Senti-o beijando minha mão. Era estranho. Me arrepiei, suspirando. Só então reparei que estava tudo escuro, que eu não conseguia ver nada. O que estava acontecendo? Ah, sim, eu estava de olhos fechados. Abri-os.

E lá estava ele, como um príncipe de contos de fadas. Seu terno era preto, como a escuridão dos olhos fechados, e justo, colado ao corpo. Estava agachado a minha frente, ainda segurando minha mão na sua, seus olhos agora nos meus.
E que olhos. De um azul mais belo que o azul mar, um azul piscina. Uma cor tão linda que quase me afoguei ao olhar. Brilhantes e marotos, combinando com aquele sorriso de canto. Mais uma vez, suspirei.

Ele levantou-se, num movimento rápido. Por alguns instantes meu olhar pairou sobre o vazio que a pouco era ocupado por ele até que eu notasse-o em minha frente. Bem, até que eu notasse sua blusa também preta a minha frente. Ele era mais alto do que eu, afinal.

Num movimento rápido e preciso, ou melhor, num puxão rápido e preciso, ele me fez encostar a cabeça em seu ombro. Pousou ambas as mãos em minha cintura, não sem antes levar as minhas para trás de seu pescoço. Era como se estivéssemos dançando, mas ao mesmo tempo estivéssemos parados. Eu não sentia o movimento, mas sabia que estávamos nos movimentando. Não fazia sentido. Mas o que, eu pergunto, fazia sentido ali?

Rocei meus dedos em seu cabelo negro. Tudo nele era negro, até mesmo os sapatos lustrosos. A cor fazia um contraste bonito em sua pele clara e realçava os olhos. Ah, mas que olhos.

Seus lábios quentes encostaram-se no meu ouvido esquerdo. Arrepiei, uma vez mais. Ele riu, um riso bonito, e murmurou bem baixinho.

- És doce, tão doce....

Sentei-me na cama. Um riso brincava em meus lábios e eu não resisti a tentação. Gargalhei alto, em meio a escuridão. Eu estava de olhos fechados, afinal. Mas, dessa vez, não tinha estranhado.

Deitei-me na cama novamente. Ainda ria, mas baixinho, a cabeça rodando. Abri os olhos, mirando o relógio que ficava na cabeceira. 03:03. Ótimo, eu ainda poderia dormir um pouco mais.

Talvez o sonho tenha sido um aviso de boas coisas para este ano, pensei. Talvez. Mas... quem era aquele garoto?

Sorri. Da janela entre-aberta vinha um ventinho fraco e fresco. Tornei a fechar os olhos, deixando que este príncipe me levasse de volta a terra dos sonhos.
Me levar ele bem podia. Só teria de me devolver a lucidez por volta das 6:00.

Adormeci.