As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 95
Também existe calor no gelo


Notas iniciais do capítulo

Ai... Por todos os imortais! Que recomendação mais incrível e fofa essa. Lívia, anjinha maravilhosa que me deu o ar de sua graça, muito obrigada mesmo. Fiquei encantada; queria ter agradecido antes, mas queria terminar o capítulo também...
Eu demorei bastante, mas pensem em um cap difícil de fazer. Deu muito trabalho, mas acho que foi um dos meus 10 melhores, rsrssrsrs, enfim, vocês é quem decidem:



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THALIA

Claro que Percy estava estranho, mas ainda tínhamos um titã para nos preocupar. Presumo que vocês se recordem do presente de Prometeu: o Jarro de Pandora.

–... Elpis, o Espírito da Esperança, não abandonou a humanidade. A esperança não sai sem que lhe deem permissão. Ela só pode ser libertada pelo filho de um homem. Dou-lhe isso como um lembrete de como são os deuses. Fique com Elpis, se quiser. Mas se concluir que basta de destruição e sofrimento, então abra o jarro. Solte Elpis. Abra mão da esperança e saberei que está se rendendo...

Percy estava nervoso, eu sentia.

–Não quero essa coisa – ele grunhiu.

–Tarde demais. O presente já foi dado. Não pode ser levado de volta.

E foi embora com seu bando. Grover saiu do cômodo; Percy também saiu com o jarro preso em seus braços. Fiquei alguns minutos parada no mesmo lugar até decidir que precisava confrontar Percy. Quando passei por um grupo de filhos de Apolo ouvi um suave assovio; muitos me olhavam como se eu fosse louca, mas não podia censurá-los. Minhas roupas não tinham nada a ver com a guerra que estávamos travando. As Caçadoras já haviam se habituado a esquisitice.

Puxei Percy pelo braço até uma sala isolada.

–O que foi que Prometeu lhe mostrou?

–Nada – ele corou; não olhava em meus olhos por nada.

–Jackson – chamei em um tom perigoso.

Ele contou com relutância sobre a noite na casa de May Castellan; no fim ele tinha as bochechas vermelhas como um tomate e eu também. Me olhava com pena e a espera de uma reação.

–Aquela foi uma noite ruim. Não acho que Annabeth tenha compreendido bem. Ela só sabia que Luke estava aborrecido. – eu não olhava para ele; era estranho demais conversar sobre aquela noite com alguém que não estivesse intimamente envolvido.

–Você sabe o que aconteceu a May Castellan? Quero dizer...

–Sei o que quer dizer. Eu nunca a vi ter uma, hã, crise, mas Luke me falou dos olhos acesos, das coisas estranhas que dizia... Se Luke sabia, nunca me contou.

–Hermes sabia. Algo fez com que May visse partes do futuro de Luke, e Hermes compreendeu o que aconteceria...

Achei aquele comentário tão absurdo quanto coerente.

–Você não pode ter certeza disso. Prometeu estava manipulando a visão para que você visse o pior de tudo, Percy. Hermes amava, sim, Luke. Dava para ver só de olhar. E ainda o ama. Ele estava lá naquela noite para conferir o estado de May. Ele cuidava dela como podia. Não era de todo mau, entende?

Ele me olhava de um modo estranho.

–Ainda assim não é certo. Luke era só um garotinho...

–Percy, você não pode começar a ter pena de Luke – seus olhos verdes me olhavam com uma intensidade nova, era como se ele não acreditasse em minhas palavras – Todos passamos por situações difíceis. Não preciso nem especificar os semideuses, mortais também tem problemas com os pais. Nossos pais nunca estão por perto, mas isso é por uma Lei Antiga, eles sabem bem qual. – fechei os olhos e os abri sentindo-as brilhar – Eu percebi da pior maneira possível que, se eles pudessem, estariam com os filhos. – suspirei – Mas Luke fez escolhas ruins. Ninguém o forçou a isso. Na verdade... – olhei em volta – Estou preocupada com Annabeth. Se ela tiver que enfrentar Luke, não sei se vai conseguir.

Ele corou mais ainda.

–Ela vai se dar bem. – me olhou com o que deveria ser raiva – Acho que é você quem não vai conseguir.

Fechei os punhos.

–Eu o joguei de um penhasco, Jackson. Se lembra? Foi ela quem queria mantê-lo cativo– meu tom foi frio – Não importa o que aconteceu lá trás...

–Importa e muito! Você não prestou atenção no que Prometeu disse?

