As pessoas dentro do salão real, conversam tensas sem parar.

— SIROCCO!! — Mikayla socou a porta recém-fechada.

            — Por que, você apertou o botão de emergência, Lanny? — diz Boomer pegando o garoto pelos ombros. — Era para ter esperado todos entrarem.

            — Eu... Escorreguei... — diz Lanny escondendo um sorriso, atrás de sua sínica expressão de pena.

            Mikayla o agarra pelo pescoço.

            — Abra essa porta agora!

            Mason tira Mikayla de cima do príncipe, que se segura para não dar uma risada vilanesca. Em vez disto, ele deixa escapar um esgar, o que para ouvidos destreinados de Boomer era um choro.

            — Se controle Mikayla — diz Mason, tentando controlar a garota. — Não dá mais para abrir a porta, não do jeito convencional, Lanny teve a competência de quebrar o botão de emergência.

            — E o que faremos agora? — diz Boomer.

            — Eu não sei... — diz Mason cabisbaixo. — Mas precisamos de um plano.

***

            Do lado de fora do castelo, Sirocco estava de costas para a porta que havia se fechado diante de seus olhos (particularmente em seu nariz). Por mais que gritasse, as pessoas do lado de dentro não ouviam, pois ao que parecia estavam gritando também. A chuva se suavizou, dando espaço para uma densa neblina sobrenatural, que ocupou todo o campo de visão do herói.

            — EU TE DESAFIO TUTANKAMON DE MEIA TIGELA! — Diz Sirocco a pleno pulmões.

            Duas sombras se aproximando passaram a ser vistas por Sirocco. A múmia entrou em seu campo de visão, e ao seu lado um sarcófago em pé, flutuava alguns centímetros acima do chão.

            Agora que prestara mais atenção, Sirocco, podia ver uma nova leva de inimigos se aproximando por todos os cantos, ele estava completamente cercado.

            — O que é que eu estou falando? — diz Sirocco, batendo na porta em pânico. — SOCORRO!!! AHAAAHAAAAAAAAAAA!!!!

            — Achou que poderia me deter? — diz a múmia, a voz ainda mais horripilante. — Saia da minha frente e me entregue o medalhão!

            A múmia estendeu a mão em direção a Sirocco, para salientar sua ameaça.

            — Espera ai, você quer que eu saia da sua frente, ou te entregue o medalhão? — diz Sirocco coçando a nuca.

            A múmia que não era muito inteligente (talvez fosse cinco mil anos atrás), ficou pensativa.

            — Bem... Prefiro que me entregue o medalhão do morcego. — diz por fim.

            — Ah me desculpe, mais eu não tenho nenhum medalhão. — diz Sirocco sem graça. — Mais se quiser eu posso sair da sua frente.

            Neste momento a múmia já estava enfurecida, abre a boca em um grito furioso, fazendo Sirocco se chocar na grande porta com grande força.

            — Você não tinha mencionado essa opção! — diz Sirocco trincando os dentes.

            — PASSAREI POR CIMA DE VOCÊ! E ESMAGAREI ESTE CASTELO, PEDRA POR PEDRA!!! — gritou a múmia tão alto que fazia o chão e todas as estruturas tremerem. — HHHAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!

            — AAAAAAAAAAAAAAAW!!!! —            gritou Sirocco em resposta encolhido no centro da porta.

            O rugido da múmia, fez a grande porta do castelo explodir, todos que estavam dentro do salão real caíram no chão. Passando seu mestre, os tarântulas contornaram os destroços e voltaram a lutar contra os poucos indivíduos que ainda resistiam.

            A múmia adentrou o castelo, com orgulho exaltado, estava muito perto de completar seu destino. Então a múmia pisou sobre o peito de Sirocco que estava espatifado no chão, tirando-lhe o ar dos pulmões.

            — Não!! — diz Boomer horrorisado.

            — Oh! — diz Mikayla assustada.

            — HA! — diz Lanny sorrindo.

            — HUMPFT! — diz Sirocco pisoteado.

            E por fim:

            — HAHAHA!! — diz a múmia triunfante.

***

            Dentro do castelo, a confusão estava instaurada, poucos eram os que ainda lutavam. Alguns sem esperanças como Mikayla e Boomer apenas miravam as coisas a sua frente sem acreditar. E quando a múmia abriu a boca, suas palavras não trouxeram conforto.

            — E para o rei de Kinkow, um presente de minha parte — diz a múmia apontando um dedo para Boomer.

            O sarcófago voador entra dentro do castelo.

            — Sério não precisava. — diz Boomer. — Pode ficar com ele para você, eu não ligo.

            A tampa do sarcófago então cai no chão, levantando poeira. Dentro está um Boz mumificado, parecia sem vida até que, lentamente virou seu rosto em direção a múmia de Kinkow.

            — Mate-o — diz a múmia com evidente prazer.

            Boz desta vez vira seu rosto inexpressivo lentamente em direção a Boomer            , e saindo completamente do sarcófago pula em direção a Boomer.

            Boz e Boomer, saem rolando por todo o salão, e tropeçam no trono.

            Desesperada Mikayla tenta atacar a múmia, com suas ultimas forças, a múmia apenas ri de seu esforço inútil e a pega pelo pescoço.

            Na passagem ao lado do cofre surge Mason, ele acerta Boz e o amarra com grossas cordas. Quando ele vê sua filha sendo levantada do chão, não consegue evitar o grito:

            — MIKAYLA!

