What Goes Around, Comes Around... escrita por Jiullia


Capítulo 10
Dans la nuit.


Notas iniciais do capítulo

Olá o/
NÃO ME MATEM!

Vamos dar uma guinada nessa história e transformar a Charlô na mulher poderosíssima que ela era na novela. E para isso, acredito ser fundamental um novo amor, um novo afeto.

Beijos :*



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– E quais são os planos para hoje, Edward? – Charlô perguntou descontraída. Ela já os sabia, mas queria quebrar de certa forma o gelo que se estabelecera no carro desde que entraram. Gelo esse vindo do profundo desejo despertado entre os dois.

– Bom, como eu disse era um jantar, num restaurante com espaço para dançar, pois sei que você ainda gosta. Mas vendo você assim, tão...

– Tão?

– Tão Charlô, tão perfeita, penso que seja melhor conduzi-la a um jantar com presença de autoridades.

– Ora, está caçoando da minha roupa? Só queria estar à altura do convite!

– Jamais caçoaria, Charlô. Mas fiquei surpreso. Não imaginava que eu valesse tanto, para que uma mulher que já parece uma deusa se arrumasse ainda mais, para estar em minha presença.

– Ora, você também está arrumadíssimo – ele parou o carro no estacionamento do restaurante e ela tocou na gola da camisa de baixo, para mostrar o quanto ele estava também elegante. O contato gerou ainda mais faíscas entre os dois, pela proximidade entre os bancos – veja só, parece um conde!

– Aceito o título de conde – ele tirou uma mecha de franja de cima dos olhos dela – se eu encontrar a condessa. Ou melhor, se eu acertei na rainha que eu já encontrei.

Era uma cantada e era cafona, sim, mas Charlô ruborizou, mesmo debaixo da maquiagem. Nunca é tarde para uma mulher se sentir desejada, e conhecendo a Edward como ela conhecia sabia que não era exagero ou uma forma de ganhá-la mais depressa.

– Bem, vamos então? Vai abrir a porta para mim?

– Sim, claro. - Edward saiu um pouco confuso do carro, imaginava que já ali aconteceria algo mais interessante, mas Charlô cortara o clima. Enfim, tudo tem sua hora.

O restaurante era reservado, com público seleto, mas grande em espaço físico e bem decorado. Remetia aos restaurantes coloniais europeus, com cores claras, espaços entre as mesas e para circulação, mas também muitos objetos antigos, além da própria arquitetura. Era um local agradável e bonito; tinha, também, um espaço para que os clientes dançassem, com música o vivo. Definitivamente um restaurante para encontros entre amigos mas, principalmente, entre casais. Charlô percebeu a atmosfera e compreendeu que aquela noite não poderia acabar em branco, no 0x0. Edward tinha pensado inclusive na escolha do local e ela se sentia favorável ao romance naquela noite. Era uma noite linda, estrelada, de clima agradável e com vento.

Não tinha dia melhor.

– Que lugar maravilhoso, Edward? Eu, que moro aqui há tantos anos, não conhecia. Como você, vivendo no exterior, pode conhecê-lo?

– Ah, rs, este restaurante é propriedade de um amigo meu. - O homem sorriu para o garçom, que o cumprimentou com um abraço e já os encaminhou para uma mesa afastada perto da pista de dança. Lugar planejado também, já que o som lá era menos intenso e a luz mais clara, porém não tão brilhante. Ideal para um casal não tão jovem assim mais. - Pensei num local bonito, e na verdade já vinha pensando há muito tempo.

– É mesmo? Já estava me cobiçando há mais de um mês, então?

– Digamos que há dois anos, quando eu decidi que voltaria ao Brasil em breve.

– Nossa, eu não imaginava isso.

– Você não consegue imaginar o quanto é desejada fora de sua gaiola familiar, Charlô. Não tem nem ideia.

A loira encarou o homem, e ficaram assim por um bom tempo. Mais tempo que ela planejava, já que estava divagando sobre quantos mais a desejariam.

– Falando nisso, quero perguntar qual o seu grau de envolvimento com o Otávio desde que liguei pela primeira vez, mas é um assunto a ser tratado pessoalmente.

– Grau de envolvimento? Como assim?

– Eu já sei da questão da herança, da divisão, da aposta. Mas foi só isso mesmo que motivou você a estar debaixo do mesmo teto com ele ainda, Charlô?

– Óbvio que sim, meu querido Edward, evidente que sim. Você conheceu o Otávio, o que mais poderia ser?

– Não sei. Segundas intenções.

