As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 81
Não desista ainda


Notas iniciais do capítulo

Hehehehehe, esse ficou curtinho...



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LUKE

A chuva no telhado era cantiga de ninar. Mas eu não podia e não iria dormir. No convés uma grande e bela festa ocorria em comemoração a minha invencibilidade e a nova estratégia de Cronos. Era incrível, brilhante.

–Está lindo, meu senhor - Kelli enganchou seu braço no meu e me guiou até o centro da pista de dança. Conduzia seu corpo ao som da valsa com a mente distante - Dança maravilhosamente bem, Luke. Fico pensando quem o ensinou com tal proeza...

Ela ria, me estendeu a mão.

–Pegue-a. - puxei a para frente e admirei com nervosismo a sua cala e beleza. Aquele anjo estava ali me conduzindo pela colina, sem pressa, sem medo de que eu errasse o movimento. Meus olhos presos aos seus, meu corpo próximo ao seu... A chuva caia tão bela quanto ela.

–Isso é um sim?

–Sempre foi - sua mão me acariciava o rosto puxando-o para mais perto.

A chuva caiu da mesma maneira que naquela tarde, mas minha companhia era asquerosa. Kelli grudava seu corpo ao meu sem pudores e esquecendo que nesta dança, os movimentos eram suaves e respeitosos. Ela quase se insinuava ali.

Despedi-me alegando estar indisposto; agradeci a dança e beijei-lhe o pescoço, sabendo que apenas assim ela não me seguiria. Sem qualquer problema, me joguei na cama e fechei os olhos. Talvez dormir não fosse tão ruim assim...

... A pequenina chorava. Havia um corte em sua mãozinha pequena. A criança estava sentada em meu colo, com o rosto escondido em meu peito. Afagava seus cabelos e prometia que ela ficaria bem. Ajoelhada no chão, Thalia limpava o corte e fechava o ferimento. Seus olhos brilhavam em agonia. De longe eu via que aquele choro da nossa filha doía mais nela do que na própria criança.

O rapazinho entrou na sala segurando uma florzinha comum. Ele sentou no colo da mãe e entregou aquele pequeno agrado a irmã; entre lágrimas, todos sorriam. Thalia abraçava o filho e lhe dizia ao ouvido:

–Estou muito orgulhosa de você.

Levantei arfando. Quando isso iria parar? Sonhar com Thalia era difícil, mas ver as crianças... Ver as nossas crianças era... Era... Eu nem sei uma palavra certa para isso.

Saí do navio com um destino específico em mente. Não importava o início do verão; eu precisava sentir o gelo. Dei o meu jeito de chegar ao mais norte possível do Canadá. Havia tudo o que eu precisava ali. Gelo, frio, neve...

Eu não aguentava mais aqueles sonhos. Ela me vinha em mente a cada segundo, a cada menor detalhe ou palavra. Eu não suportava vê-la! Não aguentava pensar nela ou em seu nome. Ela me abandonara, a cada noite eu via mais garotos atrevidos tentando beijá-la... Como ela, sendo uma caçadora, deixava isso acontecer? Onde estava Ártemis para manter os insolentes longe dela?

Eu não suportava a idéia de Cronos... Dele... Eu não aguentava mais tudo isso; eu precisava de um basta. Encontrei um lago congelado e fui caminhando lentamente pela superfície. Não estava tão disposto a me entregar ao Titã. Cravei Mordecostas no gelo que se rachou como se fosse feito de ar. Meu corpo tremia; eu não estava vestido para aguentar ao frio.

–Já pulei uma vez... Que diferença faz pular uma segunda? – o vapor saia da minha boca e se perdia no ar. Continuei o trabalho com Mordecostas até abrir um buraco no gelo suficiente para eu pular... Aquilo nem de longe parecia água. Eu não conseguia respirar ou me mover; o frio cortava e me puxava para fundo... E tudo ficou escuro.

Virei para o lado e tossi. Minha garganta estava fechada de tão gelada. Eu quase não distingui que ao invés de estar sobre o gelo eu estava sobre algum pano macio. Tentei abrir os olhos, sentindo os cílios pesarem, congelados. Eu não estava de camisa quando pulei? Tentei colocar a mão no peito e conferir se meu coração batia, mas não encontrei a minha pele. Minha mão gelada encontrou outro pedaço de pele macia, um tanto mais quente que eu. Pressionei a mão e senti um ligeiro peso e calor sobre meu corpo. Mas... Tentei abrir os olhos mais uma vez.

Suas mãos tremulas chegaram ao meu pescoço, subiram me acariciando o rosto e os lábios. Segurei sua mão prendendo-a em meu rosto. Um calor conhecido crescia dentro do meu peito e onde sua pele me tocava. Seus cabelos molhados pareciam feitos de noite, a pele pálida pela baixa temperatura, os lábios tão avermelhados...

–Não desista... Não desista assim... – suas palavras batendo em meu rosto. Apertei mais uma vez suas costas, forçando-a a chegar mais perto de mim.

–Thalia? – deuses, não podia ser ela; levei minha mão até seu rosto quase lhe tocando nos lábios.

–Shiii – ela descansou a cabeça em meu ombro – Não desista... Não desista...

