Epitáfio escrita por lawlie


Capítulo 1
Epitáfio


Notas iniciais do capítulo

Musica Tema: Epitáfio, Titãs.



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Hatake Kakashi. Brilhante. Inteligente. Único. Amigo. Incrível. Maravilhoso. Leal. Corajoso. Invejado. Responsável. Confiável. HUMANO.

São tantos adjetivos que você se esquece que pessoas assim não vivem pra sempre. Não são imortais. 

Uma hora ou outra elas irão partir.

Talvez da forma mais heróica possível. Ou talvez da forma mais repentina. 

Repentina significa uma forma inútil de se partir para nunca mais voltar.

Hatake. Kakashi.

A morte é inevitável. Um herói nunca permanece para sempre. Apenas suas lendas perduram durante séculos e séculos.

Uma fatalidade.

Não triste. Mas real.

Não adianta se enganar e pensar que amanhã o dito herói estará ali, olhando discretamente para um despreocupado horizonte.

Os céus não o esqueceram ali.

Não foi um acaso. Nem um traço retilíneo do destino. 

Isso se chama vida, sendo ligeiramente levada pela fria morte.

Displicentemente ela vem andando entre nós. Olha fixando os nossos olhos em busca de nossa alma. Procurando por aqueles que tiveram seu tempo esgotado.

Algum perdão? Misericórdia ao universo? Lamento passado? Dor humana?

Não. Tudo isso será deixado para trás. 

Talvez essas últimas palavras fiquem escritas na sua lápide. Um epitáfio de algumas linhas talhado em pedra fria, perdurando ao clima e às horas.

Tempestades, dias ensolarados, nevascas, secas virão. 

Mas ainda assim, aquelas singelas letras formarão palavras, depois frases finalizas com um ponto indicando que o eterno pode sim estar a nosso alcance, em nossa memória, em nosso coração.

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E lá vem ela novamente. Anda discretamente entre as pilhas dos cadáveres envoltos em um veludo de sangue. A Morte caminha naquela relva, entre os sinais de batalha, de medo e coragem.

Um vento frio percorre seus passos. Ela pára quieta a observar um corvo em cima de uma árvore.

- Malditos bichos. – diz ela sussurrando entre meio os lábios arroxeados. Seus olhos negros e infinitos encontram aqueles de um homem em seus últimos momentos.

O homem tem cabelos prateados, disformes. Suas pálpebras estão quase se fechando e escondendo os olhos de cores diferentes. A Morte caminha mais uma vez em direção à agonia do homem.

- Seu nome? – pergunta ela com aquela voz horrenda. De alguma forma o humano conseguia escutar suas palavras.

- Hatake Kakashi. – diz ele com dificuldade.

- Você sabe que é chegada a sua hora, não sabe? – pergunta ela. Ele apenas meche um pouco com sua cabeça. 

Num instante, vozes se aproximam dele. Quem são? Fantasmas ou anjos?

- Apenas mais humanos. – informa a Morte como se ela soubesse exatamente o que todos desejam saber.

Amigos aproximam-se. Em vão. Ele não pode ser mais salvo.

-----------------------X---------------------------

Ainda em sua solidão e seus devaneios de morte, ele se lembra. Sua memória aflora-se e Kakashi consegue se recordar do que fizera. Porém, recorda mais ainda do que não fizera.

Kakashi começa a citar os seguintes versos:

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...


[...]

- Você lamenta muito não? – perguntava a Morte.

- Lamentos não irão me fazer voltar a vida. Não é mesmo? – diz Kakashi.

- Você é esperto.

Os dois estavam em outro plano. Uma sala vazia e escura. Kakashi não sabia se aquilo era mesmo estar morto. Viu uma cadeira sendo iluminada. Ele se levantou e sentou-se. Outra cadeira apareceu. E mais uma mesa. A Morte o acompanhou. Sentando-se.

- Eu realmente devia ter amado mais. – diz ele. Um diálogo se inicia entre os dois. – depois daquele dia, não sei o que aconteceu, fui um tolo.

- Lamentando-se pela morte de uma menininha? – indaga a Morte sarcasticamente. – Já era a hora de você saber que ninguém pode me deter quando estou prestes a levar alguém. Era chegada a hora dela.

- Rin... Eu sinto muito. Não pude salvá-la. Devia isso à você, sensei. E ainda estou em débito.

- A garota já partiu há tempos...

- Algumas vezes eu queria poder salvar a todos. 

- Você é um herói. Não um deus. – diz a Morte.

Kakashi retoma aquelas linhas de sua poesia:

Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe alegria
E a dor que traz no coração...


[...]

- Somente agora eu posso ver. – diz Kakashi mansamente. A Morte ouve. – Não soube aproveitar a vida. Sequer aprendi a amar. Essa é a minha dor.