–Só até você ficar estranho a ponto de não me olhar mais.

–Não me julgue! Nunca esperei ver aquilo.

–Deuses! – tive que sorrir – Você fala como se nós estivéssemos fazendo um filho, quando na verdade era só um abraço!

–Thalia!

–Ta bom! Parei – ainda sorria de seu constrangimento – Que parte da conversa?

–Quando ele comparou essa batalha e Guerra de Tróia.

–Onde você quer chegar?

–Em você! – arregalei os olhos – Lia, o estopim da guerra de Tróia foi o sequestro, fuga ou sei lá o que, de Helena, não? Você é a Helena!

–E como isso nos ajuda, Aquiles? – ergui a sobrancelha. Era óbvio para mim que ele tinha pulado no Stinge. Ele corou, mas não abaixou os olhos.

–Quíron me disse uma vez que muitas respostas se encontram no passado. Talvez... Sempre pensei que se encontrássemos o motivo... Isso tudo...

Ele não olhava mais para lugar algum. Abracei a mim mesma sentindo um calafrio enquanto revia aquele sonho.

–Percy, eu o amo – senti os olhos dele sobre mim – Afrodite já disse que nunca viu sentimento mais forte do que eu sinto por ele e... Que ele sentia por mim. – ergui os olhos e vi o quanto aquilo o afetou – Mas isso não importa. Eu sei diferenciar o que sinto, do que eu quero, e do que eu preciso fazer. Annabeth não consegue, não quando isso o envolve. Depois daquela noite, Luke nunca mais foi o mesmo. Descuidado, atraía monstros e os enfrentava de forma imprudente... Annie nunca viu isso como algo ruim. Luke era o herói dela, e passou a defendê-lo em tudo. Ela ainda o defende.

Ficamos em silencio por um tempo.

–Não caia na mesma armadilha. Agora Luke se entregou a Cronos. Não podemos nos dar o luxo de sermos condenscentes com ele. – “Ele não vai desistir. E você?”

–Você tem razão. – ele me olhava sem piscar como se eu fosse outra pessoa, como se só agora me visse; não pude deixar de entender que ele revia todas as nossas conversas, todas as minhas palavras, gestos e olhares quando falávamos de Luke – Quem sabe? Digo, você e ele...

–Tirando os deuses e titãs intrometidos? Só você.

–Como... Como você conseguiu, sabe? Esconder tudo isso.

Apoiei-me na parede.

–Sabe aquela história de que podemos enterrar o passado? Não é verdade. Ele sempre volta. Sempre que eu me sentia forte o bastante para ignorar e seguir em frente, de alguma forma, ele voltava – me aproximei de Percy – Eu vejo muito dele em você – ele ficou em choque – Tente adivinhar o quanto é insuportavelmente doloroso ficar do seu lado e do lado de Annabeth sem me lembrar dele. Da melhor parte dele. – suspirei – Não sei bem se existe uma resposta direta para a sua pergunta.

–Você... Como é amar?

–Parece algo impossível, não? Existem tipos diferentes de amor. Eu amo você, amo Grover, Annabeth, as Caçadoras... É tão fácil dizer palavras bonitas, mas elas nunca vão ser nem metade do que realmente deveriam significar. – tentei sorrir – Temos uma guerra, priminho. Acho que temos ainda muito o que fazer; se sobrevivermos a tudo isso, eu tento te contar em detalhes tudo o que eu já escondi de você.

–Deuses! – eu ri do seu constrangimento, mas fiquei séria.

–Não conte a ninguém, certo?

–Claro, mas...

–Só não conte, não comente, não me entregue! Vai ser uma longa noite, Percy – disse olhando por uma janela. – Talvez nossa última noite.

Ele me entregou o Jarro de Pandora e me pediu que o guardasse, antes de voltar para um dos quarto e descansar. Inconscientemente me peguei pensando naquele abismo conhecido popularmente como Tártaro; ele estava lutando lá, parte dele ainda lutava e... Suspirei e fui trancar o Jarro.

Saindo do hotel, passando pelos últimos corredores, eu sentia muitos olhos postos em mim. Não os culpava. Minha roupa era justa e curta, o que me deixava muito exposta, mas dava velocidade e me permitia ter maior contato com o ar de onde eu tirava força. Eu tinha uma ideia do que fazer a seguir. Do lado de fora Acemira e Charles, o adorável campista de Apolo que me “ensinara” a atirar, me olhavam sem disfarçar. Charles corou.

