The Ascent escrita por Thaina Fernandes


Capítulo 36
Capítulo 35




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As ondas eram curtas, poderosas, não perdendo sua intensidade ao bater nas pedras que ficavam a alguns metros de onde estávamos, parados na margem, a água chegando até meus tornozelos. O mar estava furioso hoje.

 

Tirei um cacho vermelho que havia sido jogado sobre meu rosto, minha outra mão ocupada segurando meu vestido. Rhys, na areia a poucos passos atrás de mim, estava segurando meus sapatos e celular. Chutei a água gelada, me sentindo representada por esse clima turbulento.

 

Ele suspirou como se estivesse sofrendo quando meu próximo chute foi em sua direção, fazendo a água ir em suas roupas. we

 

—Sophia, não viemos aqui para treinar?

 

Resisti a tentação de mostrar a língua para ele. —Não estou com roupas adequadas para fazer qualquer treinamento, apenas se for do meu poder. E cá entre nós, Rhys, nao estou com vontade de matar os pobres peixes.

 

Ele olhou para o céu como se estivesse pedindo intervenção divina para lidar comigo.

 

Não querendo lhe causar rugas prematuras, saí da água, pegando celular e  sapatos de sua mão com mais força que o necessário

 

O nome do meu primo brilhou na tela. Foi a minha vez de olhar para os céus pedindo forças.

 

"Tudo bem por aqui. Nenhuma reunião do conselho, mas Carolinne quase desmaiou de susto quando o livro apareceu ao lado dela."

 

Sorri, contente em saber que todos estavam bem. Rhys balançou a cabeça para mim, me guiando por um caminho para fora da praia.

 

—Você parece mais tenso que o normal. —Notei, tentando moldar meu tom de voz de uma forma que ele não achasse que eu estava me intrometendo.

 

—O rei gosta de usar meus poderes ao máximo quando estou aqui. — Ele fez algo parecido com uma careta. —É cansativo, só isso.

 

Mordi meu lábio, não conseguindo evitar ficar preocupada com ele.  Devia ser por isso que ele havia decidido ficar com Caspian. Rhys havia escolhido bem a quem seguir.

 

Queria poder ajudá-lo de alguma forma, mas não sabia como. Estava prestes a abrir a boca para dizer algo quando escutamos o grito estridente.

 

Em um segundo, Rhys se colocou à minha frente, me guiando para trás, seus olhos varrendo o local em busca de uma ameaça.

 

Mas o grito…. era de alguém que estava com dor. Era um grito de agonia, não de ataque, e eu não podia escutar algo assim sem fazer nada.

 

O empurrei sem pensar, seguindo o resto da trilha correndo. Ele veio em meu encalço, mas ignorei meu nome sendo chamado. Havia alguém com tanta dor que era como se a terra estivesse vibrando em vermelho, mesmo se eu quisesse parar, a força do sofrimento não me deixaria.



No centro da clareira estavam dois homens uniformizados. Guardas do rei eu percebi, um deles com um arco e flecha apontado em uma mulher, deitada no chão.



O cheiro do sangue dela era diferente, mas não me importei com isso. Sua pele verde clara era quase da cor da grama, seus olhos amarelos estavam desesperados quando encontraram os meus. Havia uma flecha perfurando a sua perna, atravessando a carne até sair do outro lado. Seu corpo era coberto por um vestido maltrapilho, que na verdade quase não cobria muita coisa

 

Eu precisava ajudá-la. Como se não tivesse controle do meu próprio corpo, joguei meu celular na grama, me colocando entre eles e a criatura.

 

—O que diabos estão fazendo?



O mais alto deles, o que portava o arco me encarou com escárnio. —Não é assunto seu, Vossa Alteza. Pode voltar para o castelo.

 

—O que ela fez?— Exigi saber. A mulher se encolheu, com medo. Seus longos cabelos iam até seu quadril, de um preto que quase refletia as outras cores, como uma mancha de oleo no asfalto.

 

—É uma sirene. — um deles praticamente cuspiu. Levantou o arco novamente, flecha pronta para ser disparada. —Está tentando atrair uma presa.

 

A mulher - a sirene - me olhou desesperada, tentando se arrastar para longe deles.

 

—Tem provas? Ela fez algo para merecer ser ferida dessa maneira?

 

Nenhum deles me respondeu, dando uma olhada entre si mesmos. Rhys, com sua espada agora empunhada, apontou para longe.

 

—Cuidaremos dela, saiam daqui. Caspian não ficará feliz em saber que desobedeceram uma ordem de sua noiva.

 

Vi algo parecido com medo passar pelos olhos do mais alto. Novamente, me perguntei exatamente o que Caspian fingia ser quando estava aqui.

 

—O rei ouvirá sobre isso.

 

Os ignorei, me virando para a sirene.

 

—Rhys, precisamos retirar a flecha. Não posso fazer nada com ela atravessando a carne desse jeito.

 

Ele fez uma careta, se agachando ao meu lado.

 

A sirene estava chorando agora, falando baixo uma língua estranha. Depois de um segundo percebi que era italiano. Sacudi a cabeça para ela, indicando que não entendia.

 

—Minhas pernas… devia ter deixando-os me matar. Não poderei nadar…minhas irmãs…



Ela cobriu o rosto com as mãos, soluçando de uma maneira tão triste que pude sentir minhas próprias lágrimas se aproximando. Segurei uma de suas mãos nas minhas, tentando a reconfortar.



—Eu vou.. eu vou tentar te ajudar. Mas vai doer, você terá que ser forte.

 

Ela, mesmo que ainda desconfiada, assentiu. Rhys murmurou algo para ela em italiano antes de delicadamente usar uma faca para cortar a ponta da flecha, a fazendo arfar e apertar minha mão com uma força extraordinária.

 

Ele disse algo mais para ela, um aviso. Ela tomou fôlego, fechando os olhos com força.

 

Em um movimento rápido, Rhys puxou a flecha.

 

Ela gritou novamente, fazendo os pássaros nas copas das árvores levantarem vôo, assustados.

 

Coloquei minha mão em sua pele gelada e escorregadia, direcionando meu poder.



Fazia tanto tempo desde a última vez que eu havia curado alguém que eu havia me esquecido como, quando eu tinha uma pessoa machucada a minha frente, meu único pensamento era em ajudá-la.

 

Direcionei meu poder até ela, sentindo a energia ser passada entre nós, saindo de minha pele e atravessando a sua.

 

Lentamente, a ferida se fechou.

 

Ainda suspeita, ela esticou a perna. Testando para ver se estava tudo certo de verdade.

 

Ela sorriu, sua boca cheia de dentes afiados, se levantando logo em seguida. A voz dela era envolvente, sem dúvidas projetada para atrair suas presas —Ouvimos falar sobre você, princesa. Contarei a minhas irmãs o que fez por mim, não esquecemos uma dívida.

