I Saw Daddy Kissing Santa Claus escrita por Roni Ichiro
Notas iniciais do capítulo
Eu sei que o Natal já passou, mas espero que gostem ! :D
3h da manhã. Estava dormindo tranquilíssimo, sonhando que comia um delicioso banana Split enquanto minha irmã gêmea fazia meus pés – por isso eu sabia que era um sonho mesmo, Rin já não era legal comigo, nunca que ela faria alguma vontade minha - quando acordei com duas coisas : o barulhinho infernal do despertador e Kaito ao meu lado me chutando na cama:
- Len, ano par. Sua vez de deixar os presentes pro Oliver.
Saco. Todo ano par é a mesma coisa ! Acordo de madrugada, desço as escadas com os presentes do nosso filho e deixo na árvore de natal. Mas o que parece ser uma tarefa simples já me trouxe vários problemas. Oliver é um menino criativo e questionador, então obviamente sempre tenta ficar acordado na noite do dia 24 de Dezembro para dar de cara com o bom velhinho e comprovar de uma vez por todas sua existência. E eu tenho que tomar o máximo de cuidado para que ele não me veja e descubra que Papai Noel não existe. Teve um ano em que tive que ficar esperando na varanda por três horas, naquele frio desgraçado, até o pequeno desistir e desabar de sono. É, vida de pai não é fácil, não.
Pois bem, como de costume, calcei meus chinelos, peguei o saco embaixo da cama e desci as escadas. O problema era que tinha dormido muito pouco no dia anterior e estava totalmente acabado. Estava com tanto sono que nem me lembrei de que meu filho poderia me flagrar.
E foi exatamente o que aconteceu. Lá estava Oliver, sentado no sofá, de braços e pernas cruzadas.
– Filho ! – tentei esconder não só o saco de presentes atrás de mim, mas também minha expressão de surpresa, seguida por meu pensamento de “Droga, maldita Miku que me vez ficar acordado ontem editando a porcaria do videoclipe dela !” - Querido, está fazendo o quê acordado a essa hora ?- escondi os presentes atrás de mim
– Esperando o papai Noel, oras. – ele respondeu, torcendo o nariz. - Mas até agora ele não chegou – ele falou desanimado.
– Ah meu bem.. Lembra que ele só vem quando você vai dormir?
– Minha amiga Aoki falou que ele não existe ! –ele prendeu o choro
– Meu amor, é claro que existe !
Ele não pareceu muito convencido, mas fungou e suavizou a expressão. Eu estava pronto para correr até a cozinha e pensar em um plano, quando de repente fui pego de surpresa :
- Ei , o quê é isso atrás de você ?
Arregalei os olhos. Deus, precisava pensar rápido.
- É...é... lixo ! É, lixo !
- Lixo ? – ele ergueu uma sombrancelha - Mas nem tá fedendo !
- Oliver... - apontei para as escadas, em uma tentativa desesperada de mudar de assunto - Vai dormir ,vai !
– Mas pai... – ele fez aquela carinha de cachorro abandonado.
– Vamos fazer o seguinte: eu fico aqui, se eu ver Papai Noel eu te chamo ,tá ?
– Promete que vai me chamar ?
– Prometo.
– Ok.. – de cabeça baixa, ele foi para as escadas.
Suspirei. Tinha certeza absoluta que ele não adiantava eu pedir. Ele não iria subir. Não iria desistir tão fácil.
Não podia baixar a guarda. Sem escolha, sentei no sofá e fiz exatamente como nos anos anteriores : fiquei mofando até ter certeza que ele iria dormir de verdade. Mas passou tanto tempo que eu acabei dando uma cochilada, e só fui acordar às 4h3O com aqueles olhinhos amarelos me olhando:
– Oliver ! – falei, perdendo a paciência - Eu pedi pra você dormir!
– Mas até agora ele não veio ! – ele bateu os pés.
– Eu disse que se tivesse o visto eu te avisava!
– Mas você tava dormindo !
Touché.
Ok, estava sem respostas agora. Inventei uma desculpa qualquer de que precisava ir ao banheiro e o deixei lá angustiando. Assim que voltei pro quarto, tudo o que eu queria era deitar naquela cama e não acordar nunca mais. Mas tinha que deixar os malditos presentes.
– E então ? –Kaito perguntou, se espreguiçando. Me surpreendi por encontrá-lo acordado.
– Não consegui... – choraminguei, rastejando até a cama.
– Então já sabe.. Situações desse tipo exigem métodos de emergência. –ele deu uma risada e apontou para o armário.
– Ah não ! – estremeci - Não Kaito, por favor...
– “Ah não” uma ova ! É seu ano e você tem que fazer ! –ele se levantou da cama, abriu o guarda-roupa, deu uma vasculhada e achou o que estava procurando - Agora bota !
Eu que achava que nunca precisaria ter que passar por isso. O método de emergência que nunca chegamos a usar era de nos fantasiarmos de Papai Noel. Só a ideia de ter que tirar meu pijama e colocar aquela roupa cheia de enchimento, barba e cabelos postiços já me deixava totalmente desanimado.
– Nãaaaao... –choraminguei novamente
– Siiiim ! – ele gargalhou
E fui obrigado a botar a roupa. Mas esse Oliver era um mal-acostumado mesmo ! Quando eu e Rin éramos crianças não era assim não ! Nossos pais nos disseram aos 3 anos : “Papai Noel NÃO EXISTE !” , e acredito que esse foi o motivo por eu ter crescido um pouco traumatizando.
