O Canto da Vampira escrita por Gabriela Fortunato


Capítulo 13
Encarando a Verdade




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Capitulo 11- Encarando a Verdade

 

Bella me olhava atentamente, como que apenas pensando no que havia feito. Mil coisas passavam em minha mente, eu não saberia dizer ao certo o que estava acontecendo, eu me recusava a acreditar que era um... um vampiro.

 

A idéia de ser um monstro me atormentava. Olhei ao redor e vi que estava em um quarto, deveria ser o quarto de Bella, era de um tom azul claro, havia um quadro que me chamou atenção, era o retrato de um jardim, muito lindo, com um céu calmo, as flores coloridas, e no meio de jardim havia um casal, deitado.

 

Levantei me e fiquei surpreso pela velocidade em que fiz esse movimento. Andei direto ao quadro, datado do dia 1/07/1863 ,observei por um longo momento até que algo me chamou atenção, a moça sem duvida era Bella, os cabelos ondulados cor de caramelo, com vestido branco e um lírio na mão. Então meus olhos escorregaram para o rapaz ao lado dela, levei um choque. Aquele rapaz, ali retratado em um quadro que datava de aproximadamente quase 150 anos!, era... EU!

 

Eu não entendia, será que Bella estava realmente certa de que eu era Alexander Masen? Não podia ser!

 

Na parede do quarto havia também um espelho, aproximei-me e qual não foi minha surpresa ao ver que o retrato do espelho era eu, mas na mesma hora não era.

 

Meus cabelos ainda eram os mesmos, bronze e bagunçados, mas meus olhos, eles não eram nem uma sombra do que um dia já foram. Verdes. Eles estavam vermelhos, era arrepiante, meu corpo estava diferente também, minha pele, estava em tom branco inacreditável, jamais visto antes em mim, havia olheiras em volta de meus olhos aterrorizantes, meus músculos pareciam maiores, toquei minha pele, ela não era mais quente, era fria como gelo e eu parecia uma estatua, a estátua mais macia existente.

 

Eu era sobre humano. Na verdade, eu não era mais humano!

 

Me virei e avistei Bella com uma expressão insondável, não saberia o que ela estava pensando.

De repente a verdade do que eu realmente estava vivendo caiu em minha consciência, eu não era mais humano, eu não era mais quente, eu não tinha mais sangue em minhas veias, eu não tinha mais um coração que pulsava sangue. Eu estava morrendo de sede... por sangue. Não podia resistir a isso!

 

Eu me tornara um sanguessuga!

 

A pior idéia veio em minha mente, vampiros matavam seres humanos, sugavam seu sangue, e eu jamais poderia rever Tânia, por que, por que sem duvida alguma eu a mataria! A idéia me fez ficar enfurecido. Bella, aquele ser desprezível em pé com uma fisionomia que era indecifrável, ela, e apenas ela, era a culpada, eu jamais poderia ficar com Tânia novamente, jamais poderia sentir sua pele e o toque de seus cabelos macios. O cheiro do seu perfume agridoce e o gosto de seu beijo. Bella era a única culpada por isso.

 

A fúria me tomou, o ódio cresceu.

 

Eu teria minha vingança!

 

Ela deve ter percebido e ódio crescente que se apoderava de mim. Aproximou-se e tocou meu rosto. Eu segurei seu braço com uma força incrível.

 

- Edward- ela sussurrou- me perdoe. – sua voz era cortante, era de partir o coração. Sem duvida ela estava arrependida. Mas eu não tinha mais um coração, e em vez de abrandar meu sentimento de ódio por ela, fez apenas eu odiá-la mais.

 

Fiz uma negativa com a cabeça. Ela olhou me com tristeza.

 

- Como você pode?- eu falei, mas no fundo não queria a resposta, queria apenas uma coisa: vingança. Ela nada disse. Virei-me estava pronto para ir embora, dar um jeito de acabar com o que eu era. Deveria existir um jeito de eu morrer. Era assim que as coisas eram, tudo tinha um fim, um vampiro também deveria ter.

 

Quando cheguei perto da porta ouvi Bella falar

 

- Eu amo você! É uma pena que ainda não tenha entendido a complexidade na qual estamos envolvidos! –ouvi sem acreditar nas palavras que ela falava. Fiz novamente uma negativa e dei mais um passo.