THALIA

O vento forte parecia me empurrar para longe. Meu corpo pingava o que ainda não havia congelado de novo. A cada cinco segundos eu tremia. Caminha sem nem saber para onde, mas andava sem esperança. Encontrei uma casinha pequena e bonitinha no meio do caminho e uma adorável velhinha veio me abrigar.

Sentada no chão de frente para a lareira e envolta em peles quentinhas, a anciã tentava pentear meus cabelos enquanto eu sorvia lentamente um chá com mel.

–O que lhe aconteceu, filha? Está toda gelada...

–Eu caí em um lago – lhe sorri de lado – Não foi nada de mais.

–Você claramente não é daqui. Isso é um milagre, sabia? Apenas os mais corajosos e experientes dessa região sobrevivem a uma queda no gelo.

–A senhora vive sozinha?

–Sim, criança. Apenas eu e o canto dos ventos.

–Não se sente só?

–Não. Meu falecido marido me amava bastante. Sei que mesmo depois da morte ainda ama como eu o amo. Posso senti-lo viver dentro de mim. – senti seu sorriso como senti o meu; aquela frase me deixou bem pensativa – Também sei que a senhorita não caiu no gelo. Quer me contar o que aconteceu?

Abaixei a cabeça envergonhada.

–Ele deve ser especial... Para encantar uma jovem caçadora. – arregalei os olhos e entreabri os lábios.

–Pode ajudá-lo? Eu não posso fazer mais nada por ele... – minha voz morreu. A senhora nada disse. Levantou-se e saiu da cabana sem me dirigir nem um mero e rápido olhar. Sozinha, fiquei vendo as chamas dançarem. O fogo parecia criar formas: um homem e uma mulher. O casal dançava lindamente; peguei-me observando-os dançar, sorria pensando em um por do sol na colina... A porta abriu quase com violência e o fogo quase se apagou por completo. A anciã trazia atrás de si quatro homens que carregavam o corpo inconsciente de Luke. Eles o deitaram no tapete, com a cabeça repousando em meu colo. Tirei as peles que me cobriam o corpo e o envolvi. Passei meus dedos por seu cabelo enquanto admirava o suave movimento de sua respiração.

A velha colocou todos para fora e também saiu. Novamente eu estava sozinha com ele. Ele é tão lindo... Sei que já encontrei diversos meninos bonitos e que já vi deuses como Apolo, mas ele superava todos. Luke era belo mesmo sem querer. Encantava-me mesmo sem saber...

–Às vezes eu penso que a única maneira de nos encontrarmos é nos perdendo no caminho. Quantas vezes eu ainda tenho que ver você fraquejar para encontrar quem realmente é? – sussurrava mais para mim do que para ele; não parei um só segundo de traçar caminhos com meus dedos por sua pele ainda fria – Antigamente, você tinha estrelas nos olhos e um jeito de herói. Hoje eu não vejo mais você... Não vejo mais seu raro e lindo sorriso... Você não tem noção do quanto eu te odeio, Castellan. – sorri enquanto tentava fingir que não via os cinco lá fora na janela nos observando. – Mas não desista da sua vida assim.

LUKE

Minhas bochechas queimavam. Havia um traço de fogo em meu rosto. Abri os olhos para ver uma fogueira ao meu lado e uma velhinha sentada em sua cadeira de balanço tricotando um par de luvas. Havia no ar um cheiro forte de incenso, mas também havia um cheiro diferente e característico dela.

Sentei-me sentindo a cabeça girar.

–Ah, que bom que acordou, querido – a voz arrastada e rouca me era gentil aos ouvidos – Começava a pensar que não acordaria mais.

Ela se afastou e voltou trazendo uma xícara de chá.

–Tome tudo querido, vai aquecê-lo em um segundo.

Ela não fazia idéia de que meu corpo queimava? Olhei ao redor procurando por um rosto conhecido. A anciã sorriu.

–Não vai encontrá-la. Ela se foi há bastante tempo. Teve sorte, sabia? Não era para você estar vivo...

–Eu não queria estar.

Ela me bateu com seu tricô.

–Não seja tão ingrato! A moça arriscou a vida pela sua. Seja lá o que foi que fez a ela – ela me olhava em censura – Ela ainda não te perdoou. Mas também vejo que você foi magoado por ela... Talvez ela volte a vê-lo, mas isso deve partir de você.

–Ela...

–Ela é dona de um lindo e puro coração, mas o senhor tem que aprender a mantê-lo assim. – eu já tinha ouvido isso em algum sonho antes; tinha certeza que sim.

–Ela não sente nada por mim! – fiz minha voz se sobressair a dela – E nem eu por ela...

A idosa riu.

–Você mente. E mente mal. Ande. Tome logo o seu chá antes que ele esfrie.

Voltei a deitar assim que esvaziei a xícara. Não faria mau nenhum sonhar com ela de novo. Não disista... Não desista...Até porque, isso era o mais perto que eu chegava dela. Ainda não desistiria da minha vida; talvez ainda houvesse uma chance de voltarmos a ser pelo menos amigos... Não desista!


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Notas finais do capítulo

... Mas eu amei!
=D