” falou, acariciando minha bochecha.

“Não tem como desistir da missão agora, você sabe quais são as consequências Mike” falei, me lembrando do contrato que D nos fizera assinar quando resolvemos começar a trabalhar para ele.

“Nós vamos dar um jeito, ainda não sei como, mas vamos dar um jeito” falou, determinado. Quando ele colocava algo na cabeça era difícil de fazê-lo desistir.

“Obrigada” falei, abraçando-o novamente. Eu o amava muito. Ele beijou meus cabelos gentilmente.

“Por enquanto vamos continuar com a missão, pelo menos até eu pensar em alguma coisa, está bem?”

“Tudo bem”

“Agora estou curioso pra saber o que você e a Alice fizeram hoje”

“Promete que se eu te contar, você não vai contar pra ela? E que vai continuar tratando ela do mesmo jeito?” perguntei, precisava contar para ele, não conseguia esconder nada dele, não havia segredo entre nós “Se ela suspeitar que você ficou sabendo te mato, Mike” tentei parecer séria, mas ele me conhecia muito bem.

“Prometo” falou rindo de minha atitude. Me levou para o sofá, me fazendo sentar de frente para ele.

“A Alice é uma bruxa” falei, não tinha por que tentar esconder isso dele.

“Sério?” perguntou interessado, ele nunca conhecera uma bruxa antes, o sonho dele era conhecer uma “Como você soube?”

“Ela fez um feitiço sem querer quando fui jantar na casa dela. Por favor, não começa a fazer perguntas pra ela, se ela souber que eu te contei... eu quero continuar tendo ela como minha amiga”

“Não se preocupe, não vou falar nada” sorriu “O que vocês fizeram hoje?”

Casa da Alice – mais cedo naquele mesmo dia

“Isso é tudo” falou Alice, carregando três livros grossos e antigos nos braços.

“Onde você conseguiu esses livros?” perguntei, enquanto ela se sentava ao meu lado e me entregava o primeiro da pilha. Ao abri-lo o cheiro de mofo e poeira me atingiram, fazendo-me tossir. O livro tinha capa de couro marrom que já estava gasta, as páginas amareladas pelo tempo se desfaziam nas pontas quando as tocava.

“Eram da minha bisavó, mas acho que pertenceram a outras pessoas da minha família, eles são mais velho que a bisa” falou, pegando um livro da pilha e colocando-o em seu colo para poder lê-lo.

Estávamos no sótão da casa de Alice, um lugar pequeno, mal ventilado e mal iluminado, que precisava urgentemente de um limpeza. Estava abarrotado de caixas, baús e estantes cheias de objetos antigos e empoeirados. A lâmpada não iluminava o ambiente muito bem, Alice teve que levar algumas velas e espalhá-las pelo cômodo para que pudéssemos trabalhar, mais por insistência minha do que por necessidade realmente– queria ver o feitiço do fogo mais uma vez.

O livro estava escrito em uma linguagem que nunca vira antes, a caligrafia era inclinada e pequena, era difícil de entender, principalmente sendo uma língua estranha para mim. Folheei todas as páginas em busca de algo que pudesse entender, mas não havia nada, nem uma palavra se quer.

“Você entende o que está escrito neles?” perguntei, observando Alice concentrada na leitura.

“Sim” falou, olhando-me relutantemente.

“Que língua é essa?” perguntei, ignorando seu olhar irritado.

“Eu não sei, parece muito antiga.” voltou a olhar o livro “Nunca vi nada parecido”

“Como você consegue entender isso?” perguntei frustrada, desistindo de ler o conteúdo do livro.

“Eu não sei” respondeu suspirando e fechando o livro “É algo automático, como se soubesse essa língua por toda minha vida”

“Isso é estranho”

“Eu sei, mas acho que por eu ser o que sou a regra das coisas normais não se aplica mais para mim” falou, pesarosa. Odiava vê-la assim, mas não sabia o que falar para reconfortá-la.

“O que vamos fazer?” perguntei, tentando mudar de assunto “Eu não sei ler isso” apontei para o livro em seu colo.

“Acho que se você me ajudasse com os feitiços seria bom” falou, me olhando, seus olhos brilhando pedintes “Sabe, se algo der errado... seria bom ter alguém para me ajudar a parar. Não quero que aconteça como no Vampire Diaries”

“Nem tudo no Vampire Diaries é real” comentei, pensando em todos os vampiros que encontrara durante minha vida como caçadora e em todas as semelhanças e diferenças entre eles e os vampiros retratados nos livros e nos filmes.

“Como assim?” perguntou, me fazendo me arrepender de ter dito aquilo. Não queria que ela soubesse o que eu era.

“Tem várias histórias diferentes, provavelmente uma parte de cada história não é verdade” falei, tentando achar uma resposta boa o suficiente para que ela não fizesse perguntas.

“Você vai me ajudar?”

“Claro, Ally” respondi, feliz por termos mudado de assunto.

“Estava pensando em fazer esse aqui” apontou para um pequeno texto no final do livro.