–Você é louca? – Acemira não conteve o espanto mesmo estando acostumada com minhas doidices; aquilo era uma guerra não uma simples caçada para o jantar.

–Provavelmente – inclinei a cabeça jogando os cabelos para o lado; precisava de coragem para não sucumbir ao sono e vê-los os três novamente – Vamos. Tenho um plano para vedar alguns pontos da cidade.

Antes que pudéssemos ir Sosô apareceu correndo pedindo por mais uma sentinela para junto do Túnel Lincoln.

–Eu vou, tenente. Vamos mantê-la informada. – Acemira correu junto da criança.

–Aquela ali não é muito pequena?

–É sim. Mas é tão incrível com um arco quanto você.

–Um elogio? – ele pegou uma moto e dois capacetes – Para onde, senhorita? – me sentei na frente.

–Não precisa se preocupar, senhor. – sorri ironicamente – Eu o guio.

Rimos enquanto ele se apoiava em minha cintura.

–Moonbean – gritei e o lobo apareceu ao lado da moto pronto para correr. Dirigi rápido na medida do possível. Chegamos aos trilhos de metro. Comecei a mexer em cada um e em todos os painéis de energia; eu não era lá excelente em eletricidade, modéstia a parte, eu era brilhante. Mexi em um fio ou dois e depois dei um toque pessoal.

–O que você fez? – Charles me olhava assustado.

–Se qualquer forma de vida tentar passar por aqui será fortemente eletrocutada.

–Isso é perigoso?

–É sim.

–Maneiro – ele sorriu – Vai fazer isso nos outros?

–Só nas vias principais. Minhas meninas já cuidaram das outras.

LUKE

O lugar parecia embasado, mas decifrei estar sentado sobre um banco, não, um trono dourado. Vestia jeans e camiseta, estava quase normal... Quase.

–Bem, Nakamura. O que você achou da missão diplomática? – aquela não era nem de longe minha voz.

Ethan hesitou.

–Estou certo de que o Senhor Prometeu está mais apto a falar...

–Mas eu estou perguntando a você.

Ethan estava inquieto. Fazia todo o possível para me concentrar à cena, mas ao fundo podia ouvir os sons dos meus filhos lutando contra o que quer que tenha sobrado no Tártaro. Preste atenção, estúpido!

–Eu... Eu não acho que Jackson vá se render. Jamais.

Senti-me assentir.

–Algo mais que queira me dizer?

–N-não, senhor.

–Você parece nervoso, Ethan.

–Não, senhor. É só... Ouvi dizer que este era o covil da...

–Medusa? É, isso mesmo... – Cronos tagarelava usando minha boca, mas eu lembrava: Percy, Annabeth e Grover haviam lutado contra ela e venceram... Eu tinha ficado feliz, não era? – Existem forças muito mais perigosas neste lugar – Papai! Não desista... - Agora me conte uma coisa. O que aconteceu ontem na Ponte Williamsburg?

A ponte... Eu vira aquela luta contra os campistas. Percy também carregava a maldição de Aquiles e Annabeth se ferira por...

–Ela quis salvá-lo.

–Mas ele é invulnerável... – Não! Cronos, deixe eles em paz! Comecei a resistir. Isso, papai! Mostre a ele como você é forte!

Vou mostrar! Voltei a me forçar contra o titã, minha alma tentando ocupar o espaço que por direito era dela. Consegui “empurrar” Cronos o suficiente para... Meu corpo humano estremeceu, cambaleou e despencou no trono.

–Meu senhor? – o semideus se aproximou. Castellan, seu inútil! Pare de lutar...”

Nunca!

–Eu... – minha voz soou tão fraca, mas minha resposta fez a expressão de Cronos, quero dizer, minha expressão humana... Tanto faz, endurecer. Ele ergueu a mão e flexionou os dedos com dificuldade. Eu resistia.

–Ele ainda está lutando contra o senhor? Luke...

Sim! Eu...

–Besteira – a voz do titã era áspera – Repita essa mentira e eu corto sua língua.

E você, Castellan... Acho que não quer que eu destrua essas almas tão preciosas que o acompanham... Ora. Espere só... Você já as condenou!” sua risada me jogou de volta ao Tártaro. Os irmãos me olhavam com tristeza, mas determinação.

–Você não pode desistir de lutar – o menino falou sentando ao lado do meu espírito caído.

–É quase impossível.

–Mas não é – a inocência na voz da menina era nítida, mas havia qualquer coisa de maduro no tom que ela usou – Se ainda estamos aqui é porque o que você e a mamãe têm é mais forte que todos esses titãs malvados.

