Nicole escrita por AnaBarrooos


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Meus amores sinto, muitíssimo pela demora em postar o capitulo. Nas notas finais explicarei tudo.
Boa leitura!



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LO IV

                A fazenda de lavanda se estendia por quilômetros e mais quilômetros. Eu estava deitada a alguns metros de distancia daquele paraíso apreciando o sol da tarde. Sentindo os raios solares regando meu corpo e me aquecendo do vento que sussurrava levemente no meu ouvido. O aroma da plantação preenchia tudo ao meu redor me causado uma leveza que, há muito tempo não sentia.

                O inverno esse ano tinha sido bem rigoroso, nevascas roubaram dias de aulas, passeios e nos deixaram disputando lugares pertos da lareira. Chocolates quentes embalaram muitas noites juntas a camadas e mais camadas de cobertores.

                Ver o sol brilhando, o calor adentrando o seu corpo e o cheiro da mistura suave das flores em meio à brisa primaveril era tudo que eu precisava naquele momento. O que tornava esse momento perfeito eram eles: a minha família. Sentada embaixo de uma arvore aproveitando o fim de um dos piores invernos que já vivenciamos.

                - Nicky, querida venha logo, o piquenique já esta montada. – aquela voz deixou-me extasiada por um tempo.  – Se não vir logo seu pai e Pietro vão comer tudo.

                Mamãe estava sentada a sombra de uma árvore enorme,com flores vermelhas e minúsculas que se concentrava mais na copa refletindo uma coloração  intensa quando os raios alcançava-as. Um balanço antigo, com uma madeira corroida pelo tempo, estava do lado oposto da árvore.

                Pietro estava concentrado no bolo de chocolate a sua frente, como se caso piscasse o olho seu bolo sumiria. Dava para ver no seu semblante o quão afoito estava para dar uma bela mordida naquele chocolate. Papai sentado ao lado da minha mãe com as costas encostadas na arvore sorri feliz com um olhar de cobiça sobre a cesta de piquenique.

                Essa era uma cena bem comum, minha família, todo ano, comemorava o fim do inverno. Eu nasci em Miami, cidade com sol o tempo todo, movimentada e com um contraste cultural enorme, porém há três anos tive que me mudar para Nova York. Meu pai tinha conseguido um emprego sensacional. Quando enfrentei o primeiro inverno aqui não imaginei que poderia haver algo mais frio que isso, me enganei, porém. Desde então, passamos a comemorar a chegada da primavera, todos os anos como uma felicidade imensa.

                Nós sempre íamos de carro para um campo de lavanda, estacionávamos o carro na lateral da estrada e seguia para a velha arvore a algumas dezenas de metros para dentro do campo. A visão daquele lugar era indescritível e, como não havia nenhum morador por lá, podíamos ficar bem relaxados sobre a grama macia.

                Levantei-me e fui em direção aos três. Sente-me ao lado de Pietro que a essa altura já estava com um cara de bravo porque a mamãe não tinha deixado enfiar a cara no bolo, literalmente. A toalha já estava posta sobre a grama, sanduíches, frutas, bolo e sucos já estavam arrumados junto a um arranjo de flores que mamãe encontrou no chão.

                - Por que demorou tanto? – perguntou Pietro, logo quando sentei de fronte a ele.

                - Estava apreciando a paisagem – respondi enquanto ria da sua carinha de revoltado. – Pietro, não fique assim, o bolo não vai sair correndo – disse brincando com ele.

                Começamos a comer enquanto desfrutávamos daquela maravilhosa brisa. Por alguns minutos o silencio permaneceu. Pietro finalmente conseguiu o que queria comer até não aguentar mais o bolo. Ele e papai realmente formavam uma dupla dinâmica com o rosto repleto de chocolate e dentes manchados pela cobertura correndo envolta da arvore brincando de pique esconde.

                Deitei-me no colo da minha mãe para receber um cafuné, fiquei rindo daquele momento que gostaria que se perpetuasse. Era divertida aquela sensação, o ar livre, o calor, as brincadeiras e a paisagem do pôr do sol que começava a surgir no horizonte.

                - Seu pai é uma eterna criança, Nicky.

                - Ele sempre foi assim? – perguntei enquanto ria do tropeção que papai tinha levado ao tentar correr atrás de Pietro.

