Um Amor nas Férias escrita por Val-sensei, André Tornado


Capítulo 1
A viagem.


Notas iniciais do capítulo

A vida nos pregas peças destinos desencontram
sentimentos despedaçam-se.



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As aulas da faculdade tinham terminado há alguns dias e estava a preparar-me para ir para a estrada com alguns amigos. Apesar de não estar muito animada com esta viagem, aceitei por dois motivos que me parecerem suficientemente válidos na altura da decisão: era a única que tinha carro próprio e sabia conduzir (mesmo que fosse um carro velho que eu teria de ir buscar na oficina, onde o tinha deixado para uma revisão completa, por causa da longa viagem que se avizinhava) e porque o chalé da família precisava ser arejado de vez em quando; o meu pai já tinha ameaçado vender a barraca (era assim que chamava ao chalé quando estava irritado) pois, segundo ele, ninguém queria saber do chalé das montanhas para nada.

Suspirei fundo e olhei para as malas prontas em cima da cama. Aquelas férias iriam ser partilhadas com a Sara, o Luís, a Bruna e o Gustavo.

Suspirei mais uma vez. Era a única solteira no meio de dois casais perfeitos e sabia que me estava reservado o castiçal inteiro, não apenas uma velinha, naquela viagem, mas eles insistiram tanto que não pude dizer que não e havia os tais dois motivos válidos: o meu carro e impedir a venda da barraca.

Depois do almoço, dirigia-me à oficina quando recebi um telefonema. Cliquei na tecla verde do celular.

- Lana! – A voz da Sara soou animada. – Tudo bom? Olha, esqueci a hora que você vai passar aqui em casa... – ela não conseguia conter o entusiasmo.

- Ah… Bem, tínhamos combinado entre as quatro e as cinco horas.

- Perfeito! Vou estar pronta… Nós vamos divertir muito. Vão ser umas férias inesquecíveis! – Eu conseguia perceber o estado sorridente dela através do celular. – Estarei te esperando, mais os nossos amigos. Até mais – ela desligou, sem ao menos esperar que eu respondesse.

Ótimo! Pelo menos havia alguém entusiasmado com aquelas férias. Eu iria para salvar a barraca e para servir de motorista, elas iriam para se divertirem. Podia-me divertir com elas se o Luís e o Gustavo não estivessem, seria umas férias de meninas, a fazer coisas de meninas

Depois de regressar da oficina com o carro todo afinado, entrei em casa a ansiar por um ducha. Gostava de me entregar ao chuveiro quente antes de uma longa viagem. Não apenas pelas horas que me esperavam atrás de um volante, mas para conseguir suportar a bagunça do caminho: a Sara aos amassos com o Luís, o Gustavo rindo e tirando com a cara deles, a Bruna no lugar do carona me perguntando quando eu ia arrumar um namorado.

***

Cheguei à casa da Sara perto das quatro e vinte minutos. Após os cumprimentos de praxe, as malas foram guardadas na bagageira do carro.

- Então, Lana. Pronta para encontrar com o seu futuro Clark Kent? – Brincou Bruna, me olhando com a cara de quem ia pegar no meu pé a viagem inteira.

- Até parece que se eu encontrasse um Clark Kent da vida, eu seria muito feliz. – Sorri querendo parecer irónica, mas acabou soando carente.

- Lana, quem sabe, nessa viagem, você não desencalha – falou Luís com um ar zombeteiro abraçando a cintura da Sara.

- Pois… Esquecem-se que vamos para o chalé da minha família? – Lembrei tentando, pela segunda vez, parecer irónica. Mas agora soava a louca histérica. – E da última vez que vi, não estava carregado de homens bonitos, solteiros e cobiçados pelas garotas dos arredores. O que havia lá mais eram aranhas e formigas!

- Mas as montanhas, nesta época do ano, estão cheias de forasteiros, que aproveitam estes dias para tirar férias. Assim, como nós! – Explicou Sara entusiasmada. – Quem sabe, não está lá o seu príncipe encantado.

