Como Irritar Um Capitão Pirata escrita por Mrs Jones


Capítulo 17
Capítulo 13 - Brigue com ele/Salve-o


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas, aqui estou rsrs
Primeiramente quero agradecer a Princess_Nina pela recomendação, obrigada flor. Me pediram capítulos maiores, e resolvi fazer um esforço rsrs Aproveitem porque esse é o maior capítulo que eu já fiz.
Já adianto que a Ruby está cada vez mais perto de descobrir a verdade sobre o sequestro, então nos próximos capítulos, ainda não sei exatamente quando vai ser, ela vai descobrir tudo.
Espero que gostem desse capítulo, me esforcei para que ficasse bom. Amanhã já começo o próximo e posto essa semana. Digam nos comentários se querem capítulos mais ou menos do tamanho desse, com mais de 5.000 palavras, se querem menor, ou maior ainda rsrs
Aproveitem a leitura. Beijos



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Capítulo 13 - Brigue com ele/Salve-o

- Alguém sabe o que aconteceu ao Capitão? – Smee perguntou quando os marujos se reuniram para jantar – Ele está mais irritado do que nunca.

Ruby e Will se entreolharam. Gancho estava mesmo com ciúmes? Inacreditável. Desde quando ele deixava seus sentimentos transparecerem assim?

- Ele só está preocupado – o Cozinheiro apareceu trazendo uma travessa que continha alguma coisa verde e viscosa – Não se esqueçam que Peter Pan é um garoto infernal.

- Será que alguém pode me dizer o que estamos indo fazer na Terra do Nunca? – Will perguntou meio irritado por ninguém contar a ele quais eram os planos do Capitão.

- Não é óbvio? – Jack serviu-se de uma grande porção da coisa verde. Estava sentado entre Beto e Smee e parecia ter perdido a amizade que tinha com o irmão – Ele quer ajuda pra encontrar nosso pai.

- Quê? Ajuda de quem?

- Killian acha que as fadas podem ajudá-lo a encontrar nosso pai – Jack balançou a cabeça demonstrando o quanto achava que aquilo era bobagem – Eu até acreditaria que vai dar certo, se não soubesse que papai está morto.

- Ei, não diga isso está bem? – John mancou até a mesa e sentou-se de modo brusco – Não sabemos o que aconteceu a ele quando desapareceu.

Jack fez uma careta e Ruby resolveu quebrar o clima ruim que pairava sobre eles.

- Hum, que coisa é essa? – ela perguntou apontando pra comida verde que fumegava.

- São as algas que vocês colheram – disse o Cozinheiro com uma expressão divertida – Pode comer, está gostoso.

Ela riu e se serviu de uma pequena porção. Will a encarava e ela não sabia o que fazer. Não queria magoar o Capitão, mas também não queria ignorar Will. Killian não apareceu para jantar e não largou o leme por um minuto até que tivessem vencido uma boa parte do caminho até a Terra do Nunca.

Mais tarde, quando a lua já estava alta no céu e uma brisa suave agitava as velas do navio, Ruby subiu ao convés e se deparou com um belo espetáculo. As águas do mar brilhavam num azul fosforescente e Ruby ficou encantada com aquilo. Ela se debruçou na borda do navio, de modo que pudesse olhar para baixo e entender o que era aquilo. A Princesa ficou na ponta dos pés tentando ver melhor e quase caiu quando escutou o grito do Capitão.

- MAS O QUE ESTÁ FAZENDO? – ela sentiu dois braços puxando-a para trás e se virou para olhar o Capitão. Ele estava bravo.

- O que foi? – ela gritou com ele.

- Quer cair lá embaixo? Não pode se debruçar assim...

- Eu não ia cair.

- Mas é claro que ia. Não faça isso de novo – ele falou parecendo aliviado por ela estar bem. Sem dúvida, Killian se preocupava com ela. Ela só não conseguia se decidir se isso era bom ou ruim.

- Sim senhor, Capitão – ela respondeu debochada e voltou a olhar a água, só que dessa vez sem se pendurar na borda. – O que é isso na água?

- São água-vivas – ele respondeu substituindo Smee no leme.

- Não sabia que elas brilhavam.

- Algumas espécies brilham. Mas não se engane pela beleza delas, podem matar você se chegar muito perto. – Ruby estremeceu e o Capitão ficou orgulhoso de si mesmo por sua inteligência.

- Então ainda estamos na parte agradável da viagem? Quando é que começa a parte de monstros tentando nos matar? – ela perguntou e Killian riu.

