- Sing me to sleep, sing me to sleep... - ela murmurava baixinho, sentindo o coração se afundando um pouco mais - I'm tired and I... I want to go to bed...
Rodopiava de vez em quando enquanto cantarolava para si mesma, vendo a saia do seu vestidinho branco rodopiando junto consigo. Riu de si mesma quando se desequilibrou e bateu seu ombro contra uma parede, mas não se importou com a dor.
- Sing me to sleep, sing me to sleep... And then leave me alone. Don't try to wake me in the morning... - continuou cantarolando e subindo as escadas, ouvindo o ranger das tábuas velhas de madeira, que pareciam acompanhar a melodia de suas palavras - Cause I will be gone...
Chegou no topo da escada e se virou para olhar o resto da casa. Havia alguns poucos móveis cobertos com lençóis brancos, o chão estava empoeirado e haviam caixas de tamanhos variados espalhados por ali. Sorriu triste e decidiu continuar seu caminho, rodopiando e dançando sozinha na ponta dos pés pelo corredor.
- Don't feel bad for me... I want you to know, deep in the cell of my heart I... I will feel so glad to go. 
Abriu a última porta do corredor e entrou no pequeno quarto pintado de cor-de-rosa, completamente abandonado e apenas com uma cama de solteiro velha no canto lhe fazia companhia. A porta da sacada estava aberta, o vento batia com força e trazia consigo folhas secas e alaranjadas para dentro do cômodo. A garota se deitou na cama e ela rangeu ao som das palavras que ela cantarolava. Se encolheu na cama ficando em posição fetal, sentindo seus pés descalços e sujos latejarem de dor. Colocou a mão no peito, sentindo seu coração bater forte e dolorido.
- Sing me to sleep, sing me to sleep... I don't want to wake up on my own anymore... S... - ela soluçou, sentiu seus olhos arderem por conta das lágrimas - Sing me to sleep, sing me to sleep... I don't want to wake up on my own anymore. Don't feel bad for me...  I want you to know...
Levantou-se da cama lentamente, deixando que as lágrimas rolassem soltas pelo seu rosto pálido, como se elas pudessem lavar sua alma de toda aquela dor. Caminhou pelo quarto pisando em cima das folhas secas, e as folhas pareciam estar cantando junto com ela.
- Deep in the cell of my heart, I really want... To... Go. - cantarolava soluçando nas últimas palavras, se apoiando na porta do banheiro e olhando para o cômodo lá dentro.
O banheiro estava coberto de poeira assim como o resto da casa, em cima da pia branca se encontrava uma pequena caixa aberta. A garota se aproximou da pia e fitou seu rosto vermelho no espelho quebrado, seus olhos que um dia foram tão brilhantes e alegres estavam opacos e sem vida, como se sua alma tivesse abandonado aquele corpo... E de fato, talvez tivesse mesmo abandonado. 
Olhou para a pequena caixa e viu que só tinha um objeto lá dentro. Em meio as lágrimas, sorriu ao ver o canivete brilhante e afiado. O pegou delicadamente e andou até a banheira suja, entrou dentro dela sem se importar de sujar seu vestidinho tão branco quanto as nuvens do céu de verão.
- There is another world... - olhou atentamente para o canivete e o aproximou de sua pele branca do braço esquerdo, pressionou a lâmina contra seu pulso, fechando os olhos ao sentir aquela dor insuportável e de uma vez, puxou com força o canivete, fazendo um enorme corte em seu braço. - There is... A better world...
Suspirou, se sentindo um pouco tonta. Os pingos de sangue caiam em cima da saia do seu vestido, manchando-a de vermelho puro. Pegou o canivete novamente e fez um grande corte no seu braço direito também, deixando a lâmina cair no chão do banheiro.
- Well, there must be... - sussurrou com a voz fraca, se deixando deitar na banheira e colocando suas mãos em cima da barriga, o sangue escorrendo cada vez mais e manchando seu vestido inteiro. Ficou fitando o teto branco, esperando a morte chegar... - Well... There must be...
Sua vida inteira passava diante de seus olhos, mas não sabia se deveria se arrepender ou estar feliz com a decisão que havia tomado. De qualquer forma... Ela se sentia em paz.
- Well, there must be.... W-Well... Bye, bye.... - sussurrou pela última vez, fechando seus olhos para sempre.
Se ela tivesse tido forças para se mexer um pouco mais e pedir ajuda no outro cômodo... Talvez ela tivesse encontrado a salvação. Mas isso é algo que ela nunca saberá.