 

E com isso ela saiu correndo em direção a praia.



—Ragnor odeia os seres menores do submundo, não me admira que mandou seus guardas as executarem sem terem feito algo. —Rhys me disse, chutando a terra por cima do sangue, sem dúvidas um costume que ele aprendeu em Illiria. Procurou meu celular no chão, o encontrando debaixo de folhas secas.— Caspian tem tentado contornar isso. mas uma ordem do rei é uma ordem que deve ser acatada.



Tentei me levantar, me sentindo zonza. O espião mestre me segurou, sua mão gelada em meu braço me dando o apoio necessário.

 

—O que diabos — uma voz conhecida perguntou. Caspian estava vestido tão pomposamente como sempre, a camiseta vinho ondulando com o vento. Com o cenho franzido, ele apontou para trás de si —Vocês fizeram com aquela sirene?



—A salvamos, isso que fizemos. —Respondi, mal humorada e ainda fraca.



Pelo menos ele não estava usando as mesmas roupas de ontem, notei enquanto ele se aproximava de mim, um olhar de preocupação em seu rosto.

 

—Eles a fizeram mal? — Rhys lhe deu um curto aceno. Caspian passou uma mão pelo seu cabelo, o bagunçando. Suspirou, passando seu braço ao redor da minha cintura para me apoiar ao invés de Rhys. —E é claro que você a ajudou, querida. Obrigada. Terei que conversar novamente com meu pai sobre isso. Rhys, Isabella estava te procurando. ela está no castelo. Precisa da sua ajuda com algo.

 

Senti minha amargura se apaziguar levemente com ele me chamando de querida. Era difícil, percebi, ficar brava com Caspian quando ele me olhava desse jeito.



Com tanta ternura, como se eu ajudar a sirene fosse algo extraordinário, e não apenas o que qualquer pessoa decente faria.

 

Engoli em seco. Eu provavelmente estava vendo coisas demais, colocando significado demais onde não devia. Não seria a primeira vez.

 

Ele começou a me guiar novamente, mas não antes de Rhys dar-lhe uma olhada significativa, seus olhos apontando para mim e suas sobrancelhas se levantando em questionamento.

 

Eu, infelizmente, estava fraca demais para questionar esse comportamento estranho entre os andolovinos.

 

—Onde estamos indo? —Exigi saber, abaixando minha cabeça quando ele levantou um galho para passarmos.

 

—Precisa recuperar suas energias. Tem uma clareira aqui perto, com bastante árvores— explicou, sua voz suave no silêncio do terreno coberto de grama que estávamos atravessando.

 

Apenas assenti. Eu não estava em condições de questionar isso. não quando minha cabeça não parava de girar, deixando minha visão turva

 

O campo com poucas árvores deu lugar a uma clareira cercada por elas, com direito a um lago e tido.

 

Caspian me soltou ao pé da maior árvore, retirando seu blazer. Ele o estendeu no chão, fazendo um floreio ao me indicar para sentar.

 

—O que está fazendo, vai estragar! — tentei pegar a roupa do chão, mas ele me impediu.

 

Ele soou quase irritado. —É apenas um blazer, prefiro que ele estrague do que o seu vestido. Fica bonita demais nele para arriscarmos.

 

Pega desprevenida, senti minhas bochechas ficarem coradas. Desviei meu olhar, aceitando sua ajuda para me sentar.

 

Ele se sentou ao meu lado, encostando suas costas no tronco atrás de nós.

 

—Não concentre seu poder em apenas uma, tente tirar um pouco de várias árvores. Odiaria ver uma delas se desintegrando.

 

Bufei. —Eu estou à beira da morte e você, transformando isso em um treinamento do meu poder.

 

Ele me deu um olhar felino. —Se estivesse à beira da morte não estaria discutindo comigo desse jeito, minha querida.



((Caspian))



Sophia me deu uma olhada de aviso.

 

—Não te dou permissão para me chamar assim hoje. —Resmungou, já parecendo muito melhor. —Achei que estava ocupado.

 

Sorri para ela, tirando um cacho de seu rosto, o colocando atrás de sua orelha. —Nunca para você.

 

Ela me deu uma olhada conflitante, como se estivesse lutando uma batalha interna em sua mente. Finalmente, sacudiu sua cabeça, tirando seus olhos verdes de mim.

 

—Como foi a reunião com seu pai?

 

Senti meu cenho franzir, não gostando do fato de ela estar escondendo seus sentimentos de mim. Claramente algo a estava incomodando, algo além de Lizandra ter feito a cena que fez.

 

—Terrível, meu pai tem um jeito de me fazer achar que todas minhas ações são inúteis. Tentou me fazer falar seus segredos para ele. —Bufei, olhando para as copas das árvores. —Como se eu fosse fazer algo assim.



Pode sentir no ar o momento que ela parou de usar seus poderes para se curar. Se endireitou ao meu lado, limpando a saia do vestido de uma poeira inexistente.

 

O vento, grosso pela maresia, estava fazendo o cabelo em sua  têmpora ficar mais cacheado que o normal. Um breve raio de sol havia escapado entre as nuvens, refletindo no anel em sua  mão.

 

O rubi brilhou, me lembrando de que nossos futuros estavam atados. Não que depois da noite do Calanmai tivéssemos dúvida disso.

 

A promessa que eu havia feito, de sempre ser sincero, queimava em minha mente.

 

—Lizandra é uma vampira ardilosa, Sophie. Não a deixe te atingir. A única coisa que ela fez em meu quarto foi me importunar.



Ela desviou seu rosto, pegando uma folha do chão e a despedaçando.

 

—Não precisa se explicar para mim.

 

Segurei sua mão na minha. —Eu quero me explicar. Ela nunca foi alguém importante para mim, querida. Não se preocupe com ela, só faz isso pois sabe que não tem chance nenhuma contra você.

 

Ela tentou segurar um sorriso, seu olhar se suavizando, suas bochechas adoravelmente rubras. —Bom saber.

 

Ficamos assim por alguns segundos, sua mão ainda na minha.

 

Ela suspirou, se ajeitando para encostar sua cabeça em meu ombro. —Quando podemos ir embora? Não gosto daqui. Todo mundo é malvado.

 

Sem poder evitar, gargalhei. —Já lutou  contra um batalhão de Dráculs, e ainda acha a corte de meu pai malvada?

 

—Qual seu ponto, Alighieri?

 

Beijei o topo de sua cabeça, não conseguindo evitar o carinho que eu sentia por ela.

 

—O plano era ir hoje, mas o feiticeiro que iria abrir o portal para nós só conseguirá vir amanhã.

 

—Iremos a sua corte, certo?