Meu filho e eu sorríamos.

–Não vou desistir da mãe de vocês – prometi brincando com os cabelos dela, mas completei com tristeza – Mas não posso resistir sem alguma ajuda.

–Por isso estamos aqui, né pai? – o menino tentava dizer com os olhos o quanto eu era burro – Você não desisti dela, nem ela de você e nós – ele indicou a irmã – vamos lutar pelos dois.

THALIA

Cumpri minha palavra em relação aos trilhos e Charles era um ótimo acompanhante. Então a noite veio e junto um exército imenso. O plano de Percy era encurralá-los no parque onde os espíritos da natureza e os sátiros de Grover eram bem mais fortes. Infelizmente, Charles seguiu para outro ponto da cidade, me fazendo perder meu adorado companheiro de tiro e risos. Dividindo-nos, guiei as caçadoras para o lado direito. Muitas corriam para se posicionar em cima de árvores a fim de terem uma melhor pontaria. Segurei Sophia antes que ela corresse para longe.

–Sosô, eu tenho uma tarefa perigosíssima para você – ela me olhava com expectativa – Você é a menor de nós, pequena e ágil, consegue passar facilmente pelo exército e ir abatendo-os do lado contrário. Pode fazer isso?

–Sozinha? – vi o medo em seu olhar; o risco para ela era altíssimo.

–Não – apontei para o lado; diversas ninfas, das mais bonitas e diferentes que você consiga imaginar. Sophia sorriu admirada, sua inocência me contagiando, me deixando bem mais forte – As ninfas irão com você e a protegeram, certo, moças? – elas gritaram, minha pequena Sosô sorriu e correram para o lado inimigo.

E começou.

Uma chuva de flechas prateadas como a que eu presenciara um dia em museu há tantos anos atrás, em uma época diferente onde meus melhores sonhos eram reais e meus pesadelos não passavam de borrões. A maioria das meninas preferia o arco, eu já era adepta a uma boa luta de corpo. Jogando-me de um lado para o outro, com minha lança cortei as costas de três monstros que se desintegraram segundos depois. Rápida como a luz do luar, cortei a garganta de dois e passei a rasteira em quatro. Se eram semideuses desertores ou monstros não prestei atenção; eram meus inimigos e deviam ser punidos. Avistei um gigante familiar...

...E me senti tremer em fúria. Se era o mesmo ou apenas da mesma raça, eu nunca soube dizer, mas era o “mesmo” gigante que atacara Felipe alguns meses antes de eu entrar na Caçada. Segurei a lança com força, mas não me movi; estava em uma posição visivelmente vulnerável. Mas ninguém conseguiu tocar em mim; nem com lança, espada, facas, mãos ou escudos. Estava inatingível. Os outros não podiam ver, mas fina e transparente camada de ar me deixava imune aos toques. Erguia lança para o céu e vi nuvens escuras se formando... Um raio lindo, belo, brilhante e potente caíra sobre o gigante. Como o raio era muito potente quaisquer uns dos mais próximos ao coitado morreram também. Joguei a lança para frente batendo em um demônio com a espada já em mãos. Correndo e desferindo golpes tentava chegar até onde minha lança havia caído, sobre uma mancha de pó cinza onde antes era algum monstro. Recebi um corte no braço tão fino quanto papel e o pobre infeliz caiu distante de sua cabeça.

Não tão longe uma mancha branca vinha caminhando. As nuvens que o cercavam eram cinza claro, tirando toda a escuridão das minhas cor de chumbo carregadas de água e raios. Sua forma não era fixa, se me perguntassem depois eu nunca conseguiria descrevê-lo com certeza ou mesmo de forma vaga. A única coisa que fazia sentido era o frio que emanava dele e o branco da neve que o cercava. Era Crio, o titã do inverno, do frio, dos seres marítimos, dos rebanhos e seu poder destrutivo envolve as criaturas até hoje desconhecidas do mar abissal. Como estava longe do mar, eu supunha que meu maior problema seria o frio. Frio...

O bosque estava branco de neve e o vento me castigava a pele de forma quase violenta. Eu parecia perdida em pensamentos. Ele estava lá. Havia conseguido para nós roupas limpas e secas... E se aproximava olhando-me com dor por algo que eu dissera segundos atrás – Eu não vou perder você – seu sussurro me fez estremecer. Beijou-me o pescoço e a bochecha só para olhar em meus olhos e dizer que me amava... Um primeiro beijo, doce e tímido trocado sob o frio inverno...

