Capítulo Três

Eu ainda sou a melhor, não?

“Você pode não ser o primeiro homem dela, o último homem dela ou o único homem dela. Ela amou antes, pode ser que ela ame de novo. Mas se ela te ama agora, o que mais importa? Ela não é perfeita - você também não é, e vocês dois podem nunca ser perfeitos juntos, mas se ela te faz rir, te faz pensar duas vezes, e admite ser humana e cometer erros, segure-se a ela e dê a ela o máximo que você puder. Ela pode não estar pensando em você a cada segundo do dia, mas ela te dará uma parte dela que ela sabe que você pode quebrar - o coração dela. Então não machuque ela, não mude ela, não analise e não espere mais do que ela pode dar. Sorria quando ela te fizer feliz, diga a ela quando ela te deixar com raiva, e sinta a falta dela quando ela não estiver por perto.”

(Bob Marley)

_Corre. _disse para mim mesma enquanto via ele ainda me mirando.

Passei pelo matagal que não fora cortado há meses, por folhas tão amontoadas das quais tive que pular. Por fim acabei me enroscando em um bolo e caindo, fazendo com meu tênis novo ficasse impregnado por elas e meu rosto se posicionasse em outro monte.

Às vezes eu não entendo a sorte que tanto minha amiga diz que eu tenho.

Bem, risadas para cá, comentários maldosos para lá, tudo o que ocorre normalmente. Até porque essa cena se repete comigo pelo menos uma vez por mês. Agora não tinha Ino, Naruto ou Tenten para me defender, mas mesmo assim já estava acostumada.

_Hinata, o que está fazendo aqui? _questionou Tsunade.

_N-nada. _disse com temor.

Ela parecia irritada. Muito.

_Está atrasada para o grupo de estudo, Hinata! _exclamou.

Então me empurrou até a biblioteca. Empurrou-me! Dá para acreditar nisso?

_Eu sei ir sozinha. _declarei de forma indiferente.

Estava corada. E isso era algo novo, porque fazia uns cinco anos que eu não ficava rubra. E tudo porque a professora me levava pelo pátio.

_Vejo que está envergonhada. Isso é um bom sinal. _disse quando estávamos na porta da sala.

_Obrigada. _finalizei simplesmente.

Quando ouvi passos longe de mim respirei fundo, abrindo a porta lentamente. E então alguém entrou na minha frente, como se estivesse atrasada para algo. Só vi um vulto de cabelos negros, roupas descoladas andando pela biblioteca. Aquele era o Sasuke. O Uchiha. O emo.

E depois de ficar um tempo paralisada enquanto os nerds me olhavam de maneirada interessada me dirigi a bibliotecária. Já o moreno falava algo para algumas pessoas da mesa.

Ela apenas abaixou um pouco os óculos e me mirou de forma enojada ao mascar o chiclete.

_Sabe em que lugar está o grupo de estudos? _questionei de forma direta.

_Ali. _apontou com seus dedos de enormes unhas.

Segui o olhar e me surpreendi ao ver que era onde Sasuke estava. Então com a cabeça baixa fui a sua direção, querendo me esconder. Aliás, essa palavra pouco era usada por mim. E isso me fez pensar se estava em período de “tensão pré-menstrual”. Seria a única explicação.

_Olá. _comentei apenas, sentando-me do lado de um cara gordinho.

E depois de muito avaliá-la percebi que era o menino que mais gastava o dinheiro com a lanchonete. Só faltava ele entrar no local gritando: “vou te comer, vou te comer”. O resto eram apenas pessoas que me miravam de maneira assustada.

_Que foi? Nunca viram alguém bonito não? _questionei.

Para depois ficar vermelha e murmurar um “desculpe” de forma baixa. Sasuke apenas riu, olhando-me de maneira maliciosa. Porém sabia que reprovara meu gesto, já depois sua expressão se tornou séria.

Enquanto os outros voltaram a ler a apostila.