- Ainda falta muito. Mas não se preocupe, vou mantê-la a salvo, como sempre... a não ser que prefira Will para protegê-la... – as últimas palavras do Capitão vieram carregadas de ciúmes. Ruby olhou pra ele com uma das sobrancelhas erguida, como que não acreditando que ele estava mesmo com ciúmes dela.

- Eu não ia perguntar nada, mas você está me obrigando a isso... Está com ciúmes, Gancho? – ela tentou fazer isso da forma mais despreocupada que conseguiu. O Capitão, porém, amarrou a cara, como que frustrado por ela ter encontrado uma falha entre seus sentimentos.

- Eu não estou com ciúmes. Droga! – falou bem alto e alguns marujos que estavam por ali, incluindo Smee e Jack, olharam para Ruby e Killian. O Capitão abaixou a voz e tentou disfarçar a raiva – Só acho que você não devia confiar nele, quando eu estou aqui para cuidar de você.

- Ah, não me diga agora que se preocupa comigo – ela rebateu começando a ficar brava – Pensei que só quisesse o meu dinheiro e nada mais.

- Eu já lhe disse que... me afeiçoei a você. E sim, eu me preocupo. Eu me importo com você ao contrário dele...

- Não pareceu se importar quando me separou da minha família e me manteve prisioneira neste inferno de navio – agora Ruby gritava incapaz de se controlar. Gancho podia dizer o contrário, mas ela sabia que ele estava com ciúmes e não conseguia entender por quê. Ele não gostava dela tanto assim, ou gostava?

- Quer saber? Você pode ir embora se quiser, eu não preciso de você. – o Capitão esbravejou.

- Então me leve de volta agora!

- Vá nadando já que faz tanta questão de sair do meu navio!

O Capitão ria debochado e aquilo foi a gota d’água para Ruby. Eles começaram a gritar um com o outro, de modo que ninguém conseguia entender o que estavam falando. Alguns marujos estavam se divertindo, afinal, não era todo dia que uma princesa resolvia falar umas verdades a um certo pirata mandão.

- ...EGOÍSTA, INSENSÍVEL E COMPLETAMENTE LOUCO...

- ... VOCÊ É UMA MIMADA E NÃO SABE NADA DA VIDA. EU DEVIA ESTAR LOUCO...

- Ei, vocês querem parar? – Smee tentava controlar a situação, mas os gritos dos dois encobriam sua voz. – Vamos, façam alguma coisa... – ele disse aos outros marujos, mas nenhum deles fez nada.

- Deixe eles se resolverem – John riu, encostado ao mastro principal e assistindo a cena como quem assiste a uma peça teatral.

- Isso está melhor do que briga de bêbados – Beto comentou mordendo uma grande coxa de galinha e os marujos riram.

Will subiu ao convés com cara de sono.

- Que está acontecendo?

- O Capitão e a Princesa estão no meio de uma briga – Beto informou ainda mordiscando seu pedaço de galinha.

- E vocês não vão fazer nada?

- É claro que não. Acha mesmo que vamos perder esse espetáculo? – Beto atirou o osso da galinha no mar e começou a lamber os dedos sem tirar os olhos de Ruby e Killian. Will balançou a cabeça indignado e fez menção de ir até onde os dois brigavam, mas John o impediu, dizendo que não deviam interrompê-los agora.

Os dois ainda gritavam e Ruby estava vermelha. O Capitão disse alguma de suas gracinhas e ela começou a bater nele com toda a força que conseguiu reunir.

- IMBECIL! CAFAJESTE! ABUSADO! APROVEITADOR!

- PARA! PARA COM ISSO...

Os marujos riam até não poder mais e agora até Will não conseguia conter o riso. Por fim a Princesa se cansou, bateu o pé e saiu andando pelo convés com Killian gritando por ela.

- EI, EU NÃO ACABEI AINDA. VOLTE AQUI! RUBY! RUBY! ESTOU FALANDO COM VOCÊ!

Ela foi em direção à cabine do Capitão e entrou batendo a porta. O Capitão largou o leme e Smee correu para assumir a direção, antes que eles batessem em alguma coisa. Killian marchou até a cabine e Willian se colocou em sua frente, impedindo-o de entrar.

- Deixa ela em paz! – disse e cruzou os braços.

- Saia da minha frente se não quiser acabar machucado – o Capitão ameaçou colocando seu gancho bem debaixo do nariz do irmão.