Mas enfim, desci as escadas e lá estava ele . Ao contrário de mim, Oliver não estava com nem um pingo de sono. Estufei o peito, lembrei de todos os exercícios vocais que fizera para tentar ao máximo imitar a voz de um velhinho e falei :
– HO HO HO ! Feliz natal !
– PAPAI NOEL !! – com os olhos brilhando, ele correu e me abraçou forte.
- Olá Oliver ! Como você se comportou muito bem esse ano vai ganhar muitos presentes !
- Obaa !!! – depois de dar uns dez pulinhos seguidos, ele parou e me fitou por um instante. Rapidamente sua alegria se transformou em uma expressão desconfiada - Papai Noel.. Que voz estranha a sua !
Droga. Maldita essa minha voz fina que não me largou mesmo eu tendo virado adulto !
- Aah.. eu... – fingi tossir - estou um pouco gripado , sabe ? Muitas casas diferentes, muita neve...
- Uhum.. –deu pra ver que não colou.- E nossa, seu rosto é tão magrinho, nem parece que você é gordo !
- Eu..eu.. andei fazendo regime ! –Meu Deus, já sou péssimo em mentir, ainda mentir pra filho no Natal e morrendo de sono !
- Regime ? Sei... – ele cruzou os braços - Papai Noel, quantas renas você tem ?
Ferrou. Eu já nem sabia o nome daquela rena de nariz vermelho (Robert, Reinald, Raymond...? Me deu um branco !) Como diabos eu iria saber quantas renas papai Noel tem ?!
- Ér... quinze !
Quinze ?! Que chute foi esse ? QUINZE ?! Meu Deus, a falta de dormir estava afetando meu cérebro. E não dava pra desmentir, ele sacou que era armação, mas pelo amor de Cristo, QUINZE ?? Eu estava ficando retardado.
- Quinze ?!
Aproveitando que a besteira já estava feita, continuei com a maluquice :
- É que recentemente contratei umas nov..... – e antes de que eu pudesse terminar a frase o elástico da minha barba falsa soltou e ela caiu nos meus pés.
- PAI ! – ele apontou para mim.
- Eu... Estava só te testando ! Você é bom, Oliver ! – dei um risinho amarelo.
– Pai, para de querer me enganar, assim o Papai Noel VERDADEIRO vai me ver aqui e se assustar por causa das suas doideiras!
- Ok, eu prometo. Sem mais isso. – corri para o quarto esbaforido e fechei a porta com força.
- Então ? – Kaito perguntou, de braços cruzados.
- Não deu ! – resmunguei - Ele ficou me fazendo perguntas ,parecia uma entrevista policial ! Só faltava a luz na minha cara ! E você sabe que eu não sei agir sob pressão !
– Len, calma. – ele segurou meus ombros e suspirou. - Quer saber ? Deixa que eu vou.
Kaito pegou a roupa e vestiu, prendeu bem firme a barba e desceu. Dez minutos depois lá estava ele de volta, de mãos abanando e com um sorriso vitorioso estampado no rosto :
– É assim que se faz, baby. –ele disse, convencido.
– Não acredito que você conseguiu.
– Sabe que eu sou muito melhor nisso do que você.
Ri de leve. Tinha que aceitar minha derrota.
– Ei.. – me aproximei dele – Agora que isso acabou... Eu acho que estou mais... acordado.
– Hm... sério ? –ele já estava sacando.
Dei um sorriso e o puxei para um beijo. Aquela barba branca fazia um pouco de cosquinha, mas depois me acostumei. Estávamos lá numa boa, até que o pior imaginável aconteceu. Ganhou de todos os Natais passados.
Oliver entrou no nosso quarto e viu a cena. Completamente pasmo e com as mãos trêmulas, ele gritou :
– O QUÊ ?!
Empurrei Kaito para longe.
– Não meu amor, não é nada do que você está pensando ! Esse é o papai !
– Papai Noel !! – o rosto dele ficou branco.
– Não, Oliver ! É o papai mesmo ! – Kaito arrancou a barba falsa
– Por que vocês dois se vestiram de Papai Noel ?!
Kaito começou a suar e minha garganta ficou seca. Não tinha mais jeito. Era essa a hora. Perdi todo o tato paternal que tinha e falei, muito sério :
– Oliver, Papai Noel não existe.
– O QUÊ ?!! – e o pequeno desabou a chorar.
Nossa, que noite ! Até hoje agradeço a Deus por meu filho não ter crescido traumatizado ! Vamos combinar, ele tinha seus motivos: Tem dois pais, ambos se vestiram de Papai Noel, um deles o enganou várias vezes, pegou os dois se beijando - sendo que um deles ainda estava fantasiado! – e ele recebeu a terrível notícia da inexistência do Bom Velhinho.
Bom, pelo menos depois daquele incidente nunca mais precisei acordar de madrugada e passar pela mesma aventura todos os anos. Só espero que quando Oliver crescer e tiver seus próprios filhos, não cometa os mesmos erros que estúpidos que eu e Kaito cometemos. Das duas uma : Ou ele contrata um ator pra fingir profissionalmente, ou desilude as crianças de uma vez por todas. Foi o que aconteceu comigo e eu terminei perfeitamente bem. Quer dizer... quase perfeitamente.
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