Eu estava certamente confusa, considerando o fato de que eu achava impossível que Clarie tivesse uma filha por volta de uns nove anos de idade, e o mais impossível de acreditar ela havia visto Mylla?

–Você a viu? – perguntei assustada.

–Sim – ela riu – minha mãe disse que é tudo imaginação minha, mas eu sei que são amigos imaginários – ela riu novamente, não aceitava o fato de uma garotinha tão jovem tivesse o mesmo tipo de problema que eu e parecesse tão, alegre. Ty me encarou, na expressão dele dava para interpretar facialmente.

–Eu acho que sim, Ty- falei referente à cara dele de Ela-também-vê-almas? Ele suspirou fundo e se sentou do lado da garotinha.

–Quem é Clarie?- ele perguntou, ops esqueci-me de contar que meu tio estava de namorada. Mas Abby explicou, com toda a graciosidade de uma criança. Tyler me encarou pra ver se os fatos contados por ela eram verdade então assenti com a cabeça.

–Abby, me conte mais sobre seus amigos imaginários- a pedi, e, eu não podia falar nada do gênero “não são amigos imaginários”, por que eu lembro que já usei essa desculpa, de falar com amigos imaginários para meu tio, porem eu sabia a verdade, ela pode não saber...

–Eu não consigo tocar neles, mais eles estão sempre sorrindo, e eu corro e passo no meio deles- então ela riu como se lembrasse de algum momento- um dia perguntei pra uma minha amiga imaginaria se ela era um fantasma, mas ela disse que não. – Pelo que ela disse talvez ela ainda não tivesse nenhum problema grave dela com as almas. Mas eu também não tinha, e, olha a minha situação...

Ouvi passos e risos na escada, deduzi serem meus “tios”.

–Anw você é tão fofo – disse minha pré tia.

–Você que é meu chuchuzinho – repondeu meu tio, eu senti náusea é sério...

– Ah, vocês estão na sala- Clarie concentrou em Ty e logo se virou para mim– Quem é Yla?

E agora o que eu respondia? Mas não precisei.

–O namorado dela- interrompeu Ty, e logo meu tio me lançou um olhar, que eu fiquei entre Você-mentiu-pra-mim ou seu-“amigo”-aham...

– Kayla como ele é lindo - Clarie surtou, eu não queria ter de me acostumar com isso.

–Ah obrigado – Ty corou, eu tive de rir dessa cena.

–Mas então vamos filinha?- chamou Clarie em um gesto com a mão.

–Claro, mamãe- então quando ela passou em minha frente me deu um abraço e sussurrou- outro dia nos conversamos sobre os amigos imaginários ok? –e saiu sorrindo e cantarolando.

Eu e Ty subimos para o quarto em quanto meu tio se despedia.

–Aquela é sua tia? É que, bem ela não parece ter idade pra ser mãe, ela é bem, bem, bonita- ele não queria falar, mas seus olhos se denunciavam.

–Não sei se posso chama-la de tia, mas sim ela é gostosa- eu ri

–Eu não disse isso- ele se envorgonhou

–Mas pensou- retruquei então ele se enrolou pra falar- obviamente que pensou

–E se você estiver errada? – ele levantou a sobrancelha e deu um meio sorriso

–Daí você é gay- e rimos juntos

–Eu não sou gay!- ele exclamou

–Sei- o provoquei

–Não um gay não faria isso- então ele me puxou pelo braço e me beijou... Quando comecei a ficar sem ar me soltei levemente, além de ser estranho de uma hora pra outra beijar meu até então, melhor amigo...

–Não você não é gay- ri

Mas então suspirei fundo, havia assuntos importantes a falar com ele, tipo, aquela garotinha que acabou de se apresentar como Abby também vê almas...

–E aquela menininha?- perguntou Ty, como se lesse minha mente.

–Eu não sei nos precisamos ajuda-la, você sabe que se ela continuar falando com as almas ela vai acabar...

–Sei- ele interrompeu- Mas conversamos isso amanhã, na viagem...

Eu havia me esquecido, ah, a viagem...

–Vai dormir que amanhã vai ter de acordar cedo- ele falou- Tenha bons sonhos

–Tudo bem- disse por fim, não estava cansada mesmo assim deitei em minha cama e me cobri. Já ouviu aquele frase “dormir às vezes é o melhor remédio” bem era isso que eu queria acreditar. Ty apagou as luzes e desceu, não sei acho que foi embora.

Eu respirei fundo, a janela estava aberta deixando apenas o brilho da lua iluminar meu quarto, apenas ele era o suficiente para eu enxergar tudo em minha volta, era apenas necessário isso para eu poder pensar, organizar meus pensamentos se é que possível.