- Infelizmente, eu já não acredito em conto de fadas faz tempo, Sara. Agora, é melhor entrarmos no carro. A viagem vai ser longa e já está a ficar muito tarde. Está difícil, começarmos estas férias!

 - Ui, deixamo-la nervosa – comentou o Luís, entrando com a Sara para o banco de trás.

Gustavo ocupou o banco da frente e Bruna foi fazer companhia para o casalinho.

Finalmente, pegámos a estrada, uma longa linha de asfalto negro que cortava a paisagem a direita, onde corria a espaços regulares o tracejado branco pintado no piso. De um lado da estrada, mato e serra. Do outro, passava de vez em quando uma fazenda, enfiada entre árvores e plantas rasteiras. O céu avermelhava-se, mostrando que a noite se instalava e que a lua seria mais uma companheira da nossa viagem até às nossas férias.

No banco traseiro, Sara e Luís se beijavam quase o tempo inteiro, Gustavo comentava se os dois não poderiam esperar para chegar ao chalé para fazerem o que queriam tanto fazer. Bruna implicava com o meu constrangimento ou então era mais desbocada, dizendo o quanto eu estava com inveja deles namorando no banco de trás do meu carro. Acrescentando que o banco de trás daquele carro, em particular, nunca tinha conhecido a condutora naquela situação e o Gustavo, vendo-me contorcer no banco e a fazer caretas, tomava o meu partido e mandava-a calar com uma palmada amistosa.

As estrelas já brilhavam e a lua fazia a sua habitual viagem noturna pelo firmamento quando o carro entrou no pequeno carreiro de terra batida que levava ao chalé da família, depois de quase cinco horas na estrada. As rodas do carro passavam pelas pedrinhas que saltavam e batiam na lataria. Eu sentia os braços e as pernas dormentes, estava cansada e os meus passageiros também. A Sara tinha adormecido no ombro do Luís, os dois grudados como gémeos siameses, com ele a abraçá-la pela cintura, mão sobre o quadril da moça, ela com as pernas sobre as dele. O Gustavo cochilava no banco da frente. Só a Bruna estava acordada, mas bocejava ruidosamente, a olhar pela janela do carro.

Vencido o carreiro, o carro estacionava num pequeno largo, em frente de um casebre construída em madeira, com o telhado inclinado, forrado de telhas pretas, para que a neve do inverno não se acumulasse, num estilo europeu, lembrando um daqueles abrigos de montanha dos Alpes. Era um chalé despretensioso, mas muito acolhedor – tinha quatro quartos em suite, uma sala e uma cozinha no mesmo cômodo. Nas traseiras, ficavam as montanhas que, àquela hora tardia, formavam um muro alto escuro. Nas proximidades havia outras casas semelhantes, também utilizadas para férias e um aglomerado de outras casas, num vale mais abaixo, que formavam uma espécie de vilarejo, onde moravam os habitantes fixos do lugar.

Espreguicei-me primeiro. Desenhei um sorriso torto e toquei na buzina do carro. O Luís e a Sara assustaram-se, ela saltou do colo dele. O Gustavo despertou estremunhado, erguendo os punhos, para se defender de qualquer coisa. A Bruna fez-me uma careta, pois percebera a buzinadela propositada.

- Bem, cambada – falei em tom de brincadeira. - Chegámos ao nosso destino.

- Lana, não precisava buzinar desse jeito. Quer matar-nos de susto? – Reclamou a Sara com as bochechas rosadas, ajeitando a saia.

Soltei um risinho e a Bruna abanou a cabeça, mas já começava a sorrir também. O Gustavo esfregou os olhos, recuperando a boa disposição e esquecendo o inimigo invisível do qual se queria defender.

- Bom, a nossa diversão vai começar – anunciou ele, batendo a porta do carro. – Nada como um saudável ar do campo, nada como um belo banho de cachoeira, nada como ver tantas estrelas no céu através das árvores altas.

E abriu os braços, olhando para o firmamento negro, inspirando o ar puro e natural.

