As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 97
Pela flor mais bonita, a verdade


Notas iniciais do capítulo

Só mais dois dias de aula, só mais dois...
Gente como eu amei... Como eu chorei... Este era o cap que eu mais desejava fazer e é o que eu mais me orgulho de ter feito!
Fiz o começo do cap escutando Don't Wake Me Up do Chhris Brown, já que imagino a "correria" com essa música de fundo.
Enfim, boa leitura:



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LUKE

Não parei de resistir. Não recuei segundo algum mesmo sentindo a maldita falta de ar e o corpo comprimido como convinha toda a vez que eu me impunha contra Cronos. O momento mais difícil em que exerci meu poder sobre ele foi quando contemplei Thalia. Estava tão linda, minha essência não podia evitar sorrir quando pensava em suas roupas nada apropriadas para uma guerra. Um suspiro me escapou. Ah! O quanto eu amava aquela sua rebeldia...

Como em qualquer outra guerra ou batalha, vieram até mim os momentos de depressão. Era quando alguma parte de Cronos ainda me infernizava: uma poeira dourada tomava forma daquela moça de corpo gracioso e olhar feroz. Sua expressão sempre me ferindo; ela olhava-me com nojo. Segundos depois a poeira tomava uma forma diferente à representação de Thalia passava a ser minha mãe. May me olhava com dor. Minha mãe se dissolveu e se reagrupou em outro ângulo com o formato de Annabeth. A garotinha que eu deveria proteger... Como aquela menininha havia crescido! Nos seus olhos parcialmente acinzentados eu via a decepção. Dando outra volta o pó se tornou Hermes, Percy, Grover, Silena... Depois vieram mais rostos. Conhecidos e desconhecidos. Não conseguia ver nada de bom, eu não fizera nada de bom. Como esperava poder voltar e...

Cai de joelhos no chão com os olhos lacrimejando e a risada de Cronos me cortando o espírito. Esfreguei os olhos para afastar aquele choro desesperado... E me desesperei mais. Meus filhos não estavam mais lá. Nenhum dos dois. Seus gritos e gemidos, seus choros e suas palavras... Nada havia restado deles. Era apenas um buraco vazio que me torturava sem nem saber. Inclusive não parecia a parte do Tártaro na qual costumávamos ficar.

Fechei os olhos com força a ponto do negro se tornar luz. Quando voltei a abri-los esperava vê-los de novo. Mas não estava mais no Tártaro ou no nosso pequeno refúgio naquele inferno.

Não havia luz, claridade. Eu não podia enxergar absolutamente nada. Levantei e dei passos incertos e temerosos, afinal, não sabia o que poderia encontrar. Comecei a temer estar realmente desaparecendo, que o poder de Cronos sobre mim era maior e que ele vencia. Ergui as mãos e tateei o ar até encontrar uma parede ou muro feito de pedras solidas e grandes; era algo rudimentar. Não pude deixar de pensar nos nossos últimos instantes como família, no modo como Annabeth nos guiara para fora daquela toca de ciclope, no modo desesperado ao qual se agarrava a Thalia e na determinação desta em protegê-la de tudo.

O tempo não passava ou passava e eu não tinha noção. Depois de reviver muitos momentos felizes com as duas meninas me vi cansado; não era como se eu não tivesse um corpo como eu sabia ser verdade. Podia sentir meus músculos, ou onde eles deveriam estar, se retraírem e doerem em protesto pelo esforço. Minha mão sentia a aspereza da rocha e só então notei que eu a sentia em carne viva se é que isso era possível. Continuei as curvas até que notei o céu ou o que quer que estivesse acima de mim clarear: de um negro-petróleo para um cinza-chumbo carregado de um dia de chuva. Ainda era quase impossível enxergar, mesmo tendo melhorado e muito.

Consegui distinguir que estava no fim de um caminho ou corredor. Havia uma circunferência no chão e mais dois caminhos (sem contar o qual eu estava e podia voltar) aos quais eu poderia escolher seguir.

