Naraku Apaixonado? escrita por Amanda Catarina


Capítulo 23
Final




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Capítulo 23 - Final

O leito, semelhante a uma alcova, era aconchegante, porém ela não conseguia se sentir confortável. Nervosa e até com um certo medo, estava sozinha ali já há algum tempo, sentada ao centro do leito, com as pernas esticadas. Então ele chegou. Ao notar que o youkai tinha apenas o kimono de dormir revestindo o corpo, Rin enrubesceu e abaixou a cabeça, evitando olhá-lo.

Chegando à extremidade inferior do leito, Sesshoumaru a observou atentamente; ela trajava, a pedido dele, apenas um manto vermelho, todo em brocado. Aproximando-se mais, ele se sentou ao lado dela. Tímida, Rin levantou o rosto a ele, que aproveitou para pousar uma mão em sua face, ainda corada.

O casal achava-se no aposento do youkai, na ala oeste da mansão. Um único castiçal provia uma luz cálida ao ambiente. Lá fora o terreno estava silencioso, já quase sem vestígios do festejo pela tarde, somente o vento, que vez por outra zunia, perturbava o silêncio daquela noite escura, de um céu encoberto de nuvens; uma chuva refrescante estava para cair.

Sesshoumaru lia o nervosismo dela nos olhos graúdos e podia escutar o coração humano batendo mais depressa, além disso um leve tremor agitava os lábios rosados. Sorriu discreto diante desse acanhamento. Não que estivesse munido, para o ato que se sucederia, de algo além do instinto, mas imaginava que não a decepcionaria.

Segurando a mão dele em seu rosto, Rin o encarou, sentindo o toque das unhas pontudas em sua face. Naquela distância, o youkai lhe pareceu tão diferente, bonito como sempre, mas diferente. Entretanto, não pôde sustentar seu olhar direto por muito tempo, assim tornou a abaixar a cabeça, mas logo ele erguia gentilmente seu queixo, fazendo com que o encarasse de novo.

Ele ainda se demorou, fitando os olhos castanhos, antes de tomar a boca da jovem num beijo. Foi um beijo tão convidativo que ela quis imensamente corresponder, mas seu corpo simplesmente não se mexeu. A imobilidade dela fez o youkai branco se afastar. Ele a encarou, buscando lhe transmitir calma, com um terno sorriso nos lábios, então a beijou de novo. Dessa vez sim a boca pequena se abriu numa fresta, recebendo desajeitadamente a dele.

Pouco depois dos lábios se unirem, Sesshoumaru pousou ambas as mãos no rosto de Rin, que ficou emocionada com este gesto e se sentiu muito amada. Ela colaborou então para aprofundar o beijo, imitando os movimentos que a boca dele fazia na sua, mas logo seu peito doeu com a falta de ar. Captando a aflição dela, ele parou de beijá-la, deixando que respirasse novamente.

Rin abriu os olhos no momento em que o youkai enlaçava sua cintura. Deliciada com o calor que as mãos dele lhe transferiram, ela se desmanchou toda nos braços fortes que a envolviam, com a cabeça pendendo para baixo.

Erguendo o rosto, Sesshoumaru contemplou a jovem entregue por alguns instantes, fascinado. Pousando então a boca no pescoço dela, se surpreendeu com a maciez de sua pele, que estava perfumada e tinha um aspecto de seda pura. Só neste momento, ele pareceu assimilar o fato de que sua pequena Rin habitava agora num corpo de mulher; crescida, com os cabelos mais compridos, esbelta... mas, apesar disso, ele ainda enxergava muito daquela menininha que revivera há quase dez anos, pois os olhos graúdos não perderam o brilho de criança.

Intercalando vários beijinhos no ombro e na curva do pescoço dela, ele se acomodou melhor no leito, pois até então tinha os pés ao chão. Depois disso, foi fazendo ela se deitar, bem devagar. Estirada no colchão macio, Rin acompanhava com os olhos os gestos do youkai, num misto de paixão e apreensão, até que ele passou a acariciar seu rosto. Extasiada com este afago, não conseguiu evitar que suas pálpebras descessem novamente.

– Abra os olhos - ele pediu num chiado sussurro, sendo prontamente atendido.

Encararam-se um pouco, mas, acanhada, ela acabou virando a cabeça para o lado, assim não viu o riso que se desenhou nos lábios do youkai.

Sem desmanchar o sorriso, Sesshoumaru, desatou o laço do manto dela, mas a veste de tão espessa, continuou fechada. Ansioso, se inclinou sobre Rin - as mechas do cabelo prateado a acariciaram - e virou delicadamente o rosto dela para si. Sem pressa, ele foi deslizando uma mão pelo lado do corpo delgado até chegar à cintura e pousou a mesma na abertura da veste.

Segurando a respiração, Rin apenas o encarava, então, inesperadamente, ele abriu seu manto. Reagindo por instinto, ela fechou os braços sobre o peito e juntou as pernas, amedrontada com aqueles olhos dourados, que lhe pareceram mais intimidadores que nunca.

– Não precisa ter medo - disse ele, brando.

– ...não, eu... - ela tentou se justificar, mas acabou se abraçando a ele, de modo a não ficar exposta àqueles olhos, porém, o contato de sua nudez contra o corpo viril, mesmo sob a veste fina, a encheu de vergonha.