- E o que você vai fazer? Esse gancho tosco não mata nem uma mosca – Will disse em tom de chacota, mas não devia ter feito isso. Killian usou a outra mão pra lhe dar um soco no nariz, e o pobre ferreiro, pego de surpresa, não pode fazer nada a não ser gemer de dor e lacrimejar. O Capitão passou por ele tranquilamente e entrou em sua cabine trancando a porta atrás de si.

Ruby estava parada no meio da cabine, aparentemente tentando se acalmar, no entanto, ao ver o Capitão ela ficou mais nervosa ainda.

- O que você quer agora? Me deixe em paz!

- Você foi uma menina muito mal educada. Sua mãe não lhe ensinou que não se deve tratar os outros assim?

- Veja quem está falando em educação – ela botou as mãos na cintura – O rei dos vagabundos...

- Como é que é? Mais respeito comigo, garota – ele a segurou pelo braço.

- Não toque em mim! – ela esbravejou tentando se livrar do aperto dele, mas o Capitão era forte e mesmo com uma mão só conseguiu segurá-la. – Para! Por que está fazendo isso?

- De hoje em diante você vai me respeitar. Eu sou seu Capitão! – ele a balançava e lágrimas começaram a se formar nos olhos de Ruby.

- Para...

O Capitão a empurrou para sua cama e se afastou bravo consigo mesmo.

- Droga, Ruby, o que está pensando?

- Eu é que pergunto... por que está fazendo isso? Que foi que eu te fiz?

Killian ficou de costas pra ela, respirando ofegante e coçando a cabeça como fazia quando estava nervoso.

- Me diz! Por que tudo isso? Eu não tenho culpa se o seu irmão se aproximou de mim...

Gancho bufou.

- Eu sei... quero que fique longe dele.

- Certo. Agora diz que não está com ciúmes – ela provocou e Killian se virou para olhá-la. Ambos estavam bravos demais para perceber o que estava acontecendo. Talvez a descoberta do amor fosse algo novo para eles...

- Eu não estou com ciúmes!

Ela se levantou:

- Então me dê um bom motivo para ficar longe dele.

Como era de se esperar, não havia nada que Gancho pudesse dizer. Eles se encararam. Ruby estava zangada e decepcionada. Por que ele não podia simplesmente admitir o que estava sentindo e pronto?

- Por que não deixa de ser cabeça-dura e me diz o que está acontecendo? – ela disse com a voz embargada e as lágrimas escorrendo pelo rosto – Eu pensei que essas brigas tinham acabado, sabe... pensei que agora pudéssemos ser amigos... mas você continua o mesmo, não é? Depois de tudo o que me contou, pensei que alguma coisa tivesse mudado... mas você não confia em mim...

- Droga...

- Eu já estou cansada... não consigo lidar com esse seu comportamento. Eu queria entender você, mas você só piora as coisas... por quê? E por que eu?

- Eu já disse que não posso falar sobre isso agora.

- Então quando? Você não pode me manter aqui pra sempre...

Ela chorava como uma criança. Por um momento ela esqueceu que devia ser forte e se refugiou a um canto escuro da cabine: sentou no chão, encostada à parede e escondeu o rosto entre os braços, soluçando e tremendo.

O Capitão respirou fundo, paralisado diante da situação. Talvez fosse hora de abandonar o orgulho. O que ele precisava fazer era tirar a máscara de durão que usava e admitir...

- Droga! O que eu posso fazer? Você me irrita... como você me irrita... eu... – ele se aproximou da moça e começou a confortá-la – Você parece criança... – disse abraçando-a. Ruby estava em tal estado de fragilidade que nem se importou de estar sendo tratada assim. – Não chore... me desculpa... eu sou um idiota!

- Me deixa em paz.

- Não fique assim – ele ignorou as tentativas que ela fazia de se livrar dele – eu sei o que está sentindo... não posso contar tudo a você, não agora. Eu não quero que me odeie.

- Eu não odeio, mas vou passar a odiar se não cumprir sua promessa. Eu quero ir pra casa!

- Eu sei, eu sei... mas preciso de você aqui... eu disse coisas que você não precisava ouvir, mas eu estava com raiva... a culpa é sua se eu fico assim...

- Minha culpa? Seu idiota, como pode dizer isso? Eu não fiz nada a você.

- É claro que fez! Se não ficasse me irritando e provocando eu iria odiar você... não sei... ah droga... o que está fazendo comigo? Eu mesmo não sei o que está acontecendo... eu estou... confuso... e agora Willian... droga... eu gosto demais de você... está bem, eu confesso... eu estou com ciúmes!

Ela o olhou surpresa. Ainda chorava, mas o impacto que aquela afirmação teve mudou o rumo das coisas.

