O Jogo dos Espíritos escrita por Lady May


Capítulo 1
Capítulo I - Requiescat in pace


Notas iniciais do capítulo

Cá estou de novo tentando, desta vez, desenvolver algo mais sólido. Como é a primeira vez que escrevo Supernatural propriamente dito, pode ser que os personagens fiquem um pouco OOC.



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Capítulo I - Requiescat in pace

 

Sarah Garwin era tudo que uma adolescente gostaria de ser: linda, popular e namorada de um dos melhores jogadores de football da escola. Porém, neste momento, mesmo com tudo isso, ela se sentia a criatura mais miserável da Terra. Amélia, sua mãe, que sofria de uma doença degenerativa, havia morrido na tarde anterior depois de uma discussão entre elas.

No dia seguinte, seu pai insistiu para que ficasse em casa dizendo que não precisava ir à escola naquela chuvosa manha de inverno, mas Sarah preferiu a companhia dos amigos, já que, para eles, poderia confessar a culpa que a consumia. Agora, a garota estava sentada sob a fina garoa que molhava o pátio do colégio na companhia do namorado, Edward.

- Sarah, eu soube o que aconteceu. – disse Shelby, sua melhor amiga, abraçando-a enquanto se sentava. – Sinto muito.

- Fui eu quem a matou, Shel, eu... – lágrimas escorriam pelo rosto cansado.

- Já disse que isso é besteira da sua cabeça. – Edward passou o braço pelas costas da namorada.

- Não fale assim. Sua mãe estava doente... – tentou Shelby segurando firme a mão da outra – Não é culpa sua.

- Vocês não entendem. – replicou escondendo o rosto entre os joelhos – Nós discutimos ontem... por causa da festa de sábado que ela não queria me deixar ir. – Sarah falava entre soluços – Minha mãe falou que eu não ficava mais com ela... e e-eu disse que ela me atrapalhava, que a odiava.

- Você não fez por mal – consolou-a o garoto – Falou da boca pra fora.

- Tenho certeza de que ela não ficou com raiva. – completou Shelby.

- Se eu pudesse falar com ela mais uma vez. – desejou – Pedir desculpas.

Por instantes, tudo o que se ouviu foi a agonia da adolescente. Ninguém sabia o que dizer, já que o remorso estava enraizado em seu coração. E a certeza de que não havia conserto, só piorava a situação.

- Talvez haja um jeito. – disse Shelby pensativa depois de longos minutos.

- O que quer dizer? – estranhou Sarah.

- Lembra daquela minha tia esquisita?

- Aquela que se diz médium? – lembrou Edward.

- É. – confirmou – Ela tem uma tábua ouija e jura que funciona.

- E daí? – a garota continuava sem entender.

- Sarah, podemos usar a tábua pra falar com a sua mãe!

- Você é louca? – assustou-se o jogador – Nunca viu “O Exorcista”, não?

- Ed tem razão, Shel. Essas coisas são perigosas.

- Minha tia faz isso há um tempão e nunca aconteceu nada. – replicou fazendo um gesto displicente com as mãos – Além do mais, Sarah, quer se sentir assim pro resto da vida? Pode ser sua única chance de se desculpar.

A garota respirou fundo enquanto analisava a proposta.

- Tudo bem, – disse por fim – Vamos fazer isso.

- Vocês só podem estar brincando. – repreendeu o namorado.

- Deixa de ser covarde, Edward. – desafiou Shelby.

- Por favor, Ed, – implorou Sarah – eu preciso de você.

- Ok, eu faço. – suspirou impaciente – Mas se eu morrer, volto pra assombrar vocês.

- Não fale uma coisa dessas. – disse a namorada irritada.

- E quando vamos falar com os mortos? – perguntou ignorando a bronca. Ele estava começando a gostar da idéia.

- Quando a Sarah quiser. – disse a outra.

- Pode ser depois do enterro? Quero passar esse tempo com o meu pai.

- Tudo bem. – Shelby, animada, abraçou a amiga – Vou falar com o Joe. Tenho certeza que meu corajoso namorado vai nos ajudar.

- Você sabe mexer com isso, não é, Shelby? – desconfiou o garoto.

- Nada que a internet não resolva... – respondeu já indo para a sala de aula.

- Ótimo. Já me sinto bem melhor. – ironizou.

 

* * *

 

O enterro fora exatamente como costuma ser: cheio de pessoas prestando homenagens, choros fingidos e parentes que só se encontram nessas situações e aproveitam para colocar a fofoca em dia falando dos outros e de si mesmos.

Às duas horas da manhã do dia seguinte, Sarah saiu às escondidas de casa para encontrar os amigos no cemitério. Quando chegou, Shelby já colocara o tabuleiro sobre o túmulo de Amélia Garwin e Edward e Joe acendiam velas.