Depois de acalmá-la, acariciando demoradamente os cabelos escuros, Sesshoumaru se desvencilhou cuidadoso. Um tanto apressado, se livrou do kimono e, em seguida, afastou os braços da jovem para que pudesse contemplá-la. Diante dos mamilos empinados, ele umedeceu os próprios lábios e adorou imaginar que aqueles botõezinhos cor-de-rosa estavam à espera de seus toques e beijos. Os olhos foram descendo, impressionados com a beleza que o corpo imaculado e virgem exibia.

Cedendo ao anseio por tocá-la, ele fez seu indicador deslizar desde entre os gêmeos até o umbigo pequenino, numa sedutora carícia, que fez Rin gemer contida. Enlevado com isso, ele se deitou sobre ela. Seus corpos expostos enfim se tocaram, assim como suas bocas, que logo se comprimiam num beijo intenso.

Abandonando os lábios molhados, Sesshoumaru se ocupou de beijar cada pedacinho da pele de Rin. O respirar dela ficou entrecortado e seu corpo todo tremia, revestido pelos beijos do youkai. E ele a manteve bem firme a si no momento em que o contato mais íntimo que poderiam ter se iniciou. Penetrou-a com exímio cuidado e ao ter seu membro todo dentro dela, ficou tão extasiado que foi custoso conter o clímax que por pouco não irrompeu.

Rin apertava e arranhava as costas e os braços de seu amado, gemendo, se contorcendo, enlouquecendo-o. Por um momento, Sesshoumaru captou um cheiro de sangue e até se inquietou com a possibilidade de a estar machucando, mas foi impossível parar àquela altura, mesmo porque seus corpos, ondulando um contra o outro, pareciam se moverem sozinhos, como se uma memória secreta houvesse sido desperta no âmago de suas almas. Era intenso, quente, delicioso... e, céus, o mundo poderia desmoronar que não notariam.

O gozo que alcançaram foi arrebatador, de modo que se achavam exaustos quando um sorriso cúmplice desabrochou em ambos os lábios.

– Rin... eu te amo tanto - confessou ele, fazendo-a verter lágrimas de alegria.

– ...eu também te amo muito, senhor Sesshoumaru - devolveu num murmúrio.

– Não me chame assim agora - pediu ameno, secando o rosto dela do choro e do suor.

– Sim... Sesshoumaru - assentiu, beijando carinhosamente a mão dele em seguida.

Amaram-se outra e outra vez, no compasso da paixão que compartilhavam, e só um pouco antes da alvorada, o cansaço os venceu. Para ambos foi uma experiência inigualável e especial, a consumação da união de dois corações destinados a se amarem desde o primeiro encontro.

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Uma corrente de ar fria soprou, fazendo Naraku se levantar para fechar a janela do quarto. Voltando então para perto de Yeda, ele se sentou rente à parede. A youkai dormia tranquila, com a cabeça virada de lado e uma mão próxima ao rosto. Olhando-a fixamente, pensou que seria ótimo fazerem amor naquele resto de noite, mas o fato de estarem ali - na mansão de Sesshoumaru e Inuyasha - o demoveu depressa do anseio.

– Precisamos logo de um novo lar - murmurou consigo.

Estava preocupado. Sabia que não seria difícil adquirirem uma nova casa, no entanto, a notícia da gravidez o deixou extremamente impaciente. Justo quando necessitava estar bem estabelecido, achava-se sem teto.

– Era mais simples quando eu me apossava do que queria - falou tão baixo quanto antes.

"Era mais simples" ele dizia essa expressão com frequência, sempre no mesmo contexto, ainda que, a cada dia, acreditasse menos que seria capaz de se sentir satisfeito praticando injustiças novamente.

– Como você é bobo - resmungou Yeda, se revirando no futon, porém permanecendo de costas a ele. – Tudo isso por causa do bebê? Conseguiremos outra casa bem antes de ele vir ao mundo - como ele não lhe deu resposta, na mesma posição, ela continuou: – Além disso, é provável que nosso filhote venha a ser um youkai completo, Naraku. Portanto,  não há com o que se preocupar, ele será muito forte.

Os olhos vermelhos dele brilharam de espanto.

– Um youkai completo? Você acha?

O tom duvidoso a fez voltar o corpo na direção dele.

– É razoável pensar que sim. Porque se filhos de meio-youkais, mesmo quando nascidos de humanas, mantém o poder de meio-youkais, por que não seria assim com o nosso?

– É, você pode estar certa - devolveu com um olhar distante –, mas independente disso, qualquer recém-nascido precisa de cuidados.

– Sim, mas acalme o coração. Vai ficar tudo bem.

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O dia seguinte amanheceu ensolarado. Yeda, Kagome e Sango foram muito cedo ao mercado e voltaram com sacas de legumes, verduras e frutas, pois resolveram preparar um desjejum especial para todos, o qual seria servido no salão principal.

Por terem madrugado, elas ajeitaram tudo antes que os demais acordassem, assim Yeda pôde gastar algum tempo conversando com Rin, no jardim na parte de trás da ala central. A jovem lhe confidenciou detalhes sobre sua primeira noite de amor com Sesshoumaru, detalhes esses que ela ainda não parecia ter coragem de contar as outras amigas. Bem-humorada, Yeda tirou uma ou outra dúvida que ela tivesse e lhe deu alguns conselhos.