            Neste momento, Sirocco, que parecia rendido abaixo da múmia, em um surto de fúria, torce o pé da múmia fazendo-a cair para trás e na queda ele solta Mikayla.

            Mason puxa Mikayla e Sirocco para perto de si.

            A múmia desorientada se estatela no chão, ela se levanta do chão espumando de raiva. Quando se levanta, porém da de cara com a cena mais surpreendente de seus milhares de anos.

            A sua frente estava um conjunto de adversários: Boomer, Mason, Mikayla e Sirocco, mais o que mais impressionou a múmia não era o fato de estarem sorridentes, e sim o enorme canhão do século XVII que lhe sorria entre eles.

            — Oow! — diz a múmia.

            — BUUUUUUUMMMMMMMMMMM!!!! — rugem os vinte quatro calibres do canhão.

            A múmia é lançada para fora do castelo em um arco espetacular. A múmia então aterrissa próxima ao portão do pátio, e quando se levanta toda chamuscada fica na mais completa ira.

            — No momento certo, chame “eles”, você e Boz... — sussura Sirocco para Boomer indo em direção ao pátio.

            Chegando do lado de fora do castelo, Sirocco encara a múmia. Ninguém mais lutava, todos apenas olhavam e esperavam ansiosos pelo fim. Agora era só Sirocco e a múmia, o confronto final.

            E pela primeira vez, o rosto de Sirocco não demonstrava a menor alegria, pois estava realmente irritado.

            — Você pode tomar a ilha — diz Sirocco, mostrando as coisas ao seu redor. — Destruir meu castelo, pode até pisar em mim... Mais fazer mal aos meus amigos?

            Sirocco tira o medalhão do morcego do bolso. Se fosse possível, os olhos da múmia se iluminariam.

            — Você quer? — diz Sirocco provocando. — Vem pegar.

            Antes que terminasse de falar, a múmia segurava Sirocco pelo pescoço, e agarrava com a outra mão o medalhão. Com esforço Sirocco diz:

            — Sua ganância é tão grande que nem consegue diferenciar um medalhão de um pote de vagalumes?

            A múmia encara sua outra mão, e lá estava um pote de vagalumes da caverna.

            — Esse foi um pequeno truque, aprendi com meus amigos fadas sujas. — diz Sirocco soprando purpurina nos olhos da múmia, que se desestabiliza e o deixa cair no chão.

            — NÃO... QUER... SAIR... DA MINHA MÃO!!! — diz a múmia agitando o braço, mais o pote continuava onde estava, apenas as nuvens negras no céu se juntavam de forma ameaçadora.

            — Isso ai, é S-super-cola, um amigo meu projetou. — diz Sirocco um sorriso cruel em seus lábios. — Té mais bafo de sepulcro.

            Um raio simultâneo, formado por todas as negras nuvens do céu, atinge a múmia. Nem preciso dizer que houve uma nova EXPLOSÃO!

            Todos então se protegem com a mão da luz cegante, Boomer olhou para o lado e viu Boz voltando ao normal. Se lembrando do que Sirocco havia lhe dito, ele grita em compreensão:

            — BOZ!!?

            — NÃO TENHO NENHUMA FRUTA RESERVA!!! — grita Boz em pânico, ao olhar para Boomer pergunta: — O QUE É?

            — CHAME PELO ANEL!! AGORA!

            Ambos os reis chamam por seus respectivos anéis, que saem da luz direto para suas mãos. Quando isso acontece o brilho do raio desaparece, revelando uma mossa no meio do pátio.

            A sombra que ocupava toda Kinkow, retorna a sua metade, um pouco menor agora. E o sol brilha no céu como se nada tivesse acontecido. O restante dos tarântulas fogem derrotados.

            Mason, Mikayla, Boomer, Lanny e as outras pessoas saem do castelo.

            Ao lado do estrago, onde antes estivera a múmia, há apenas duas botas fumegando.

            — Tudo o que sobrou de Sirocco? — diz Lanny lagrimas de emoção caindo de seus olhos.

            Boomer cai de joelho no chão.

            — Não pode ser... — ele aperta as botas no peito. — Ele era tão... Tão... Alguma coisa...

            — Ele era um  herói de verdade. — diz Mason.

            Mason ampara Boomer, Mikayla chora em silêncio, Lanny se prepara para saltitar de alegria, e Sirocco confuso olha para seus amigos.

            — Com licença. — diz Sirocco distraído. — Será que antes de mais nada vocês não viram, por um acaso, se sobrou algo da minha calça?

            Sirocco não podia estar melhor, a cara torrada, os cabelos arrepiados, a cueca de corações toda chamuscada, e os pés pretos que nem carvão. Mas mesmo assim Mikayla foi a primeira a saltar em seu pescoço, seguida por Boomer que abraçou suas pernas, Mason que deu um abraço de lado. Lanny olhou para o Chamuscadorocco, incrédulo e começou a espernear no chão que nem uma criancinha enquanto chorava.

            Boz sai do castelo, e todos se abraçando.

            — Oba! Abraço em grupo! — Boz entra no abraço e olhando para Lanny diz: — Vejam o pequinês ficou de fora.

            — Não se acanhe Lanny — diz Sirocco. — E abrace o que puder.

            Lanny começa a socar os pés de Sirocco enquanto chora. A reação faz todos ali presentes gargalharem.