My Red Cherry escrita por Miahh


Capítulo 3
Você está morta, não está?




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Um agente qualquer tirava as digitais da Melody – era a única coisa que havia respondido quando Teresa a levou dali, há duas horas. Van Pelt investigava o histórico da tal Melody, usando apenas o primeiro nome oferecido. Rigsby assistia junto de Cho, o interrogatório que parecia não surtir efeito. As suas respostas eram curtas e sem muita explicação. Ela estava dispersa, Jane suspeitava que talvez estivesse aflita e medrosa, e a falta de atenção seria sua “mascara” para fingir que não ligava e que não se importava com nada.

–Qual o seu nome?

–Já disse, Melody.

–Foi o nome que te deram no centro. Sei que não é o seu nome verdadeiro. Qual é o teu nome de verdade?

–Me-lo-dy.

Lisbon suspirou e tentou fingir que estava calma. Lidar com adolescentes era tão estressante que a fazia agradecer por não ter tido filhos.

–Por que não me diz o teu nome de verdade?

–Por que não se casa com o seu consultor?

Cho e Rigsby riram por detrás da parede de vidro. Patrick soltou um riso e Teresa corou. Ela estava ficando possessa. Era hora do Jane intervir.

–O que você tanto esconde? Quem é que está por trás disso? Não é você, claro. Mesmo sendo inteligente, não é capaz de cometer tais atrocidades.

–E quem disse? E se eu for a assassina das meninas? Quem disse que eu não poderia ser?

–Você é pura de coração e alma. É bondosa. Não tem coragem de matar ninguém.

–Você também é, mas já matou um homem.

Todos a olharam assustados e uma palavra veio em mente “Red John”.

–Quem está por trás disso?

–Não sei.

–Você sabe.

–Quem disse?

Todos já estavam ficando cansados daquele jogo sem fim. Até mesmo Grace, que nem estava assistindo o interrogatório, mas estava tendo uma tremenda dor de cabeça com os relatórios que a chefe pediu.

–Chefe, posso falar com você por um minuto?

–Claro. Vamos Jane. – A garota soltou um risinho – E você, Melody, fique ai. Nós já voltamos.

–C’est bien.

Eles se reuniram todos atrás da parede de vidro, assim permaneciam de olho na garota. Do jeito que era inteligente, poderia estar pronta para fugir.

–Chefe, eu tenho um problema com os relatórios da Melody.

–Diga.

–Bom... Com o nome de Melody, eu achei algumas coisas. Ela tem dezesseis anos de idade, é uma aluna excelente na escola, sendo nessa muito boa nas aulas de piano e francês, além de falar muito bem o espanhol.

–Continue.

–O psicólogo da instituição disse em um relatório, que ela tinha uma inteligência muito acima da média, porém é muito ingênua e que “apresenta quadros graves de ansiedade e tem um possível transtorno de estresse pós traumático”.

–Pós traumático? Você achou o que a fez parar naquele lugar?

–Esse é o problema, chefe. Tudo que tem a ver com sua vida pessoal, está apagado. É como se alguém tivesse mexido nos documentos e tivesse deletado todo o passado dela. É como se não houvesse outra pessoa, somente a Melody.

–Estranho.

–Você ainda não viu nada, olhe isso aqui – Ela apontou para os papeis que segurava – Diz que ela está lá desde os seis anos de idade. E ninguém sabe nada dela.

–Seis anos de idade? Isso é muito tempo. Dez anos praticamente.

Patrick sentiu um pressentimento muito forte e passou a encarar por detrás do vidro, a imagem da garota sentada, calada, passando a mão nos cabelos e mexendo os pés de forma ansiosa. Quais eram as chances daquela garota ser a sua filha?

Muitas.

–Eu vou lá fazer mais algumas perguntas. Você vem junto, Lisbon?

–Sim.

**

–Vocês voltaram. Achei que iriam me mandar para “casa” agora – Disse a menina de forma debochada e com um sorriso estranhamente melancólico, como se ela estivesse se forçando demais para fingir ser alguém que não era. Jane notava em como estava exausta, mentalmente e fisicamente falando. Podia-se ver pelas olheiras que ela não dormia bem há tempos. Medo de ser pega a noite e morta? Talvez sim, mas juntando com o cansaço psicológico, era algo pior. Era algo muito pior.

–Temos mais algumas perguntas para você – Lisbon prosseguiu – Quer começar, Jane?

–Adoraria. – Ele respirou fundo e se sentou, mirando os olhos da garota. O seu dedo pousou sobre o pulso da mesma, a fazendo estremecer. Ela sabia que as coisas estavam ficando mais sérias e que seu joguinho estava quase no fim. Porém, não estava com medo. Ela sentia alivio. – Qual é o seu nome?

Ela arfou.

–Mas de novo com esse negocio de nome? Já disse que o meu nome é Melody.

–Ok – Ele deu continuidade, não se deixando levar pela acidez da garota. O dedo ainda no mesmo lugar – Nasceu aonde?

–Malibu.

–Certo... Tem quantos anos?

–Dezesseis anos.

Ele respirou fundo.

–Red John te colocou nisso, não foi?

Ela tirou o braço das garras do consultor.

–Não tem graça. Isso não é um jogo estúpido, eu não sou uma atriz. Pare de falar como se eu estivesse fingindo.

–Você não é a minha filha. – Proclamou, deixando todos os outros agentes com uma expressão estarrecida, afinal como ele sabia? E como ela poderia ser a filha dele? – Minha filha está morta e o Red John está pregando mais uma peça em mim.

–E o que você sabe? Como pode ter tanta certeza assim?

–Porque eu vi o corpo da minha filha – Ele deu ênfase no “filha” – Atirado na cama, junto da mãe dela. Eu vi aquilo. Eu vejo todas as noites, na minha cabeça. Eu...

Ele se levantou com dificuldade, pois estava com dor, muita dor de cabeça e no peito. Sua mão estava apoiada na mesa, pois as pernas não suportavam o próprio peso e tudo parecia estar confuso. Nada fazia sentido. Aquela menina parada bem na frente dele, clamava sendo sua filha, uma filha que estava morta. Como era possível? Ele esteve errado todos esses anos? O que o Red John queria com ele dessa vez? Por que brincar com os seus sentimentos dessa forma, tão cruel? Por que pegar uma menina que parecia sua Charlotte, e usa-la como isca para leva-lo a loucura?

Tudo girava e aos poucos Jane foi perdendo a consciência. Antes de cair e ter como seu destino, um quarto de hospital, ele virou a cabeça, avistando a menina pela última vez. Ela estava de pé, com as mãos juntas perto da boca. Assustada, temerosa. Havia lagrimas de dor escorrendo pelas bochechas. Seu corpo se empurrava contra a parede, como se ela fosse magicamente passar por ela, evitando que visse aquela cena.

Tudo ficou preto e aos poucos ele foi perdendo os outros sentidos. Ouvia ainda alguns passos e a Lisbon gritando em plenos pulmões, desesperada. No fundo um choro infantil era ouvido e um “desculpe, pai” foi murmurado de forma melancólica, pelos lábios trêmulos da jovem.

Ela era a filha dele.

E ele sabia disso.


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