- Por que você me deixa assim? Eu não esperava que fosse sentir isso, mas então Willian aparece e vocês se tornam amiguinhos...

- Capitão...

- Calada! Eu não acabei... Você sempre me lembra que eu posso ser um homem melhor. Eu não quero que fique pensando que sou um tirano...

- Capitão! – ela estava com um olhar aterrorizado, mas Killian subitamente não conseguia parar de falar.

-... porque eu não sou um tirano e você já devia saber disso... o que foi? – ele parou para prestar atenção à expressão de horror estampada no rosto da princesa. Ela olhava para algo atrás de Killian.

- Olha! – ela apontou pra algo com a mão trêmula. Antes, porém, que Killian pudesse ver alguma coisa, o navio inteiro chacoalhou e as janelas da cabine explodiram em cacos...

***

- KRAKEN! – alguém gritou.

- Não pode ser! – Killian exclamou atordoado – Não pode ser!

Um enorme tentáculo podia ser visto pela janela. Ruby se encolheu apavorada e o Capitão avaliava a situação, pensando no que fazer.

- CAPITÃO! CAPITÃO! – alguém berrava e esmurrava a porta. Killian correu a abrir a porta, tomando o cuidado de não ficar muito perto da janela. Smee apareceu esbaforido e quase caiu quando o navio estremeceu de novo. – É o Kraken!

- Fique aqui! – o Capitão ordenou a Ruby e saiu correndo para o convés. Smee lançou um olhar aterrorizado a Ruby e foi logo atrás do Capitão.

Lá em cima a situação não era das melhores: o monstro erguia seus enormes tentáculos tentando esmagar o navio.

- PREPAREM OS CANHÕES! – Killian berrou por cima dos gritos dos marujos, o que não foi de todo necessário, já que Jack e os demais já tinham preparado os canhões e agora atiravam contra a fera.

O barulho era ensurdecedor, vinte canhões atiravam ao mesmo tempo. Água espirrava por todo lado e a fera se contorcia tentando escapar das balas de canhão.

- ATIREM!

O navio chacoalhou mais uma vez, fazendo muito marujos perderem o equilíbrio. A maioria dos homens estava no andar de baixo, abastecendo os canhões e atirando contra o bicho. Willian e Smee lutavam para manter o navio na direção certa, seguravam o leme com toda a força que tinham.

Mais uma trovoada de balas e o Kraken afundou, levantando uma grande onda que empurrou o navio para o lado. Por um momento tudo ficou tranqüilo. Os homens cessaram os canhões e o navio voltou a ficar estável, agora balançando calmamente.

No andar de baixo, Ruby ainda estava encolhida contra a parede, amedrontada demais para fazer alguma coisa. Quando a coisa aquietou, ela tomou coragem e foi olhar pela janela. Os cacos de vidro se espalhavam pelo chão, mas ainda havia uns poucos pedaços presos na madeira da janela. Ela não viu sinal do monstro. A água escorria do convés para a cabine, e ela se arriscou a subir até lá.

- Já foi embora! – ela ouviu a voz do Capitão e ficou aliviada ao saber que ele estava bem.

- Capitão? – ela chamou e ele se virou para olhá-la.

- Está tudo bem.

- Aquilo era...

- ... um Kraken.

- Pensei que tivesse dito que ainda faltava muito para a parte perigosa.

- Talvez eu tenha mentido um pouquinho – ele se desculpou fazendo cara de menino travesso e coçando a cabeça. Ela riu e por um momento eles se olharam como se a briga de minutos atrás não tivesse acontecido.

- Essa foi por pouco – Beto apareceu no convés e começou a avaliar os estragos do navio: uma vela rasgada, algumas partes da madeira lascada na lateral do barco, mas nada de muito grave.

- Você está bem? – Will apareceu atrás de Killian, preocupado demais com a princesa. Ela assentiu e sorriu ao ver a cara de desprezo que o Capitão fez para Willian. – Da próxima vez tente não nos matar – Will cuspiu para o irmão e eles se encararam ameaçadoramente até o ferreiro se afastar.

- Encantador... – Ruby comentou fazendo o Capitão rir.

- Ele consegue ser bastante gentil quando quer.

- Certo. Já passamos o Kraken, o que vem depois?

O Capitão ia dizer que depois disso iam passar pelas sereias, mas não teve tempo, pois um solavanco fez o navio tombar para o lado. Todo mundo caiu e Ruby foi parar em cima do Capitão.