 

Assenti, colhendo uma flor perto de nós, pequena e amarela, e a entregando para ela, aue aceitou o presente. —Sim, você gostará de lá. Meu povo é muito mais calmo.

 

Ela pareceu incrédula por um segundo, mas não questionou. Olhou para o céu novamente, fazendo uma careta. —Vamos voltar, não quero estar em um campo aberto quando essa tempestade desabar.

 

A ajudei a levantar, a levando de volta para o castelo. Ela tinha razão, com o jeito que as nuvens estavam escuras, eu não ficaria surpreso se a tempestade nos fizesse acordar com danos.

 

Ela não falou nada durante o curto caminho, mas também não retirou sua mão da minha. Levei isso como uma vitória.



Assim que entramos no castelo, a puxei para mim quando tentou seguir o caminho até seu quarto sozinha.

 

—Falei sério, Soph. Não se deixe atingir por ninguém desta corte, muito menos por Lizandra ou meu pai. Eles farão de tudo para achar alguma fraqueza em você.

 

Ela tirou sua mão do aperto da minha, entrelaçando nossos dedos ao invés disso. Sua outra mão veio até meu rosto.

 

—Vou tentar. — Respondeu, inclinando sua cabeça para encontrar meus olhos. Ela acariciou meu maxilar, sorrindo, seu nariz franzindo em falso desgosto. —Precisa se barbear, seus súditos irão achar que eu não estou te deixando descansar se aparecer assim para eles.

 

E instantaneamente minha respiração ficou presa em minha garganta quando nossos olhares se cruzaram. Olhar para Sophia, às vezes, era o mesmo que levar um soco no estômago. Sem perceber, me inclinei e beijei sua bochecha, meus lábios deslizando pela pele macia até chegar em seu ouvido, onde sussurrei:

 

—Nenhuma vampira se compara a você, querida. Lembre disso.

 

Senti seu pulso acelerar enquanto ela engolia em seco, —Aposto que fala isso para todas, seu galanteador.

 

Com nossos rostos a centímetros um do outro, sorri para ela. — Não falo. Infelizmente, você elevou o patamar Sophia. Deveria se responsabilizar por isso.

 

Foi sua vez de sorrir para mim. Seus lábios escarlates revelando seus dentes afiados. A lembrança dos lábios dela nos meus veio a minha mente novamente.

 

Por um segundo a promessa surgiu novamente em minha mente. Eu precisava contar a verdade para ela, mesmo que isso significasse ela possivelmente me odiar por ter mentido.



—E como sugere que eu faça isso, meu príncipe?

 

Minha boca deslizou de volta a sua bochecha, onde lhe beijei novamente. Rodeei sua cintura com um braço, a trazendo para mais perto. —Poderiamos-



—Príncipe Caspian. —Uma voz ecoou pelo corredor, fazendo Sophia saltar para longe de mim.—Perdoe a intrusão.

 

—Estou ocupado. —Praticamente rosnei para o general que estava parado feito uma estátua em um dos arcos que levava até uma sala de reunião. —O que foi?

 

—Seu pai está chamando você e sua irmã em sua sala.

 

Assenti para ele, o liberando com um gesto de mão.

 

Suspirei, indo até Sophia. Segurei sua mão, a puxando até mim, beijei sua bochecha uma última vez. Ela estava corada agora, ofegante.

 

—Vou tentar não demorar. Fique à vontade para ir até a biblioteca, é na ala oposta a esta —Tirei seu celular no meu bolso, o estendendo para ela. — Eu te encontro no seu quarto mais tarde? Podemos jantar juntos. Precisamos conversar.

 

Ela me olhou confusa, aceitando o aparelho —Tudo bem.

 

(Sophia)

 

Fui para a biblioteca, onde fiquei absolutamente deslumbrada com a quantidade de livros. Estantes e mais estantes erguiam até o teto alto, uma capa mais colorida que a outra.

 

Comecei a procurar algum em um idiota. que eu entendesse, me contentando com um romance. Me sentei em um sofá, em uma janela com a vista para o mar, onde as ondas estavam mais violentas do que antes.

 

Depois de passar mais tempo do que eu devia lá, e me sentindo um tanto quanto desconfortável com olhares de outros leitores andolovinos, decidi explorar o castelo enquanto meus amigos estavam ocupados.

 

Andei pelos corredores, observando as artes nas paredes, as estátuas que pareciam ter saído direto de um museu.

 

Estava tão perdida em pensamentos sobre a próxima parte do que eu deveria fazer que quase joguei o celular no chão quando começou a tocar.

 

Suspirando, quase fiquei com medo de ser meu primo novamente. Mas não era o nome dele que piscava na tela para mim.

 

—Line, alguma coisa aconteceu?

 

Eu podia ouvir vozes masculinas atrás dela, me fazendo assumir que Jordan e Az estavam com ela.

 

—Não, está tudo ok aqui, estou apenas ligando para checar você. Estava tentando fazer uma leitura de divinação, mas quando tentei ver você...— ela parou, suspirando frustrada. Fiz uma nota mental para lembrá-la de me passar o que a leitura havia resultado   —Tudo bem por aí?

 

—Sim, o pai de Caspian é…. —Fiz uma careta, segurando meu colar. — É como esperávamos que ele fosse. E bem, o povo daqui é pior.

 

—Você parece chateada. Alguém em particular?

 

Eu estava numa sala vazia agora, parecia um escritório. Tinha janelas enormes que davam para o mar, com um banco no parapeito onde me sentei, olhando a tempestade que se aproximava.

 

Não queria reclamar, nem choramingar. Mas Line era minha melhor amiga. Ela entenderia.

 

Expliquei a situação para ela, sobre como eu estava me sentindo com aquela vampira tentando fazer um passe em Caspian, sobre como havia me sentido com James aqui, me vendo com ele.

 

—Deveria falar para ele que estava se sentindo assim. —Respondeu, agora de um lugar muito mais quieto. —Vocês dois estão dançando em volta um do outro a um tempo, Soph. Ele te deve uma explicação do que ele quer com você, de fato. Não com a princesa, nem com a Rainha de Munin. Com você.

 

—Conversamos um pouco sobre isso, ele me disse que não deveria me preocupar, mas mesmo assim...ele não me deve nada— eu apenas respondi, olhando para o céu, vendo um raio se formar no horizonte.—E qualquer pessoa em sã consciência não iria querer nada comigo, não com tudo que está acontecendo.

 

—Mas você não quer que ele te deva? O que seria tão ruim nisso? Depois que vocês arrastaram eu e Klaus no Calanmai, achei….—Ela divagou. —Eu sinto que é o certo.



—Aquilo foi... você sabe meus motivos. —suspirei, enrolando uma mecha de cabelo em meu dedo. —Não quero que ele se sinta que me deve. E mesmo assim, Linne, eu tenho outras coisas mais importantes agora.

