Abri os olhos assustada com um barulho perto , tentei me sentar , mas estava muito fraca. Minha cabeça latejava .

–Finalmente.-Aquele cara de capuz comentou ao meu lado –Você dormiu por dois dias , seu machucado foi feio!

–Ninguém mandou você me fazer de refém.

–Ninguém mandou você tentar fugir.

Ele se inclinou pra trás , pegou uma maçã verde e me entregou .

–Come isso. É a única coisa que eu tenho aqui.

–Só tem isso?

–Escuta , isso aqui não é o seu palácio , tá bom? Eu não tenho dinheiro , e minha vida não é tão fácil como a sua.

Ficamos em silêncio por um tempo. Uma bela tortura pra mim.

–Eu quero ajudar...

–Como?

–Escuta , eu posso te ajudar . Só me deixe perto da minha casa , e eu entro lá , e pego o dinheiro para você. E depois as coisas vão dar certo pra você.Eu prometo !

–Eu não sei se posso confiar.

–Pense bem , eu quero voltar pra casa , e você quer o dinheiro,vai dar certo dos dois lados. Será que você não sabe ao menos fazer negócios?

–Então vamos logo com isso , espertinha. O caminho para a sua casa não é tão perto.Consegue ficar de pé?

–Claro , consigo até pular!-Falei com a voz carregada de sarcasmo.Ele me ajudou a levantar e dar alguns passos , mas acabei tendo que me apoiar nele pra andar. O caminho era realmente longo , nós andávamos devagar , quebrando galhos , o sol não estava forte , e a luz era boa por ali.

Olhei para ele ,que andava calmamente ao meu lado. Não tinha medo dele por saber que tínhamos idades próximas ,e ele não parecia realmente mal. Eu não vou mentir , estava curiosa pra saber seu nome , sua verdadeira identidade. Resolvi tentar.

–Já que você vai me devolver pra casa, que tal me dizer seu nome? Algo sobre você?

–Pra você me entregar pra policia? Não mesmo!

–Pra quê eu te entregaria ? Que motivo eu tenho? Você não fez nada comigo e...

–Eu não vou te dizer meu nome , Hadley! Por favor , pare de insistir.

Hesitei , depois me calei . Eu não gostava de ser calada assim , mas ele parecia determinado.

Depois de um tempo andando em silêncio , avistei o palácio e não pude evitar um sorriso. Eu estava faminta , e o primeiro lugar que visitaria era a cozinha.

–Essa é a sua casa?-Ele disse ao meu lado , o olhei e assenti . Nós fomos até a porta , mas não estava como antes.

A porta estava derrubada , quebrada ,lá dentro , vidros quebrados , coisas caídas no chão , tudo uma bagunça. Eu não sei o que estava acontecendo , mas eu não estava gostando.

–Mamãe?-Chamei subindo as escadas , eu já estava mais forte um pouco.-Mamãe! –chamei mais alto , quanto mais eu avançava , pior as coisas estavam.

–Alguém aí?

–Hadley.-O cara de capuz , que andava atrás de mim , puxou meu braço e apontou pra uma sala . Sra. Jackson guardava suas coisas numa bolsa com pressa.

–Céus , até que enfim. Sra. Jackson!-Fui até ela e a abracei .Ela me afastou como se isso fosse errado.

–Sophie , por favor , querida , vá embora daqui. Corra para um lugar bem longe e se esconda até isso acabar.

–Eu...não estou entendendo.

–A guerra , querida. Aquele pais vizinho está tirando pessoas de suas casas , as prendendo . Levaram sua mãe , eu sinto muito. Por favor , querida , fique bem! Eu tenho que ir agora.-Ela me deu um último abraço e saiu de lá correndo.

–Eu sabia- Ele bateu na parede.O olhei.-Eu sabia que essa guerra ia piorar.

–Eu nem ao menos sabia que ela estava acontecendo!

Olhei a janela, uns 50 homens ou mais vinham marchando na direção do palácio . Olhei assustada pra ele que também me lançou um olhar aterrorizado.

–Vá pegar a comida lá em baixo , eu vou buscar o dinheiro . Temos que fugir , rápido.-Eu disse com pressa, então começamos a correr pelos corredores desesperadamente.

[...]

–Sabe mesmo fazer isso?-Perguntei pela segunda vez.

–Eu já disse que sim!-Nós cavalgávamos num cavalo que eu achei lá fora.Minha mãe fazia passeios com ele , era o favorito dela.A comida , a água e o dinheiro estavam atrás.

Olhei pra trás, uns 20 daqueles 50 homens vinham correndo atrás de nós , em seus cavalos.

–Eles estão vindo! Corre!-Eu disse desesperada.Ele apressou o cavalo , e nós corremos entre as árvores. A vista estava um pouco complicada , e já estávamos realmente perdidos.

Em um ponto daquela corrida desesperada, nós caímos no chão , o cavalo foi para longe , e a única coisa que conseguimos recuperar foi a comida e a água.

–Vem , Sophie.-Ele me puxou pra trás de alguns arbustos, e os homens passaram com seus cavalos. Eu estava ofegante , cansada ,e tonta. Até ignorei o fato dele ter me chamado pelo nome pela primeira vez.

–Você tá bem?-Ele perguntou se encostando num rochedo ali perto.

–Por enquanto sim. O que vamos fazer agora ?

–Eu não sei Sophie! Eu não planejei isso!

–Não , mas planejou me sequestrar , e quando decidiu voltar , olhe só o que aconteceu!

–E você acha que é culpa minha?

Ficamos em silêncio , tentando recuperar o ar , tentando entender o que estava acontecendo.

–Isso vai acabar alguma hora, Sophie.-Ele disse me olhando.-E nós vamos voltar á nossas vidas.

–É o que eu espero.

Eu percebi que ele estava sorrindo por baixo daquela mascara, e isso me fez sorrir.

–Agora eu vou ver o que você trouxe.-Abri um dos sacos, 5 garrafas de água e uma lanterna no meio . Bom. Abri o outro...pães , uvas , maçãs , e...

–Uma garrafa de Whisky?-Perguntei mostrando a garrafa pra ele.-Você bebe?

–Não , claro que não .-Escutei ele rir , e ri também.-Eu estava desesperado, joguei tudo o que vi pela frente aqui.

Nós rimos , por esse motivo bobo . Quando perdeu a graça , voltei a mexer na sacola e ver o que ele tinha trazido.

–Meu nome é Edward.-Ele disse de repente.

Edward.

Um belo nome.

–Sophie.-Apertamos as mãos , sua mão estava quente e machucada, e eu só tinha percebido agora.

–Ah , olha só isso .-Puxei sua mão pra perto.

–Ai , Sophie! Cuidado! Deixa isso quieto , vai melhorar.

–Não vai não. Vai inflamar .Fica quieto.-Peguei uma garrafa de água e joguei cuidadosamente, um pouco em sua mão.

–Você tá desperdiçando !

–Você quer ficar machucado , é isso?

Eu o olhei , e ele desviou o olhar pro chão .Agradeci mentalmente por isso , não queria arrumar confusão agora , estava cansada.

–Dói?-Perguntei tocando sua mão , no local machucado.

–Não como antes.-Ele tirou sua mão de perto da minha e se levantou.-Eu vou dar uma olhada...checar onde estamos, talvez eu conheça alguém perto.

–Cuidado , Edward.-Eu disse me deitando sobre as folhas secas.-Eu vou descansar ,eu realmente preciso disso.

Ele saiu andando , fechei meus olhos e senti sono alguns minutos depois.