- Eu teria gostado disso se não estivéssemos num momento ruim – ele falou safado enquanto alguma coisa muito grande se erguia espalhando muita água.

- Você não disse que a coisa morreu? – ela perguntou desesperada. O Kraken não parecia estar ferido, talvez os tiros de canhão tivessem apenas o afastado, mas agora a criatura estava de volta para terminar o que começara.

Os marujos corriam para o andar de baixo, numa tentativa de reabastecer os canhões e dessa vez matar o monstro. Ruby e o Capitão, não saíram do lugar. Killian parecia pensar no que fazer, com a moça deitada por cima dele.

- Capitão! O que faremos? – alguém gritou quando o Kraken desceu seus tentáculos por cima do navio, arrancando metade das velas. O monstro rugia, espalhava água e causava destruição por onde passava, porém, o Capitão não se mexia.

- Capitão! Acorda! – Ruby dava tapinhas no rosto dele, chamando sua atenção. Killian parecia estar num estado de transe em que não sabia o que fazer ou sequer percebia o que estava acontecendo com seu navio.

Os tiros de canhão recomeçaram e a princesa precisou tapar os ouvidos para protegê-los do barulho ensurdecedor.

- Aconteça o que acontecer, não me solte – Gancho falou abraçando-a e Ruby ficou sem entender.

- O quê? O que está fazendo?

- Confie em mim – ele apenas disse e uma chuva de água do mar caiu por cima deles, fazendo ambos engasgarem. Os enormes e gosmentos tentáculos do Kraken envolveram o navio e a madeira estralava como se estivesse a ponto de partir.

Ruby e o Capitão escorregaram para o outro lado do navio, ainda abraçados, e nenhum dos dois conseguia ver nada além do céu escuro e salpicado de estrelas e os tentáculos bem acima deles. Ouviam-se gritos e homens pulavam no mar tentando escapar da fúria do Kraken. A moça não entendia o que Gancho pretendia fazer, já que o monstro tentava esmagar o navio e o Capitão não fazia nada para impedi-lo.

- Capitão, nós vamos morrer! – ela guinchou. Um dos mastros se partiu ao meio e caiu com brusquidão no meio do navio, quase acertando os dois. – Nós vamos morrer!

Mais tiros de canhão e dessa vez os marujos vibraram quando conseguiram acertar o bicho. Um de seus tentáculos caiu inerte e coberto de sangue bem em cima de Ruby e ela teria vomitado se não estivesse mais preocupada com a morte do que com outra coisa.

- A gente tem que sair daqui – ela falou enojada e o Capitão, ao invés de fazer qualquer coisa para salvar a vida de ambos, apenas a abraçou mais forte – Capitão! Está me ouvindo? A gente tem que sair daqui...

- Confie em mim, sei bem o que estou fazendo – ele respondeu. Um segundo depois eles sentiram um movimento diferente no navio, parecia que agora o Kraken queria fazer mais do que destruir a embarcação. Ruby ficou assustada ao entender que o navio estava sendo erguido.

- O que é isso? O que ele vai fazer?

- Ele quer afundar o navio sem precisar destroçá-lo... – Gancho disse calmamente, como se estivesse ensinando algo a Ruby.

- E por que não está fazendo nada para impedi-lo?

- Porque é justamente isso o que Pan quer...

Então Peter Pan estava por trás de tudo aquilo? Ela imaginou que o Kraken devia estar ali para destruir qualquer embarcação que tentasse seguir caminho até a Terra do Nunca e teve que admitir que Gancho estava certo ao dizer que Pan era um demônio em forma de gente.

- VOCÊ NÃO VAI TIRAR MEU NAVIO DE MIM! – o Capitão começou a berrar para o monstro – ESTÁ OUVINDO? EU ME RECUSO A ABANDONAR MEU NAVIO E MEUS HOMENS. VÁ EMBORA!

O Kraken só ficou mais agressivo ainda e Ruby gritou quando a criatura começou a virar o navio, tentando colocá-lo com a proa para cima, para assim fazer com que afundasse mais rápido.

- Olha o que você fez! Pare de gritar com ele, só vai deixar o bicho mais bravo...

- Acha mesmo que vou deixar ele destruir meu navio?

- Dane-se o navio, eu não quero morrer!

- Nós não vamos morrer. EI! PARE COM ISSO. JÁ DISSE QUE VOCÊ NÃO VAI TIRAR ESSE NAVIO DE MIM...

Em resposta aos gritos do Capitão, o Kraken desceu um de seus tentáculos até onde o pirata e Ruby estavam e agarrou os dois. A princesa berrava e esperneava e Gancho ria da situação.

