—Acha que já estamos longe da cabana?—Lucy largou o machado no chão, descansando os braços sobre os joelhos.

—Creio que bem longe—Parei para tomar um fôlego também, ainda estava chocada com tudo que tinha acontecido na última hora.

—Precisamos achar o James—Concordei balançando a cabeça.

—Pra onde será que ele foi? Não estava mais na árvore que o vi pela última vez.

—Talvez ele tenha nos deixado para trás.

—O James não faria isso Lucy, ele é nosso amigo, deve ter acontecido alguma coisa—Procurava pensar dessa forma.

—É pode ser, mas temos que continuar, aquelas machadadas que eu dei naquele monstro não vão impedir que ele venha atrás da gente, aquilo só distraiu ele.

—Mas eu bem que gostei de vê-lo perdendo a mão—Sorrimos juntas.

—E o bob?—Ela perguntou mudando de expressão, ficando desanimada—Não conseguimos salvá-lo Jessica, coitado morreu daquela forma, bárbara.

Apenas me aproximei dela abraçando-a, não tinha muitas palavras de consolo, acho que um abraço de ‘sinto muito’ falaria mais que palavras. Nos Separamos depois e passei minha mão pelo rosto de Lucy limpando as lágrimas que teimavam em cair dos seus olhos.

—Vamos sair dessa, prometo Lucy—Forçei um sorrisinho, ela apenas tombou a cabeça assentindo—Vamos continuar, precisamos encontrar o James, ele ainda está ferido, ficar sozinho pode não ser uma boa para ele, vamos logo!

Retomamos a caminhada, Lucy me passou o machado, estava cansada de carregá-lo, seguimos por uma trilha mais aberta e com uma boa claridade, o dia já estava entardecendo, estava com medo que a escuridão chegasse, eu me sentia impotente, ainda mais sem James do meu lado.

[...]

—Tô com fome Jessica—Lucy reclamava a cada cinco minutos, sei que a situação não era a mais favorável, mas ela teria que ser forte, estávamos sem comida, a única coisa que tínhamos, era um machado, um isqueiro que eu havia pegado na segunda bolsa que encontramos e a arma descarregada de Bob. A lanterna havia ficado com James, assim como a faca.

—Lucy aguenta ai, precisamos continuar—Suava bastante e meus pés estavam sendo maltratados dentro daquele tênis, Lucy ainda usava a camiseta que eu havia dado para ela, estava descalça, nos pés tinham alguns cortes dos obstáculos que encontrávamos pelo caminho, ainda tinha seu pé machucado, a faixa estava vermelha, precisava trocar ela, talvez uma paradinha para um descanso não pudesse ser tão ruim.

—Por favor, Jessica—Insistiu

—Ta, ta—Vencida acabei cedendo—Vamos parar aqui atrás dessas árvores, parece ser um bom lugar para descansar, joguei o machado no tronco da árvore, me jogando em seguida no chão, fechei os olhos enchendo os pulmões de ar—Acho que faltam duas horas para a noite cair Lucy.

—Passar mais uma noite aqui me amedronta, ainda mais nessa situação, sozinhas—Se sentou encostando as costas no tronco de uma árvore.

—Vou cuidar de você—Abri um dos olhos piscando para ela, depois me sentei retirando o par de tênis, meus pés estavam cheios de calos—Preciso trocar esse seu curativo do pé Lucy—Avisei.

—Ah! Não, deixa como está, nem dói tanto, além do mais estamos sem faixa limpa, essa aqui está toda suja, mas está ajudando.

—Não senhora—Me aproximei dela, rasguei um pedaço da minha bermuda, tratei de fazer outro curativo, eu era rápida para essas coisas, levei alguns minutinhos e estava feito.

—Obrigada Jessica, acho que não aguentaria passar por isso sozinha—Olhou para o pé ‘enfaixado’ pelo pedaço da minha bermuda.

—Nem eu, estamos juntas nessa, não vou te abandonar Lucy, não mesmo—Nos abraçamos até que fomos vencidas pelo sono.

[...]

—Sch—Coloquei o dedo na boca de Lucy, ela quase deu um grito quando a despertei do seu sono, eu havia escutado passos, passos vindo em nossa direção, acabei ficando alarmada, acordei Lucy para que saíssemos logo dali. Já era noite, tudo estava um breu, sem a lanterna tudo ficava mais difícil de enxergar.

—É o Vinci?—Segurou em minha mão apavorada.

—E-eu não sei te dizer, apenas escutei passos, bem pode ser o James, mas não quis arriscar, fiquei com medo, acho bom nos escondermos, se for o James nós o veremos.

Corremos o mais rápido que nossas pernas conseguiam, o corpo estava um pouco descansado, o que nos deu energia, acabei deixando meus tênis para trás, mas havia pegado o machado, aquilo era uma boa arma para se ter perto.

Olhamos para trás vendo se o caminho estava livre, apesar da escuridão a claridade da lua ajudava um pouco no nosso trajeto, acabamos esbarrando em alguma coisa, caímos as duas no chão, levantei o rosto olhando para frente e uma forte luz me cegou, impedindo minha visão.

—Abaixe isso!—Reclamei com uma das mãos nos olhos.