                - Sempre, e foi exatamente isso que me conquistou nele. Eu sempre fui a séria da relação e ele sempre levou tudo na esportiva. Eu precisava desse contrapeso para não pirar. – Ela respondeu sorrindo das palhaçadas dele.

                - As vezes eu não sei que mais criança: Pietro ou papai?

                - Com toda certeza é o seu pai, querida.

                A cena foi se tornando turva, a imagem foi desaparecendo

                Um dia chuvoso com céu totalmente nublado e uma corrente de vento que anunciava a chegada do outono. Em um chalé de madeira, rústico, escondido bem no fim da estradazinha de barro estava com uma luz aparecendo pela brecha da janela.

                - Achei-a – ouvi uma voz bem próxima gritar. Senti um par de mãos me envolvendo e erguendo-me, mas meus olhos não conseguiam abrir. Tentei empurrar aquelas mãos em meio a minha parcial consciência. Sem sucesso, todavia.

                Quando consegui sair da minha confusão mental estava deitada no meu quarto, a luz da lua passava por entre as brechas da cortina indo de encontro ao meu rosto. Olhei o relógio da minha cabeceira 23:30 da noite. Dormi por muito tempo e, pela primeira vez em meses, não tive pesadelos. Levantei-me e fui em direção a cozinha, meu estomago estava doendo, precisa urgentemente de algo para comer. Fui andando com passos silenciosos até o corredor entre a sala e a cozinha. A porta da sala estava entreaberta, pude ver, então, a imagem de um homem sentado na poltrona conversando com a minha avó. Ela estava de costas e falava em um tom muito baixo. A curiosidade foi maior. Aproximei-me da sala, encostei meu ouvido atrás da porta e fiquei a mais quieta o possível.

                - ... Sra. Holmes , entenda, desse jeito as coisas não podem continuar. – aquela voz grossa era familiar.  – Nicole precisa de ajuda. Negar isso só irá piorar as coisas.

                - Sr. Black, se, esta sugerindo que eu a interne, perdeu sua viagem. – minha avó respondeu em um tom nenhum um pouco complacente.

                Eles queriam me internar? Por quê? Será que o meu comportamento tem sido tão inapropriado que passei realmente considerada um louco irremediável? Não quero ser internada, eu faria terapia se fosse necessário, mas não quero ficar confinada em um quarto. A simples idéia me deixa perplexa e chocada.

                - O comportamento dela essa manhã na escola foi um ato de loucura...

                - Por que acha isso? Só por que ela quis correr um pouco – eu sabia muito bem que com esse discurso a minha avó não ia conseguir persuadir ninguém. E, pior, iria parecer tão insana quanto eu.

                - Essa é sua palavra final? – perguntou com uma voz mais rude e nem um pouco sussurrada. Naquele momento reconheci quem era: Steven Black, o psicólogo da escola.

                - Claro que esta é minha palavra final. Não irei interná-la sob hipótese alguma.

                - Sinto muito, mas não posso ser complacente com essa atitude. Irei reportar o que aconteceu na escola ao conselho estudantil. – Disse enquanto levanta-se e ia em direção à porta.

                - Pois então que faça o que desejar Sr. Black. Essa é a minha opinião e não irei voltar atrás com ela.

                A porta bateu bruscamente, minhas pernas ficaram bambas. Escorreguei pela parede, sentei-me com a cabeça entre os joelhos. Se ele realmente comunicasse ao conselho estudantil seria o meu fim. Era claro o meu estado deplorável só que não pensei que iria tão longe e ganharia proporções catastróficas.            

                Pude ver minha avó se jogar no sofá colocar as mãos na cabeça e começar a chorar. Eu tinha que dar um jeito de resolver esse problema, do contrario, nós duas sofreríamos muito. Aquela situação era danosa para ambas.

                A fome foi embora. Subi as escadas pausadamente o peso do que eu tinha acabado de escutar caindo sobre meus ombros. Aquela, com toda certeza, seria uma noite bem longa. Eu iria revirar-me de um lado ao outro da cama. Minha mente iria intercalar entre meus pesadelos e sonhos, entre o passado e o presente durante uma noite de insônia.