 

Ela soou quase frustrada comigo.

 

—Reino ou não, Soph, eu quero que você seja feliz. Devia conversar com ele sobre isso. Logo.

 

Sai do escritório vazio depois de me despedir de minha amiga, me sentindo confusa. Nesse corredor tinham mais vampiros, todos me dando olhares hostis e cochichando. Lembrei de Bella, andando de cabeça erguida mesmo com todos os olhares. Invoquei a aura dela para mim, estreitando meu olhar para um deles, deixando meu poder tocar o grupinho dele.

 

Ele empalideceu. Quase sorri quando ele e seus colegas saíram dali com pressa.

 

Minha alegria por ter assustado os andolovinos foi curta, ja que logo o meu debate interno recomeçou.

 

Uma atração não significava nada. Eu sabia que Caspian tinha sua vida, não iria exigir nada dele. O que eu havia dito a minha melhor amiga era verdade, não importa o que Caroline me falasse, no fim das contas ele não me devia nada.

 

Acabei parando no que devia ser um pátio, depois de passar por uma abertura. Estava chuviscando agora, mas nada preocupante o suficiente para eu entrar novamente. As gotas finas eram bem-vindas, me ajudando a esfriar meus pensamentos.

 

—Tess.

 

Virei de supetão, uma mão em meu peito para impedir meu coração de sair pela minha boca..

 

—James— Disse, aliviada por não ser alguém pronto para me atacar, ou pior ainda, um fantasma pra me passar mensagens obscuras— Não sabia que estava aqui ainda.

 

Ele deu um passo para perto de mim. Ele parecia cansado, com olheiras debaixo de seus olhos claros .

 

—Soube que veio para cá, achei que seria uma boa hora de visitar meu pai.

 

Assenti, respirando profundamente.

 

—Quase esqueci que vocês são irmãos. Precisa de algo?

 

Seus olhos estavam olhando em direção ao meu peito, o que me fez quase o xingar até perceber o que ele estava olhando. O anel, na minha mão direita.

 

Ignorei o olhar que cruzou seu rosto. Eu tinha minhas próprias feridas causadas por ele para terminar de curar.

 

—Apenas dizer que o seu recado está dado. -- ele disse, seus olhos pratas agora se encontrando com os meus. —Aconteceu algo? Caspian te fez-

 

—Caspian não fez nada além de me ajudar, então sugiro que não cite ele novamente. — o avisei.— Eu queria apenas ar fresco. O povo daqui não é nada hospitaleiro.



Ele riu, daquele jeito que eu um dia achei a coisa mais charmosa do mundo. Às vezes parecia que minha história com James havia ocorrido a anos atrás, quando eu não tinha tantas preocupações.

 

—Nisso eu posso concordar com você. É por esse motivo que sai daqui o mais rápido possível.

 

Pausei por um segundo, decidindo que não seria tão ruim assim se eu mantivesse uma relação civilizada com James.

 

—É melhor eu me acostumar, vou ter que vir aqui com Cas no futuro. — Sacudi a cabeça, desamassando uma ruga invisível no meu vestido. —  Não sei como aguentei.



—Vocês dois sempre se deram bem. —Ele disse, olhando o céu agora enquanto um raio cortava as nuvens. — Eu sei que não devia, Tessa, mas tenho que dizer novamente. Eu sinto muito por tudo que ocorreu, se aceitei fazer o que fiz foi apenas por não te conhecer ainda. Eu…



Eu segurei seu braço. Eu ficar brava com James não daria em nada. eu ainda estava machucada. sim. Mas continuar com esse sentimento de ódio dentro de mim, não me faria bem.

 

Além do mais, eu estava cansada. Como eu já havia percebido antes, odiar alguém era cansativo, e eu precisava de toda minha energia e foco em outros assuntos.

 

—Eu entendi o que fez pela sua Sodalis, James. Não poderemos ter uma amizade, mas eu pelo menos entendo o motivo.

 

—Está mais compreensiva do que antes.



—Eu mudei. Acho que a Sophia humana não existe mais, na verdade. Não sei se já existiu de fato.



Alguns segundos se passaram. Era bom, finalmente colocar um fim nisso. No que havia acontecido.



—Sei que não acredita, mas eu te amei. — ele disse baixo, vulnerável. — Tudo que passamos, eu sempre vou pensar nisso. Pode me mandar para longe, mas me responda isso e te deixarei em paz sobre esse assunto para sempre. Ainda me ama?

 

O olhei novamente. James e eu tínhamos uma história que eu não iria esquecer tão cedo. Foi ele quem me disse quem eu realmente era, que me mostrou que eu não era louca, que eu tinha um lugar só meu.  Ele havia me magoado tanto, me quebrado se uma forma que eu tive que me reconstruir de uma maneira diferente. E eu o havia amado tanto, antes.

 

Mas a nova Sophia não tinha lugar para ele na vida dela, ao menos não desse jeito. Principalmente não depois do Calanmai, e da decisão que eu havia tomado lá.

 

—Não, —respondi honestamente. — Não o amo mais, acho que perder você me fez bem, mesmo com tudo. Eu sou grata, por tudo que passamos, mas não somos uma boa combinação.



Ele permaneceu quieto. —Se eu pedir um abraço, vai me sugar até a morte como fez com os Dracul?

 

Eu ri, indo até ele e deixando os braços dele me envolverem em um abraço de despedida. Eu havia passado tanto com ele, boas e ruins. Mas nesse abraço eu senti, um pedaço do meu coração que ainda estava quebrado se colando agora que finalmente conseguimos colocar um ponto final em nossa história.

 

—Não está com medo? —A voz dele estava abafada, seus braços se apertando mais em volta de mim. Não havia malícia no abraço, então deixei ele continuar por mais alguns segundos. —O que você tem que fazer… É arriscado Tessa.

 

—Não tenho o luxo de ter medo. -- Inclinei minha cabeça para olhá-lo. Deus, eu sempre fui mesmo cega de não ver as semelhanças entre ele e os Alighieri. Os olhos prata dele eram idênticos aos de Isabella. -- Não com tudo que está em risco. Eu…agradeço a ajuda , James. De verdade.

 

Beijou o topo da minha cabeça como resposta.

 

—Quem é que te deixou entrar aqui?

 

Como uma criança pega fazendo algo errado, pulei para longe de meu antigo guardião. O olhar de Caspian era duro, furioso.




—Cas, não é isso-



—Ela não é uma criança, Caspian, Vai ditar o que ela pode ou não pode fazer agora?

 

Com passos largos, Caspian se colocou entre eu e James, seu punho se fechando no colarinho da camisa de seu meio-irmão.

 

Dei um passo para trás, saindo do caminho deles. Deus, eu nunca havia visto Caspian furioso desse jeito.