Não consegui compreender a lógica daquilo, ou melhor, o porquê de eu estar lá ou mesmo como eu poderia saber por onde ir ou o que estaria alcançando. De cada um dos caminhos vinha se aproximando uma claridade diferente e forte que me mostrava quase tudo. O primeiro clarão que apareceu veio do caminho à direita. Era dourado e vermelho e negro. Era Cronos e seus aliados Titãs. Eles não faziam qualquer som, qualquer ruído fosse o que fosse. Seus olhos me queimavam e me cobravam a lealdade que eu jurei... Era obrigado a seguir com eles. Não era como se tivesse escolha; tinha dado minha palavra!

Estava dando meus primeiros passos em direção a eles quando parei. A luz de início parecia prata, mas não era. Era um branco perolado, um branco puro e um azul escuro. Lá estava ela. O vestido longo que lhe cobria o corpo tinha apenas duas finas alças, era tão negro que chegava a reluzir em azul e roxo. Os pés descalços e os cabelos tinham pequenas pedrinhas igualmente escuras; podiam ser pérolas, pedras de ônix ou turmalina, eu não sabia dizer. Mas estava errado: pareciam jóias em seus cabelos, mas não eram; eram as marcas de orvalho refletindo a escuridão logo acima de mim.

Inconscientemente dei um passo em direção aos titãs, mas mantive os olhos nela. Seu rosto se contorceu em dor e raiva e ela fugiu correndo, voltando por onde viera. Não pensei apenas corri logo atrás dela. A corsa e o leopardo, ou qualquer outro animal conhecido por sua rapidez e agilidade não se comparava a ela; Thalia deslizava sobre o chão, o pé tão leve e gracioso quase não tocando a superfície que me oferecia apenas atrito e resistência. Sua velocidade me assustava, tinha medo de perdê-la de vista e nunca encontrar uma saída daquele lugar.

Não me abati. Corri tanto quanto eu podia e me esforçava mais. Ela fazia curvas e escolhias as passagens com certeza como se tivesse o labirinto na palma da mão... A distância entre nós pareceu diminuir e então toquei seu braço... Era tão gelado, tão seco e “fino”; era como segurar um raio de luz... Ela parou no choque e eu também. Seu corpo começava a se desfazer em areia, em pó, até que ela não existia mais e foi levada pelo vento pelo restante do caminho, para frente, para onde ela seguia me guiando.

Olhando para frente eu não via nada. Olhando para trás também não via nada, embora soubesse o que encontraria se voltasse. Escolhas e promessas giravam ao meu redor e era quase impossível diferenciar o certo do errado; escolhi seguir em frente e me arriscar.

O caminho se provou fácil: não havia bifurcações, era apenas um enorme corredor com curvas. As paredes começaram a mudar de forma: em vez de pedras agora eram feitas de enormes e espessos arbustos, com o dobre ou triplo da minha altura. A escuridão não sumia por nada, mesmo meus olhos estando já acostumados com ela, ainda ansiavam por poder ver a claridade.

Quando o chão de terra seca se tornou terra fofa e a grama começou a se formar rala notei que havia outro circulo, outra bifurcação. Eu teria que me decidir outra vez. Na direita quase não pude enxergar tamanho o poder: ali havia tanto deuses quanto titãs; olhavam com raiva e me cobravam uma atitude. Na esquerda novamente eu a via em seu esplendor. Agachada, ela trançava três pequenas folhas. Levantou quando me viu, olhou de mim para os titãs e negou lentamente com a cabeça. Virou-se e correu. Corri atrás dela como se tudo dependesse daquilo. Dessa vez foi bem mais complicado: sua velocidade triplicara.

De repente o tempo desacelerou até parar; pude ver tudo com clareza, cada detalhe por menor que fosse: podia ver cada um de seus fios de cabelos voando, o vestido esvoaçando pelo vento. Toda a cena, tudo com exceção dela, parecia um espelho trincado... Então ela veio devagar, flutuando e desafiando a própria realidade do momento: aquela pequena gota salgada, aquela lágrima cristalina que saiu dos olhos elétricos que eu não podia ver se alojou em minha bochecha e foi se quando a dor me preencheu percebi que o “espelho” voltara a ser “inteiro”; Thalia corria e eu corria atrás dela como se nunca tivéssemos parado.