- É O MELHOR QUE CONSEGUE FAZER? ORA, VAMOS LÁ SEU FRACOTE, ME MOSTRE QUE É MELHOR DO QUE ISSO.

O Kraken rugiu, consciente das palavras do Capitão.

- Para com isso! – Ruby ralhou com o Capitão e ele só ria. – Ele vai nos matar.

O monstro ergueu os dois o mais alto que pode e se esqueceu do navio por um momento. Ele largou o navio pirata que caiu de volta ao mar com um baque e espalhando água, mas não chegou a afundar. A única coisa que eles podiam ver à luz da lua eram os contornos do navio e da criatura que os encarava como que os desafiando a continuar as afrontas.

- Não atirem! – a voz de Smee veio lá de baixo – Ele está com o Capitão e a Princesa! – seguiu-se um burburinho de vozes depois da fala de Smee e o bicho ficou confuso sem saber se destruía o navio ou matava o pirata e a princesa.

- ESTE É O SEU MELHOR? EU ESPERAVA MAIS DE VOCÊ, CRIATURA DAS PROFUNDEZAS.

- Mas o que é que está fazendo? – Ruby estava brava, mas ainda se agarrava ao Capitão, do jeito que ele mandara ela fazer. – Vamos, use seu gancho pra fazer ele nos descer.

- Acha mesmo que ele vai se deixar abalar por isso? – Gancho balançou a cabeça – O melhor a fazer é confundi-lo – e ele recomeçou a gritar com o bicho – VAMOS, ME MOSTRE DO QUE É CAPAZ. NÃO ESPERE QUE EU VÁ ABANDONAR MEU NAVIO...

Os marujos, finalmente entendendo a intenção do Capitão, começaram também a gritar para o Kraken, e o monstro ficou mais confuso ainda. Mas é claro, ele não ia se render tão facilmente, como o Capitão pensou. Eles nem tiveram tempo de pensar quando o Kraken submergiu no mar levando os dois com ele. Ruby só teve tempo de prender a respiração...

Havia medo e desespero. E nada mais. O tentáculo do Kraken os apertou ainda mais e Ruby sentiu que não havia mais nenhuma esperança. Sem poder ver nada na escuridão pra qual estavam sendo levados, ela e o Capitão só podiam se abraçar como podiam e morrer juntos. Ruby não imaginava que fosse morrer assim, mas se era pra ser desse jeito, pelo menos ela não ia estar sozinha.

Mas então pensamentos bons vieram na cabeça dela. Aquele era Killian Jones e ele não desistia facilmente. Ele já escapara de coisa pior antes e por que não poderia ser assim agora? Gancho não prometera cuidar dela? Mantê-la a salvo? Por que não haveria mais esperança? Era tarde demais?

Ela só lembrou-se de ter escutado barulhos parecidos com tiros, que vinham de longe, lá da superfície. Depois sentiu que o Kraken os soltava e então desmaiou...

***

Ela acordou com o sol batendo em seu rosto. Seu corpo todo doía e ela estranhou estar deitada num lugar duro, pois não imaginou que pudesse sentir qualquer coisa depois que morresse. Alguma coisa molhava seus pés e ela também sentiu cheiro de peixe. Abriu os olhos devagar e viu que estava deitada numa praia de areia escura.

“Estranho” pensou. Não imaginava que morrer fosse assim. Que ironia! Ser morto por um Kraken e depois acordar numa praia bonita como aquela...

Ela se lembrou de tudo o que acontecera na noite passada. Então lembrou que o Kraken a soltara e depois ela desmaiara. Então ela não tinha morrido, e como era idiota por pensar que aquele lugar era o paraíso. Mas onde estavam todos e como ela tinha ido parar ali?

Ruby se levantou com dificuldade, feliz ao constatar que ainda estava bem viva e felizmente não se machucara. Olhou em volta e não viu nada além de muitos rochedos. Algumas gaivotas voavam ali e o mar estava bem agitado. Ela cambaleou e precisou se segurar numa pedra grande pra não cair. Procurou por alguém e se desesperou ao pensar que estava sozinha.

- Capitão? Sr. Smee? Will? John? Beto? – ela começou a chamar, mas ninguém aparecia. Foi então que viu umas pegadas por ali e teve a certeza de que eram do Capitão. Resolveu segui-las, pensando por que ele a deixara ali sozinha. Ruby deu a volta num rochedo e se deparou com uma caverna.