 

- Espere! Se você não consegue entender que eu sou sua alma gêmea, tudo bem, eu tentarei conviver com isso, embora doa. Mas você não pode sair por ai sem nenhuma idéia do que realmente você é! Você se tornou uma maquina de matar Edward, uma ameaça, um caçador. Você precisa me ouvir antes de partir e seguir o seu destino.

 

Ela estava certa.

 

Eu deveria saber o que havia me tornado em todos os sentidos. Virei na direção dela.

 

- Tudo bem Bella. Mas depois eu partirei. – ela assentiu.

 

- Acho que você deve estar com sede. Sinto em dizer que você ainda não poderá saciá-la antes de eu explicar algumas coisas.

 

Ouvi passos e, de repente ouvi a voz de Alice. Era estranho, ela parecia estar falando com ela mesma. Ela apareceu, sua voz ainda ecoando na minha mente, porém seus lábios não se mexiam.

 

EU NÃO ACREDITO, BELLA REALMENTE FOI CAPAZ DE TRANSFORMAR EDWARD? ELA JAMAIS O DEIXARIA MORRER, ELA DARIA TUDO PELA VIDA DELE.”

 

Alice falava, e então por impulso eu respondi

 

- Como vê Alice, Bella realmente foi mesquinha o suficiente para pensar em si mesma e me tornar um de vocês. – ela me olhou incrédula.

 

ELE LEU MEUS PENSAMENTOS? ISSO É IMPOSSÍVEL... OU NÃO?”   

 

Eu não entendia. Bella interrompeu.

 

- Alice... Edward... Ai meu Deus!! – eu estava totalmente perdido, o que estava acontecendo?

 

-Bella, eu... acho que Edward tem um dom! – o que? Elas estavam de brincadeira!

 

-Edward, você lembra de um dia, o dia em que eu lhe contei a verdade sobre o que eu era? – agora eu me lembrava, apesar de ela ter pedido para Alice apagar isso de mim, era como se fosse um sonho, vagamente as imagens vinham em minha mente

 

~*~*~*~*~*~*~*~*

 

-Eu... que dom era aquele que Alice falou? Espera aí... Alice... Alice também é vam.. vampira??

-Sim... alguns vampiros tem dons especiais.. como é o meu caso e o de Alice...

 

~*~*~*~*~*~*~*~*

 

Eu assenti com a cabeça, ela continuou

-Edward, é possível que você também tenha um dom...

-Diga-me – dessa vez Alice falou - você ouviu minha voz agora pouco?

Eu assenti novamente

-Edward, acho que você lê mentes! – Bella falou. Rá, elas estavam de brincadeira, eu ler mentes?

-Vocês só podem estar brincando!

-Que explicação então você dá ao que acabou de acontecer? Eu pensando e você respondendo meus pensamentos como se eu estivesse falando? – Alice parecia estar extremamente certa do que falava.

 

Eu não podia discutir com isso.

 

-E se isso realmente for verdade, como... – eu estava atordoado, minha cabeça girava e eu estava cada vez com mais e mais sede.

-Sinto muito Edward, com isso nós não poderemos te ajudar, você terá que aprender a controlar seu dom sozinho. Acho que agora eu estou indo. Bella se precisar de ajuda e só chamar- Alice retirou-se, e mesmo assim ainda pude ouvi-la

 

ESPERO QUE ELE ENTENDA, BELLA FICARÁ ARRASADA SE ELE FOR EMBORA ... DE NOVO....”

 

Olhei para Bella.

 

Eu não entendia mais nada. Era melhor eu ouvir o que ela tinha a dizer e aprender o que quer que ela fosse me explicar e depois eu decidiria o que fazer de minha vida, se é que era uma vida! Mas eu já tinha uma breve idéia de como começar minha vingança... Bella iria pagar!

 

-Venha!- ela ordenou. Eu a segui.

 

- Edward, primeiro te explicarei algumas regras básicas sobre nós... - ela me olhou, em seus lábios um sorriso irônico. A sede se apoderava de mim, ela poderia ir mais rápido com aquilo?

- Estou fraco! – eu falei sedento. Então ela me olhou sarcástica.

