Sabe, se eu não fosse disciplinada eu juro que arrancaria aquele cabelo com as minhas próprias mãos, qual o motivo por ser tão estupida comigo, e aquele sorrisinho do tipo “bem feito”, é incrível um dia imaginar que a alguns anos atrás eu daria a minha vida pra ela se fosse preciso:

–Porque fez isso Lea?- perguntei séria e em um tom autoritário, e adivinha quem estava ao seu lado?! Jenna.

–Ah foi acidente- Jenna riu. Maldita.

–Porque estão aqui?- perguntei fechando o armário, apenas para prevenir que ele não acerte minha cara por “acidente” novamente.

–Queremos saber por que Tyler faltou- Disse Lea

–Não interessa pra vocês- me virei para sair dali só que Jenna me segurou.

–É verdade que vocês dois estão juntos?- falou Lea, eu não pude deixar de esboçar um sorriso.

–Sim- eu achava que elas iam ficar com a boca aberta ou coisa parecida, mas então Lea disse:

–Então é por isso que você inventou esse papinho de almas e se fez de coitadinha depois que sua mãe morreu não é, apenas pra Tyler ficar com você?!- eu não imaginava que depois de tudo que nos passamos juntas ela pudesse dizer isso, quem sabe as almas sejam melhores companhias que a de alguns humanos...

–Como assim papinho de almas Lea?- perguntou Jenna, não ela não poderia falar se Jenna soubesse provavelmente espalharia para o colégio inteiro e minha vida vai ser mais complicada do que já é.

–Quando a Kayla perdeu a mãe, ela começou a falar que via almas... - falou Lea, eu estava tentando me controlar pra não partir pra agressão física, e meus olhos já estavam lagrimejando, parte por que eu nunca imaginei que Lea, mesmo não sendo mais minha amiga, quisesse virar uma inimiga, e a outra porque se Jenna soubesse, minha vida viraria um total inferno.

–Cale a boca!- Gritei

–Ha-Ha-Ha- zombou ela- como se eu fosse te obedecer vê se se enxerga garota!

Lea ia continuar a falar, quando:

–Algum problema Ayla?!- Jake tinha chego, tudo bem que ele deu uma piscadela pra Jenna, mas foi bom ele ter chego.

–E-eu preciso ir Jake, é só uma discussão.- respondi

–Não você não vai- Jake passou seu braço pelo meu ombro- não antes delas não te pedirem desculpas.

Posso dizer a verdade, naquele momento eu estava festejando por dentro, só de ver a cara delas, ah foi tão legal. Elas me encararam e olhar delas me disse “sorte sua”

–Não Jake, não é necessário- falei, ele deu ombros.

–Vamos o que estão esperando?!- ele olhou fixamente para as duas, nunca vi esse lado de Jake sério.

–Desculpa- as duas disseram em um uníssono.

Apenas o olhei pra elas novamente e sai, Jake me acompanhou até a saída do colégio:

–O que estava acontecendo por lá?!- o loiro perguntou, eu não poderia falar. Fiquei em silencio por um momento quando vi uma mulher de uns 40 anos, tinha boa forma, usando uma blusa de renda branca, calça jeans, e um salto vermelho vindo em direção ao Jake.

–Jake vamos, já estou esperando faz dez minutos!- Santa mãe do Jake! Salvou-me! Então ela olhou pra mim com um olhar de malicia.

–Hm, sua amiguinha?- a mulher disse.

–Não amiga, a-m-i-g-a!- falou Jake, a mulher revirou os olhos.

–Prazer em conhece-la- ela sorriu.

–O prazer é todo meu- sorri de volta.

Então os dois foram, e eu segui outro caminho, o para minha casa. Coloquei meus fones de ouvido, e ainda ficava olhando fixamente para meu celular, não gostava muito de ter de olhar para cara das almas que ficavam andando de um lado para o outro, de repente recebo uma mensagem: Jake Ayber. Eu não sei por que, mas insisto em colocar o nome e o sobrenome na minha agenda telefônica. Quando eu abri a mensagem tive um ataque... De risos.

“Eu sou gay” dizia a mensagem, era sério ou brincadeira?! Que desperdício! Repondo outra mensagem com:

“Sério?!” eu não queria colocar uma risada, vai que era sério e ela achasse que eu estava zombando dele.