O Luís, a Sara e a Bruna também desciam do carro animados, ele abriu a bagageira para que cada um retirasse as suas malas. Eu olhava para aquele chalé rústico, envolvido por alguns pinheiros, a barraca, segundo o querido do meu pai, onde tinha passado excelentes momentos da minha infância, que guardava, em muitos recantos, recordações especiais. E mesmo que tivesse aquele aspeto desleixado que eu conseguia entrever à pouca luz que a noite disponibilizava – um jardim sem vida abandonado pelo tempo, bancos velhos e enferrujados em volta de um grande chafariz coberto de musgo, galhos secos espalhados e teias de aranha oscilando à brisa fresca – jurei a mim mesma lutar sempre por aquele lugar, protegê-lo contra os arremedos de mau humor do meu pai e evitar, com todas as minhas forças, que fosse vendido e que eu o perdesse para sempre. Nem que, para isso, tivesse de servir de castiçal a dois casais de amigos fantásticos.

O aspeto geral do chalé não passou despercebido.

- Poxa, Lana. Podia ao menos ter contratado alguém para limpar o chalé. Olha só o estado disto! – Protestou a Bruna no alpendre, analisando algumas teias de aranha nos pilares que sustinham a cobertura.

- Não acha que está querendo de mais, amiga? – Perguntei com cara de tédio, caminhando até à porta com uma mala em cada mão e uma mochila nas costas. – As finanças da minha família estão um pouco em baixo. Temos lá dinheiro para contratar alguém para fazer a manutenção da casa de férias. O meu pai até quer vender isto, já tinha explicado…

- Podemos faxinar amanhã e dar um jeito nessas teias de aranha que incomodam tanto a Bruna – sugeriu o Gustavo retirando a última mala, fechando a bagageira do carro.

- Você está louco, não é, Gustavo? – Gritou a Sara arrastando as malas dela. – Viemos aqui para passear, não para trabalhar. Estamos de férias, lembra? – E acrescentou a ranger os dentes: - Ou quer que eu desenhe para você?

A Sara sempre fora alérgica a trabalho físico. Vivia afirmando que estava talhada para ser uma grande senhora. Já carregar com a sua própria bagagem era um sacrifício, notava-se pela carantonha que fazia a arrastar os dois pesados sacos que deviam estar cheios de lingerie sensual, de estojos de maquilhagem e acessórios desnecessários para uma estadia no campo.

O Luís aliviou-a do seu tormento ao tirar-lhe os sacos das mãos, dizendo ao mesmo tempo:

- Querida Sara, a Lana é a nossa anfitriã e devemos ser agradáveis com ela. Estou de acordo com o Gustavo. Faxinamos amanhã… Não vai custar assim tanto, pois somos quatro. – Não incluía a Sara naquilo, era notório. – Acho que nos vai ocupar apenas a manhã. E depois, proponho um piquenique na cachoeira.

- Combinado! – Exclamou a Bruna, que sempre se inscrevia para trabalho voluntário na faculdade. – Então, Lana?

- OK, OK… Combinado…

Abri a porta e veio do interior uma baforada de mofo, típica das casas fechadas há muito tempo. Completei cansada:

- Vamos arrumar as camas logo, que eu estou cheia de sono.

O Gustavo passou um braço por cima dos meus ombros.

- Eu faço a tua cama. Deves estar mesmo morrendo de sono, amiga… Foi a única que não pregou o olho durante a viagem.

- Eu estava dirigindo! – Apontei incrédula. – Não podia pregar olho, ora!...

A Bruna passou por nós, observando:

- Olha que eu fico com ciúmes, hein? Olha aí, Gustavo!...

- O que foi, Bruna do meu coração?

E, para provocá-la, deu-lhe uma palmada no traseiro que a fez saltar.

- Ei!! – Protestou ela.

Libertei-me do braço do Gustavo. Liguei o quadro elétrico e acendi as luzes do cômodo, uma sala espaçosa, ao fundo um balcão que dividia o espaço numa cozinha pequena, mas com o essencial para cozinhar e tomar as refeições. Os móveis estavam cobertos por tecidos brancos para os proteger do pó e o chão exibia uma fina camada de poeira onde as nossas pegadas ficaram marcadas. Do lado direito ficavam as quatro portas que conduziam aos quartos. A Sara entrou farejando o ar, torcendo a cara com os odores que ia encontrando, caminhando devagar com medo de ser surpreendida por alguma barata. O Luís abraçou-a e deu-lhe um beijo na orelha, distraindo-a da sua tarefa inspetiva.