- Você realmente não esta facilitando as coisas, mas então, vamos logo saciar a sua sede antes de eu lhe contar as regras dessa historia de terror- de novo ela me deu um sorriso irônico.

 

Era incrível como ela era bela, seus olhos cor de caramelo, seus cabelos balançando com a agilidade de seu movimento, os seus lábios carnudos e sem duvida, seu cheiro. Eu não saberia explicar, ela tinha um cheiro maravilhoso.

 

Saímos para fora da casa. A noite estava escura. Nenhuma estrela. Era assombroso. E mais assombroso ainda era o fato de eu conseguir ver tudo perfeitamente, nenhum detalhe escapava aos meus olhos...

 

- Edward – ela disse- Acompanhe-me. – ela levantou uma sobrancelha e saiu correndo. Então de repente eu estava do lado dela, era incrível a velocidade em que nós corríamos, era algo inacreditável, meus pés mal tocavam o chão, era como se eu estivesse voando.

 

- A velocidade – eu disse – isso me fascina - confessei, embora eu odiasse aquela mulher eu não podia negar que ela fora muito querida para mim, algo nela me deslumbrava, era como... eu não saberia explicar, e por isso decidi que por enquanto poderíamos ter uma trégua.

 

Ela sorriu para mim, um sorriso franco e singelo.

 

- Eu sei, isso é algo fascinante para todos nós. Mas é impressionante sua velocidade, sua agilidade e sua força Edward, mesmo para um recém nascido, você tem uma força fora do normal. E seu dom também. Eu jamais conheci alguém que conseguisse fazer isso. Os Volturi, na verdade dois deles podem ler mentes, mas existem condições. Aro consegue ler pensamentos apenas se toca a pessoa, e Marcus pode obrigar a vitima e pensar na informação que ele quer arrancar dela. Nunca igual você. – ela disse.

 

- Mas isso não basta para mim. – eu falei. Ela me olhou incrédula.

 

- Por quê?

 

- Os únicos pensamentos que eu gostaria de saber me são ocultos. – eu fiquei pasmo por ter confessado isso a ela. Eu não deveria. Mesmo com esse minha trégua momentânea, ela continuava sendo minha inimiga, mas mesmo assim eu tinha um enorme desejo de saber em que ela pensava. Se ela me amava tanto quanto dizia que amava.

 

Ela me encarou com os olhos indecifráveis. Tive uma vontade maior de saber o que ela pensava. Dei – lhe um sorriso torto. Ela olhou-me fascinada.

 

O que estaria acontecendo entre nós? Uma relação de amor e ódio poderia realmente ser uma trama traçada pelo destino para nos unir? Claro que não. Eu estava delirando. A razão de minha existência era Tânia. Só ela. Pelo menos era nisso que eu acreditava naquele momento.

 

Ficamos em silencio e foi então que eu percebi que ainda estávamos correndo, era incrível que aquela velocidade eu não tivesse batido e nem tropeçado em nada...

 

- Chegamos – Bella disse e parou. Eu parei também.

- Chegamos onde?

- O lugar onde existe comida Edward. – de novo ela me lançou aquele sorriso sarcástico, como se rindo de nosso destino cruel.  

 

Então o cheiro de sangue veio as minhas narinas super desenvolvidas. O cheiro do calor. O cheiro de comida. Ouvi um bando de cervos bem próximos de onde nós estávamos e como por impulso, movido por uma sede por sangue incalculável, eu me vi atacando e sugando o sangue de um daqueles animais.

 

Ah... gosto da vida. O calor da vida. É maravilhoso. Delirante. Arrebatador.

 

Suguei todo o sangue daquela pobre criatura. Não foi o suficiente para mim. Novamente me vi atacando uma inocente criatura cheia vida.

 

E mais uma vez o gosto da vida encheu minha boca.

 

Eu estava extasiado.

 

- Sente se melhor? – Bella me perguntou assim que me levantei da grama.

- Muito. – disse e me olhei... eu estava horrível! – mas eu estou horrível!

 

Minhas roupas estavam rasgadas e faltavam algumas partes da minha camiseta... os restos da roupa estavam totalmente sujos de grama, pêlos e sangue... olhei para ela, que apesar de ter caçado também, estava intacta...