                Sai do carro tentando não pensar no meu surto de ontem, mas sabia que isso não seria possível. Com certeza boa parte da escola já estava ciente do meu “pequeno” probleminha de ontem e, aqueles que não presenciaram ao vivo já haviam escutado uma historia totalmente equivocada sobre o evento. Mas algo naquele dia estava estranho, eu não parecia ser o centro das atenções naquele momento. Uma roda de pessoas reunidas em um ponto distante do jardim, próximo as mesas de madeiras cochichavam e apontavam para outra pessoa. Por um instante, então, fiquei aliviada, todavia, fiquei realmente com pena desse novo ser que seria a atração principal em todas as conversas da escola.

                Sorri grata ao novo estranho. Esse dia, pelo menos, não seria um completo desastre e, quem sabe, eu poderia conseguir tira a péssima impressão que deixei no conselho estudantil. Mas isso seria um problema a ser analisado depois.

                Andei pelos corredores, ainda vazios e silenciosos, devagar sem me preocupar com os olhares dos fofoqueiros de plantão. Fui até a sala 15 sentei-me no fundão e esperei, com a cabeça baixa, o sinal tocar. A multidão passava a passos rápidos pelo corredor e a sala encheu-se rapidamente. O silencio que, há apenas alguns minutos, era celeste, foi substituído por uma gritaria descompassada, com conversas entrecortadas e assuntos mal resolvidos.  Bolas de futebol viajando pelas mesas dos garotos. As meninas mimadas se juntaram em círculos nas primeiras carteiras. Algumas se maquiavam, outras se exibiam como um manequim na vitrine.

                A cadeira ao meu lado, como de costume estava sempre vazia e, sinceramente, eu preferia desse jeito. Afinal, ninguém queria sentar-se ao lado de uma louca, não é mesmo?

                O professor Wesley entrou nada sala, um ser magricela, alto, cabelo engordurado e um óculos com armação retorcido na lateral. Trigonometria por três tempos seria algo insuportável, mas eu tinha que parecer que não estava com um tédio mortal, passar uma boa impressão.

                A ficha foi caindo aos poucos. Meus momentos de relapsos constantes tinham me causado uma atrofia nos estudos. Eu tinha que correr atrás de conteúdos que não me lembrava de ter assistido às aulas, mas já tinham sido dados.

                Tentei manter-me concentrada, todavia, minha mente vagava entre a imagem da tatuagem e a cabana no meio do nada. Era estranho, pois ambas me amedrontaram de uma forma singular. Eu não entendia bem o motivo de tanto pavor associado àquele lugar.

                O sinal tocou. Intervalo, amém. Esperei todos saírem da sala para me levantar, não estava nem um pouco a fim de me sentir feito sardinha em lata na tentativa desesperada de chegar o mais rápido possível no refeitório. De qualquer forma  a cantina não sairia correndo.

                Siga o meu caminho apreciando o relativo silencio nos corredores. Peguei a bandeja, servi-me de uma sala de fruta e um suco natural, que não faço a mínima de qual fruta seja. Olhei para mesa mais afastada e, para o meu incrível azar ela já estava ocupada: Alec. Ele estava sentando olhando a minha nítida frustração com um cara sapeca. Olhei em volta tentando achar outras opções, mas nitidamente eu não as possuía. Ele fez sinal para que eu sente ao seu lado, fazendo com que a minha frustração evoluísse para uma raiva considerável. Sorri tentando não dar a ele um motivo para rir mais da minha cara.

                Fui em direção à mesa, já que eu não tinha outra opção, mesmo. Fazer o que, a vida nunca é justa comigo, mesmo.

                - Oi – disse ele com um sorriso de vitoria estampado em seu rosto. – Que bom que você aceitou meu convite. – Como se você tivesse me dado alguma outra saída, pensei. – Senta aqui – disse apontando a cadeira ao seu lado.

                - Oi – respondi, com bem menos entusiasmo do que ele demonstrou fato que, aparentemente, não o perturbou.  – Qual o motivo disso tudo? – A curiosidade estava me matando, eu não entendia o porquê dessa aproximação dele comigo.

                - Gostei, curta e grossa. – disse sorrindo, enquanto puxava a cadeira para eu sentar. – Não acha melhor sentar, assim eu não fico parecendo um maluco puxando conversa com uma garota que, nitidamente, não quer falar comigo. E você, por outro, não vai ser obrigada a comer essa salada de fruta em pé.  

