What Goes Around, Comes Around... escrita por Jiullia


Capítulo 2
Down




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Na manhã seguinte, Charlô não acordou no horário normal. E, se tinha acordado, não desceu ou chamou por Olívia. Juliana encontrou o tio à mesa e perguntou pela avó.
—Não vi aquela megera ainda, graças ao bom Deus.
—Não fale assim da vovó, tio Otávio
—Não falarei; falarei ainda pior, que é o que ela merece. Aquela araponga vive para me infernizar!
—Você não acha que isso significa alguma coisa?
—Isso o quê?
—Essa implicância que vocês têm um com o outro, não sei... Sempre ouvi falar que briga é sinal de amor reprimido.
—Vocês, mulheres... - Otávio mudou para um tom de vermelho-tomate. - Sempre vendo sentimentalismo em tudo! EU ODEIO AQUELA MULHER, ODEIO! Ouviu bem? Quero vê-la bem BEM LONGE DE MIM!
—Tio Otávio, que ódio é esse? - Apesar de assustada, Juliana estava se divertindo com aquela história. Ela conhecia o tio, que era tão parecido com Felipe, seu pai. Quando negam, querem dizer o contrário exato! - Vó Charlô é uma mulher incrível! E eu sei bem que o senhor sabe beeeem disso.
—Como assim, sua menininha insolente?
—Vocês foram noivos, ué. Prova de que pelo menos alguma coisa se passava.
— Não tem como conversar com você, Juliana. MULHERES, BAH! - Otávio deixou a mesa de café irritado.
—É, titio - Juliana sorriu pra si própria. Então se lembrou da avó. - Ah, meu Deus! Olívia? Olíviaaa?
—Sim, senhora, dona Juliana?
—A vovó ainda não acordou?
—Não, senhora, e já passou da hora, se me permite dizer.
Juliana mordeu o lábio e pensou.
—Olívia, prepara um café bem forte e umas torradinhas, e leve daqui a uns cinco minutos ao quarto da vovó. Eu vou lá conferir o que houve.
—Sim, senhora, dona Juliana.
Olívia correu para a cozinha e Juliana para o quarto de Charlô. Tudo estava como ela havia deixado na noite anterior. Inclusive a avó. Preocupada, Juliana chegou perto da cama e percebeu que a avó ainda dormia. Os olhos dela estavam escuros e inchados, provavelmente Charlô tinha passado a noite em claro chorando.
—Será que tudo isso é pelo tio Otávio? Não é possível.
Juliana sentou-se ao lado da avó e afagou seus cabelos. Charlô era uma mulher muito linda para a idade. Tinha os traços delicados, muito parecidos, por sinal, com os da própria Juliana. Seria o maior orgulho ficar mais parecida ainda com a vó quando fosse mais velha. O jeito de Charlô era muito próximo do de Analú, exceto no fato da mocinha ser altamente equivocada em muitos pontos.
—Vovó? Charlôôô, acorda. Está tarde.
Charlô piscou antes de abrir por completo os olhos. A luz excessiva, mais o próprio inchaço deles, causava um desconforto tremendo. Estava cansada, passara a madrugada chorando e não iria a loja naquele dia.
—Juliana? O que faz aqui?
—Vim te acordar, ué. Já são mais de onze horas da manhã, a senhora não levantou, fiquei preocupada.
—Senhora não, Juliana! - Charlô falou, colocando o braço sobre os olhos, bloqueando a luz. - Não pretendia me levantar hoje. E ainda não pretendo.
—Pode me falar, ou melhor, pode me confirmar o que está acontecendo? Você passou a madrugada chorando, vó. Ainda sente alguma coisa pelo tio Otávio, não é?
—Claro que não, tolinha. Aquele traste só representa desgosto em minha vida. Eu tive pesadelos complicados durante a noite.
—Mas essa carinha vem de antes de dormir, vó, desde quando te falei do tio ter saído.
Charlô suspirou cansada, contendo novas lágrimas.
—Minha tristeza não vem dele, não por causa dele. Sinto falta de minha vida mais boêmia, de minha juventude. Ele me trata como velha o dia todo. E às vezes magoa, Juliana.
Obviamente Juliana não acreditou na avó. Várias conversas e indiretas dela durante as conversas eram suficientes para descobrir a realidade por trás dos argumentos. A dificuldade seria fazer Charlô aceitar que ela ainda gostava, de alguma forma, do seu amaaaado primo Otávio.
Olívia chegou com o chá e as torradas e Juliana serviu a avó.
—Mandei trazer seu café, vó. Vai para a loja hoje?
—Não, Juliana. Nem hoje, nem amanhã.
—E por quê?
—Estou indisposta. Não trabalho bem assim.
—OK. Vou deixar a senhora em paz, tenho de arrumar algumas coisas antes de ir para a Charlô's. - Juliana percebeu que era hora de deixar a avó sozinha, deu um beijo nela, e saiu. - Te amo, vó.
—Também amo você, Ju.
Charlô suspirou mais uma vez, e caiu sobre os travesseiros. Seria difícil disfarçar sua tristeza.


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