Quando todos se reuniram, e logo após a primeira rodada da refeição, Yeda tomou a palavra e anunciou a nova de sua gravidez, causando grande comoção entre os amigos. A maioria deles demonstrou notória alegria com a notícia, porém Inuyasha permaneceu calado por um tempo.

Ele ficou feliz por Yeda, sem dúvida, mas afinal tratava-se do filho de Naraku também. Pensou que o pequeno seria muito forte e ponderou até que ponto isso não poderia representar uma ameaça a todos eles. Deu então uma olhada de esguelha para Miroku, que parecendo decifrar seu receio apenas de encará-lo, fez um gesto como quem dissesse que não havia o que temer. Todavia, só quando ele olhou Kaede felicitando e abraçando Yeda e, próxima a ela, Kagome e Sango esperando para fazerem o mesmo, que sua expressão preocupada amansou um pouco.

Após os cumprimentos, Sesshoumaru - bem menos desconfiado ou talvez seguro demais de sua própria força - chegou a sugerir que Yeda e sua família permanecessem ali na mansão, uma vez que a youkai tinha contribuído tanto para a construção daquela casa, porém Naraku recusou a proposta veementemente. Yeda já esperava por isso e assegurou ao youkai branco que o tempo de gestação era mais que suficiente para que ela e o companheiro arrumassem um local para viverem.

Apesar de ter demonstrado desagrado com a sugestão do irmão, Inuyasha se propôs a auxiliar a família de Yeda no que pudesse. Desde que Sesshoumaru passara a se ocupar com os preparativos do casamento, foi ele quem ficou mais à frente dos negócios.

Naraku deduziu perfeitamente que Inuyasha oferecia auxílio por causa de Yeda, mas não fez objeção à oferta dele; pelo filho teria que transpor o próprio orgulho.

Dessa feita, os dias transcorreram agitados para a família youkai.

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O Japão vivia um período sangrento, marcado por guerras e mortes, o período Sengoku. Uma época de extrema desigualdade social, em que mansões e castelos ostentosos contrastavam com casebres modestos e humildes.

Nesse contexto, Inuyasha e Sesshoumaru se tornaram caçadores de recompensas, oferecendo serviços aos nobres e ricos. Em face à pobreza que a maioria dos humanos vivia, eles lucravam realmente bem. Naraku acabou por entrar nesse tipo de negócio também, pois diferente da região onde vivera antes, nas redondezas em que os irmãos youkais moravam, o comércio era ainda muito precário.

Não tão distante da alameda na qual se situava a mansão dos irmãos youkais, Naraku e Yeda ergueram uma casa, modesta para o padrão a que estavam habituados, porém aconchegante.

Uma vez que não tinham mais criados, Kanna passou a ajudar Yeda no serviço doméstico e também no preparo das refeições, mesmo porque, desde que abandonara o espelho místico que sugava as almas das pessoas, no período em que Naraku esteve afastado de Yeda, ela não tomava mais parte em batalhas, contudo detinha ainda poder para se defender de eventuais ameaças.

Kagura, em contrapartida, trabalhava com Naraku na maior parte do tempo, pois as habilidades que lhe conferiam o epíteto de Mestra dos Ventos eram mais úteis que as de moça prendada naquele momento. Fisicamente, Kanna e Kagura não tinham mudado quase, apenas Kagura estava com os cabelos um pouco mais compridos.

Falando ainda de Kagura, ela e o jovem Kohaku estavam se tornando muito próximos. Ainda que pudessem ser considerados rivais nos serviços aos nobres, não raro eram vistos juntos, contemplando o vilarejo da colina, trocando ideias e sonhos.

Kohaku, um rapaz feito então, cresceu mais que seu cunhado Miroku, deixou os cabelos tão compridos quanto os do youkai lobo Kouga e manteve um porte esbelto, ainda que as constantes lutas tivessem salientado um pouco seus músculos. Ele esteve um tempo de flertes com uma garota do vilarejo, mas o fato de ele estar sempre viajando acabou por desestimular a moça de um possível compromisso e isso abriu espaço para Kagura no coração dele.

Nem Kagura nem Kohaku fizeram caso da opinião de seus familiares, pois era de se esperar que Sango preferisse que o irmão tomasse por esposa uma humana, e que Naraku apreciasse bem mais um genro youkai - ele inclusive até pensara que Kouga poderia ter sido um par perfeito para Kagura, se ele já não estivesse casado.

Naraku ignorava que, pelo tempo em que esteve escravizado por ele, Kohaku realmente desenvolveu afeto por suas crias. Como Kanna continuava aparentando ser uma criança, o jovem manteve a boa amizade com ela, mas com Kagura foi diferente; agora que estava moço, ela se tornara uma beldade a seus olhos. Assim, Naraku e Sango gostando ou não, os dois estavam mais ligados a cada dia e não tardaria para que essa ligação assumisse a forma de um romance.

O relacionamento de Inuyasha e Kagome também estava para avançar. O comentário de Kagome quanto à demora de seu enlace, na ocasião do casamento de Sesshoumaru e Rin, acabou levando Inuyasha a querer sua união formal com ela ainda naquele ano. A resolução logo tornou os dias corridos para Kaede, Miroku e Sango novamente, contudo muito do que havia sido arranjado para o casamento de Sesshoumaru poderia ser reaproveitado para o deles.