Sem dúvida ela estava numa ilha e a caverna bem poderia servir de esconderijo para piratas, ela percebeu. A caverna era alta o suficiente para que um navio coubesse ali e parecia não haver uma saída. Talvez o Capitão e os outros estivessem ali, escondendo-se dos perigos daqueles mares traiçoeiros. Mas se fosse assim, o que raios ela estaria fazendo sozinha na praia?

As pegadas terminavam ali. Então havia a caverna, e, do outro lado, a ilha continuava. Isso significava que Gancho, ou a pessoa que deixara as pegadas, entrara na caverna nadando, ou atravessara para o outro lado. Não havia ninguém por ali, então ela presumiu que se fosse até o outro lado, as chances de encontrar alguém eram grandes. No entanto, ela teria de nadar para chegar ao outro lado.

- Vamos Ruby, você consegue – disse para si mesma e colocou um pé na água, para testar a profundidade. Ali era raso, mas ela tinha medo de acabar se afogando quando chegasse na metade do caminho. Mas era isso ou ela ia ter que ficar sozinha até alguém aparecer. Ela se arriscou a entrar na água, verificando que não era tão fundo ali na boca da caverna. Ruby atravessou para o outro lado facilmente e viu que as pegadas realmente continuavam ali. A princesa continuou seguindo as pegadas e avistou Gancho.

- Capitão! Por que me deixou sozinha? – ela perguntou antes de notar que ele não estava sozinho... havia pelo menos meia dúzia de sereias por ali...

As sereias encararam Ruby quando ela se aproximou, mas Gancho não deu sinal de ter notado a presença da moça, tão fascinado e hipnotizado que estava pelas sereias. Estavam todos sentados em volta de uma fogueira e as sereias riam e cantavam para o Capitão. Ruby ficou paralisada no lugar e as sereias a ignoraram, preferindo voltar sua atenção ao pirata.

- Capitão? – ela chamou – Capitão? CAPITÃO! – as sereias a olharam feio, mas Killian sequer olhou pra ela. As sereias riram e uma delas começou a dar comida ao Capitão, que sorria feito bobo.

Agora era Ruby quem estava com ciúmes. Sabia que as sereias tinham esse efeito sobre os homens, mas mesmo assim, como o Capitão tivera coragem de abandoná-la sozinha na praia apenas para ficar com elas? Outras sereias apareceram no mar, chamando pelas que estavam na praia. Eram muito bonitas, a princesa tinha que concordar, mas eram bem maldosinhas ao levar os homens com elas para o fundo do mar. É claro que planejavam fazer o mesmo com o Capitão. As que estavam na praia começaram a rastejar para o mar – e Ruby não pode deixar de notar como era tosco quando faziam isso – e o Capitão se levantou, fazendo menção de segui-las. Ruby o segurou pelo braço e as sereias não gostaram disso. Elas começaram a cantar e Killian começou a caminhar em direção ao mar, ainda sorrindo feito bobo e com um olhar perdido.

- Não, Capitão! Acorda! Acorda! Sou eu, Ruby! – ela parou na frente dele, dando tapinhas no seu rosto, mas Gancho sequer olhava para ela, preferindo seguir as sereias. – Para! Acorda! Capitão! Ah droga, não acredito que vou fazer isso – e dizendo isso ela o puxou para um beijo. Killian não retribuiu o beijo no começo, visto que ainda estava enfeitiçado pelas sereias, mas depois, quando despertou e percebeu que era Ruby que estava o beijando, ele a abraçou e retribuiu o beijo.

- Já era hora – ele comentou sorrindo para ela, quando os dois se separaram.

- Só fiz isso porque você estava hipnotizado e elas iam te levar para o fundo do mar... – Ruby se justificou meio envergonhada. O Capitão deu uma olhada para as sereias, e elas olhavam para eles ameaçadoramente, irritadas por não terem conseguido levar o pirata. Logo elas saíram nadando e não foram vistas mais.

- Nesse caso, obrigado – ele agradeceu ainda sorrindo e Ruby o interpelou com várias perguntas.

- Que lugar é esse? Como viemos parar aqui? Por que me deixou sozinha? Onde estão os outros? E o que aconteceu com o Kraken?

- Ei, uma coisa de cada vez. – ele respirou fundo e então tirou o casaco de couro que usava, já que estava muito calor. – Ainda estamos na rota da Terra do Nunca. Essa é uma das ilhas das sereias, e não faço ideia de como viemos parar aqui. Eu desmaiei depois que salvei você...

- Você me salvou?

