Linha Tênue escrita por iceecoffee


Capítulo 2
Cores


Notas iniciais do capítulo

Bom, espero que continuem gostando, reviews e críticas são sempre bem vindos.
Musica:
Elizabeth Gillies - You Don't Know Me.



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POV Jade

Abri os olhos e finalmente encontrei o que procurava, o celular, as aulas estão de volta e por mais estupido e insuportável que seja aquele colégio, ainda é o lugar onde todas as minhas chances de tornar-me uma grande dramaturga estão.

Decidi não tomar mais que um copo de café preto e quente com torradas, observei as horas e estasiada terminei tudo o que sempre faço pelas manhãs na metade de tempo que costumo fazer. O que meia hora de sono a mais não faz não é mesmo? Um grande estrago.

Peguei as chaves em cima da geladeira e fitei a cozinha vazia e silenciosa mais uma vez.

Era diferente quando a minha mãe morava com a gente. A cozinha era graciosa e às vezes tinha cheiro de lírios, café e pão. Era reconfortante, mas agora é só mais um comodo vazio, como os outros, sem cor, sem cheiro, continham apenas lembranças.

Em todos os lugares fotos da minha mãe me observavam, a minha preferia no entanto, eu levei para o meu quarto, for tirada no verão passado, minha mãe estava abraçada comigo, ela vestia uma calça jeans preta e uma blusa vermelha com renda preta que vinha a pouco mais do cós da calça, os cabelos recém cortados em acima dos ombros e completamente escuros davam-lhe uma ar de decidida e forte, exatamente como era, o sorriso dela era vibrante enquanto me envolvia em um abraço apertado depois de um dia cansativo onde eu e Beck controlamos qualquer coisa naquela casa.

Meu pai estava do outro lado, usava um terno cinza, sem vida, sem cor, que me lembrava lápides, os cabelos estavam ficando grisalhos, os olhos estavam fixos na câmera, mas o sorriso não estava lá. Pelo menos não em seus olho. Ele estava cansado, estava exausto de tentar evitar tudo, de tentar ignorar qualquer coisa que passasse dos portões do seu escritório. Naquela noite tínhamos jantados e tinha sido um bom jantar, Beck estava conosco, meu pai apenas o ignorava de forma grosseira, e minha mãe fazia o que podia para compensar, murmurando coisas sobre o quanto eramos parecidas. Naquela noite aquela cozinha ainda tinha cor, nos olhos da mamãe ainda tinha felicidade e o Beck ainda era meu melhor amigo.

Mas agora as coisas mudaram, segurei mais forte a chave contra a palma da minha mão tentando fazer com que as lembranças daquela noite se dissipassem da minha mente. Sem sucesso, elas me acompanharam por todo o percusso até a escola, e quando finalmente cheguei encontrei com todos aqueles imprestáveis espalhafatosos fazendo apresentações ridículas de seus pseudo-talentos.

André veio até minha sorrindo, Cat ao seu lado tentava não se engasgar com o próprio cabelo. O corredor parecia ainda mais extenso sem o Beck encostado no seu armário apoiado em uma perna olhando pra mim com o celular vibrando com a minha resposta em mensagem.

André: Oi - Disse ainda receoso, mas hoje eu não estava disposta a brigar com ele então apenas assenti.

Cat: Hey jade! Quer cupcakes de cereja hoje ? - Ela disse estendendo a ponta do seu cabelo para mim.

Jade: Não. - Falei indiferente, agora olhando atenta para as pessoas que passavam pela porta atrás de mim, buscava encontrar os olhos castanhos e reluzentes do meu amigo, mas isso não aconteceu.

André: Hoje é o primeiro dia de aula, não devia está assim.

Jade: É, devia está em casa dormindo. - Retomei o tom rude da voz, era o que minha mãe falava quando diziam que ela não devia está irritada as seis horas da manhã. Eu não podia deixar de notar que eramos parecidas, caramba como sinto falta dela. Pisquei mais forte afastando as lembranças que ameaçavam atormentar-me.

Cat: Cupcakes ?

Jade: NÃO! Mas que droga Cat, não quero seu cabelo, não quero cupcake, não quero conversar. Nem queria está aqui agora ok? Então cala a boca ou sai daqui.