Voltei a segurar seu braço... Sua pele era fria. Não gelada como antes, não tão fina quanto antes. Era quase real embora não fosse de fato... Ela se desfez, mas olhando em meus olhos vi que eu precisava seguir em frente. Não perdi tempo vendo-a sumir: corri pelo caminho sem outras saídas, sem bifurcações. Corri por aquele corredor deserto pelo qual ela queria que eu seguisse tomado por uma certeza inabalável: ela me esperava na próxima bifurcação.

Assim que me toquei disso o céu ganhou estrelas.

O circulo dessa vez era banhado pela luz cintilante dos pequenos pontos cintilantes. Não olhei para a direita, pois, acreditando em meu coração, não me importava o que estaria lá. Por isso aquele caminho estava escuro e não irradiando luz; eu não me importava com ele. Ela estava escorada na moita que inacreditavelmente aguentava seu peso sem ceder. O pé desnudo sobre a parede de folhas, os cabelos longos escondendo a nudez dos ombros onde o vestido não se dava o trabalho de chegar. A mão graciosa sobre a coxa... Ela não tinha qualquer noção do quanto aquele gesto era sedutor...

Sentindo minha presença virou-se para a entrada onde eu estava. O peso de seus olhos era muito maior do que o peso do céu, mas aquele peso era agradável. Ela estava ligeiramente confusa, mas de um jeito sugestivamente feliz e eu sabia o motivo: eu não olhava para o outro lado, a outra opção; sabia o que eu queria... E era ela.

Thalia deu um passo para trás sem piscar; os olhos focados nos meus... Estávamos ligados, eu sabia, não precisava olhar para seus pés para saber que ela havia se afastado um passo; dei um passo para a frente, igualmente sem desviar meus olhos.

Colocou o outro pé para trás... Coloquei o outro pé para frente.

Direita para trás... Direita para frente.

Esquerda para trás... Esquerda para frente.

Ela deu um mínimo sorriso de canto e piscou com suavidade. Virou o corpo lentamente e caminhou sem pressa pelo labirinto me conduzindo a uma distância segura de si.

Compreendia agora o que havia acontecido desde que me encontrara em um labirinto. Estava sendo testado, estava sendo tentado a desistir dela. Seguia pela primeira vez pelo medo de perdê-la como a anos na Colina Meio-Sangue. Na segunda vez, fiz por remorso de tê-la deixado triste, feito com que derramasse uma lágrima. Agora eu a seguia pelas duas rações e por mais milhares tendo como principal uma delas. Vou cumprir minhas promessas; não me esquecerei dela nunca, nunca vou deixar de ir atrás dela. Meu motivo? Eu a amava.

Seu perfume chegou forte até mim, era tão intenso e tão gostoso que pensei ter parado por horas apenas para apreciá-lo. Quando dei por mim, depois das conclusões, das certezas as quais eu chegara, o céu clareava. Não um tom claro de azul, mas todos os tons magníficos de um perfeito nascer do sol enquanto para trás de mim milhares de estrelas brilhavam; as constelações nos seguindo com o que me parecia ser sorrisos.

Agora, lado a lado, eu e ela seguíamos andando com pequenos sorrisos. Arrisquei-me uma última vez: lenta e suavemente segurei sua mão. Sua pele era morna e macia, ela era firme... Ela era real! Seu sorriso aumentou e lado a lado andávamos em direção as luzes do nascer do sol mais perfeito de todos os séculos e milênios.

[...]

Estávamos no meio do circulo, o meio do labirinto, mas também o que deveria ser seu fim. Dessa vez, não havia duas escolhas, três se contássemos pela qual seguimos. Havia diversas paredes feitas de flores: cada escolha uma flor diferente, mas Thalia não me guiou por nenhuma delas.

–Escolha uma – falou a voz sedosa pela primeira vez.

–Um caminho?

–Não – ela sorria – Uma flor, a mais bonita que você encontrar.

