Depois de dormirmos três horas em uma cama de casal minúscula, tomamos café da manhã no Dunkin’ Donuts e pedimos para uma família nos levar até o parque. Eu sei, não se deve confiar em estranhos, mas a família parecia normal. A filha mais nova, que devia ter uns quatro anos, estava gritando: “Eba! Eba! Vou para a Ilha da Aventura!”. A oportunidade surgiu, e Vanessa, por ser a mais espontânea do trio, pediu para que a família nos desse carona. O pai reclamou um pouco, dizendo que o carro estava cheio, e que seria perigoso; perguntou aonde nossos pais estavam, e inventamos uma mentira impossível de se acreditar; contamos que perdemos o ônibus de excursão do acampamento ( o que justificou o porquê de estarmos vestindo roupas iguais). Por fim, a mulher convenceu o marido de nos levar.

Depois de descermos do carro, demos dez dólares para o homem, para satisfazê-lo. Compramos ingressos e ficamos passeando pela área de compras, pois o parque ainda não estava aberto. Compramos roupas novas; eu, comprei duas camisetas e um short de malha; Vanessa comprou roupas de hippies, que eram tingidas com arco-íris (do jeitinho que ela gosta); Samuel comprou apenas uma camiseta, que dizia “Coisa 1”.

Quando o parque finalmente abriu, íamos direto para a Ilha de Poseidon quando Vanessa falou:

– Gente! Olhem só, aquela montanha-russa! Não é demais?

A montanha russa era maior do que o prédio em que eu morava. Devia ter pelo menos sessenta metros de altura. Ouvimos pessoas gritarem quando o carrinho passava por um loop e caía trinta metros abaixo. Não resisti.

– Vamos lá! Nós já estamos aqui mesmo!

Fomos. O brinquedo era muito legal, porém me deixou tonta. Quando saímos, fomos correndo até a Ilha de Poseidon. O lugar era lindo, na entrada, havia uma loja de souvenir que vendia pérolas e pedras preciosas; havia também uma imitação de montanhas, esculpidas com o rosto de quem imaginava ser Poseidon e Medusa. Havia uma fonte que me deu o maior susto quando cheguei perto. Ela espirrou água e gritou “uh, camiseta legal!” As pessoas olharam para mim e começaram a rir. Samuel tentou me ajudar, chegando perto da fonte. “desculpe-me, bom rapaz, se eu molhei sua namorada”. Vanessa olha para mim fazendo um sorriso malicioso. Eu ponho minhas mãos no rosto.

– Ei, ela não é minha-

– Ah, vocês ainda estão na friendzone! – a fonte retruca.

De repente, água jorrou de todos os lados. As pessoas saíram correndo, e a fonte finalmente se calou. Um homem bronzeado de barba longa e preta chegou perto de nós, rindo. Ele estava com um copo de limonada na mão.

– Não se preocupem, crianças. Sou eu, a pessoa que Quíron mencionou.

– Você controla a água – pensei alto – você é...

– Sim, filha de Atena.

Vanessa encara o deus.

– Você não parece com o cara que eu imaginava, com todo o respeito.

O deus olha de volta para ela. Os olhos dele são verdes, da cor do mar. De dar inveja. Ele ri.

– Bom, pedi para Quíron que avisasse vocês que estaria aqui. A primeira coisa que tenho a lhes dizer é que vocês estão indo para o lugar errado. O sul em que a profecia se referia era na América do Sul, provavelmente perto de onde você morou – ele diz, olhando para mim – aliás, preciso de um favor. Sei que poderia fazer isso por mim mesmo, porém estou muito ocupado. Alguns semideuses partirão em um navio em busca de meu filho, Perseu. Quero que vocês encontrem um amuleto para a proteção do navio. Não sei onde ele está, mas tudo aponta que está bem perto do lugar em que vocês irão.

– E o que ganhamos com isso? – Samuel pergunta delicadamente

– A proteção que o amuleto transmite é muito forte. Poderia ser útil em missões futuras.

– Mas o que ganhamos para realizar essa missão? – pergunta Samuel, novamente – Tipo, por uns cem dólares, eu toparia.

– Sam! – Vanessa grita, dando um tapa bem forte no ombro dele

– Não tem problema. Dinheiro mortal não vale muito para nós, Olimpianos – Poseidon responde, abrindo uma carteira estampada de bolhas – Boa sorte na missão dupla. Aliás, o navio deve partir logo, em cerca de duas semanas. Tentem ter sucesso.