André: Calma aê Jade... - Ele falou abraçando a ruivinha e minha frente que me olhava assustada, ainda piscando incrédula.

Me arrependi de trata-la dessa forma no mesmo instante, Cat é uma garota doce e sensível, além do mais não tem culpa de nada, no entanto, eu sei que ela não vai me odiar por isso, talvez chore por algum tempo, mas não vai ser necessário mais que um pirulito para faze-la sorrir outra vez e é muito mais fácil brigar com as pessoas do que ter que lida com ela, é mais fácil odiar e amaldiçoar as coisas do que a si mesmo não é ? Mesmo que eu faça isso o tempo todo.

Malditos sapatos de couro fedorentos. Vamos lá, sua estupida, você merece isso, dane-se Jade, você merece tudo isso.

Jade: Cat eu... Tome - Disse tirando uma nota de dois dólares do bolso e estendendo a ela. - Compre alguma coisa. Ela me olhou e depois suspirou.

Cat: Desculpa Jade. - Os olhos castalhos da pequena começaram a lacrimejar.

Jade: Hey, hey, tudo bem ,pare com isso ok? só não... Não chore, va comer alguma coisa. - Disse colocando as mãos da cabeça, não posso ser boa o tempo inteiro, onde está toda minha raiva ? Derrotada, afogada embaixo de toda minha tristeza.

Observei Cat ir em busca de algo na cantina, na fila, vez ou outra ela olhava pra mim, lançando-me um olhar de pena, que discretamente me fazia corar. André ainda estava do meu lado, mas parecia não estar presente, estava envolvido em seus pensamentos, e começou uma batida envolvente com as mãos na parede, sorria e cantarolava algo, eu gostava de ver as coisas normais ao menos na escola, por aqui as coisas ainda tinha cor, admito, cor demais. 

Revirei os olhos e subi as escadas deixando André e Cat no andar de baixo, entrei na sala de algum professor qual nem mesmo o nome me dei ao trabalho de saber, durante sua aula tentei ao máximo me concentrar, mas as coisas em que eu pensava não girava em torno da trigonometria e sim de onde estaria Beck agora, e das lembranças que envolviam não só minha mãe, como toda minha vida, e com isso quero dizer que meu pai foi o responsável pela maioria das meus socos na mesa.

O resto do dia foi igualmente frustante, sem noticias do Beck, sem mais novidades sobre a minha mãe ou avanços com meu pai. Encontrei com André e Cat na saída e pouco tempo perdido depois, as portas do fundo foram abertas.

André: Hey cara! - André disse estendendo a mão para Beck que estava vindo em nossa direção, meu coração palpitou mais forte, como estava com saudade daquele idiota.

Beck: Hey André, Cat... Jade? - Ele me observou e sorriu amistoso. Como pode ser tão... Tão... Como pôde..? Urg!

Me afastei bruscamente com passos pesados em direção ao armário do zelador. Lá debrucei-me sobre uma mesa e apanhei uma tesoura enquanto arremessei minha bolsa na despensa. Arranquei um quadro pendurado de forma errada da parede sem graça do lugar que cheirava a produtos de limpeza de quinta, e contemplei por alguns segundos a imagem ali retratada.

Uma moça em um cavalo branco de longos cabeços loiros e olhos negros, onde lagrimas de sangue escorriam pelo rosto frágil da princesa. Aquela cena me fez ficar boquiaberta incapaz de acreditar de Lane deixaria uma imagem dessa pelo colégio. Certamente alguém sofria por ali, e usou seu talento para aliviar a dor que sentia. Da mesma forma que eu faço, no entanto sem as palavras no papel e sim com desenhos em uma tela. Mas a garota do retrato parecia sofrer tanto que agonizava meus olhos aquela cena.

Com a tesoura acabei com o sofrimento da garota, começando lentamente a desfigurar o desenhos em cortes que não permitiam que algo fosse distinguido a não ser as cores. Tantas cores, cores vivas, tons vibrantes que gritaram comigo e me ensurdeceram.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acha que precisa ser melhorado? Obrigada pelos reviews



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