- Por que a surpresa? Eu disse que ia mantê-la a salvo – ele piscou para ela – Não sei bem o que aconteceu depois que o Kraken nos levou para baixo, mas tive a impressão de escutar os canhões, então acho que os marujos acabaram matando a coisa.

- É, eu também ouvi.

- Depois que a coisa nos soltou eu vi que você acabou desmaiando, então nos levei de volta à superfície e a última coisa da qual me lembro, foi ter subido num bote... e então acordei aqui... com você... me beijando... – ele sorriu malicioso e ela ficou envergonhada.

- Cale a boca. Não pense que vai acontecer de novo. E agora o que vamos fazer?

- Hum, considerando que meu navio ainda pode estar inteiro, logo vamos ser resgatados. Mas se não...

- Se não?

- Então vamos ter que ficar aqui.

- Nem diga isso!

- Ia ser divertido. Eu quero dizer, só nós dois e o mar...

Ela revirou os olhos e Killian riu.

- Não se preocupe. Estou só brincando. Eles devem estar bem. Eu disse a você que Peter Pan é um demônio, não disse? Ele colocou o Kraken lá pra impedir que aventureiros chegassem à Terra do Nunca. Só espero que esteja tudo bem com meu navio.

- Estamos perdidos numa ilha deserta e você está mais preocupado com seu navio? – ela cruzou os braços e o Capitão riu, mas não disse nada, ficou apenas a olhando. – O que foi?

- Sabia que você fica linda quando está com raiva?

Ela ignorou o comentário, mas não deixou de ficar vermelha.

- E agora, o que faremos? – ela perguntou e Gancho deu de ombros.

- Esperamos. Eu nunca explorei essa ilha, mas aposto que a gente consegue sobreviver por uns dias.

- Certo.

- Mas se quer saber, acho que a gente não devia ficar por aqui. Esse é o lugar das sereias e não quero que elas me levem, sabe. Se bem que... seria bom se você me beijasse de novo...

Gancho conseguia ser galanteador até quando estavam perdidos no meio do nada. Ruby esperava que fossem resgatados logo, ou não agüentaria ficar ali sozinha com o Capitão. Ela o ignorou mais uma vez e Killian acabou sugerindo que fossem dar uma volta pela ilha.

- Então, que tal me contar mais sobre a história do seqüestro? – ela pediu enquanto os dois caminhavam pela praia.

- Agora não. – ele respondeu sem olhar pra ela.

- Por que não?

- Porque... tem coisas que você não sabe e não sei se vai conseguir lidar com isso.

- Agora eu fiquei preocupada. – ela parou e ficou olhando para ele – Por que esse mistério todo?

- Eu não posso dizer a você ainda...

- Você não fez isso pelo dinheiro, fez?

Ele ficou a encarando antes de responder.

- Não. – disse.

- Então por quê?

- Ruby...

- Tá, não precisa responder – ela começou a andar na frente dele, visivelmente chateada. O que ele queria dizer a ela? O que estaria escondendo? Por que seria difícil ela lidar com isso? Talvez ele estivesse apaixonado e não quisesse ficar longe dela? Ou talvez... ela não sabia o que pensar. Ela parou de repente, depois de arquitetar ideias malucas, e disse – Eu já sei! Você fez um acordo com Peter Pan. Vai me levar até ele e em troca ele te ajuda a encontrar seu pai...

O Capitão gargalhou.

- Eu nunca faria isso. Acha que eu sou louco, é? Um acordo com Pan é o mesmo que comprar uma passagem só de ida para a Terra do Nunca. Pessoas que fazem acordos com ele nunca mais saem de lá...

- Hum, certo...

- E o que acha que Pan faria com você? Quero dizer, você é bonita e inteligente, mas é velha demais para ele... – o Capitão riu.

- Talvez eu servisse pra alguma coisa... não sei mais o que pensar de você...

- Você já pensou que talvez eu não tenha tido uma escolha?

- É claro que você teve uma escolha. Poderia ter me deixado ir, assim como fez com minha irmã...

- Você não entenderia...

- Por que pensa assim? Talvez eu entendesse se você fosse realmente sincero comigo.

- Não, não entenderia. Vai ser doloroso, eu sei... é por isso que só posso contar a você depois que voltarmos da Terra do Nunca.

- Certo, depois que eu te ajudar a reencontrar seu pai. Parece justo...

O Capitão sorriu, feliz por finalmente terem concordado em algo.

- Ruby?

- Hum?

- Só prometa que não vai me odiar e nem fazer nenhuma besteira quando descobrir a verdade. Está bem?

- Tudo bem...

Talvez a verdade estivesse mais próxima do que eles imaginavam...


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