O voo foi tranquilo, apesar de que nenhum de nós dormiu. Assistimos “As Vantagens de Ser Invisível” nas pequenas telinhas de televisão grudadas na frente de nossos assentos. Na verdade, eu já havia assistido aquele filme pelo menos cinco vezes, e não conseguia chegar ao final pois eu já sabia o que acontecia com Charlie. Quando o filme acabou, fiquei olhando pela janela do avião, nada em particular, somente as nuvens e o nascer do sol, seja lá aonde estivéssemos. Em um momento, Samuel grudou em mim, quase me sufocando. Ficou fazendo comentários sobre como o nascer do sol e as nuvens eram bonitas dali em cima. Já tinha visto essa técnica dele em filmes e livros, mas fiquei calada.

Ao chegar no aeroporto, reconheci o pequeno saguão de embarque internacional, com apenas duas esteiras para descarregamento de malas, sendo que uma estava quebrada. Eu nunca pensaria que voltaria a aquela cidade. Passei metade de minha vida morando em Brasília, e em todos aqueles anos, tudo o que eu queria era morar em outro lugar. Samuel também parecia decepcionado em estar de volta, e não posso culpá-lo disso. A única pessoa que parecia estar feliz era Vanessa, que nunca estivera no Brasil.

- Susan Weasley? – Perguntou uma mulher, assim que saímos do saguão de desembarque.

- Sim? – Perguntei. A mulher tinha cabelos longos, escuros e ondulados, bem parecidos com os meus, mas os olhos dela eram cinzas, como de Annabeth.

- Prazer em conhecê-la pessoalmente. Acredito que você saiba quem eu sou.

Do jeito que ela falou, percebi que a voz dela era a voz que sempre me dava conselhos, e, de acordo com o que outros semideuses falavam...

- Sim. Prazer em conhecê-la, mamãe.

Meus amigos ficaram mudos. Até Vanessa, que sempre falava muito, ficou calada.

- Ah, estes são meus amigos...

- Vanessa, filha de Íris e Samuel, filho de Apolo. Prazer, crianças. Bom, acredito que vocês não saibam porquê eu estou aqui. Nunca tive a experiência de ajudar um de meus filhos em uma missão. Aproveitei que Hera estava discutindo com Zeus sobre ter pulado a cer... enfim, quero ajudá-los na missão. Vamos ficar hospedados em um hotel no centro da cidade. Se preciso, mudamos de hotel. A missão não deve durar mais de uma semana, e dinheiro mortal não é algo raro de se achar.

- Vocês tem uma árvore de dinheiro no Olimpo? – Samuel perguntou. Senti uma ponta de vergonha de ter um amigo que fazia perguntas idiotas. Felizmente, mamãe sorriu.

- Na verdade, não. Mas enganar mortais é tão fácil que só precisamos convencê-los de que os dracmas valem muito. Veja só, aluguei duas suítes máster na cobertura por dez dracmas.

                                                                 ...

- Eu pensava que você estava nos levando para o centro da cidade!

- Vocês querem uma missão ou se divertir?

- Nos divertirem – Vanessa e Samuel falaram em uníssono.

Minha mãe olhou para mim, que estava sentada no banco de passageiro da frente, como se estivesse perguntando se eu também não queria me divertir. Na verdade, passei noventa e nove por cento de minha vida imaginando como seria lutar ou participar de missões, e esse sonho estava se realizando.

- Matar monstros já é divertido o suficiente – resmunguei.

- Que bom que você concorda. Pois o lugar que vamos vai requer muita coragem de todos vocês.