Apesar dos tantos afazeres, Kaede estava envelhecendo em boa tranquilidade. Não carecia de nada, era muito estimada e querida, tanto pelos amigos próximos como pelas pessoas no vilarejo. Jaken se tornara uma boa companhia a ela; conversavam sobre coisas místicas e sabedoria antiga.

Yumi, Sayuki e Keiji - filhos de Sango e Miroku -, ao lado de Shippou e por vezes até de Kanna, é que atazanavam a todos, naquela fase em que as crianças aprontam as maiores travessuras; gritavam, pulavam, corriam, enfim. Sango vivia esgotada de cuidar deles, mas nem toda essa desgastante correria pôde impedir que ela, em plena maturidade, se tornasse uma bela mulher comparável às princesas da nobreza. Miroku ficava encantado apenas de olhá-la e sentia-se o homem mais feliz do mundo por tê-la a seu lado.

Miroku vinha sendo bastante requisitado. Se Inuyasha e Sesshoumaru lucravam sob a força bruta, o monge obtinha lucro através de exorcismos. De certo modo, tratava-se de um serviço mais fácil, sobretudo para alguém como ele, detentor de um formidável poder espiritual, mas claro que ele corria riscos assim como os outros dois.

Como o monge preferia trabalhar nas redondezas, Kirara passou a ficar mais tempo com Kohaku. Sempre leal, além de poderosa, a felina youkai vivia diversas aventuras junto ao jovem caçador.

Em suma, todos seguiam suas vidas sem maiores percalços.

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Devia ser quase meio-dia quando Naraku tocou o sino da mansão e logo o pequenino Shippou veio recebê-lo - assim como Kanna, Shippou não tinha mudado nada fisicamente.

– Olá, senhor Naraku! - saudou e sorriu amistoso.

– Bom dia, Shippou. Vim porque Inuyasha me chamou - anunciou brando.

– Sim, sim... estou sabendo. Venha comigo - quando o vizinho passou a seguí-lo, o raposinha disparou: – Como está a senhora Yeda? E a Kanna? Será que eu poderia visitar elas?

– Sabe que pode. Devia apenas deixar de ser tão tratante, meu caro amiguinho peludo.

Shippou se espichou todo e com um sorriso sem graça se justificou:

– É que ando muito ocupado ultimamente.

– Ah, imagino... - e antes que Naraku continuasse, foi interrompido pela voz irritada de Inuyasha:

– Estou te esperando desde o raiar do sol!

– Perdoe-me pelo atraso - desculpou-se com um leve menear de cabeça. – Yeda não passou bem à noite.

O semblante furioso do meio-youkai abrandou na mesma hora.

– É mesmo? E como ela está agora?

– Melhor. A razão de ter me chamado aqui é um serviço, não estou certo?

– Isso mesmo. Venha, vamos entrar. Esse sol está rachando.

Um tanto depois, os dois estavam no salão da ala central, assentados a uma mesa baixa, frente a frente. Com um ar sério, Inuyasha expunha os detalhes do serviço: um ancião, de um vilarejo vizinho, viera contratá-lo para que encontrasse um livro de encantamentos que pertencera a seus ancestrais.

– O local não fica muito longe daqui; um dia de viagem quando muito. O velho garante que a família escondeu todos os objetos de valor que possuía numa gruta e que um youkai gigante foi selado para guardá-la. O tal livro deve estar lá.

– Que história fantasiosa - comentou Naraku.

– Concordo, mas não temos como descobrir a verdade se não formos até lá.

Naraku estreitou os olhos e perguntou:

– Mas o que? Está cogitando trabalhar comigo dessa vez?

– Sesshoumaru está viajando, Kohaku num outro serviço e esse não é bem o tipo de trabalho que Miroku tem feito.

– Isso significa que sou sua única opção.

Inuyasha bufou.

– É, mas não vá achando que gosto da ideia de trabalhar contigo. Eu bem que poderia ir sozinho e ficar com todo o ouro.

– Ouro? - surpreendeu-se Naraku.

– Sim, o velho disse que paga em ouro pelo tal livro.

– Viria a calhar numa hora dessa. O que estamos esperando?

– Por mim, nada, podemos partir o quanto antes.

Assim dentro de três dias, os dois meio-youkais deixaram o vilarejo. Yeda quis ficar na mansão e Kanna veio com ela. Miroku se prontificou em proteger as mulheres.

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Caminhando por um matagal, com Naraku um pouco mais atrás, Inuyasha se sentia apreensivo. Era sempre assim quando estava junto de seu ex-inimigo. Mesmo admitindo sua mudança de caráter, ainda não confiava nele.

– Aquela deve ser a tal gruta - a voz irritantemente branda de Naraku o fez parar.

– É o que parece - concordou, retomando as passadas.

Já estavam fora há alguns dias. Vez por outra, era Naraku quem ditava os passos, mas, em geral, ele vinha seguindo as resoluções de Inuyasha. Quase não entravam em atrito, porém mal conversavam.

A lua alta no céu atraiu o olhar de Naraku, o fazendo pensar em Yeda momentaneamente, mas, de repente, ele e Inuyasha ouviram um ruído, semelhante a um lacre se quebrando, e se entreolharam.

– Não gostei disso - falou Naraku.

– Nem eu - rebateu Inuyasha e sentiu que Tessaiga vibrava na bainha.