Sorri-lhe e olhei para os lados. Eram muitas flores, muitas cores e muitos perfumes. Uma me chamou a atenção mais do que as outras, muito mais sendo franco. Caminhei até a rosa vermelha e a colhi notando que ela não tinha espinhos. Voltei para Thalia e entreguei-lhe a flor delicadamente aberto e coberta de gotículas de orvalho.

–Vou te contar alguns segredos, Castellan – ela deslizou um dedo sobre uma pétala, seus dedos quase tocando nos meus – Você não escolheu esta flor por acaso. – se expressei surpresa não sei dizer, mas o sorriso dela era tão terno e doce que nada importava – Observe.

Ela girava o dedo sobre a flor sem tocá-la e a luz do sol se condensou a neblina e me mostraram uma imagem que eu nunca poderia ter esquecido. Thalia dormia no sofá e agarrava seu camafeu sem que soubesse. Annabeth estava na cama a poucos metros de distância. A imagem mudou pulando para a manhã seguinte. No jardim daquele pequeno refúgio muito mal cuidado cresciam duas rosas desafiando a qualquer desleixo do lugar. A névoa se focou na rosa vermelha. Ela tinha tantos espinhos e cortei as mãos tentando pegá-la; meu eu da lembrança não se importou com a dor. Quando a tive em mãos, arranquei um por um cada espinho, fiz isso sem pressa algumas...

–Essa flor...?

–É a mesma que entregou a Thalia. – minha consciência sorria ternamente e eu entendia o motivo: ela não era a verdadeira Thalia, mas apenas uma parte dela que vivia em mim. E aquela parte se lembrava muito bem de tudo – Cada espinho que você removeu, cada um deles, era um obstáculo que o amor de vocês tinha que superar. – ela explicava e eu a ouvia com interesse a admiração – Vocês não tinham como saber que a guerra, desde o inicio ao fim, já havia sido completamente traçada quando você removeu os espinhos, removeu todas as dificuldades, mas manteve a beleza da rosa, o amor de vocês.

Estava em choque. Não podia estar mais surpreso e admirado.

–Quando nos encontramos, na chuva... – comecei.

–O motivo da guerra se fez claro e dois de seus principais expoentes se destacaram ali. Mas o final foi à rosa. – ela me acariciou o rosto – Antes de lhe dar o direito de escolha, tenho algo mais a lhe mostrar.

–Sumiu! Sumiu! – Thalia exclamava com medo e desespero, a mão inutilmente colocada sobre o peito.

–O que sumiu? – a deusa perguntava embora não estivesse no foco da visão.

–Meu camafeu...

–Quando isso aconteceu? – perguntei depois de assimilar o que vi.

–Quando Thalia perdeu o camafeu? – ela sorriu, um sorriso ligeiro e maroto – Você sabe, Luke. Como acha que não se esqueceu dela, como acha que conseguia ver a forma da sua amada e de seus amigos? Cronos assumiu seu corpo e isso lhe tiraria todas as lembranças – meu queixo foi caindo devido o choque e seu sorriso era cada vez mais brilhante – Como acha que tudo ao qual era importante para vocês foi mantido vivo?

Levei a mão ao peito coberto pela camiseta e pressionei a mão onde o coração batia. Senti o metal frio contra minha pele... Meus olhos se arregalaram.

–Quando...?

–Você precisa escolher pela última vez, Luke – sua voz ecoou; olhei para todos os lados, para todos os caminhos feitos de flores, como eu poderia escolher? Ela ergueu meu queixo e seus olhos sorriam tanto quanto os lábios – Você precisa escolher: vai destruir a rosa ou vai devolvê-la a mim?

Ela deu dois passos para trás e esperou.

Ergui a rosa vermelha na altura dos olhos. Apenas segurando-a eu podia sentir toda a alegria de Thalia ao receber o presente pela primeira vez, em um refúgio há anos atrás... Por que Thalia sempre estivera do lado esquerdo do labirinto? Sorri, pois conhecia perfeitamente a resposta. Aquela era a escolha mais fácil do mundo. Não era nem uma escolha a ser feita!

Puxei a moça pela cintura e lhe entreguei a rosa. Ela descansou sua mão em meu ombro e aproximou seu rosto do meu até nossos narizes se tocarem.