Eu fechei a porta e distribuí os quartos. Devia ser a pior noite, expliquei, porque faltava a necessária faxina, mas era tarde demais para nos preocuparmos com isso e eu estava cansada demais para sequer me importar.

Esperavam-nos umas férias preenchidas, pensei quando pousei a cabeça no travesseiro e fechei as pálpebras pesadas, no escuro do meu quarto. Muito trabalho, brincadeiras, alguns arrufos, namoros exagerados, banho de cachoeira que terminava sempre com alguém pelado e com algum casal mais entusiasmado, fazendo aquele tipo de coisa que os casais entusiasmados fazem e que eu preferia nem saber, pois ficava sempre mergulhada numa depressão nessas alturas e a remoer que não havia mesmo volta a dar, que eu tinha nascido para tia.

***

As portadas da sala estavam abertas de par em par fazendo entrar o sol em catadupa por ali adentro. Os quartos também estavam de janelas escancaradas e a corrente de ar que varria o chalé de uma ponta à outra trazia o cheiro agradável dos pinheiros e a pureza da montanha. O Gustavo e o Luís terminavam o trabalho no jardim. Já tinham varrido as folhas e os galhos secos e raspado o musgo do chafariz, tinham também cuidado do alpendre. Acenei-lhes enquanto pousava os sacos de papelão com as compras que tinha feito no vilarejo do vale. Adquirira alguma comida para forrar a despensa e para preparar o café da manhã daquele primeiro dia de férias e outras aquisições especiais. Agitei a lata de tinta antiferrugem e o Gustavo entrou na sala. Entreguei-lhe também a trincha e ele saiu assobiando para se dedicar à próxima tarefa: pintar os bancos do jardim e dar-lhes um aspeto renovado.

A Bruna limpou a testa com as costas da mão, soprando, indicando que tinha acabado de lavar o chão. Tinha também ajudado a destapar os móveis e a arrancar as teias de aranha, acompanhando-me na limpeza geral do chalé, antes de eu ter pegado no carro e ter ido até ao vilarejo. A Sara distraía-se a pintar as unhas dos pés e limitara-se a puxar para cima as cobertas da cama que partilhara com o Luís. Da parte dela, tinha ajudado que bastasse na faxina forçada.

- Agora, precisamos todos de um banho na cachoeira – disse a Bruna.

- Concordo – disse a Sara fechando o frasco do verniz.

- Nossa! Olha só o jardim! Como ficou bonito! – Exclamou a Bruna.

- É… O Luís tem muito jeito para esse tipo de coisa.

- Um excelente futuro marido… hein, amiga?

E a Sara soltou um risinho.

- Mas antes do merecido banho de cachoeira, amigas… – disse eu. – Vamos comer qualquer coisa. Eu estou esfomeada! E aposto que os nossos “futuros maridos” – fiz o sinal de aspas com os dedos. – também estarão.

A Sara saiu para o alpendre e ficou a observar o Gustavo a pintar o primeiro banco de jardim, o Luís dando indicações e segurando a latinha, os dois de tronco nu, suados, brilhando ao sol. A Bruna ajudou a colocar a mesa. Uma travessa de fruta, bolinhos, suco de laranja e eu fui preparando o café. Depois chamei-os com um grito estridente, no preciso momento em que o Gustavo terminava de pintar o primeiro banco de jardim. Entrou comentando:

- Que grito, Lana. Hoje amanheceu animada. Aconteceu algo de especial no vilarejo?

- Bom dia também para você.

- Bom dia.

Deu-me um beijo na cara só para me ver corar. E depois acrescentou trocista:

- Ah… Já sei. Não foi um encontro no vilarejo, foi na sua cama. Sonhou que encontrava um amor para cantar um dueto com você. – E cantarolou para cima de mim: – Em teus sonhos dou um beijo de amor, em um…

- Ai Gustavo, não estraga meu dia – protestei enfezada, enrugando a testa.