 

—Quem era controlador aqui era você, Koutrick. A deixou definhando e espera que eu assista enquanto tenta  manipular ela novamente?



James aprumou-se, e eu sabia o que estava por vir.

 

Meu antigo guardião foi o primeiro a dar um golpe,seu punho se chocando com o rosto de Caspian em um barulho horrível. Sem perceber, eu estava berrando o nome dos dois, enquanto eles rolavam no chão, um tentando subjugar o outro. Eu sentia cheiro de sangue das feridas sendo infligidas, com os golpes ficando cada vez mais violentos.

 

—Me chama de manipulador mas ainda não contou a ela, não é? — James praticamente cuspiu, segurando Caspian pelo pescoço em um aperto mortal.—Como acha que ela vai reagir? Quem iria querer-

—Cale a sua boca —Caspian rosnou, sua voz nada parecida com seu ronronar suave de sempre. Ele estava deixando seu ódio explodir. A chuva finalmente começou a cair, gotas gordas explodindo no pátio, no chão em volta deles, rapidamente nos deixando encharcados. -- Como ousa falar sobre qualquer coisa, seu verme. Tem noção -

 

Eu sabia que os dois estavam se controlando, ainda mais Caspian. Se ele quisesse realmente fazer algum dano rápido, era só usar seu poder. Mas não. Caspian queria machucar James.

 

Rhys apareceu naquele momento, se enfiando no meio dos dois e puxando Caspian para longe de James.

 

Um pouco trêmula, fui para perto deles, avaliando a situação dos dois. Me virei para Caspian, seu rosto com um corte  um pouco fundo perto da têmpora mas nada grave.

 

James estava se colocando de pé, aparentemente bem, seu maior machucado parecendo ser um olho roxo. Respirei profundamente, me recompondo.—Vá para seus aposentos, James. Peça para alguém ver seus ferimentos. Rhys, me ajude a levar Cas para o quarto dele, por favor. Honestamente, quem deveria bater nos dois sou eu.

 

Cas estava com um braço em volta de Rhys, parecendo estar quase perdendo a consciência, O que eu não estranhava, tive quase certeza que James havia acertado a cabeça do meu príncipe no chão de pedra enquanto eles rolavam que nem animais.

 

Passei seu outro braço em volta do meu pescoço, ajudando a levá-lo até seu quarto.

 

—Não devia ter me parado, —Ele resmungou em meio a mim e Rhys. Sua voz estava arrastada. —Eu ia arrancar todos os dentes dele. E entao faria um colar com eles.

 

Bufei uma risada, me perguntando o que eu havia feito para merecer sempre estar cercada de homens idiotas. —Cale a boca, Cas.

 

Rhys, que os deuses o abençoe, usou um atalho para chegar aos aposentos de Cas.

 

—Não pode dizer que nao foi merecido, princesa. —Rhys notou, quando o colocamos na cama em seu quarto com ele resmungando baixo demais para conseguirmos entender o que estava dizendo. —James merecia levar um soco há algumas décadas.

 

Apenas sorri em resposta, o agradecendo pela ajuda e assegurando novamente que eu podia cuidar dele sozinha, que se precisasse os chamaria no mesmo momento.

 

Assim que o Iliriano foi embora, me sentei ao lado do idiota que estava sangrando ainda. Eu toquei seu rosto, pronta para usar meu poder nos seus ferimentos.

 

Caspian, abrindo os olhos finalmente mais lúcido, segurou o meu pulso, me impedindo.

 

—Você vai ficar fraca se fizer isso. Vai curar sozinho, não se preocupe.

 

Eu removi seus dedos um por um com a minha outra mão.

 

—Você me fez sugar tantas árvores hoje que não vai fazer diferença para mim. Além do mais, não quero correr o risco de alguma cicatriz estragar o seu rosto lindo — eu coloquei minha mão no seu rosto novamente, apesar de não ser necessário. Direcionei meu poder nele, que fechou os olhos. Eu parei quando todos os cortes e roxos haviam sumido. —Pronto, está perfeito novamente.

 

Ele sorriu, me mostrando todos seus dentes, a covinha aparecendo.

 

—Você acha que meu rosto é perfeito?

 

Eu bufei para ele, minha mão tracejando onde James o havia socado e causado o maior corte.

 

—Você sabe que é bonito. Se gaba todo dia sobre isso. Uma vez disse que seu rosto é a prova da existência de Deus.

 

Seu sorriso apenas aumentou.

 

—Você me acha perfeito. — repetiu, afirmando agora.

 

Senti minhas bochechas pegando fogo com isso. Desviei os olhos, afastando minha mão. Quando o olhei novamente ele ainda estava rindo quietamente consigo mesmo.

 

—Não precisava ter brigado com James, Cas. Eu tinha tudo sob controle.

 

Sua expressão ficou séria imediatamente, seu cenho se franzindo para mim. A imagem dele com James, rolando no chão aos socos veio à minha mente. Senti minha garganta arder com o esforço que havia feito ao gritar.

 

—Quando eu vi as mãos dele em você eu… — ele sacudiu a cabeça. —Eu não pude me controlar. Não quero que fique daquele jeito novamente. Eu sei que James é sua fraqueza.

 

—Ele não é minha fraqueza. — eu disse, tentando tirar a fúria que essas palavras trouxeram de minha voz. Por ele não ter visto isso. — Eu não vou ficar daquele jeito novamente, não se preocupe. Mas não saia espancando qualquer um que falar comigo.

 

Eu comecei a me levantar para sair, mas sua mão segurou meu braço, me parando. Seu olhar estava intensamente focado em mim.

 

—Você ainda o ama, nem que seja um pouco?

 

Pisquei, surpresa.

 

Eu não esperava que ele me perguntasse isso. Desviei os olhos, pensando mais a fundo nisso, não querendo mentir para o príncipe à minha frente.

 

Eu ainda o amava? Procurei qualquer sentimento que lembrasse o que eu sentia por ele antes, a paixão, a necessidade. Mas mesmo na época meus sentimentos foram em parte amplificados pelo nosso laço de sangue. Eu não senti nada quando ele veio falar comigo hoje, talvez nostalgia pelo que passamos juntos, pelo que podia ser se ele não tivesse me traido daquele jeito.  Havia sim, um resquício de amor, mas não como antes.

 

—Não, não mais. - respondi finalmente, assim como havia respondido a James antes, vendo o alívio em seus olhos. — Ele foi uma parte importante da minha vida, Cas. O que você presenciou foi o término disso.

 

Ficou quieto por alguns instantes, digerindo o que eu disse.

 

—Obrigada por ajudar meu rosto a continuar uma obra de arte. — ele disse, se inclinando para perto de mim.