- Oi, gente. – cumprimentou – os anunciando sua chegada.

- Oi – responderam, cada um há seu tempo.

- São quase três horas. – informou Shelby olhando no relógio – Sarah, tem certeza de que quer fazer isso?

Apesar do horário incomum para o encontro, três da manhã foi escolhido porque, de acordo com algumas vertentes cristãs, esse momento é para ser o oposto da hora em que Cristo morreu na cruz, hora santa e milagrosa. Dessa forma, considera-se que a anti-hora, durante a noite, seja demoníaca, isto é, é quando o maior potencial de energias negativas se manifesta. Conseqüentemente, os espíritos estariam mais fortes e o contato seria mais fácil.

- Agora não tem volta – respondeu tomando seu lugar, junto aos amigos, ao redor do tabuleiro.

- Vamos lá. Todos damos as mãos e fazemos uma oração. – assim que cumpriram a instrução, Shelby continuou – Agora colocamos a mão direita sobre o ponteiro...

- Por que a direita? – reclamou Edward.

- Dizem que o lado esquerdo é a porta para tudo que há de ruim no mundo. – justificou indiferente.

- Que preconceito contra os canhotos...

- Coloca logo a mão e não reclama. – apressou. Depois que todos já estavam posicionados, continuou – Agora o jogo começa. Tem alguém aí?

Lentamente, o ponteiro foi levado para os quatro cantos da tábua antes de parar no SIM. Os adolescentes se assustaram com a veracidade dos movimentos, mas, acima de tudo, animaram-se com a experiência e com a oportunidade que estavam tendo.

- Isso é de verdade mesmo! – Joe riu nervoso – Demais!

- Vai, Sarah, pergunta se é a sua mãe. – incentivou Edward.

Todos esperavam, mas a garota nada fez. Estava insegura, com medo de que aquilo não fosse a coisa certa. Agira por impulso, tomada por uma culpa que a incomodava. Agora se perguntava se qualquer coisa era válida para se desculpar com a mãe.

- Sarah? – ouviu a amiga chamar.

- Desculpem. – balançou a cabeça para afastar seus fantasmas. Não tinha mais volta. – V-você é a Amélia Garwin? É a minha mãe?

O ponteiro mostrou novamente o SIM e, em seguida, soletrou S-A-R-A-H, o suficiente para que todos acreditassem estar falando com o espírito da senhora Garwin.

- Isso foi muito estranho... – comentou Joe.

- Mãe, me perdoa. – disse a adolescente chorando copiosamente – Por favor, me desculpe. Eu não queria dizer todas aquelas coisas... Eu... amo você. - vários minutos se passaram.

- Se a desculpa, poderia nos dar um sinal? – pediu Edward diante do tabuleiro estático.

Mal o garoto terminara de falar, o ponteiro foi arrastado para fora do jogo e um som agudo extremamente irritante foi ouvido, fazendo com que o grupo protegesse seus ouvidos com as mãos. Ficaram tão assustados e impressionados que não perceberam que não havia mais nada sob suas mãos, nem a gravidade de toda aquela situação.

- Onde está o ponteiro? – perguntou Joe, o primeiro a sair do torpor, ao olhar para o tabuleiro.

- Acho que caiu. – deduziu Shelby olhando à sua volta.

- Devíamos parar por aqui. – continuou o garoto – é tarde e parece que todos os pecados foram perdoados.

- É, vamos embora. – concordou Sarah, que, apesar das circunstâncias, respirava aliviada. – O que fazemos com a tábua?

- Queimamos, eu acho. – respondeu Shelby abaixando-se para pegar o ponteiro perdido.

- Então vamos fazer logo. Estou com frio por causa desse maldito chuvisco e com fome também. – comentou Edward.

- Como pode pensar em comer num lugar desses? – riu Sarah abraçando o namorado. Sem o peso da culpa, ela sentia vontade de sorrir novamente.

Shelby colocou o tabuleiro no chão e usou uma das velas para destrui-lo. Então, mais uma vez, eles ouviram um som agudo, seguido da aparição de um espírito sobre um túmulo próximo. Um grito de agonia de uma mulher que queimava.

 

Continua...

 


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Notas finais do capítulo

Leona_EBM escreveu uma vez:


"A cada review que você deixa de mandar, a insegurança de um autor se desenvolve, o desejo de continuar o trabalho desanda, a ansiedade e o júbilo desaparecem, restando um sentimento: o desgosto de escrever. Por que continuar? Ninguém gostou mesmo.

Não reclame se um autor sumiu. Não é fácil escrever sem apoio."