                Sentei de contragosto na cadeira, evidentemente, sabendo que iria começar a responder o questionário dele. Por que eu havia corrido dele naquele ontem? Por que eu tinha surtado? Respirei fundo e esperei o interrogatório, mas ele não veio, muito menos respondeu minha pergunta.

                - Então? – perguntei, já ficando agoniada com a demora dele em falar alguma coisa.

                - Entao, nada. Você parece que não está muito a fim de falar, eu não quero te pertubar.

                - Entao, por que se sentou aqui?

                - Digamos que, eu e meus amigos não estamos concordando com algumas coisas ultimamente.

                - Tipo, o que?

                - Nada de especial – disse tentando, de um modo bem visível, sair da minha pergunta. Por cortesia, achei melhor não insistir no assunto.

                - Você sabe o motivo de todo o aglomerado, hoje pela manhã, no estacionamento? - perguntei depois de um período de longo silencio entre nós dois que, já que o clima estava bem estranho.

                - O inter-cambista. - disse com um contragosto visível – todas as garotas estão alvoroçadas por ele. Phill Sparks. Por que  a pergunta? Também esta interessada nele?

                - Ei, vai com calma, Alec. – eu disse assustada com o mau humor súbito dele. – Eu só perguntei por que achei estranho o aglomerado lá no estacionamento. Eu nem conheço o garoto, por que esta me tratando assim? – perguntei o encarando bem.

                - Desculpa, eu juro que não queria falar isso. É só que... – ele parou de falar abruptamente e voltou a olhar o seu sanduíche.

                - É só que...? – perguntei intrigada.

                - Nada, é besteira. – disse de modo tangencial.

                - Alguma coisa nele te incomoda? – perguntei, percebendo que era exatamente isso quando ele encarou-me surpreso com a minha pergunta.

                - É tão visível assim? – ele me olhou e eu balancei a cabeça em resposta. – Assim que coloquei o olhos naquele garoto eu senti algo ruim, não sei explicar... E você deve estar me achando um maluco.

                - Ei, olha com quem você esta falando. – disse sorrindo fazendo um sinal para que ele me olhasse. –  90% das pessoas acham que sou maluca ou bruxa, as outras 10% tem certeza disso! – Ele riu, ótimo, minha frase surtiu o efeito esperado.

                Aquele sorriso era tão familiar, por que eu não conseguia me lembrar da onde?

                - O que? – perguntou intrigado por eu ter o encarado.

                - Nada... – comecei tentando esquivar da resposta, mas por fim achei justo dar-lhe uma resposta – É só que você me parece tão familiar... – disse vagamente.

                - Isso é bom ou ruim? – perguntou encarando-me.

                - Bom, eu acho.

                A essa altura o refeitório inteiro já nos encarava de uma maneira bem constrangedora. E foi exatamente eu vi o garoto novato, sentado a três mesas de distancia me encarando de maneira intensa sem ao menos recuar quando os nossos olhares se encontraram. Ele era lindo, com um intenso poder de atração sobre mim, mas ao mesmo tempo, algo nele era diabólico. Um olhar sombrio que não era desconhecido e um sorriso maquiavélico.

                - Alec, quer ir para outro lugar? – perguntei levantando-me da mesa rapidamente sem olhar na direção do novato.

                - Claro, por que? – Entao ele não tinha percebido? A troca de olhares entre eu e o Sparks? Impossivel aquele momento parecia ter durado um século, como ele não tinha percebido. Não consegui me controlar e, quando já estava na porta do refeitório olhei furtivamente para o cambista ele ergueu o braço e acenou sorrindo.

                Um arrepio subiu pela minha coluna, senti algo pesado caindo sobre meu corpo e, então, minha mente desligou-se completamente do mundo.


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Notas finais do capítulo

Oi queridos,
Bem, é mais do que justo uma explicação por essa demora.
Primeiramente, eu estou fazendo pré-vestibular e faço simulados aos sábados e domingos, portanto, não tenho muito tempo para dedicar à fic.
E por ultimo, eu tenho passado por um período conturbado e, emfim, esses são meus motivos e sinto muito mesmo por essa demora.
Por favor gente, comentem para que eu possa saber onde estou falhando e preciso melhorar.
Obrigada, desde já.
Até o próximo capitulo.



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