 

- Rsrs, no inicio é assim mesmo... minhas roupas ficavam em condições muito piores quando eu era recém nascida... – sorri maliciosamente com o comentário...mas ela não pareceu reparar, pois continuou falando – mas com o tempo você aprende – meu sorriso desapareceu... – até lá... não lhe faltarão roupas... tomei a liberdade de pedir que Alice comprasse novas roupas para você...  – não falei nada... apenas sorri agradecido pelo gesto...  - É incrível – ela disse.

- O que?

- Seu cheiro, seu sorriso, você...

- Que tem eu?- eu quis saber. 

- Você continua com o mesmo cheiro de antes. Maravilhoso. Seu sorriso continua o mesmo. Deslumbrante. E você... bem, você sempre foi, e continua sendo o mesmo. Em todos os sentidos.

- Digo o mesmo de você. – ela me olhou interrogativa. – Você também tem um cheiro maravilhoso.

- Devo considerar isso um elogio? – ela me olhou divertida.

- Sem duvida. E eu, considero o que acabou de falar um elogio?

- Claro.

 

Fiquei em silencio. Era realmente desconcertante o fato de Bella ter uma adoração devotada em mim. Tentei não pensar nisso. Algumas duvidas surgiam em minha mente.

 

- Como você saía de dia? – ela me olhou abobalhada. – quero dizer... vampiros são queimados pela luz do dia – eu parei. Bella ria de uma forma gostosa. – Por que esta rindo? – eu estava me sentindo muito infantil...

- Muitas coisas que dizem a respeito de nós não passam de mitos Edward. Coisas que as pessoas inventaram para ilustrar coisas que elas não sabem ou não podem explicar. – eu olhava para ela surpreso.

- Realmente nós não podemos sair à luz do sol. Mas nenhum mal acontece se formos expostos a ele. Muito pelo contrario.

- Como assim?

- Amanha o dia será ensolarado. Espere até amanha para saciar essa sua sede.

 

Eu ainda tinha muitas perguntas.

 

- Nada de caixões?- perguntei brincando

- Não- ela respondeu desculpando -se

- Alhos ou crucifixos? – eu disse fingindo decepção

- Não.

 

Era tão fácil estar com ela naquele momento. Nada parecia importar. Era como se estivéssemos em um sonho. A conversa estava alegre e divertida.

 

E então, de súbito eu me lembrei do contexto em que eu estava. Me lembrei da minha vingança, me lembrei de Tânia e de minha vida passada.

 

Eu não poderia mais estar com ela.

 

- Como se pode matar um vampiro?

 

Ela olhou para mim com os olhos inescrutáveis e sua voz de repente ficou melancólica, como se suspeitando o que eu pretendia com a pergunta.

 

- A única maneira de ter certeza é dilacerá-lo, e depois queimar todos os pedaços. – ela disse séria. Eu engoli em seco.

 

Depois disso, ficamos em silêncio novamente. Bella esclarecia todas as minhas duvidas, porém seus olhos continuavam tristes e infelizes.

 

- Edward, se você for mesmo embora, devo te dizer que quando você encontrar uma pessoa será muito difícil se controlar para não atacá-la. – pensei em mim, matando uma pessoa. Senti horror por esse tal pensamento, mas eu sabia que era verdade. – Eu e Alice tentamos não ser um monstro Edward. Nós não atacamos pessoas.

- Rá, você acaba de me tornar um vampiro e diz que não ataca pessoas. – ela fingiu não me ouvir.

- O fato é que sem duvida alguma o sangue de uma pessoa é mil vezes mais... digamos que, delicioso e irresistível. – ela me olhou como que me avaliando.

- Eu também não quero ser um monstro Isabella- falei pausadamente e colocando uma entonação maior no seu nome- não pedi para me tornar isso e não vou atacar pessoas.

- Ótimo, mas mesmo assim, não vai ser fácil.

- Eu confio no meu autocontrole. – notei que estávamos discutindo.

- Ainda acho que você deveria esperar mais alguns dias para... ir embora. Você é só um recém nascido... como pode saber de autocontrole se nunca sentiu o cheiro de sangue humano?

- Não posso. – foi a única coisa que consegui falar.Nossa trégua estava acabada e minha decisão tomada. Eu não queria continuar ao lado dela.