“Sim sou gay assumido, amo rosa e purpurina” depois dessa eu fiquei até sem folego de tanto rir. Então recebo outra mensagem dele:

“Desculpe, foi Zoe” agora sim, está tudo explicado.

“já era de se imaginar” respondi.

“Aquela idiota! ei, mas você não me respondeu a pergunta que eu te fiz, o que estava acontecendo entre você e aquelas garotas? Qual foi o motivo Ayla?”

Merda, eu achava que tinha me livrado dessa, maldita tecnologia! É obvio que eu não ia contar não que eu não confiasse nele, na verdade eu confio, o que é meio estranho, pois eu reencontrei ele há dois dias e já tenho uma amizade tão grande. Mas se eu contasse, ele iria correr risco de vida, como o cavalheiro me disse. Decidi contar parte:

“A menina disse que eu estava me fazendo de coitadinha porque minha mãe havia morrido”

“ah, me desculpe eu não sabia... Você e seu pai devem estar muito tristes”

“é que, na verdade, meu pai também já morreu”

“ah, poxa, mals ai...”

“tudo bem Jake, já estou acostumada a falar dos mortos” ou com mortos acrescentei mentalmente.

“Eu preciso ir, até amanhã!” me mandou por mensagem, eu respondi “até”.

No informativo sobre o acampamento estava escrito que sairíamos sexta feira de manhã e voltaríamos terça de tarde, ou seja, cinco dias de acampamento, eu estava ansiosa para ir, não sei mais algo me dizia que esse acampamento ia ser muito legal, ou não...

Os dias se passaram e eu já havia tirado o gesso e Ty já tinha se recuperado e estava indo as aulas normalmente, foi incrível a rapidez com que ele se recuperou, pois seu ferimento era muito grave, ele também formou uma amizade com Jake e Zoe, que não param de brigar, e eu só me divirto com isso, desde que você não os interrompa em uma briga se não sobra pra você, digo isso por experiência própria. Clarie e Abby apareciam na minha casa todas as noites para ir organizando as coisas das mudanças, elas se mudariam oficialmente no final de semana, mas eu não ia estar lá para ajudar. Sobre as almas, bem além das que eu via andando por ai, nenhuma veio falar comigo pessoalmente, e sem notícias do cavalheiro. Ainda não conversei com Ty direito sobre elas, nos últimos dois dias, tivemos algumas atividades valendo notas e fiquei ocupada estudando, e na escola nos não falávamos muito sobre isso, pois sempre Jake e Zoe estava conosco.

Nesse exato momento nos estávamos embarcando no ônibus para ir a uma cidade próxima, onde faríamos o acampamento.

–Argh- reclamou Zoe- como eu odeio o calor!

Realmente estava muito calor, todos estavam com roupas frescas, ao menos o clima não iria estragar o acampamento.

–O que você não odeia?!- falou Jake, obvio, ele não perdia uma oportunidade de importunar Zoe. A morena apenas deu ombros. Sentei ao lado dela já que ela disse que nem morta se sentaria ao lado de Jake, os meninos, Jake e Ty estavam sentados na nossa frente. Após uns dez minutos de viagem, Ty estava com o banco rebaixado para poder conversar comigo, quando “misteriosamente” uma lanterna foi jogada do banco da frente na cara de Zoe.

Eu comecei a rir, Tyler olhou para Jake e riu também.

–Eu vou te matar!- falou Zoe pegando a lanterna e batendo na cabeça dele.

–Calma, foi, ai, sem, querer, ai- o loiro tentava se defender.

–Zoe, calma, o professor vai vir brigar com você- interrompeu Ty e ela parou imediatamente e se sentou de novo. Sim os professores, pra ser mais exata a de Literatura e o de Biologia estavam nos acompanhando na viagem, mas não duvido nada que eles estão lá no banco da frente dormindo...

–Sorte a sua Jake, isso vai ter troco- sussurrou Zoe.

–Ui, que medinho!- resmungou Jake, coitado, agora ele pediu pra morrer...

Por sorte o ônibus parou, tínhamos chegado no local onde iriamos acampar, tinha uma pequena casinha, um camping, floresta, algumas lenhas prontas para fogueiras, mais floresta...