No momento em que o youkai cachorro sacou a espada, ele e Naraku escutaram um rugido estrondoso. Então o chão sob os pés deles se tornou movediço e começou a se elevar, assim viram que era sobre o dorso de um youkai que pisavam. Tratava-se de uma grande fera, irracional, que rugia alto e estava enfeitiçada para aniquilar qualquer ser que se aproximasse daquela gruta.

– E isso só pode ser o tal guardião! - exclamou alto Inuyasha.

Rapidamente, ambos saltaram ao chão e se colocaram em posição de combate. Naraku desprendeu duas presas do corpo, que funcionariam como espadas, e então os dois atacaram o youkai com golpes certeiros. A vitória parecia próxima, mas de reentrâncias na testa do gigante, jatos de um líquido rubro como sangue foram esguichados. Ambos se esquivaram, vendo que, ao tocar o chão, o líquido queimou imediatamente a relva e derreteu pedregulhos e galhos como se fossem feitos de areia.

– É veneno! - exclamou Naraku. – Não se deixe acertar.

– Isso nem... - dizia Inuyasha, mas levou a mão à boca e apertou o nariz, com os olhos ardendo como se em brasas.

Quando o odor fétido do veneno penetrou as narinas de Naraku, ele também tentou se proteger tampando o nariz, pois mesmo ele, que usava miasma como arma, se sentiu nauseado.

Inuyasha girou o punho, lançando a Ferida do Vento contra o monstro, arrastando-o um bom tanto para trás. Aproveitando a brecha do ataque, Naraku puxou o aliado pelo braço e saltou com ele dali para o alto de uma árvore.

– Raios... que veneno terrível - comentou Inuyasha. – Temos que dar fim nesse imbecil. Se ele chegar ao vilarejo, vai ser uma matança daquelas.

– Tem razão... eu vou usar meus tentáculos para prendê-lo. Você, dispare mais ataques daquele. Isso deve bastar.

Mas eles não tiveram tempo de colocar o plano em prática. Abominável, o youkai voou na direção deles e expeliu dos dedos um gás do mesmo veneno, o qual pairou sobre os dois caçadores numa nuvem vermelha.

Inuyasha tombou da árvore como uma mosca, completamente envenenado. Ao sentir a vista embaçar e a garganta doer, Naraku fez surgir uma máscara de ossos e músculos no rosto, mas mesmo essa proteção não bastou para protegê-lo, então acabou caindo também, e embora a aterrissagem do gigante na clareira tivesse contribuído para isso, foi principalmente por causa do veneno que tombou. Se ele estava sentindo tudo aquilo, o que Inuyasha não estaria sofrendo?

Levantando-se cambaleante, Naraku se aproximou do youkai cachorro e o puxou pela veste, buscando ganhar distância.

– ...se tiver alguma... ideia, sou todo ouvidos... - murmurou Inuyasha.

Naraku pensou uns instantes, enquanto analisava o estado debilitado do outro.

– Empreste-me a Tessaiga. Posso usá-la, pois também sou um meio-youkai.

– Não! - exclamou num berro. – Isso nunca!

– Do jeito que está não poderá usá-la! Vamos, não é hora de ser orgulhoso!

Relutante, Inuyasha entregou a espada a Naraku, que avançou contra o youkai, rápido como um raio. Embasbacado, o youkai cachorro viu o outro manusear Tessaiga com extrema facilidade, como se sempre a tivesse possuído. Um, dois, três ataques e o gigante estava à beira da morte.

– Muito bem, agora devo ser capaz de absorvê-lo - falou baixo Naraku, após ter feito sumir aquela máscara.

Mas, por um instante, ele fitou a cabeçorra do monstro tombado e notou os olhos de um verde ácido mirando os seus. Sentiu um estalo na alma e refletiu melhor no que pretendia fazer. Por que absorvê-lo? Apenas porque era um ser irracional? Já não bastava ter vindo ali e o ferir fatalmente? Lembrou-se então do terror que sentiu quando achou que Yeda o estava absorvendo.

Esse conflito interno o manteve parado no lugar, então o gigante acabou consumido pelo próprio veneno, que escorria de suas feridas, mas foi o baque de Inuyasha, tombando logo atrás dele, que fez Naraku sair da imobilidade. Correu até o meio-youkai e se abaixando no chão, se alarmou com a morbidez que se apossara dele.

– Inuyasha? Acorde! - chamou em desespero. – Céus, isso não pode estar acontecendo... Acorda, Inuyasha! - ele chacoalhava o outro e tinha o tom cada vez mais perturbado. – Inuyasha!

Não havia reação e a pulsação estava fraca. Quando a ideia de que o youkai cachorro pudesse morrer cruzou o pensar de Naraku, uma torrente de receios jorrou na mente dele. Não tinham ainda partido sozinhos num serviço e na primeira vez que iam, Inuyasha perdia a vida? Balançou a cabeça freneticamente, buscando não perder a calma.

– Tenho que dar um jeito nisso.

Concentrando seu youki nas costas, Naraku começou a fragmentar seu corpo e fez três crias aracnídeas surgirem. Elas, bem depressa, se grudaram ao corpo de Inuyasha e começaram a sugar o veneno que o matava. Enquanto as observava no processo, Naraku se odiou por não ter absorvido aquele youkai quando teve a chance. Sem ter assimilado as habilidades do gigante, o veneno continuava sendo letal a ele próprio, por isso as crias foram morrendo uma a uma e ele foi ficando cada vez mais fraco.