– Segundas? Nem as primeiras ando conseguindo digerir, imagine outras!

– Charlô, você sabe muito bem que existem coisas não explicadas pela ciência, coisas essas chamadas emoções, que coordenam muito mais o nosso jeito de agir que qualquer lógica que governe nosso mundo.

A cabeça loira da mulher girava. Ainda vinha física quântica no assunto já escabroso para complicar de vez!

– Você quer dizer que eu tenho ou quer saber se eu tenho sentimentos amorosos pelo meu primo Otávio?

– Quero saber se existem.

– E por quê?

– Quero saber qual o nível de concorrência que terei de enfrentar.

– Mas se estamos aqui, não há concorrência, Edward.

– Não quero estar só aqui. Eu voltei porque quero estar em sua vida, Charlô, e não como primo, como amigo, como saída casual. Quero mais do que isso.

Boquiaberta, ela não sabia o que responder. Não era mais uma cantada, e sim a fala clara de que ele queria um relacionamento com ela. Relacionamento, e não um "lance" como o dos jovens. E ele voltara por isso, por causa dela.

– Vamos comer, nos divertir, e depois falamos disso, quando a ocasião chegar. Esqueci da sua fobia de relacionamentos.

– Não, não é fobia. É prudência apenas. E sim, vamos fazer nosso pedido.

***

Já passavam das dez da noite, e o casal ainda estava no restaurante. Jantaram, experimentaram alguns vinhos, conversaram, riram muito. Não estavam nem um pouco cansados, pelo contrário. Charlô tinha ficado até mais animadinha com as tacinhas ingeridas. Nada excessivo, só mais calorenta e feliz mesmo.

– Edward, estou com calor, mas um calor que você não imagina.

– Meu Deus, Charlô, está bêbada?

– Não, ainda não, mas sentindo calor. Se eu beber mais ficarei bêbada, mas ainda estou consciente.

– Vamos dançar então. Quem sabe libera um pouco desse calor e você melhora.

Edward já estava sem o paletó também, e Charlô notou o quanto ele mudara desde a juventude. Não tinha barriga igual aos senhores de sua idade, era mais encorpado ainda.

– Você pratica algum esporte, Edward?

– Pratico sim, diariamente. Natação, corrida, jogo futebol nos fins de semana. Por quê?

– Sua forma está ótima, em comparação com as pessoas de nossa idade.

– Tentei me manter bem para não ficar deprimido depois, rs. A boa aparência sempre foi algo importante para mim.

Ele se levantou, e estendeu a mão a ela.

– Você também está ótima e nunca vou me cansar de dizer isso.

– Ótimas estão minhas netinhas, Edward, rs, o tempo não é tão generoso com as mulheres.

– Então o tempo também se apaixonou por você, Charlô, porque o trabalho que ele vem fazendo é muito bom.

– Também? - Charlô se aproximou dele, na pista, sem quebrar o contato visual.

– Também. Nem ele resistiu. Quem, em sã consciência, resistiria? - Edward a enlaçou pela cintura, e ela o enlaçou pelo pescoço. Como a música era lenta, a luz havia baixado e os casais, muitos, estavam conversando baixo enquanto dançavam. O espaço era suficientemente grande para que nenhum deles trombasse com os outros a todo tempo.

Dançaram quatro músicas lentas em completo silêncio. Apenas aproveitando o calor, o carinho, a presença um do outro ali. Charlô precisava daquilo, daquele contato; o que era também um perigo. Quando a pessoa está carente de afeto, atenção, qualquer "bom dia" pode se tornar aparentemente uma paixão. Mas ela precisava, sem preocupações. A aposta era dura, difícil, mas ainda mais dolorosa morando na mesma casa que Otávio e o vendo com outras mulheres,armando contra ela, prejudicando-a. Era demais para uma mulher só.

Pode ter sido a bebida, a música, o calor de Edward, mas as lágrimas vieram e como torrentes. Charlô começou a chorar e sem perceber. Só atinou quando seu par, preocupado, parou a dança para olhá-la.

– Que choro é esse, Charlô? Eu machuquei você?

– Não, eu... é o vinho. O vinho e uma mulher muito cansada.

– Está cansada? Você quer dormir, tão cedo...?

– Não quero dormir, não quero sequer voltar para casa, Edward. Mas quero ir embora.

– Eu vou pagar a conta e vamos, você não está bem, pelo que vejo.

– Por favor. Só preciso de um pouco de ar.

Edward pagou a conta e quando saiu Charlô já estava no carro, de olhos fechados. O choro tinha parado, e ela parecia respirar com cuidado.