—São você meninas? Graças a Deus!—Reconheci aquela voz, era o James.

—James?—Ele foi abaixando a luz, logo vi que se tratava da lanterna.

—Sou eu Jéssica, ainda bem que encontrei vocês, já estava perdendo a esperança—Ele nos ajudou a levantar, Lucy reclamou que na queda acabou machucando o pé, mas dizia está bem.

—Onde estava James?—Olhei para ele já de pé—Te procuramos por todos os lugares.

—Eu encontrei uma espécie de ferro velho, não muito longe daqui, me escondi lá por algumas horas, como eu vi que vocês não apareciam resolvi sair para procurá-las—Explicou.

—O combinado não foi esse—Lucy cruzou os braços fechando a cara.

—Me desculpe meninas, eu fiquei com medo, quando vi que o Vinci não estava mais ligando para as pedras que eu estava jogando, logo pensei que vocês talvez já tivessem saído da cabana pelos fundos, como combinamos.

—Saímos sim, mas foi um sufoco, o Vinci acabou voltando antes do que planejamos, além do mais não conseguimos ajudar o Bob—Abaixei o rosto.

—Como assim? Ele ainda está lá? Podemos voltar os três, acho que podemos salvá-lo.

—Ele morreu!—Lucy cuspiu de uma vez só essas palavras.

—Como?—Parecia não ter entendido as palavras de minha irmã.

—Infelizmente o encontramos em um estado deprimente e chocante James—Levantei o rosto explicando—Não podíamos fazer mais nada por ele.

—Que pena!—Chutou alguma coisa no chão, mas não vi o que era.

—Por que nos deixou lá James?—Lucy perguntou.

—Eu já disse, pensei que tivessem conseguido sair.

—Podia ter ido nos procurar lá, mas preferiu fugir, porque será?

—Lucy você esta insinuando o que exatamente?

—Que nos deixou para que morrêssemos, devia ter ido atrás da gente quando percebeu que o Vinci estava voltando para a cabana, mais não, o que você fez? Fugiu.

—Lucy você está nervosa, nem vou levar em consideração isso que você está jogando pra cima de mim—Ele respondeu bem calmo.

—Lucy não pode acusá-lo assim—Me intrometi.

—O bob está morto, e a única coisa que ele disse foi ‘que pena’ Faça mil favores, ele era o teu amigo James.

—O que eu posso fazer Lucy? Ele não está mais entre nós, acho que o Bob não iria querer que ficássemos assim por causa dele, conhece ele, sabe que sempre foi um cara bem alegre, estou triste, muito abalado, mas precisamos levantar a cabeça.

—Jessica olha como ele fala—Ela me olhou boquiaberta—Temos que seguir em frente—O imitou com uma voz engraçada e grossa.

—Para Lucy, não é hora para brigas—A censurei.

—Cocordo com a Jesisca—James falou.

—Tudo bem, eu me calo, não digo mais nenhuma palavra, agora não pense que eu engoli esse papinho furado seu não viu seu James—Apontou o dedo em seu rosto e depois deu as costas para nós.

—Não liga, ela está muito mal, a morte do Bob mexeu com ela.

—Com todos—James completou.

—A onde é esse ferro velho?

—Não muito longe daqui, ta cheio de carros velhos lá, achei até o nosso acredita?

—Sério? Então podemos fugir—Falei animada.

—Cortaram alguns fios, o carro não está pegando, foi à primeira coisa que pensei quando o vi lá.

—Quem sabe encontramos algum carro que esteja funcionando.

—Olha tem muitos carros velhos lá, provavelmente são das vítimas daqueles malucos do Jack e do Vinci.

—Com certeza—Concordei.

—Acredita em mim não é mesmo Jessica?

—Sobre o que?—Eu havia até esquecido.

—Sobre o lance da Lucy fala que eu as abandonei, eu nunca faria isso, tanto que estou aqui.

—Não duvidei de você, como eu disse a Lucy só está nervosa, logo ela cai em si, vai ver a burrada que fez te acusando assim.

—Que bom que acredita em mim.

—E porque eu não acreditaria?

—Ah, por nada não. Bem vamos até o ferro velho? Não é seguro ficarmos parados aqui no meio da mata, acabei encontrando algumas frutas e mais uma bolsa no caminho, aposto que estão famintas, AS DUAS—Ele falou mais um pouco alto, de certo para que Lucy escutasse também.

—Sim, estamos! Vamos logo, não quero que o Vinci nos encontre, ainda mais depois do que a Lucy fez com ele.

—O que ela fez?

—Te conto no caminho, Vamos Lucy?—Ela voltou a nos olhar e saiu caminhando na frente com os braços cruzados e a cara fechada. Peguei o machando passando para James, o mesmo me entregou a lanterna, durante o percurso fui falando por tudo que eu e Lucy passamos, James ficava admirado a cada nova coisa que eu contava, sorrimos juntos algumas vezes, até que um pensamente pairou em minha mente, Porque a Lucy duvidara de James? Lucy sempre acertava em suas sugestões, ela parecia ter um ‘sexto sentido’ para essas coisas, mas eu não queria acreditar, me recusava a aceitar aquela hipótese. James estava falando a verdade, eu confiava nele, não tinha porque duvidar.