Mas desistir nem de longe passou por sua cabeça. Claro que ele não queria morrer sem sequer conhecer o filho, mas, naquela hora, estava disposto a dar sua vida pela de Inuyasha. Sabia que não tinha culpa do ocorrido, mas imaginava também que ninguém, talvez nem Yeda, acreditaria nele se a fatalidade viesse a acontecer. Já estava na terceira leva de crias quando enfim Inuyasha reagiu, tossindo. Um sangue escuro escorreu pelo canto da boca dele, porém seu respirar tornou-se novamente perceptível.

Encostando a cabeça contra o peito do youkai cachorro, Naraku pôde ouvir batidas mais fortes do coração. Expirou aliviado então e se ergueu. Logo em seguida, a única cria que restava retornou a seu corpo, fundindo-se em suas costas e desaparecendo num brilho vermelho.

– Você tem sua noiva, eu minha mulher esperando um filho... não podemos ficar nos arriscando assim - disse baixo e aproximou Tessaiga da bainha, aguardando que ela voltasse ao aspecto de katana para poder guardá-la.

Colocando-se em pé, Naraku apertou a têmpora, sentindo o fôlego curto e a cabeça latejando; estava esgotado. Olhando na direção da gruta, pensou que sendo o local de difícil acesso e ocultado pela vegetação, e estando o gigante morto, poderiam voltar dentro de alguns dias. Por hora, era mais sensato retornar ao vilarejo e se tratarem.

Inspirou e expirou algumas vezes, ponderando mudar à forma aracnídea, no intuito de acelerar sua regeneração, contudo, naquele exato instante, sentiu todo seu youki se esvair. Os olhos vidrados passaram de vermelhos a castanhos escuros e a imagem do mundo que lhe cercava mudou de aspecto.

– Não... isso não.

Ele voltara a forma humana, sem que desejasse. Não era a primeira vez que perdia a autonomia sob seu corpo, mas custou a acreditar que estivesse acontecendo justo naquele momento. No entanto, era lógico, esforçara-se ao limite para drenar o veneno em Inuyasha.

A distância até o vilarejo era longa e em sua forma humana, até mesmo carregar Inuyasha seria custoso. O cansaço e o temor de cruzar com algum outro youkai - que nem precisava ser um forte para deixá-lo em grande apuro - o desanimaram. Estava vulnerável e odiava se sentir assim.

Por algum tempo, Naraku não soube o que fazer e certa desesperança o perturbou, mas recobrando o sangue frio, se agachou de novo ao chão e puxou o inconsciente Inuyasha para suas costas. Poderiam morrer no caminho, mas ele não pararia de andar por nada.

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Caminhando distraída pelos limites do vilarejo, Yeda suspirou saudosa de seu amado. Gostaria de estar junto dele naquele serviço, porém fazia mais de uma estação que estava prenhe e sua barriga já era avantajada. Ela até vinha o acompanhando nas jornadas apesar disso, mas, daquela vez, Naraku insistiu que deixasse as coisas por conta dele.

Escorando-se numa árvore, ela pousou ambas as mãos sobre o ventre e fechou os olhos. Sentia o coração do bebê batendo e cada um de seus pequenos movimentos; estava certa de que seria uma criança grande quando nascesse. Apesar da indescritível alegria que a gestação lhe trazia, longe de Naraku, não conseguia deixar de sentir um certo desânimo. E piorando seu humor, tivera uma noite conturbada, cheia de pesadelos.

Naraku e Inuyasha já estavam fora há seis dias. Por mais que ela quisesse evitar pensamentos negativos, não estava entendendo o porque daquela demora. Suspirou fundo, pensando em retornar à mansão, quando seu faro aguçado captou o cheiro de seu companheiro.

– Já não era sem tempo - falou consigo, mas o alegre sorriso que tinha surgido em seus lábios desapareceu quando ela percebeu que não sentia o youki dele, apenas o cheiro. – Tem alguma coisa errada - disse e saiu correndo, ligeira como o vento.

Em pouco tempo Yeda avistou Naraku, carregando Inuyasha nas costas. Correu ainda mais rápido para alcançá-lo e ele pareceu não perceber sua presença antes que estivesse bem a sua frente.

– Naraku? - exclamou ela, atônita, diante da forma humana dele, compreendendo então a razão de não ter sentido seu youki.

A expressão cansada do meio-youkai se suavizou num pequeno sorriso e o alívio de ver a amada foi tamanho que acabou esgotando o pouco de forças que lhe restava, assim ele tombou de joelhos no chão. Yeda soltou um grito de susto e se aproximou dele, livrando-o do peso de Inuyasha, alarmada também com a inconsciência deste.

– Naraku! Pelos céus, o que aconteceu?

– Stou bem... - ele tentou tranquilizá-la, segurando-se num dos braços dela.

– O que aconteceu? - insistiu, nada convencida.

– Um gigante... que tinha um veneno muito forte... nos atacou... - contava ofegante.

– Tudo bem, não precisa dizer mais nada - cortou ela e olhou na direção de Inuyasha, pensando se era capaz de carregar os dois em sua forma humanóide. Não teria dificuldade se não estivesse grávida, mas a incerteza quanto à natureza do bebê, a fazia ter receio de assumir a forma de lobo. Por essa razão, pensava que o melhor fosse tentar buscar ajuda, porém a ideia de deixar os dois ali, apertou seu peito.