- Vamos logo. Esse é o momento de você expressar todos os seus lamentos. Você viveu não foi? Agora é hora de você contar o que lamenta. – fala a Morte de maneira envenenada.

- Obito... Rin... Minato... Meu pai. Toda minha família se foi. E de alguma forma me sinto triste por ter sido tão arrogante. Por ter sido tão frio. É verdade. Tive rivalidades. Eu era apenas uma criança. Você não deve saber o que é para uma criança suportar a morte dos seus dois melhores amigos.

- Não eu não sei. – fala a Morte mais uma vez. – Eu apenas busco as almas na hora em que elas devem partir. Não sinto pena ou dó. Não sinto absolutamente nada.

- Eu era apenas uma criança. – diz Kakashi, a imagem dele pequeno percorre sua mente. – Perdi meu pai. Perdi meus amigos. Antes eu tivesse ido junto com eles. Eu fiquei sozinho nesse mundo.

- Ora, ora. – zomba a Morte. – O herói começa a demonstrar suas fraquezas. 

- Isso não é fraqueza. Isso são sentimentos. Eu fui tão estúpido. Realmente não consegui proteger ou salvar ninguém. Fui uma farsa.

Eles permanecem calados durante alguns minutos. Um ar frio vai se aproximando de Kakashi. Ele estremece. E novamente relembra sua história, dizendo:

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...


[...]

- Eu perdi tantas coisas nessa vida. Entregue à minha culpa eu fiquei preso a um passado sombrio que me fazia apodrecer de dentro pra fora. Eu queria protegê-los. Sasuke, Naruto, Sakura. Eu os via como meus amigos do passado. Talvez eu estivesse em débito.

Ele ficou quieto. Sua respiração estava ofegante e cansada. Mas mesmo assim, Kakashi não hesitou em continuar sua narração.

- Já adulto eu também falhei. Não pude cumprir minha promessa. Sou um fraco ninguém. Deixei o Sasuke ir embora. O Naruto e a Sakura sofrerem. Hoje não significa mais nada. Absolutamente nada. 

- Seu tempo está se esgotando. – informa a Morte.

- Gastei meu tempo vivendo para as outras pessoas. Esqueci de viver por mim. Eu seu que isso não significa nada. Eu devia ter visto o sol, aproveitado a chuva e acima de tudo amado alguém. Hoje me sinto pequeno por não ter realizado tudo isso. Sinto inveja por não ter tido os sentimentos que as pessoas têm. Remorso. Foi a única coisa que me sustentava:

Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...


[...] 

Ele pronuncia essas palavras e permanece em silêncio.

- Não preciso dizer mais nada. Quero parar de lamentar, pelo menos um pouco. Não tenho idéia do que virá a partir de agora. Mas tenho plena convicção do que perdi pelo caminho.

- Está pronto para partir? – pergunta a Morte.

- Creio que não haverá mais volta, não é?

Eles se levantam e vão caminhando por um túnel escuro e molhado. Bem a frente uma luz ilumina o caminho.

- Aposto que eles estão lá, à sua espera. – fala a Morte. – Eu paro por aqui. Não posso prosseguir. Passe pelo véu de luz e você verá o que te espera.

- Adeus. – diz Kakashi. 

Mas antes ele termina sua história pronunciando os últimos versos de seu epitáfio, de sua inscrição tumular:

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...


[...]

Então, ele desaparece em meio ao véu branco, que separa o mundo dos vivos dos mortos.

Se fora. Para sempre.

Uma lágrima cai no chão e te deixa sem voz. Um nó na garganta. 

Hatake Kakashi não está mais entre nós.

------------------------X---------------------------------

A Morte volta novamente para aquele campo de batalha do início da nossa epopéia.

O corpo do Hatake está estirado no chão.

Um vulto vem correndo em sua direção, aos prantos. Outro aparece.

- Kakashi... sensei. – diz o loiro não acreditando e não contendo as lágrimas.

- Não pode ser. – falava em meio a soluços a garota de cabelos rosáceos. 

- Me diga que ele está vivo, Sakura-chan! Que ele está bem!! – o garoto entra em desespero.

- Ele... Ele... morreu. – murmura a garota que começa a chorar sobre o corpo de seu sensei. 

- Não é justo!!! – grita o loiro para os céus.

A Morte caminha lentamente por entre a relva e diz para si mesma:

- Não, garoto. A Morte é justa. Muito justa. – e desaparece de vista.

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“Parece que esse é o mais longe ao qual poderei ser seus olhos. Eu não fui capaz de proteger a Rin... Eu quebrei minha promessa com você... Me perdoe... Obito... Rin... Sensei... Eu estarei aí, em breve.” Hatake Kakashi, morreu bravamente em combate.

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...


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Notas finais do capítulo

-------------------------------FIM--------------------------



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