Cidade nova, casa nova, escola nova, pessoas novas. Que merda. Se já não gostava das antigas, quem dirá dessas?

- Anda Isabella, amanhã já estamos indo. Por que ainda não arrumou suas coisas? – Minha mãe, extremamente empolgante e irritante.

- Já vou mulher, calma.

Peguei as malas, e arrumei minhas coisas rápido, e de qualquer jeito também. Separei a roupa que iria: uma calça de couro, regata do Ramones e Vans preta. Deixei em cima da mesa, fechei as malas e deixei tudo na sala. Escovei os dentes e fui deitar, amanhã teria que ficar bem-disposta pra ajeitar as coisas da mudança.

Tentei dormir mas rolava de um lado pro outro e nada. Aqui, pelo menos, eu tinha pessoas que fingiam gostar de mim. Mas tinha alguém. E tinha a Rafa também, minha melhor amiga. Outra cidade, de novo! Ninguém merece. Depois de muito custo, dormi com os fones nos ouvidos.

Acordei cedo, bem cedo. 6:30 nas férias, ninguém merece. Minha mãe já estava a toda pilha. Os caras já estavam aqui em casa levando as coisas. Tomei um banho rápido e vesti a roupa que escolhi no dia anterior, terminei de guardar as coisas e levei minhas malas e minha mochila para o carro. Entrei no banco carona e deitei o banco. Peguei o iPod e coloquei música bem alta, fiquei de olhos fechados enquanto esperava minha mãe e acabei cochilando.

Acordei com ela batendo no vidro.

- Acorda Isa, me ajuda com as minhas malas.

Abri os olhos preguiçosamente, e fui ajuda-la, terminamos de botar as coisas no carro e partimos. Fui escutando música a viagem inteira, as vezes fechava os olhos pra evitar os comentários de minha mãe, as vezes só olhava pela janela e fingia prestar atenção. A verdade é que estava com raiva dela. Não falei absolutamente nada durante a viagem, e esta durou 4 horas, 4 dolorosas horas. Paramos no meio do caminho pra comer alguma coisa, e nem assim troquei uma palavra com ela. Comi um pacote de doritos e levei uma coca pra ir bebendo até chegarmos a minha nova casa.

Quando chegamos no meu novo bairro, minha mãe me acordou pra que eu o visse. Era realmente bonito, muito vivo e colorido. Diferente de mim. Bonito mas, não combinava comigo. Estávamos na primavera, e as diversas flores encantavam. Quando chegamos à casa, algumas coisas nossas já estavam lá, como minha cama, o que importava pra mim. Levei as coisas pra dentro junto com a minha mãe, e quando terminamos ela suspirou no meio da sala:

- Lar doce lar.

- Lar não sei aonde. – Foram minhas primeiras palavras nessas ultimas horas. Fui pro meu quarto e arrumei minhas roupas no armário novo. Peguei o notebook na mochila e entrei no facebook.

Rafaella Fitch:

Eei

Chegou bem?

Isabella Stone:

Chegar, cheguei.. Mas esse lugar é um inferno.

É bonito aqui, só que muito colorido, pessoas muito felizes, não é pra mim rs.

Rafaella Fitch:

Vou sentir sua falta ):

Vem morar comigo.

Isabella Stone:

Quem dera fosse assim, Rafa. Tenho que ir, minha mãe já ta enchendo. Mais tarde conversamos melhor. Até.

Rafaella Fitch:

Até, se cuida.

Fechei o note e fui ajudar minha mãe. A mudança vinha chegando e fomos dando um jeito na casa, por volta das 19h, já estava tudo lá, e ainda muito bagunçado.

 Saímos pra jantar com o novo chefe da minha mãe, o filho da puta responsável por isso. Fomos em um dos restaurantes mais caros da cidade, descobri isso depois.

- Boa noite, Emma. – Ele cumprimentou minha mãe com um beijo no rosto. Olhei com nojo. – E você, deve ser a Isa, não é? – Ele sorriu e estendeu a mão pra mim.

- Sim, mas pra você sou Isabella. – Ignorei a mão dele e entrei no carro.

 Quando chegamos, comi sem fome, implorando pra ir embora. Eles conversavam e eu estava entediada, daqui a pouco começaria a flertar com as garçonetes.

Ele nos levou até em casa e minha mãe pediu desculpas pelo meu comportamento, sorri falso pra ele e entrei em casa. Fui pro quarto e entrei no facebook pelo iPod mas a Rafa não estava on, então desliguei e fui ler, lá pelas 2h da manhã, dormi.

Acordei e fui tomar café, minha mãe chegou cheia de sacolas de supermercado.

- Vou ter que pedir pra você me ajudar?

- Eu to comendo. – Falei de boca cheia

- Obrigada, imprestável.

Levantei de má vontade, deixei a tigela com cereal em cima da bancada e fui ajuda-la. Como sou prestativa. Depois que guardamos tudo, terminei de comer e lavei minha louça. Fui tomar um banho e me arrumei: Calça Black jeans, blusa do Led e all star.

- Vai sair?

- Não, me arrumei pra ficar em casa.

- Grossa

- Vou dar uma volta, ver o que tem de bom por aqui. – Peguei minha chave em cima da mesa e sai. Fiquei andando sem conhecer nada e acabei parando numa praça. Tinha um grupo de pessoas que pareciam legais ali, mas eu não ia chegar perto. Achei um lugar mais reservado e sentei embaixo de uma árvore, resolvi ligar pra Rafa.

- Bella? – Só meus amigos me chamavam assim, familiares chamavam de Isa.

- Oi Rafa.

- Como cê ta, guria?

- To bem.. To bem sozinha, isso sim.

Conversamos um tempão, contei o pesadelo que estava sendo aquilo. Começou a escurecer e eu resolvi desligar.

- Melhor eu ir indo, nem sei aonde eu to. – Ri.

- Vai lá amiga. Vê se tem mais paciência com a sua mãe.

- Difícil. Digo que você mandou um beijo, tchau.

- Beijos – Ela fez uma pausa e suspirou – Se cuida, tchau.

Achei estranha aquela pausa, mas ignorei. Desliguei e me levantei, ajeitei minha roupa e fui fazendo o caminho de volta. O grupo de amigos estava um pouco a minha frente, e uma menina veio correndo de costas na minha direção. Eu, distraída, não prestei atenção e acabamos nos esbarrando

- Foi mal. – Falamos juntas. Ela me olhou e sorriu. Que sorriso lindo, que menina linda. Sorri de volta e ela voltou pros amigos dela, e eu, segui até em casa.