Mas eis que ela ouviu o barulho de uma carroça. Erguendo a cabeça, avistou, com grande alívio, um rosto conhecido.

– Toutousai? - exclamou ela.

– Hã, é a senhora Yeda? E Inuyasha... e Naraku também - disse o youkai forjador, espantado.

– Graças aos céus. Por favor, Toutousai nos ajude!

– Sim, sim... - assentiu ele, apeando apressado da carroça e se aproximando dos três.

– Eles foram envenenados! Preciso levá-los até a velha Kaede.

– Claro, vamos já. Mas ora, vejam só... está esperando um bebê, minha amiga? - comentou ele em sua típica calma, enquanto ajeitava o corpo de Inuyasha na traseira da carroça.

– Estou sim - o tom dela não tinha nem rastro de calma. – Naraku, consegue andar?

– Creio que sim - murmurou ele, mas no que tentou se levantar, tombou rente a ela.

– Não tem problema - retrucou, passando um dos braços dele por seu pescoço.

– Deixe isso comigo - intrometeu-se Toutousai e, desvencilhando um do outro, levantou facilmente Naraku nos braços e logo o acomodava na carroça também.

Em pouco tempo, estavam a caminho da mansão.

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Inuyasha se remexeu, despertando logo em seguida. Assustado, se ergueu de súbito, sem saber onde estava, e exclamou:

– O que?

– Acordou, Inuyasha? - perguntou a youkai lobo.

– Yeda? Toutousai? O que está acontecendo?

– Parece que você e Naraku foram atacados por um youkai muito poderoso - adiantou-se o forjador.

– Mas fique tranquilo, meu caro, estamos indo pra casa - acrescentou Yeda.

Chegando à mansão, foram recebidos por Kagome e Shippou, com muito alarde. Yeda, que já estava aflita - por Naraku ter perdido a consciência durante o caminho -, ficou ainda mais em face ao desespero da jovem humana diante do estado de seu noivo. Momentos de angústia se sucederam até que tudo fosse solucionado e já era quase noite quando os dois meio-youkais estavam devidamente tratados e descansando.

A empreitada foi um belo fiasco, não ganharam nada além de prejuízo. Ao menos serviu para que Inuyasha passasse a confiar mais em Naraku e, daquele dia em diante, o convívio entre eles melhorou bastante. Sempre haveria alguma tensão, alguma rivalidade na questão de quem era o mais forte, o mais rápido, o mais esperto, mas o fato era: passaram de arquiinimigos a camaradas. Amigos? Nem tanto.

Toutousai esteve com eles por alguns dias. Ficara impressionado com as novidades acerca de todos, pois não os via há tempos. Ele tinha até forjado uma arma para Kohaku, mas o próprio jovem é que tinha ido a sua casa fazer a encomenda. Aproveitando a presença dele ali, Naraku encomendou uma espada também; gostara da experiência com Tessaiga.

Pelos dias que se seguiram, à exceção de Kohaku e Kagura, os demais resolveram fazer uma pausa com os serviços. Como Naraku mesmo dissera, não era tempo de se arriscarem tanto.

ooo ooo ooo ooo

Em seu quarto, na era moderna, Kagome estava deitada de lado na cama, com uma mão apoiando a cabeça e a outra apontando o controle remoto para a televisão, passando de canal em canal, sem achar nada que a interessasse. Desistindo de vez, desligou o aparelho e deitou, com os braços sob a cabeça.

– Se não tem nada pra ver o jeito é dormir.

Dentro de três dias estaria se casando com Inuyasha. Andava eufórica e rindo a toa, mas sozinha ali, se sentiu angustiada, pois imaginava que iria sentir ainda mais saudades de sua família. Assim, quando deu por si, estava com umas ideias malucas enchendo a mente, tais como ela e Inuyasha vivendo na era moderna - sua família não podia passar pelo poço que levava a era feudal, mas o meio-youkai podia ir ou vir.

Riu de si mesma, compreendendo que estava sendo muito pessimista. Levantando-se, seguiu ao banheiro para se trocar e logo voltou, vestindo uma camisola de malha. Aproximando-se da janela, fechou-a, deixando só uma pequena fresta. O quarto mergulhou numa meia escuridão e, no instante em que ela se virou, se assustou ao se deparar com uma silhueta alta.

– Que coisa... - ela escutou a voz de Inuyasha, mas já sabia que era ele antes que tivesse falado. – Não consegui dormir sem você. Então chego aqui e te encontro acordada à uma hora dessa também.

Ela ficou arrepiada com o tom dele, que lhe soou extremamente provocante.

– Incrível como você consegue ser sorrateiro - comentou baixinho e deu um passo em direção a ele.

Carinhosamente, Inuyasha a abraçou pela cintura. Ficaram algum tempo abraçados, então ele foi deslizando as mãos pelas costas dela. Kagome sentiu o coração acelerar com essa carícia e, com o rosto encostado no peitoral robusto, enrolou uma mecha do cabelo prateado dele entre os dedos, sentindo os fios sedosos acariciando seu braço.

– Agora falta pouco - ele sussurrou, roçando o queixo no alto da cabeça dela.

– Pra que? - devolveu em genuína inocência.