 

E com aqueles olhos violáceos ainda grudados em mim, senti meu coração acelerar, sua mão indo em meu rosto, a sensação de choques atravessando minha pele.

 

— Eu usaria meu poder nele se vocês não tivessem se separado, Caspian. — eu disse baixo. — Eu fiquei tão assustada quando eu te vi ensanguentado. Não faça mais isso, por favor.

 

Ele afastou uma mecha de cabelo do meu rosto.  Lá fora, a chuva virou uma tempestade, um forte trovão retumbou, me fazendo pular. As luzes acima de nossas cabeças piscaram uma, duas vezes e se apagaram completamente.

 

Engoli em seco para a escuridão total. Caspian se levantou, e logo após eu ouvi o barulho de gavetas sendo abertas e ele pegando algo.

 

Ouvi o riscar de seu isqueiro e seu rosto apareceu, dando um sorriso torto.

 

—Parece que eu fumar não é tão ruim assim agora, não é? — brincou, colocando a vela em cima da cômoda. — Esse castelo é muito velho, isso sempre acontece. É melhor ficar, sair no escuro aqui não é uma boa ideia. Nem todos são adoráveis como eu, como já deve ter percebido.

 

Me lembrei das pessoas da cidade, da corte do pai de Cas me dando olhadas de desprezo. Mordi meu lábio, concordando com a cabeça.

 

Ele remexeu em suas gavetas novamente, pegando roupas e as jogando para mim, e depois pegando para ele.

 

—Não acho que isso seja necessário...

 

Ele me deu uma olhada, levantando uma sobrancelha.

 

—Você está ensopada, não quero que pegue um resfriado.

 

Bufei, mas ele tinha razão. Ele acendeu  outra vela e a ofereceu para mim. Eu a peguei, indo para seu banheiro. O quarto de Caspian aqui era do tamanho do meu, mas não tão pessoal. Eu sabia que isso se devia ao fato de que ele não morava aqui, e sim em outro lugar, onde ele era o regente.

 

Deixando meu vestido agora arruinado pendurado, me  enfiei na camiseta que ele havia me dado, assim como na calça de flanela. Era um típico pijama, percebi. Mas depois me olhei melhor no espelho, pegando uma toalha pendurada para secar meu cabelo, e notei que haviam pequenas gotas de tinta na calça. Sem dúvida das pinturas dele. A camiseta tinha o cheiro dele, mesmo estando limpa.

 

Sai do banheiro, me deparando com ele sem camisa, terminando de amarrar os laços na cintura de sua calça igual a minha.

Senti algo se tencionar em meu abdômen, minha boca ficando seca. Ele tinha uma tatuagem em seu abdômen, uma águia. O simbolo do reino dele.

 

Seu cabelo solto também estava úmido, ondulado. Me lembrei da sensação de passar os dedos por ele, no Calanmai, enquanto eu o beijava.

 

Desviei o olhar. Eu podia sentir a tensão se formando no ar enquanto seus olhos me examinavam.

 

Sacudi a cabeça, tentando afastar esses pensamentos, e fui até a sua cama, passando por ele no caminho.

 

—Acabou seu estoque de camisetas? — perguntei, dando mais uma olhada no seu peitoral.

 

Se Rhys achava que ele estava fora de forma, ele estava louco. Cada parte dele parecia ser feita de músculo, mas não de um jeito grosso. Ele era esguio assim como sua irmã, afinal de contas.

 

—Eu estou com calor. — ele disse finalmente, me fazendo parar de pensar em como seria passar as mãos pelos músculos dele.

 

Eu franzi o cenho, já que hoje era um dia frio aqui, as pedras das paredes do castelo amplificavam a frieza da chuva para o quarto. Alguém bateu na porta, fazendo ele tirar seus olhos de mim e ir até ela.

 

Ele falou algumas coisas em italiano, e pela luz da vela da pessoa pude vê-lo pegando algo dela.

 

Ele pareceu um tanto quanto irritado quando fechou a porta, uma garrafa de vinho e duas taças em suas mãos.

 

—Isabella mandou. -- ele explicou. — Eu realmente preciso ter uma conversa com ela sobre limites.

 

Eu ri com isso, sabendo que não adiantaria. Isabella, com seu poder, não conseguia evitar se intrometer nos assuntos dos outros.

 

Ele colocou a garrafa no criado mudo, a abrindo e despejando o vinho em uma taça, me oferecendo. Eu aceitei, apenas pelo fato de que eu precisava de algo para me focar ao invés da falta de camisa de Caspian.

 

Me sentei na cama, minhas pernas dobradas debaixo de mim. Cas se serviu e seguiu meu exemplo, se sentando a minha frente.

 

Dei alguns goles no vinho que era doce, exatamente do jeito que eu gostava. Seu gosto era rico, e logo percebi que não era apenas vinho que continha, mas também sangue. O que era bem vindo, estava mesmo na hora de me alimentar.

 

Depois de alguns minutos desconfortáveis, finalmente olhei para ele de novo, o encontrando me encarando.

 

Limpei minha garganta.

 

—Um pensamento por um pensamento? — ofereci, nossa brincadeira de sempre para quando estávamos quietos demais.

 

—Eu estou pensando, — ele disse, seguindo a passada de minha língua pelo meu lábio inferior com seus olhos. — que eu olho para você e eu… eu sinto. Sinto coisas que não sabia ser capaz, como se o quarto de repente ficasse sem oxigênio. Como se eu não conseguisse respirar. Estou pensando que você realmente deve ser uma tola se acha por um segundo sequer, que qualquer outra mulher pode se comparar a você.

 

Senti meu coração perder uma batida com isso. Tomei mais um gole, lutando com a sensação de quentura no meu corpo todo. Não havíamos dito nada assim antes, nunca havíamos admitido em voz alta.

 

Bateu seu joelho no meu, indicando que estava na minha vez. Dei mais um longo gole na taça.

 

—Eu estou pensando na noite do Calanmai, como tenho pensado todas as noites. Estou pensando em como eu não consigo parar de pensar em você, Já faz um tempo, desde  a primeira vez que você me encontrou nos calabouços. E que talvez isso me faça pior que James, mas que é verdade.

 

—Não faz. — ele disse, seu rosto solene.

 

Mas fazia. Eu fiquei tão chateada com James por esconder que amava outro alguém enquanto estava comigo, mas eu mesma já estava pensando em Caspian todo o tempo, pensando em todas as vezes que ele havia me beijado. Até mesmo quando eu ainda sentia algo por ele,eu havia beijado Caspian. Pedido para ele me beijar.

 

E eu gostei do beijo. Tanto. Não tinha admitido isso para mim mesma até agora.

 

Terminei meu vinho, colocando a taça no criado mudo. O ar era espesso ao nosso redor, com tudo que ainda queríamos dizer.