_Estou vendo que a nova integrante chegou, mas atrasada. _declarou de forma rude.

Foi você que entrou na minha frente!

_O que perdi? _perguntei apenas, deixando de lado as minhas provocações.

_Quero que faça o exercício da página 32. _disse com desdém.

Então procurei algum livro em minha mochila, porém ele apenas rosnou e me entregou um caderno. Com esse problema resolvido fiz o que mandou, mas com o tempo percebi que o moreno não nos acompanhava.

_E você? Não vai fazer as atividades? _sussurrei ao perceber que muitas me miravam de forma zangada.

Recebi como resposta uma risada.

_Sou o tutor do grupo.

_M-mas...

Eu nunca fui convidada para participar disso. Sou a melhor da escola, não?

_Pare de resmungar e termine, tem apenas dois minutos. _censurou-me.

Minha vontade era de revidá-lo, porém eu tinha algo a fazer. Aliás, tinha o dever de mostrar a ele e a todos que eu ainda conseguiria. Que tinha capacidade. Aquele seis que recebi ainda estava em minha mente e com essa afirmação pude finalizar os exercícios antes do tempo previsto.

O “sensei” pegou as questões e começou a verificá-las.

_Parabéns, Tobi, foram apenas duas erradas hoje. Merece um 8. _declarou sem vontade.

Sim, eram 10 ao todo. E eu tinha certeza que ia tirar a nota máxima. E ele ficou falando com os alunos enquanto eu olhava a forma como ele se mexia, tão sensual, leve, que quase me deixou hipnotizada. Eu disse quase. Confesso que mudou, porém em nada me encanta. N-A-D-A.

_Hinata, para uma novata até que se saiu bem, tirou um 9. _escarnio.

O quê? O que eu errei? Não, essa era uma das únicas que tinha certeza.

_Acho que precisa de óculos, sensei. Porque essa está certa. Claro que a resposta é 82. _declarou.

Após me olhar de uma forma indiferente com uma ponta de raiva, lançou-me o gabarito escolar, mostrando que a resposta era 28. Mas, tinha algo estranho. Eles pareciam estar do lado contrário e ao verificar esta mesma questão na internet percebi que tinham colocado da maneira como havia imaginado.

_Touché! _comentei da mesma forma que Sherlock Holmes faria ao descobrir um mistério.

_Nada demais. _declarou.

_Isso é para aprender a fazer as questões antes de dá-las. E eu quero que coloque nota máxima nas minhas atividades _rosnei sem jeito.

E neste instante ele deu um sorriso de lado, maléfico. Como se tivesse uma carta na manga. Algo me que faria tremer na base. E eu não estava errada.

_É, mas não fui eu que tirei um seis na última prova. Nem que fica escondido com uma câmera para filmar algo. Que tem uma única amiga. Não vai há uma festa há tempo. É motivo de mau exemplo pelo pai. Nunca mais beijou alguém... _e foi neste instante que o calei.

Ele tinha guardado tantos segredos meus, mas por quê?

Claro que a maioria não é surpresa, mas a parte do seu pai a surpreendeu.

E ao levá-lo até a prateleira dos fundos, em meios a zombarias dos nerds, colocou-o contra a parede.

_Por que sabes tanta coisa sobre mim? _fui direta.

Eu tinha nojo dele. Então o que mais queria era estar o quanto antes longe de sua presença.

_Aprenda uma coisa: é preciso conhecer nossos inimigos, ainda mais do que os amigos. _finalizou.

E então se afastou enquanto me mirava com escárnio, arrumando seu cabelo e desfilando com aquele corpo escultural.

Quando me recuperei do pavor e medo que sentia dele, e do que me proporcionava, sai do local onde estava. Só restavam lá dentro umas duas pessoas em mesas espalhadas. Esses seres então viraram os rostos em minha direção, fulminando-me como se fosse alguém de outro planeta.

Agora, mais do que nunca, eu tinha motivos para odiá-lo.