–Chegamos! Peguem suas malas e vamos sair organizadamente- avisou o professor, que surgiria o mesmo efeito se ele apenas tivesse falado “chegamos, peguem suas malas” todos ignoraram a organização era um empurra-empurra, estávamos quase na porta do ônibus quando vejo alguém caindo dela, e adivinha quem era?! Jake, e por culpa de quem?! Exatamente Zoe, ela havia passado uma rasteira no loiro que caiu debruçado, a ouvi sussurrando um “eu disse que iria ter troco” ele apenas lançou um olhar mortal a garota e se levantou. Foi indicado para deixarmos nossa mala em um monte. Todos deixaram, menos Zoe que falou que onde ela fosse a mala iria junto, se não me engano ela estava com medo de acampar, traumas passados.

–Ok pessoal, esse aqui é Norman- ele apontou para um outro cara que auxiliava no acampamento, Norman? Isso não é nome de cachorro?! – Ele vai nos auxiliar com as barracas, vão ser divididos dois grupos, um vai ajudar a arrumar as barracas os outros vão fazer uma trilha.

Ele separou os grupos, e felizmente ficamos com a trilha, Susane, a professora de biologia veio até nos com uma prancheta:

–Grupo 7 certo?!- ela sorriu. Assentimos. – Então aqui esta o mapa da trilha de vocês.

Em sua mãe havia um papel com uma pequena trilha, era uma espécie de mapa.

–Não percam isso aqui em hipótese alguma, são 45 minutos de trilha, as trilhas são diferentes de grupo para grupo, acho que vocês já são os espertos o suficiente para não se perderem, caso a contrario daqui uns dias os policiais vão fazer uma busca pelos corpos mortos de vocês!- Que palavras confortantes! Era o tipo, obedeçam aos comandos do papeis ou morram. Zoe pegou o papel.

Estávamos quase na entrada da floresta quando uma voz chamou:

–Não lembra mais das suas amigas, Ty?!- só de costas eu reconheci aquela voz, argh, me segurem. Ty se virou e eu também e lá estava ela, sorrindo.

–Ah, Lea- ele falou um pouco desconfortável.

–Será que você poderia me ajudar com as barracas?!- filha da mãe, será que da pra fazer o favor de parar de respirar?! Pensei.

–Lea você é muito cara de pau não é?! Não sei como ainda tem coragem de vir falar comigo depois do que fez com a Yla, peça pra um otário te ajudar, eu realmente nunca esperei essa atitude de você, você mudou, assim como eu. Passe bem. – falou Ty, depois dessa eu desistiria de viver...

Então ele se virou e puxou minha mão. Jake murmurou uma espesse de “uhhh” e zoe abafou o riso, eu, sinceramente fiquei surpresa.

– Me liga- falou Jake piscando para Lea, aquele tarado, sinceramente, eu sabia que ele estava brincando, mas ele se passava por retardado falando isso. A menina apenas fez um gesto com um dos dedos da mão e saiu.

–Nem aquela garota te quer!- riu Zoe.

–Falou a menina mais desejada, só que não. - ele sorriu. Eu e Ty abafamos o riso.

Passamos um tempo caminhando e rindo, acho que já deve ter dado uma hora de caminhada.

–Ué, não eram só quarenta e cinco minutos de trilha?- perguntei.- Zoe?

–Esta com o Jake o papel!

Eles haviam trocado diversas vezes o papel, ambos queriam “comandar”.

–Mas estou seguindo corretamente- ele mostrou o papel a Ty, e pela cara dele eu fiquei com medo.

–Ah, não, Jake essa é a linha do rio!- eu não acredito, Jake estava seguindo a linha do rio a linha azul, e não a verde?!

Zoe olhou para o lado, e os chamou:

–Pessoal, o rio esta aqui do lado- então passamos a algumas arvores e o avistamos, coloquei minha mão na testa.

–Calma, é só nós analisamos o mapa.- disse eu.

–Me da isso aqui- Zoe tentou pegar o mapa de Jake.

–Ainda não calma!- ele ergueu o papel pra cima fazendo com que Zoe não conseguisse pegar. Mas então um vento forte bateu, o mapa voou da mão de Jake e caiu dentro do rio, a correnteza era tão forte que foi levando o papel, e depois vi ele se dispersando em vários pedacinhos.

–oh-oh- murmurou Jake.- Nosso acampamento foi por água a baixo, literalmente!

Merda! Estamos perdidos.