– Me leve para o mirante, lembra? Aquele no qual costumávamos ir. Eu preciso de um pouco de paz e distância.

– Aquele lugar existe ainda? Não ficou mal utilizado?

– A parte da frente sim, mas não o mirante. Lembra o caminho?
Antes de responder ele ligou o carro e saiu do estacionamento. Lembrava muito bem do caminho; era ali que os jovens, em sua mocidade, costumavam passar o tempo, escondidos dos pais. Eram ouros tempos. Hoje em dia, o mirante serviria para outras coisas.

Ele chegou ao lugar, encontrou o ponto solitário e ainda conservado que Charlô dissera, e desligou o carro. Nenhum dos dois falou. Só se ouviam as respirações de ambos, os grilos do lado de fora do carro. São Paulo, suas luzes e seus ruídos, tinha ficado lá atrás, distante demais para incomodá-los.

– Vai me dizer agora o que está acontecendo?

– Não é nada demais, Edward. Essa aposta está me matando. O tempo todo eu preciso ser dura, valente, resistente, perseverante, mesmo diante de ataques e mais ataques sem brechas. E em algum momento a gente desmorona mesmo.

– Charlô, olhe para mim. - Ele tocou o queixo dela e levantou seu rosto, para que ela o olhasse. - Isso é só pela aposta? Pelo trabalho?

– Em grande parte é. Sei que você insinua sobre Otávio, e ele está diretamente ligado por ser meu adversário na maldita aposta.

– Minha queria, escute: você provavelmente sabe que toda São Paulo fala de você e de Otávio, que vocês são famosos, mas ainda mais a rivalidade que se estabeleceu entre os dois. E também falam sobre o sentimento que os une, em ser maior que a tal rivalidade. Vocês namoraram, noivaram, quase se casaram quando jovens, e é perfeitamente natural que ainda sintam algo, ainda mais vivendo na mesma casa, vendo um ao outro todo dia. Quando eu procurei você, procurei consciente de encontrar uma mulher apaixonada por outro, Charlô, e nas nossas muitas conversas nestes dias acabei confirmando isso.

Charlô ia protestar, mas ele a calou com um selinho casto.

– Mas também percebi que era algo possível de mudança. Percebi que você é solitária, sozinha, está carente de amor, afeto, carinho, atenção. E toda mulher precisa disso. Eu sei e estou ciente de que o Otávio provavelmente foi e é o grande amor da sua vida, mas também já ouvi você dizer que é possível viver vários amores numa vida só.

O olhar dela era firme e intenso, e Edward pensou em não falar mais nada. Parecia tolo, pueril, mas ele tinha chegado ali, precisava acabar o que começou.

– Eu lhe procurei, Charlô, liguei para você, porque foi importante para mim tantos anos atrás e eu quero que seja de novo. E eu sei que posso ser algo bom em sua vida também. O que eu preciso saber, o que lhe perguntei mais cedo, sobre o Otávio, é para que eu possa saber também qual a abertura para a sua vida, para o seu afeto, o que existe, porque eu quero passar por ela e chegar e você. Quero saber o quanto está disposta a mudar, a esquecer, a tentar novamente.

– Você quer dizer que?

– Charlotte, Charlô, eu lhe desejo, eu lhe quero, eu gosto de você. E quero estar com você, mais do que amigos. Quero ser seu namorado, seu amante, quero amar você e quero que me ame. Mas preciso saber se você quer correr o risco, se existe essa chance.

Charlô encostou a cabeça de volta no banco e fechou os olhos. Não respondeu. Cinco minutos se passaram, e eles ficaram lá, em silêncio, depois da bomba ter caído. Então Edward, considerando-se vencido, deu a partida no carro e rumou para o castelo de Charlô. Estava levando-a para casa.

Quando lá parou, fora do portão, fez menção de sair para tocar a campainha.

– Por que você me trouxe para cá?

– Está cansada e já é tarde, pensei que quisesse se deitar.

Ela se aproximou de Edward, que não saíra do carro, o rosto bem perto do dele. O fitou por cinco segundos, sem piscar. E então disse, próximo ao ouvido dele:

– Eu quero, sim, me deitar, mas não quero me deitar em minha cama. E muito menos quero dormir essa noite. Você pode resolver isso? Porque eu quero que você resolva. E foi o que eu mais quis a noite toda.

Ela voltou à sua posição inicial, no banco, ainda fitando a Edward. Ele parecia não acreditar no que ouvira. Deu a partida no carro, e rumou para seu apartamento.


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Notas finais do capítulo

E agora, José? Digo, Otávio?