- Edward, eu não deixarei você ir embora sem ter certeza de que não irá atacar ninguém inocente. Será que ainda não conseguiu entender o que você se tornou?

- Sim, eu sei que tipo de criatura desprezível VOCÊ me tornou – falei alto. Estava furioso. Eu não tinha culpa disso, a única culpada era ela, e eu fazia questão de deixar bem claro isso.

- Vamos ver se você tem realmente um bom autocontrole então - ela murmurou desafiadoramente. - Venha.

 

Andamos até uma trilha, sempre numa velocidade muito fantástica. O vento trazia todo o cheiro presente naquele lugar até nós, e foi em umas dessas brisas leves que eu senti. Ah... o cheiro de sangue humano. Fiquei entorpecido. Bella me olhou inquisitiva. Deveria estar pensando se deveríamos chegar mais perto.

 

E então sem pensar realmente no que eu estava fazendo, agindo apenas pelo extinto me vi correndo até o lugar de onde vinha aquele cheiro. De longe avistei um pequeno grupo de jovens que deveriam estar acampando. Seria um banquete e tanto pensei comigo.

 

Eu ia realmente atacar aquelas pessoas. O choque veio até meu ser. O que eu estava fazendo? Eu ouvi os pensamentos alegres e entusiasmados.  Eu não poderia roubar a vida deles.

 

E se Tânia estivesse ali?

 

Parei e dei meia volta. Era isso que Bella queria, que eu atacasse seres humanos para não ir embora. Eu não daria esse gostinho a ela. Ouvi- a se aproximar.

 

- Você realmente acreditou que eu atacaria aquelas pessoas? – falei gozando de sua cara.

- Pela forma como você ficou drogado pelo cheiro, acreditei. – ela trazia aquele sorriso de esgar.

- Eu tenho um bom autocontrole.

- Percebi.

 

Ela virou-se e voltava para casa. Segui-a sempre imaginando o que ela poderia estar pensando. Bella era uma criatura que realmente me despertava curiosidade. Suas mudanças de humor, seus sorrisos, seu cheiro, seu hálito, eu verdadeiramente gostaria de saber o que se passava em sua mente.

 

Uma duvida me veio à mente

 

- E se eu não tivesse me controlado. Você me deixaria matar aquelas pessoas?

- Eu confio em você. – ela me disse impassível

- Então por que fez esse teste? – indaguei.

- Uma garota pode sonhar... até mesmo uma garota vampira... – ela trazia no rosto aquele sorriso singelo e triste ao mesmo tempo.

 

Fiquei pensando em suas palavras. Mais duvidas me assomaram.

 

- O que você sentiu quando viu Alexander morto? – eu sabia que esse assunto fazia- a sofrer, mas eu sentia tanta curiosidade em saber mais de sua historia que decidi perguntar.

 

Acho que peguei a desprevenida. Ela parou de repente e virou-se para olhar em meus olhos.

 

- Dor... muita dor... uma dor mil vezes pior que a da transformação... uma dor sem explicação e só quem já sentiu pode compreender... Eu daria tudo para fazê-lo viver de novo. Mas não tinha como. Eu daria minha vida por ele.

- Isso é lindo. – murmurei. – Amar tanto uma pessoa a ponto de dar a vida por ela.

- Eu daria minha vida por você. – eu a olhei consternado... a emoção transpassando meu coração e amaciando a dor que eu sentia – mas infelizmente eu não tenho mais uma. Isso foi a única forma que encontrei para te manter de alguma forma respirando... eu não suportaria a dor novamente...

 

A conversa tinha levado um rumo que eu não queria. Tentei desconversar enquanto recomeçávamos a corrida.

 

- O que aconteceu com seus pais?

- Morreram um ano após minha morte. Acho que de tanta dor. Quando encontraram Alexander morto em meu tumulo, eles perceberam o quanto eu o amava. Ficaram meio confusos, nunca acharam meu corpo. – ela riu de seu próprio destino. – Mas de alguma forma isso foi bom. Os Masen e os Swan fizeram as pazes.

- E James? O que aconteceu com ele?