Ela se concentrou, fechou os olhos e começou a pronunciar palavras ininteligíveis antes que pudesse perguntar para que o feitiço servia. Uma brisa passou por nós, fazendo nossos cabelos bagunçarem e a chama das velas tremularem. Era assustador. Não sabia qual feitiço Alice estava fazendo, isso me deixava inquieta. Estava com medo de algo dar errado, não saberia o que fazer se algo acontecesse com ela.

A brisa logo se transformou em um vento forte, apagando as velas, nos deixando com apenas a luz emitida pela lâmpada. Tudo a nossa volta começou a sair do lugar com o vento, como se estivessem em um tornado que girava através do cômodo, formando nuvens de poeira em todos os lugares. Tossi, tentando tirar o pó que entrara em minha garganta sem querer, enquanto desviava de vários objetos que vinham em minha direção.

Do nada tudo parou. Os objetos caíram no chão de madeira com um barulho muito alto e as velas voltaram a acender, iluminando tudo novamente. Alice abriu os olhos e me olhou sorrindo satisfeita.

“Legal, não é?” perguntou, pela primeira vez desde que descobri o que ela era a vi feliz com seus poderes.

“Que feitiço foi esse?” perguntei, ainda tossindo.

“Um feitiço simples. Vento”

“Não é muito inofensivo para um feitiço simples” comentei passando a mão na nuca onde um livro havia me atingido, Alice sorriu e se levantou.

“O que você vai fazer?” perguntei, ainda sentada no chão empoeirado.

“Arrumar tudo isso” pegou um álbum de fotografias antigo do chão e foi até a estante para colocá-lo no lugar“Tenho que arrumar antes que meus pais cheguem”

“Não tem como fazer uma mágica e colocar tudo no lugar?” perguntei sarcástica, me levantando para ajudá-la

“Ainda não cheguei nessa parte” sorriu.

Ela estava finalmente gostando de ser uma bruxa. Era muito bom vê-la sorrindo por causa de seus poderes. Não gostava que ela pensasse sobre si mesma como uma aberração, era algo muito ruim para ela, considerando todos os monstros que existem no mundo – como vampiros. Ela era apenas uma bruxa, não era uma assassina de pessoas inocentes, ela era uma pessoa boa, não tinha motivos para que fosse uma aberração – pelo menos não de acordo com a minha definição de aberração.

“Queria muito ter visto isso” falou Mike, quando terminei de relatar o que acontecera no sótão “Será que ela vai me mostrar isso algum dia?”

“Você prometeu que não ia falar sobre isso com ela, Mike” lembrei-o.

“Eu sei, só estou pensando alto” falou, rindo.

“É bom mesmo só estar pensando” tentei parecer autoritária, mas não pude me impedir de rir com ele, me sentia muito bem, não me lembrava de já ter me sentido assim antes.

O telefone tocou, abafando nossos risos. Mike foi até o balcão atender. Ele não falou nada, só escutava o que a pessoa do outro lado da linha falava. Achei que fosse Alice, ela ligava para ele todas as noites desde que começaram a namorar dois dias atrás. Revirei os olhos e comecei a subir as escadas em direção ao quarto.

“Millie” Mike me chamou antes que pudesse alcançar o quinto degrau da escada. Seu rosto me olhava preocupado.

“Que foi?” perguntei, indo em sua direção confusa.

“O D quer falar com você” seu tom de voz era calmo, mas seus olhos me olhavam com uma mescla de preocupação e compaixão

“Oi D” falei, ao pegar o telefone me sentindo um pouco insegura.

“Eu falei para você se enturmar, não para se envolver” sua voz revelava seu humor, ele estava furioso.

“Só estou fazendo meu trabalho D” falei, percebendo minha voz tremer ao pronunciar estas palavras.

“Se algo der errado já sabe o que vai acontecer a vocês dois, então nem pense em desistir agora” ameaçou, desligando.

Meu rosto deve ter me denunciado porque, ao olhar para o lado, Mike estava lá, de braços abertos. Me aninhei em seu peito, desconsolada. A ameaça de D era real, sabia o que aconteceria se o desapontássemos, presenciei isso uma vez, não era algo que gostaria de sofrer.

“O que ele falou?” perguntou Mike, passando a mão pelos meus cabelos.

“Ele sabe Mike, toda a nossa conversa de hoje, tudo que te contei... ele sabe, não sei como, mas ele sabe” falei, sentindo meu coração ser apertado por uma mão forte e invisível. Minha garganta se transformava em um nó enquanto sentia meus olhos enchendo de água.

A vingança de D não afetaria somente nós dois como ele falara, o conhecia muito bem para saber que não devia acreditar nisso. Ele se vingaria de mim machucando todos os que amava, isso não poderia suportar.

“Nós vamos dar um jeito” sussurrou Mike em meu ouvido para que não pudessem nos escutar.


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Notas finais do capítulo

O que acharam??? Eu quero saber a opinião de vocês, podem ser sinceros...



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