Its A Boy Girl Thing escrita por jenny lavigne


Capítulo 18
Tal pai ,tal filho


Notas iniciais do capítulo

oiii pessoal ,mil desculpas ,eu resolvi fazer um cap. mais ou menos paralelo para explicar a relação pai e filho do scorpius com o draco.



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No início, os filhos amam os pais. Depois de um certo tempo, passam a julgá-los. Raramente ou quase nunca os perdoam.
(Oscar Wilde)

 


Pov Scorpius


Uma vez Malfoy, sempre Malfoy, era o que dizia meu pai.

Estava convicto de que nada seria capaz de mudar o que eu sou. E ser um Malfoy é ser digno do orgulho e preconceito. Quando alguém tenta mudar isso o trabalho se torna em vão.

– Jamais se esqueça, filho – dissera meu pai antes de me levar para o expresso de Hogwarts no primeiro ano. – Se alguém tentar mudar o que é, certifique-se de liquidá-lo até os ossos como mera vingança. Não dê satisfação à vulnerabilidade, jamais. Você vale mais do que qualquer pessoa nesse mundo. Perto de você, elas são insignificantes.

Hoje, contudo, todos discordam da afirmação. Passei minha infância, antes de comprar minha primeira varinha, desejando, como todos da família, ser um leal sonserino. Meu desejo foi realizado, mas o chapéu seletor parecera extremamente duvidoso, e demorara algum tempo para escolher a casa.

Sentia o silêncio, contudo não o escutava. Meus pensamentos estavam petrificados, e eu suplicava pela Sonserina. Lembro-me de como estava nervoso. O chapéu seletor dizia-me coisas com as quais ainda hoje penso, mas não dou valor. Pois meu maior medo era fazer injustiça ao nome da minha família. Eu não queria desapontar meus pais, meus avós. Uma vez Malfoy, sempre Malfoy.

Os aplausos ecoaram quando o chapéu anunciou: SONSERINA.

Eu sorrira triunfante, aliviado.

Daquele dia em diante tornei-me leal a minha casa, recebendo pontuações principalmente pelas minhas notas, e agindo como meu pai ensinara-me quando era pequeno; a nunca confiar inteiramente nas pessoas, a perceber as intenções delas, a não entrar em jogos que poderiam levar-me até a morte. E principalmente, a não confraternizar com o inimigo. Ele havia dito:

– Não espere que, ao entrar em Hogwarts, todos admirem você, Scorpius. Ainda não têm inimigos, mas terá.

Ele era um homem que tirara conclusões ferindo-se à própria pele. Orgulhava-se de saber que eu o admirava. Assim como, também, orgulhava-se de saber que seu filho único era um sonserino e um digno Malfoy de sangue puro.

Quando meu pai contava sobre o seu passado, sua expressão ficava vazia como se ele se arrependesse de alguma coisa. Quando criança, nunca imaginara que um dia ele pudesse ter se reunido a Lord Voldemort, entrado, como resto de minha família, para o lado das Trevas no momento mais negro da história da magia. Todas as informações do passado da minha família eu havia descoberto sozinho, coletando, no escritório da minha mãe, todos os exemplares do Profeta Diário desde a última vez que Lord Voldemort retornara até a última vez em que vivera. Também exigi que minha mãe contasse tudo sobre o passado do meu pai, e ela o fez. Mas meu pai jamais quis dizer alguma coisa sobre isso.

Naquele dia ele estava deitado no sofá, e bebia uma garrafa de wisky, olhando para o teto. Sua aparência estava terrível, de longe e de perto. Quando desci as escadas a passos lentos, indiscretos e silenciosos, meu pai me encarou, mais pálido que nunca, e o cabelo despenteado. Aquilo me pegara de surpresa.

Eu estava no segundo ano em Hogwarts, tinha apenas doze anos, mas sabia exatamente quando um homem parecia infeliz. Logo culpei a mim mesmo, imaginando o que eu havia feito para ele estar daquele jeito. Eu era o único filho dele, o melhor amigo dele, e com certeza eu o havia desapontado.

– Pai...

Ficara calado, olhando-me. Pisquei meus olhos e hesitei. Eu segurava, com proteção entre meus dedos, a coruja que ele comprara no ano passado. Ela estava morta.

– Quando for mais velho, passará pelo que estou passando agora.

Sei que ele queria que eu concordasse, como sempre fizera quando dizia alguma coisa sobre o meu futuro, mas na minha mente a cena em que eu estaria deitado, com a aparência derrotada, bebendo no sofá da mansão, não me parecia algo pelo qual gostaria de enfrentar na vida.

– Ela morreu – eu crocitei, contudo ele não dera atenção ao meu sofrimento perante o ocorrido inesperado. A coruja era pequena, mas voava como o vento, seus pelos manchados de um tom claro de marrom e o bico negro. Agora ela não se mexia mais.

– Jogue fora, então – ele respondeu com azedume, sentando-se no sofá. Franzi a testa. – Amanhã compraremos outra.

Eu ia protestar, mas meu pai interveio:

– Ela fez alguma diferença na sua vida, Scorpius?

– Não, mas...

– Então não merece o seu sofrimento. Aliás, ela está morta. Não pode fazer nada.

Ele se levantou, cambaleando. Dava-se para perceber que se tomasse outro gole de wisky ficaria bêbado.

Tentei encará-lo, mas olhei para o chão. Assim que papai tomou mais um gole do wisky, minha mãe entrou na sala, crispando nervosamente e agarrou-me pelo braço. A coruja caiu de minha mão, colidindo-se contra o piso com estrépito.