- Eu não sei. Nunca mais o vi. E sinceramente, não desejo vê-lo. – ela estava dando o assunto por encerrado. Não quis perturbá-la mais com minhas perguntas.

 

Chegamos a casa. Bella levou-me até uma biblioteca. Uma biblioteca incrível. Parecia que estávamos entrando em um filme medieval. O teto era alto e erguiam-se estantes com livros muito antigos.

 

- Quem são os Volturi?

 

Bella foi até uma prateleira e de lá trouxe um livro. Parecia muito antigo. Folheou por alguns momentos as páginas sensíveis, e de repente parou com a mão em um tipo de pintura. Estavam retratados três homens de negro. Um de careca e os outros dois com cabelos loiros.

 

Eu passei o olho na pagina. Havia mais pinturas ali.

 

- São o que chega mais perto de uma família de vampiros. Uma família real.

- Não entendi? Como assim? Se são uma família então por que você fugiu deles?

- Edward é meio complicado. Os vampiros não costumam se fixar em um determinado lugar. Eles, digamos, são nômades. Os Volturi vivem na Itália, e são eles os responsáveis por manter todos os vampiros ocultos dos olhos humanos. Acontece que eles não passam, digamos, um carinho e amor como uma família deve transmitir. - ela olhou-me e seu sorriso estava apagado.

- Por que você fugiu deles?

- Eu sou vegetariana, Edward, eles não. – eu entendi o que isso queria dizer.

- Como que eles controlam os vampiros?

- Não se deve mexer com um Volturi se não quiser morrer. Quando um vampiro da a entender que vai se revelar, ou quando a caça aos humanos passa a ser incontrolável os Volturi aparecem e matam os desobedientes. Na verdade é graças a eles que os humanos estão vivos ainda. – ela parecia aceitar isso e via uma grande ironia em sua voz. – Eles são muito poderosos e sempre que encontram um vampiro que tenha um dom valioso e incomparável dão um jeito de dominá-lo e fazê-lo ceder aos seus caprichos.

 

Olhei mais uma vez o livro em cima da mesa. E comecei a entender quão cruel eles eram.

 

- E o que eles fazem com os humanos que sabem da existência de vampiros?

- O humano tem sua vida destruída. Ou eles o matam, ou se lhes for conveniente, o tornam um semelhante. –  olhei-os assustado. Eles eram realmente muito perigosos.

 

Olhei ao redor, o que eu estava vivendo era parecido com um sonho. No fundo eu não sabia o que eu realmente queria, se era ter morrido em minha cama na casa de meus pais, ou se era de alguma forma continuar vivendo, as duas opções pareciam cruéis para mim, considerando que em nenhuma delas eu poderia estar com Tânia.

Em minha mente a única coisa que eu conseguia manter a concentração era na recordação do cheiro do sangue daqueles jovens na clareira.

 

Eu estava absorto em meus pensamentos. Acredito que Bella também. Não sei quanto tempo ficamos em silencio. Quando dei por mim, o dia tinha amanhecido. Lembrei me de que Bella prometera me explicar por que os vampiros não saem a luz do sol.

 

- Amanheceu. – murmurei

- Sim. Vamos trocar de roupa, e depois eu irei de mostrar umas coisas.

 

Vesti uma camiseta branca e coloquei uma calça. Desci a escada em caracol e encontrei Bella me esperando junto ao piano.

 

Ela estava vestindo uma blusa de fio e por baixo apenas uma regata e uma saia azul. Ela tocava uma linda, doce e melancólica musica. E eu tive a impressão de que já tinha ouvido a canção diversas vezes, mas não me lembrava onde.

 

- Linda musica. – falei

- Eu também acho. Era a musica que Alexander compôs para mim. – ela baixou os olhos.

 

Eu sabia que conhecia a canção, só não sabia que era da minha antiga vida. Esse pensamento me assustava. Seria realmente possível que eu fosse Alexander Masen?

 

Andamos, ou voamos, durante a floresta por alguns minutos. Cada vez que avançávamos dava para ouvir o som do mar. Bella parou na margem da floresta. Era onde a floresta acaba e onde a praia se estendia. Dentro daquele emaranhado verde a luz do sol não penetrava, mas ali, na beira, o horizonte se mostrava reluzente pela luz.