Estava caída de bunda no chão, indefesa, ainda longe da lança e com a espada distante. O Semideus me olhava como se tivesse ganhado o mundo. Seus olhos gritavam “Peguei a filha de Zeus! Peguei a Tenente de Ártemis! Ninguém pode mais do que eu!”. Estava irritada comigo mesma. Como eu pude permitir que uma lembrança como essa me paralisasse do nada no meio de uma batalha? Uma sombra branca pulou contra o menino com um rosnado assustador que me fez estremecer. O grito do semideus foi agudo e alto. Moonbean olhava-me com os pelos da mandíbula sujos de sangue tão vermelhos quanto seus olhos; a garganta do menino rasgada e espirrando sangue.

Levantei, peguei minhas armas e simplesmente caminhei até o titã. Era como se ele me esperasse. A luta corria solta ao meu lado; Baheera lutava tão ferozmente e Clara parecia uma selvagem... Vi meninas até tímidas se revelando em luta e as novatas não decepcionavam.

–Então finalmente a última e primeira garota de Zeus se apresentou a mim – a voz era gélida e cortante como o gelo, mas de alguma forma envolvente – Sabe você tem sido um empecilho muito grande nos planos e Cronos.

–Então sinto que já venci na vida – fiz uma reverência como as princesas deveriam fazer, mas um modo irônico e tão malvado quanto ele havia sido. Seu sorriso sarcástico congelou a ninfa mais próxima.

–Talvez você seja a próxima...

–Claro – agarrei a lança com mais força fazendo-a formigar em minha mãe e reluzir em azul e amarelo – Mas me pergunto qual a utilidade em congelar alguém já tão imerso em frieza.

Minha frase, meu sorriso e meu olhar o desconcertaram. Vi seu sorriso sumir lentamente enquanto as nuvens cinza baixavam nos separando da luta lá fora. O frio que emanava delas foi o suficiente para meu sangue que escorria em uma linha fina por meu braço parasse e começasse a adquirir um tom mais rosado. Se antes o corte não doía, agora ardia e queimava, o frio aprofundando e penetrando em mim atrás daquela linha quase insignificante.

–Vamos ver se você é mesmo tão imune ao frio – sei que nunca conseguirei descrevê-lo, mas tenho quase certeza de que seus olhos ficaram totalmente brancos enquanto as nuvens que nos cercavam jorravam neve de todos os lados. Os braços bem apertos como que para receber o frio. Receber...

“Ele me abraçava bela cintura e acariciava meus cabelos. Seus lábios doces e frios esquentavam os meus como eu esperava estar esquentando-o também... Era magnífico o quanto estávamos quentes apenas por carícias. Mandar o frio embora sempre havia sido fácil...”

Meus pés estavam colados ao chão devido aos gelo e subiam para minhas pernas; um chute dele e eu nunca mais teria pernas de novo. Senti meus olhos queimarem em eletricidade; a lança formigava em minha mão tão quente quanto eu estava ficando. Podia sentir o gelo derretendo lentamente... Ergui os braços para o céu de nuvens cinza quase brancas. Minha visão quase cega tamanha a intensidade dos meus próprios raios... As nuvens escureceram com tamanha intensidade e rapidez que o próprio titã parou seu encantamento. O gelo dos meus pés se partiu e eu fui elevada pelo próprio ar a uma altura de pouco mais de três metros. Por mais incrível que pareça, não senti medo. Os braços ainda voltados para cima, a lança parecia fazer parte do meu corpo... O raio que caiu das nuvens veio diretamente para minhas mãos.

–Mas como...? – Eu sabia ter deixado o titã abismado; como quem joga uma bola num jogo de queimada, jóquei o raio em sua testa. Ele sozinho fez a essência do imortal vacilar... Joguei a lança em sua testa. Ele caiu “inconsciente” no chão. As nuvens agora eram quase negras, mas não se dissipavam, ao contrário, iam se movendo em direção ao restante do exército. Flutuando eu as acompanhava, raios saindo do meu corpo e matando os monstros mais próximos... A maioria fugiu. Visualizei sátiros, ninfas e caçadoras amarrando o titã atordoado. Simplesmente caí do céu; só recordo do vendo erguendo meus cabelos e de ver o breu que estava meu subconsciente.


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Notas finais do capítulo

E então gostaram? E, por curiosidade, qual foi o capítulo que vocês mais gostaram até agora? Daqueles que vale a pena reler?