– Que vergonha – ela murmurou com desprezo a ele. – Bebendo na nossa sala, na frente de nosso filho. Como ousa, Draco?

Quando meu pai balbuciou alguma coisa, desanimado, mamãe virou-se para mim e mandou que eu subisse.

– Mas a minha coruja...

– Vá, Scorpius! – gritou meu pai, e eu me virei assustado. – Ou queimarei essa coruja de uma vez por todas!

– Não grite com o meu filho! – berrou minha mãe, apontando o dedo para ele. Mamãe suspirou pesadamente, sem tirar os dedos firmes de meu braço. Eu tentei me inclinar para pegar de volta a coruja morta, mas ela não deixou. Estava demasiada fora de controle. – Nos dê licença, Scorpius...

Percebendo a demora que me instituía, minha mãe me levou para as escadas, arrastando-me pelo braço. Olhei para ela, e ela olhou para mim, meramente zangada.

– Não deseje ficar aqui, volte para seu quarto.

– Eu quero saber o que está acontecendo – repliquei teimosamente.

– Saia daqui, Scorpius Malfoy!

– Não se aproxime – advertiu minha mãe, assim que meu pai deu um passo em minha direção. – Só volte para essa casa quando estiver sóbrio.

Ouvi o tilintar da garrafa de wisky se despedaçando em cacos de vidro.

– O senhor disse que iria me levar para o jogo de Quadribol hoje – eu disse, baixinho, quando ele deus as costas para nós.

Sem se virar ao dizer antes de aparatar:

– Sua mãe faz esse trabalho.

E ele sabia que eu havia esperado por isso há mais de um ano, e ele sabia que eu queria que ele me levasse. Naquele instante, todas as horas que passamos juntos pareceram distantes na minha memória. Eu estava decepcionado, assim quando você percebe que o seu herói desiste de ganhar a batalha por você.

Quando ele foi embora, olhei para minha mãe. Culpei-a infantilmente por tudo que acontecera. Eu era cegamente orgulhoso para não entender a preocupação dela.

– Ele voltará – dissera ela, no dia seguinte, quando me viu olhando a paisagem pela janela, calado, esperando meu pai aparecer de supetão. Ela continuou: – Enterrei sua coruja, como você me pediu.

– Papai não vai voltar.

Disseram-me como era parecido com meu pai, na aparência, no cabelo, no rosto pálido, em praticamente tudo. Eles me consideravam um pequeno Draco Malfoy, exceto pelos olhos. Azuis e escuros. Iguais aos da minha mãe. Que naquele momento brilhavam de preocupação, no evidente sinal de que também gostaria de saber: “E se ele não voltasse?”.

– Aposto como não vai querer cometer esse erro – respondeu ela, e tentei encontrar a convicção nas palavras. – Ele ama você.

E, sinceramente, a dúvida era cruel agora.

Passaram-se algumas horas. Minha avó Narcisa trouxera uma nova coruja, maior e que piava graciosamente, presa na gaiola de ferro, justamente para mim. A coruja tinha os olhos negros, e assim que os vi, fiquei durante um bom tempo olhando para eles.

Dei tanta atenção à nova coruja que me esqueci, por alguns minutos, que meu pai não estava em casa. Minha avó tentava me distrair, mas fui bem ensinado a desconfiar de algumas atitudes e percebi que alguma coisa estava acontecendo.

E elas acharam que poderiam esconder aquilo de mim. Pela primeira vez senti-me humilhado e enganado pela minha própria família. Como se eu fosse demasiadamente tolo e ingênuo.

– Onde ele está? – perguntei rispidamente, interrompendo a história da infância maravilhosamente rica que minha avó tinha. – Ele não vai voltar, não é mesmo?

Levantei-me da mesa apressado, procurando pela minha mãe enquanto minha avó me seguia pelos corredores quase infinitos da mansão.

Quando entrei na cozinha, jamais esqueci aquele momento. Meu pai havia voltado. Mamãe ao seu lado, olhando-me com alguma expressão indecifrável. Corri abraçá-lo. As mãos dele me empurraram friamente.

– Devia saber o quanto é fraco, Scorpius.

Minha avó ofegara diante daquelas palavras, como se a atingissem. Senti uma espécie de ódio entrelaçado a sensação de vergonha. A principio, não entendi as palavras, por isso tentei de todas as maneiras ignorá-las.

Foi impossível.

Olhava para meu pai, arrependido de qualquer ato que tenha cometido.

– O que foi que fiz?

– Isso, Scorpius – cuspiu as palavras como se elas queimassem sua língua. – Um homem que tem o coração sensível fracassará um dia, pois um mundo injusto não merece nossa compaixão. Não deveria esperar que eu voltasse, deveria me desprezar agora, e não querer abraçar-me. Nem como filho, nem como amigo.

Sem controvérsias, ele se dirigiu em direção à porta da cozinha. Baixei meus olhos para o chão, petrificado com o ardor das palavras dele. Eu estava disposto a perdoá-lo, pois ele era meu pai, meu protetor, meu único herói.

Mas ele não queria ser perdoado.

– Não demonstre mais fraqueza do que já tem – replicou ele, com a voz baixa. – Erga sua cabeça. Isso é vergonhoso.

Então jamais o perdoei.

Frieza e silêncio, repelindo orgulho e desconfiança. Descobri como era ser um Malfoy; leal ao sangue-puro que eu possuía e justo ao poder da racionalidade que atingia meus pensamentos. Finalmente, encontrava-me invulnerável na conquista. Mas nada disso era bom o bastante para meu pai. Eu nunca soube o que seria.

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Notas finais do capítulo

comentem!!!!!!!