–Eu sempre vou escolher você, Thalia. Por mais erradas que pareçam aos outros, por mais que contrarie o mundo e o destino... Eu escolho você. Escolho você e prometo lhe dar todo o meu ar... – tinha muito mais a falar, mas parei ao sentir seu dedo sobre meus lábios.

–Acorde, Luke – seu sussurro me chocou tanto quanto a sua voz embargada – Acorde!



Não! Não pode ser! Castellan seu inútil... Este corpo é meu!



Quando voltei a piscar o cenário era outro. Meu corpo resistia enquanto meus braços eram presos as costas com força. Mas o calor no ombro ainda era intenso e a pressão que senti nos lábios...

Meu corpo ficou tenso por meio segundo, então lutei contra quem me prendia os braços porque precisava desesperadamente segurá-la, apertá-la contra mim e ter certeza de que era completamente real.

Seus lábios macios, tão doces quanto ácidos, os movimentos da língua ingênuos e suaves como se fosse a primeira fez. Suspirei em pleno beijo e um aperto cedeu. Muito devagar, acompanhando o beijo, enlacei sua cintura. Senti uma de sua mãos me chegar aos cabelos, dedilhando-os como ela costumava fazer antes. Meu outro braço foi solto e não perdi tempo algum, envolvi-a com ele, deixando que minha mão lhe subisse pelas costas... Thalia suspirou de dor e afastou seus lábios.

Tudo voltou com força e rapidez: estava na sala dos Tronos em plena guerra. E Thalia estava machucada e cansada.

–Não vou desistir. Nunca pude, nunca irei – minha voz saiu rouca; uma lágrima caiu de seus olhos.

–Azuis. – ela sorriu minimamente – Seus olhos são azuis de novo. – sorri de volta.



Você selou seu destino e o dela, Castellan. Vou destruí-la!



–Não. Thalia! – não tinha mais controle. Cronos havia reassumido. Eu apenas via. Cronos jogou-a com facilidade para o outro lado do salão. O corpo da menina colidiu fortemente com a parede e o som do seu corpo batendo e colidindo com chão me deu ódio por Cronos; ódio ainda maior.

... Mas ele continuava no controle. Jackson atacou pela direita, Grover pela esquerda e mesmo sem armas meu corpo, o titã controlou meu corpo com perfeição e os jogou para longe também. Ele dava passos rápidos até sua foice e quando a teve em mão quase correu para uma Thalia inconsciente e sem qualquer proteção...

–NÃO! – Annabeth entrou na frente da irmã que nunca tivera e bloqueou perfeitamente o golpe da foice com aquela pequena e familiar faca. Annie, saia da daí... – Você não pode machucá-la. Você prometeu! Prometeu a nós duas!

– Saía da frente garota insolente! – Cronos rosnou e empurrou na direção de Thalia que tentava se mexer devagar; ela sentia muita dor eu podia ver.

–Família, Luke. Você prometeu. – vendo Annabeth sangrar ao lado de Thalia Cronos não teve a menor chance. Ele resistiu, Percy enfrentou-o, Annie cedeu a faca a Percy... Mas era aquela a escolha da profecia? Ele teria que escolher me entregar à faca ou me esfaquear?

Thalia se arrastava até mais perto de nós, no centro da sala dos Tronos e, já com a faca em mãos, entregue pelo Jackson, caminhei até minha Thalia. Deitei no chão ao seu lado e puxei para meu peito com o braço esquerdo. Perseu e Grover estavam terrivelmente alertas.

–Lia... Você me perdoa?

–Claro que sim.

–E... Você ainda me ama? – podia sentir o choque do sátiro; Jackson não expressava nada.

–Sempre, Luke. Sempre. – e fechou os olhos respirando fundo. Qualquer resquício da benção de Ártemis desapareceu ao ecoar de suas palavras.

–Então... Então não tenho remorsos – segurando a faca com a mão direita e com cuidado para não mover Thalia esfaqueei minha axila esquerda. Houve uma explosão de energia na qual o mundo virou luz e Thalia era a única coisa verdadeiramente sólida. Abracei-a mesmo estando desesperado de dor física, pois meu consciente finalmente estava tranquilo. Ela abraçou-me de volta com o que restava de suas forças e, quando tudo terminou, estava ou desmaiada ou morta.