Hoje eu havia limpado a casa com Mylla do meu lado, fazendo piadas, brincadeiras, palhaçadas e trocando concelhos, Ty tinha se recuperado, tinha se declarado, o que foi uma surpresa pra mim, um sorriso bobo apareceu em minha face, porém a velha senhora apareceu, e só de eu ver ela já me dá a incerteza do que pode acontecer depois, vi também as almas pecadoras, o que seria um destino ruim, vagar pelo mundo sempre sem saber aonde ir, sem saber quem é e o que está fazendo, não quero este caminho pensei, tive duas perdas muito significativas, não veria minha mãe e nem minha melhor amiga, pode parecer muito dramático, e é, imagine aguentar a perda de sua mãe, nunca mais a ouvir brigando com você ou a dizendo “eu te amo” e lhe dando um confortável abraço, e imagine perder sua melhor amiga, a pessoa que mais te faz bem, te faz se sentir melhor, uma das pessoas que mais confiastes no mundo, desaparecer simplesmente para poder te ajudar, e detalhe para sempre, eu tentei segurar, mas uma lagrima rolou pelos meus olhos, eu iria sentir falta, também uma garotinha, denominada de filha de Clarie, enxerga almas, e eu tenho pena dela quero e quero ajudar, se o caso dela também avançar tenho medo no que a vida dela pode se transformar. Realmente Ty e May são os únicos que me restam, e amanhã eu teria que fazer uma viajem, uma viagem longa, pois a vida de Ty esta em jogo, não eu não aguentaria mais uma perda. Fechei os olhos e me concentrei, tentei pensar em coisas boas para o sono vir, o que não deu certo eu pensava na minha mãe em Mylla, e isso me dava mais insônia. Então arrisquei em uma poesia, para passar o tempo, que eu tinha feito no oitavo ano quando tinha 13 anos.

Deixe sua mente
Pensar e voar sempre livremente,
E só assim por ela mesma então,
Encontrará os caminhos do teu coração.

Acho legal ficar assim,
Sem ter que me preocupar
Se amanhã será meu fim,
Pois estarei bastante ocupado
Apenas cuidando de mim,
Pondo qualquer tristeza de lado.

Acho bastante careta
A gente ter que se preocupar,
Caso alguma aconteça
Vindo ao nosso coração machucar
Pois depois, tudo vai passar
Já que a vida sempre foi assim
Em sua eterna jornada sem fim.

Tentei acreditar no poema que eu própria escrevi em anos atrás, mas tomei-a naquela hora como um incentivo. “Tudo vai passar, já que a vida sempre foi assim, em sua eterna jornada sem fim” repetia em minha mente. Até que o sono tomou-me conta.

–Bom dia- uma voz me tirou do sono, abri os olhos ainda um pouco incomodada com a claridade, e vi na minha frente Ty, com um pouco de esforço disse arrastando as palavras.

–Ty?! Que horas são- então bocejei

–5:30 da manhã- ele sorriu

Foi um impulso eu joguei meu travesseiro nele e com o cobertor cobri-me até a cabeça

–Você é louco! Deixe-me dormir- sussurrei então o besta puxou toda a minha coberta.

–Acorda!- ele riu

–Argh!- levantei- Minha mãe era mais delicada! – dei-lhe um tapa, que provavelmente doeu.

Eu me arrumei, não fiz mala nem nada não precisava, nos iriamos e voltaríamos se possível no mesmo dia.

Embarcamos no carro que já estava estacionado, entrei no banco da frente e rebaixei-o ao máximo.

–O que vai fazer?- perguntou Ty girando a chave do carro

–Dormir- disse lentamente, e apenas o escutei rindo.

–Daqui a oito horas te acordo então- ele disse

–Eu não durmo tanto tempo assim- sorri- mas daqui a umas três ou quatro pode me acordar- fechei os olhos e acabei dormindo.

–Yla!- Ty gritou para me acordar, nada educado eu sei- chegamos avisou ele.

Como assim? Eu havia dormido nessas oito horas de viagem? Que vergonha! Mas eu realmente estava com o sono atrasado.

–Em Melpisd?- perguntei levantando rápido.

–Sim- ele me olhou desconfortável- e na frente da tal casa que mora o filho da senhora. -Quando ele disse isso sai mediatamente do carro, eu me arrepiei ao ver o lugar. Era um casarão de madeira, a madeira parecia velha, pois sua cor parecia encardida um marro escuro misturada com preto, às janelas eram de vidro, mas estava vandalizada, quebradas com marcas de bolas, ou será de tiros, não havia se quer um portão, e a porta era normal, bem normal que eu digo é em tamanho, pois nela havia esculpida na madeira a cabeça de um leão, me arrepiei só de olhar, a casa era digna daquelas de filme de terror. Isso não era boa coisa. Fechei a porta do carro, e fui ao lado de Ty.

–Eu estou com medo- sussurrei o olhando

–Eu queria falar ao contrário, mas não posso- ele respondeu.

Quando retornei a visão na casa vi o que eu não queria ver, a senhora parada na frente, com o olhar penetrante, parecia até que com esse olhar poderia bifurcar meu corpo.

–Entrem, se levarem sorte e fazer o que eu lhes pedi talvez sobrevivam se quiserem desistir, bem, diga adeus Tyler Owen – ela sorriu sínica, queria que ela estivesse mentindo, mas a precisão das palavras eras firmes e seguras, ela não estava brincando, as palavras “se levarem sorte e fazer o que eu lhes pedi talvez sobrevivam” não parecia ser apenas para nos intimar...