 

—Acho melhor irmos dormir.

 

Ele assentiu, então eu apenas me virei de costas para ele, sentindo a cama se mover com seu peso quando ele se inclinou para apagar a vela. Eu estremeci com o frio que eu estava sentindo agora que não estava mais o olhando. A coberta era fina demais, já que tecnicamente não estávamos numa época fria.

 

—Você está tremendo. — ele notou, entrando debaixo das cobertas comigo.

 

—É que meu cabelo está molhado. Ele é como se fosse um cobertor gelado. — eu disse. E não estava mentindo. Já havia passado da hora de eu cortar ele.

 

Senti suas mãos levantaram meu cabelo, o colocando por cima dos travesseiros, longe do meu corpo. Logo em seguida seu corpo se pressionou contra o meu levemente, um de seus braços circulando minha cintura. Ele era mais quente que a coberta, e eu logo parei de tremer.

 

Com as bochechas pegando fogo, xinguei Isabella em minha mente, esperando que ela captasse isso de onde estivesse. Ela sabia que eu iria falar o que eu não tinha coragem se tomasse vinho. Isabella sem9re sabia exatamente o que fazia.

 

—Calor corporal. — ele explicou, e eu fiz uma carranca para a risada em sua voz.

 

Me virei de frente para ele, a lua cheia passando pelas janelas me dando luz o suficiente para ver olhos violáceos me encarando. Me aconcheguei melhor nele, indo mais perto. A camiseta absorvendo o calor do peito dele. Suas mãos agora em minhas costas tracejando círculos preguiçosos, me fazendo ficar arrepiada.

 

Meu nariz estava diretamente na frente do seu pescoço, onde a pedra do seu colar repousava no começo das suas clavículas, então eu o arrastei até sua jugular. Ele estremeceu, me fazendo sorrir. Ele me queria. Essa era uma de minhas dúvidas, se ele me queria ou se apenas sentia a obrigação de tentar me querer já que estávamos noivos. Movi meu nariz novamente, chegando a base de seu pescoço, e inalei seu perfume. Antes eu achava que era o cheiro de seus cigarros, terra, e algo cítrico. Agora, por algum motivo, eu podia ver que era muito mais que isso.

 

Ele tinha cheiro do mar, da terra molhada pela chuva, de limões recém colhidos, e de cravo. E ainda havia algo mais, que eu não podia descrever, mas que me dava a sensação de estar em meu quarto na minha casa antiga, lendo algum livro. confortavelmente.



Deixei uma de minhas mãos deslizarem pelas suas costas, minhas unhas passando tão levemente sobre a sua pele. Ele puxou uma respiração quando elas chegaram ao seu quadril, suas mãos apertando minha cintura.

 

—A sua mão está muito gelada. — ele se explicou, me fazendo sorrir.



Trouxe minha mão para seu peito, fazendo a mesma coisa, até chegar a sua tatuagem, deixando minhas unhas deslizarem ali.

 

Ele soltou um leve grunhido.

 

—Esta tentando me matar? — sua voz soou rouca em meu ouvido. —Meu oai não ira ficar feliz se você fizesse seu herdeiro morrer, princesa.

 

Deslizei a unha para logo acima da sua calça. —Não tenho culpa se você é um bebê sensível, Cas.

Então algo se pressionou contra meu quadril. Eu fiquei tensa e relaxada ao mesmo tempo, meu pulso acelerado. Sua mão, antes parada na lateral da minha cintura, deslizou até a base do meu seio, me fazendo me pressionar mais contra ele.

 

Levantei meu rosto de seu pescoço para o encarar. Seu olhar de desejo devia muito bem ser gêmeo do que eu sabia que era o meu.

 

—Primeiro me torrura com seus vestidos colados e agora quer... — eu quase não reconheci sua voz, de tão gutural que estava. —O que você quer, Sophie querida?

 

Minha mão foi até sua nuca, meus dedos se afundando em seu cabelo assim como eu queria fazer há muito tempo. Eu lhe dei um sorriso, meus dedos acariciando sua nuca.

 

—Vai me fazer pedir novamente, Cas? — eu disse, me referindo ao calanmai e o dia na boate em que ele havia me feito pedir por um beijo.

 

Seus dedos brincaram com a barra da minha camiseta, tocando a pele do meu quadril.

 

—Eu gosto que você saiba que tem escolhas. — respondeu, seus olhos na minha boca. —E da última vez que perguntei, disse que queria ir devagar.

 

—Que se dane ir devagar.— Eu  praticamente grunhi para ele, puxando sua cabeça até mim, finalmente trazendo seus lábios para os meus.



E aqui, sem ninguém nos observando, nos atrapalhando, sem eu ter que me preocupar sobre alguém descobrir sobre isso, eu pude sentir direito como era beijar Caspian.



Eu nunca havia sentido tantas coisas com apenas um beijo. Sua língua acariciou a minha, me fazendo me pressionar mais contra ele. Seus dedos subindo, tracejando minhas costelas, parando na curva do meu seio.

 

Cas. —  eu reclamei quando ele parou a carícia. Ele apenas sorriu para mim. Ele ainda estava esperando minha resposta. — Por favor.

 

—Eu sabia que suas aulas de etiqueta não haviam sido à toa. — murmurou, sua mão finalmente subindo até meu mamilo.

 

Ele passou o dedão sobre ele, me fazendo gemer. Em um único movimento, ele me girou, me fazendo lembrar que ele era um guerreiro treinado. Ele se pressionou contra minhas costas, e eu arqueei meu quadril contra o dele, o fazendo gemer com meu movimento. Sua mão em meu seio estava por baixo de mim agora, ainda o acariciando.

 

—Eu queria fazer isso desde que você apareceu com aquele vestido preto, quando fomos a Bucareste. — ele disse, sua mão envolvendo meu seio inteiro. Sua outra mão foi para o cordão que estava mantendo minha calça no lugar, começando desfazê-los. —E isso desde quando você me beijou lá, com essa sua boca cruel.

 

Sua mão estava me atiçando, deslizando, mas não entrando completamente por baixo da calça. Me mexi, tentando fazê-lo tocar onde eu mais queria, o fazendo roçar contra mim novamente. Ele grunhiu , finalmente deslizando seu dedo para o meu centro, fazendo um barulho de aprovação para a situação que encontrou ali. Ele fez um barulho primitivo, finalmente deslizando um dedo.

 

Maxi mais meu quadril, o fazendo ofegar.

 

—Pare com isso. Desse jeito você vai acabar com a minha diversão, meu amor.

 

Eu certamente não pararia. Eu queria mais, precisava de mais. Eu estava faminta por Caspian, sedenta por seus lábios nos meus. Era  como se algo invisível estivesse me puxando para ele, algo furioso e primitivo, e parte de mim estava apavorada com essa necessidade, com essa sensação desconhecida, mas outra parte, uma parte profunda e sombria, suspirava sim, finalmente.