 

Bella retirou sua blusa de fio e deu um passo, e de repente ela toda estava cintilando sobre a luz resplandecente do sol. Ela virou-se. Ela, brilhando sob aquele sol, era a visão mais perfeita que eu já tinha tido em toda a minha vida...

 

- Venha. – ela chamou...

 

Dei um passo.

 

Era incrível, nos parecíamos duas estatuas vivas feitas de diamante.

 

- É incrível. – murmurei

- Eu sei.

 

Bella pegou minha mão e de repente nós parecíamos duas crianças brincando a beira mar.

 

Eu havia esquecido completamente o meu ódio.  Eu havia esquecido tudo. Era a primeira vez desde que me havia tornado um vampiro que me sentia... feliz!

 

Sentamos na areia, um de frente para o outro.

 

- Bella

- Sim?

- Eu sou um vampiro, mas ainda não consigo entender como a transformação acontece. - eu parecia uma criança indagando um professor

 

- Edward, os vampiros são os maiores predadores da Terra. Tudo faz com que a presa seja atraída até nós. Nossa beleza, nossa voz, nosso hálito, nossa rapidez, agilidade. Absolutamente tudo. E embora tudo isso já seja o suficiente ainda temos mais uma arma. Em nossas presas nós carregamos veneno. O veneno age como anestésico. Faz a vitima ficar imóvel e não sentir dor durante nossa alimentação. – ela parou, como se esperando que eu absorvesse o que ela dizia. – Quando mordemos uma pessoa, o veneno entra em sua circulação. Se nos sugarmos todo o seu sangue ela morrerá, mas quando não terminamos, o veneno é bombeado junto com o sangue pelo coração e contamina toda a pessoa.

Demora mais ou menos três dias para que a transformação seja completa. Mas durante esses três dias, como você pôde ver – ela baixou a cabeça não conseguindo encarar os meus olhos – a pessoa preferiria mil vezes estar morta.

 

Ela parou de falar. E eu tentava absorver o que ela falava.

 

- Mas é muito difícil fazer isso Edward.

- Por quê?

- Como eu te disse, o sangue humano é maravilhoso. É quase impossível parar depois que se começa.

 

 Fiquei pensando em suas palavras.

 

- Como você conseguiu parar?- eu indaguei.

- Ainda não sei. Foi muito difícil. Seu gosto era tão bom quanto seu cheiro.

- Acho que tenho uma teoria. – sorri para ela

- Tem? Qual? – ela me olhava com os olhos divertidos.

- Amor.

 

Ela me olhou e de repente, estávamos nós beijando. Ali, na beira do mar, sobre a luz do sol, e com o rugir das ondas eu deixei que algo escondido no meu interior aflorasse, deixei que algo adormecido há muito tempo, a muitos anos viesse a tona.

 

Nossos lábios moviam-se com tanta ternura, com tanta delicadeza. O hálito de Bella era magnífico. Era estonteante. Era sobretudo nostálgico.

 

Eu afaguei seus cabelos, sua pele. Afastei meus lábios dos dela apenas para beijar sua jugular. Sentia a mão dela acariciando meus cabelos, cheia de saudade.

 

Com os olhos fechados eu tentava afastar tudo o que aconteceu nos últimos dias. Mas então me veio a imagem de Tânia.

 

Agarrei seus ombros com força e distanciei-os de mim. Bella estava com uma expressão atordoada.

 

Levantei-me e voltei para casa. Algo estava errado. Bella me hipnotizava, só podia ser isso. Mas eu estava decido a não isso voltar a acontecer... então Bella apareceu ao meu lado...

 

-Edward.. o que..? – eu a interrompi

-Eu ODEIO você Isabella Swan! – essas foram minhas ultimas palavras ao sair daquela casa...

 

Naquela mesma manha eu fui embora de Forks. Não me despedi de ninguém. Apenas deixei para trás minha vida humana. Minha família... meu amor... Mas um dia eu voltaria. Eu apenas precisava de tempo para pensar.

 

Pensar na minha vingança que começa naquele instante.

 


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Notas finais do capítulo

Oii, passando rapido, esta ai mais um cap. pra vcs :D

que ro pelo menos maais uns tres ou quatro pra continuar postando :P Beeijos da autora que ama vcs :*



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