Eu honestamente não queria saber.

–Você sabia. Eu quase a matei, mas você sabia... – dizia a Annabeth. Lembrava-me de milhares de momentos com aquela loira, com aquela menininha que crescera e se tornara ainda mais maravilhosa do que já era.

–Psiu. No fim você foi um herói, Luke. Irá para os Elíseos.

Annie fungou.

–Você... Você me amava? – perguntei afagando-lhe a mão.

–Houve um tempo em que pensei... – ela inclinou a cabeça e sorriu; um sorriso tristonho e pequeno, mas bonito – Você era como um irmão para mim, Luke. E eu te amava assim... Ainda te amo assim. Como um irmão. O melhor irmão que eu poderia pedir. – ela balançou a cabeça – Mas eu nunca te amei como Thalia.

Assenti. Já esperava por aquela resposta.

–Podemos buscar ambrosia – disse Grover – Nós podemos...

–Grover. – ele me olhava de um modo diferente; sabia que ele estava espantado com aquela demonstração de amor minutos atrás – Thalia estava certa – consegui sorrir para ele – Você é o sátiro mais corajoso que já conheci – ele estava radiante, com lágrimas nos olhos, mas radiante – Mas não. Não tem cura.

Meu corpo queimava. Sabia que aquela febre era inumana; senti o metal gelado sobre meu peito, escondido dentro da blusa... Segurei Percy.

–Todos os não reclamados. Não deixe... Não deixe acontecer outra vez.

–Não vou deixar. Prometo.

Apertei o corpo inconsciente de Thalia e olhei para Annabeth. Consegui sorrir. Sabia que ainda não tinha acabado com Perseu.

–Vai cuidar delas, não vai? Elas são meu mundo, Jackson. Arrisquei o mundo por elas... Vai protegê-las?

–Tem minha palavra. – ele olhou primeiramente para Annabeth, depois para Thalia – Com minha vida, Castellan, cuidarei das duas.

Thalia estava deitada com a cabeça sobre meu peito, escondendo todo o sangue que eu perdia pelo corte da lâmina maldita. Sua mão direita sobre minha barriga... Entrelacei nossos dedos e aproximei meu rosto do seu. Era evidente que eu estava lutando para ficar acordado, lúcido. Mas não podia mais. Beijei sua testa e ali, daquele jeito percebi com felicidade que, eu não havia tido a vida que queria, mas ela terminaria exatamente como eu esperava:

Eu morreria no calor dos braços da minha Thalia.

PERCY

Annabeth chorava. Grover chorava mesmo em choque. E ficamos os três ali observando os dois apaixonados. Eu sentia uma dor forte no peito a qual eu não sabia explicar o motivo. Vendo os dois juntos ali, eu percebia que o corpo de Thalia não tinha mais aquela aura prateada, e que o corpo de Luke não exalava qualquer maldade, mas sim proteção.

Os deuses chegaram alguns minutos depois em trajes completos de batalha, esperando uma boa batalha. Mas pararam estáticos com a visão de nós três de pé ao lado dos dois... Afrodite foi a primeira a perceber do que se tratava e se agarrou ao ombro de Hefesto para a surpresa dele e de Ares.

–Percy – Poseidon chamou-me com assombro olhando tudo sem entender – O que... O que é isso?

Relutei em deixar de encarar meus amigos, mas virei e encarei aos deuses.

–Precisamos de uma mortalha – minha voz falhando, mas ecoando mesmo assim, olhei uma última vez para Thalia pálida e tão machucada quanto Luke e então diretamente para Zeus – Talvez duas.

Nunca pensei que veria pesar nos olhos elétricos do deus, mas pude ver claramente a dor quando ele assentiu.


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Notas finais do capítulo

="(
Meninas, preciso de um favor de vocês: preciso saber se compreenderam o que eu escrevi e o que eu deixei de escrever de propósito, saber se consegui tocar vocês...
Me digam!