 

Eu virei minha cabeça para ele o máximo que eu podia, sem sair da minha posição. Capturei sua boca na minha novamente, para ele parar de falar, e comecei a me mover contra seu dedo. Eu gemi, e ele me beijou mais forte, como se quisesse capturar o som para ele.

 

Mais, mais, mais. Eu precisava mais dele, uma necessidade que eu percebi, esteve comigo o tempo todo. Não só fisicamente, também.

 

O tamanho do meu desejo por Caspian me assustava, a intensidade que eu o queria perto de mim, não só fisicamente, mas ele todo. De corpo e alma.

 

Como se escutasse meus pensamentos, colocou outro dedo, me fazendo gemer seu nome mais uma vez. Tentei levar minha mão para sua calça, mas a sua mão saiu de baixo da minha camiseta e a segurou. Eu reclamei ainda em sua boca, minhas palavras abafadas e irreconhecíveis.

 

—Não seja egoísta. — eu reclamei.

 

Sua mão me soltou, indo se juntar a outra na minha calça. Joguei minha cabeça para trás, a deixando cair sobre seus ombros, quando seus dedos da nova mão começaram a acariciar o emaranhado de nervos.

 

Eu gemi o nome dele enquanto a liberação lentamente me atingia, me contraindo, ofegando.

 

—Eu queria muito fazer isso, também. —Ele disse, levando seus dois dedos até sua boca.

 

Me senti ofegar novamente enquanto ele provava seus dedos. Provava meu gosto.

 

Eu me virei, ficando em cima dele, sentindo a pressão dele exatamente onde eu queria. Sua expressão ficou mais faminta ainda. Mas mesmo assim ele segurou minhas mãos que começaram a soltar sua calça.

 

Sophia— ele grunhiu, ofegante.  Seus olhos estavam crus, me olhando de um jeito que fez meu sangue ferver. — Tem certeza que está preparada para fazer isso?

 

Pausei então.

 

Só o fato de ele perguntar. De ele saber que a única pessoa antes dele a me tocar havia sido James...

 

—Eu achei que você me queria. — eu disse, me afastando, me sentindo envergonhada. Desviei meu olhar, saindo de cima dele.

 

Ele me impediu, suas mãos indo até meu quadril, me prendendo ali.

 

—Apenas quero que tenha certeza. — ele disse quietamente. —Você sabe as consequências.

Me lembrei do que eu havia percebido no Calanmai, sobre ele me entender, ser meu igual.

 

Me lembrei sobre Carolinne me dizendo que os deuses haviam me feito conhecer James e me apaixonar por ele por um propósito, e de Caspian me dizendo que eu tinha que ter passado por uma decepção para saber quando eu havia  encontrado a pessoa certa.

 

E eu soube que eu tinha. Eu sabia que estava disposta a tentar fazer com que essa pessoa fosse ele. Talvez eu soubesse a algum tempo, mas meu coração partido tivesse me convencido de que era mentira. Que eu não merecia, depois de tão pouco tempo.

 

E olhando nos olhos dele, vendo o resquício de dor, eu soube o que ele quis dizer com essa pergunta. Que ele não se achava merecedor de alegria, não depois do que ele passou em Seelie. Acariciei seu rosto, colando nossas testas.

 

—Eu tenho certeza. — eu disse. — Eu te quero, Cas. Cicatrizes e tudo o mais. Eu não vou me afastar, não de você. Não importa o que aconteça.

 

Eu então me coloquei numa posição sentada novamente em cima dele, puxando minha camiseta sobre a minha cabeça, ficando coberta apenas pela calça. Ele me olhou, como alguém olha uma obra de arte.

 

Ele se sentou, me girando para baixo dele. Me encarou novamente, como se não estivesse acreditando ainda, seus dedos tracejando cada cicatriz, cada pinta.

 

Ele abaixou sua cabeça até a mim, sua respiração entrecortada.

 

—Eu quero te pintar. Suas sardas parecem constelações.

 

Eu sorri maliciosamente para ele, minha mão se enfiando no seu cabelo novamente.

 

—Nua seria melhor.

 

Ele gargalhou antes de me beijar, suas mãos puxando minha calça. Eu fiz o mesmo nele, finalmente pude vê-lo completamente.

 

Levantei meu quadril, exigindo o que me havia sido negado.

 

—Tão impaciente. — ele murmurou contra a minha boca.

 

Então sua boca desceu até meus seios, minha barriga, até…

 

Ele separou minhas coxas com suas mãos,  segurando-as longe de seu rosto enquanto eu me contorcia com a sensação de sua boca contra mim.  Não demorou muito para ele me ter gemendo seu nome.

 

Eu o puxei para cima, apertando seus ombros, uma súplica em meus olhos. Eu queria, eu precisava…

 

Ele me atendeu, deslizando dentro de mim com uma investida. O beijei novamente, minhas unhas em suas costas. E enquanto ele se movia em mim, novamente tive a sensação de que algo caiu em seu lugar. Algo que estava na minha cara esse tempo todo. O que eu achava que nunca mais iria acontecer.

 

Eu estava me apaixonando por Caspian.

 

Nossos colares brilhavam suavemente, como se soubessem que estávamos selando definitivamente nosso destino juntos.

 

Eu o empurrei até estar deitado, me colocando em cima dele. Só o seu olhar sobre mim me fez quase atingir o ápice novamente. Comecei a me movimentar, nossos olhos colados, esperando que ele pudesse ver o que eu estava sentindo. O ar a nossa volta era carregado, elétrico, e por um segundo de lucidez me perguntei se era consequência se nossos poderes.

 

Suas mãos foram ao meu quadril, possessivas, aumentando nosso ritmo. Meu deus, esse homem seria a minha ruína. Ou a minha salvação.

 

Jogando minha cabeça para trás, senti meu corpo, minha mente, minha alma se estreitando até ele enquanto eu quebrava em mil ondas de prazer, o fim dele vindo não muito tempo depois.

 

Caida em cima dele, ainda ofegante, ouvi dizer algo em italiano.

 

Juntei forças para o olhar, meus olhos pedindo uma tradução.

 

—Nao há tradução. —Ele riu, me puxando para mais perto de si mesmo, me beijando novamente, carinhosamente. —Acho que vai ter que finalmente aprender italiano. Sogni d’oro, tesoro.

 

Beijei seu ombro, cansada demais para responder. Com ele ali ao meu lado, me acariciando, não demorou muito para eu cair em um sono livre de qualquer preocupação


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Notas finais do capítulo

Hehe não tenho nem desculpas pela demora, como sempre prometo que vou tentar ser mais ágil.

Sera que tem alguém lendo ainda?



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