– Para que seja minha.

Ela estremeceu dos pés à cabeça, de novo por causa do tom dele, abafado e provocante, e por ter compreendido muito bem o que ele quis dizer com aquilo.

Desde a adolescência, Kagome era apaixonada por Inuyasha e sonhava em ser a mulher dele. Ela estava então com mais de vinte anos e embora passasse a maior parte do tempo na era feudal, mantinha suas amizades na era atual e ouvia muitas histórias de suas amigas sobre sexo, pois várias delas já tinham tido sua primeira vez - entretanto poucas tinham se casado e uma até estava grávida. Ela foi a primeira a arrumar um "namorado", mas as amigas se apressaram em se enroscar com amantes. Tentava não se deixar influenciar, pois convivia com pessoas que tinham uma visão mais conservadora a respeito do sexo, mas mal conseguia conter o anseio por uma noite de amor com seu meio-youkai.

Como quem tivesse desvendado esse desejo reprimido dela, Inuyasha a puxou para um beijo voraz. Ela o correspondeu da mesma forma e se agarrou com força ao pescoço dele, que a espremeu entre os braços. Beijaram-se e beijaram-se e, num instante, estavam deitados na cama, ele por cima dela.

– Ah, não faz assim - reclamou ele, referindo-se aos gemidos manhosos dela. – Não vou resistir desse jeito.

– Sai de cima de mim então - devolveu ela, porém apertou os ombros dele, travando-o onde estava.

– E quem disse que eu quero? - retrucou e, em seguida, depositou um beijinho no queixo dela.

Teriam chegado as vias de fato, se um barulho no corredor não os tivesse tirado do transe de sensualidade que tinham entrado - era Souta, chegando de uma balada. Kagome e Inuyasha riram um ao outro e logo ele se ergueu, ajeitando as próprias vestes.

– Escapou por um triz, princesa.

Ela riu travessa, adorava quando ele a chamava daquele jeito, e disse:

– Melhor assim. Sabe como a senhora Kaede é... ela não ia nos perdoar.

– Tem razão - concordou e se aproximou da janela. – Você vai ficar bem?

– Sem você? - rebateu, vendo-o se voltar com um sorriso lindo nos lábios. – Vou tentar.

– Tudo bem então. Vou voltar pra casa.

– Ah, Inuyasha... Terei que buscar uns papéis para minha mãe, então só vou voltar um dia antes do casamento.

– Sem problema. Se precisar de ajuda por aqui, me chame.

– Chamo sim...

Saltando pela janela ele se foi. Logo depois, Kagome se jogou para trás na cama, sorrindo contente. Como o amava. E a alegria de ser correspondida fez com que a angústia de antes desaparecesse por completo.

ooo ooo ooo ooo

Alguns meses depois.

Abrindo vagarosamente os olhos, Naraku estranhou uma pequena luminosidade no quarto.

Após um longo bocejo, ele se sentou no futon e então se deparou com Yeda, mais adiante, amamentando o filhinho deles. Uma emoção extremamente forte o invadiu e seus olhos vermelhos chegaram a ficar rasos d'água, porém não se permitiu ir além disso. Reparou que sua criança estava envolta num manto, enquanto a amada tinha os cabelos soltos e, sobre a veste de dormir, o mesmo kimono que ele próprio usara mais cedo.

– Esganado que nem a mãe, bonito que nem o pai, né, pequeno Nakuru? - Yeda falou sem desviar o olhar do filho.

Naraku se aproximou devagar. Sentando-se à frente de Yeda, ergueu o rosto dela para que pudesse beijá-la. Apesar de ter se surpreendido, ela não deixou de apreciar o beijo. Após se afastarem, Yeda aproveitou para tirar o bebê do seio, pois o pequenino, já saciado, voltara a dormir.

– Eu já te agradeci por ter me dado um filho? - perguntou Naraku, olhando para o bebê e acariciando de leve o rostinho dele.

– Só uma centena de vezes - respondeu ela, contente com o modo terno com que ele olhava para o pequeno.

Naraku levantou a cabeça, deparando-se com os olhos azuis pousados nele. Conversaram só com o olhar por algum tempo, então ele entrelaçou os dedos de uma das mãos aos dela, num aperto carinhoso, e depois de dar uma rápida olhada no filho, a beijou de novo. Esse beijo foi mais demorado e, depois de findado, sorriram juntos, ainda com os lábios encostados, antes de se afastarem.

Colocando-se em pé, Naraku veio abrir mais a porta de correr, para que a cálida luz da lua enchesse todo o quarto, iluminando os maiores tesouros de sua vida.

– Está feliz, Naraku?

– Como jamais achei que poderia.

– Eu também.

Ainda ao chão, olhando-o fitar as estrelas, Yeda deixou a mente divagar em meio às lembranças de seu primeiro encontro, quase dez anos atrás.

Desde o momento em que viu Naraku, ainda com aquela roupa de babuíno, ela soube, de algum modo, que seus caminhos se cruzariam outras vezes. Algo nele sempre a atraiu, irresistivelmente. Até ali, ela ainda não sabia exatamente o que era, mas não se importava. Bastava saber que Naraku era apaixonado por ela, porque estar junto a ele era muito bom.

~ FIM ~


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Notas finais do capítulo

E aqui termina a história!
Notas finais e agradecimentos no Epílogo! ^_~