A Bruna puxou-o pela cintura, obrigando-o a sentar-se numa das cadeiras, diante de uma generosa xícara de café preto fumegante.

- Deixa a nossa amiga.

- Que falta de senso de humor. Era só uma canção!

- Xii… Você está fedendo, Gustavo – disse a Bruna para tentar mudar o rumo da conversa. – Precisa de um banho.

A Sara sorriu para o Luís enchendo um copo de suco.

- De cachoeira? – Perguntou o Gustavo com um ar de malícia.

- Claro!

- Só se for pelado.

A Bruna sentou-se ao meu lado.

- Logo para começar, Gustavo? Que exagero!

- E a Lana também… Hein, amiga? Vamos nadar sem roupa na cachoeira.

Eu sentia a cara a escaldar e, de repente, tinha perdido a fome. Segurava um bolinho na ponta dos dedos mas não o conseguia meter na boca. Bebi um grande gole de suco de laranja para refrescar-me e para ver se a secura passava.

- Acho que ela não vai querer ir – apontou o Luís.

- Ora, porquê?

- Para de implicar com ela – defendeu a Bruna. – Ouviu, Gustavo? Já se esqueceu que ela é a nossa anfitriã e que esta é a casa dela?

Levantei-me nervosa.

- Eu… Acho que vou pegar um pouco de ar.

E saí pela portada escancarada. O jardim cheirava a tinta fresca.

- Melhor ir pedir desculpas a ela – disse a Bruna carregando uma sobrancelha para o Gustavo.

Ele tinha a boca cheia de bolinhos e encolheu os ombros. A Sara acrescentou num tom petulante, bebericando o seu café:

- É. Senão, acho que não vai haver banho de cachoeira para ninguém, viu? As férias acabam hoje e antes mesmo de terminarem de pintar o segundo banco do jardim.

***

Contornei o chalé e entrei por uma trilha que ficava nas traseiras. Os meus passos eram rápidos, queria distanciar-me depressa da humilhação sofrida. O sol morno da manhã batia-me no rosto, as sombras das árvores estendiam-se pelo chão verde, as flores silvestres balançavam com a brisa.

A raiva ia passando aos poucos por cada passada acelerada que me afastava do chalé. A natureza que me envolvia ia arrancando aquela sensação ruim de solidão entranhada, como se eu me despisse de camada sobre camada de roupa, que eu usava desnecessariamente num dia demasiado quente. Eu sabia que eles eram meus amigos, sabia que o Gustavo adorava curtir com a minha cara, mas não gostava que ele me recordasse o tempo todo que eu nunca tinha tido o expediente necessário para arranjar um namorado e que, nessas matérias, era tão inexperiente.

Parei. Olhei o céu azul onde pairavam algumas nuvens brancas que pareciam algodão. Vi os pássaros a voar no céu e quis ser como eles, sem preocupações, aproveitando a liberdade e a beleza do dia.

Foi quando ouvi um gemido baixo e distante.

Estaquei, estreitando os olhos, sustendo a respiração e apurando o ouvido para não me deixar confundir pelos sons do bosque.

Ouvi novamente o mesmo gemido.

Com passos cautelosos, controlando a respiração, segui o som, receando perder o rasto auditivo que me guiava por entre as árvores até que descobri uma gruta muito bela à minha frente.

A entrada era formada por pedras azuis que brilhavam ao sol. Uma pequena nascente brotava mais abaixo e ia encher uma lagoa mais adiante, rodeada de plantas exuberantes e de flores coloridas.

Olhando para todos os lados, o coração aos pulos, entrei na gruta, convencida que o gemido vinha daí. A escuridão do interior era medonha mas até onde a claridade do dia conseguia penetrar, deixava ver um espetáculo memorável de paredes feitas de pedras verdes, azuis e vermelhas, onde existiam pinturas históricas deixadas há milhares de anos por quem seguramente vivera ali. Um sopro inesperado mexeu com os meus cabelos castanhos, que eu cobrira com um pano para a faxina.

Ouvi o gemido mais perto e senti um frio percorrer a minha espinha. As minhas mãos começaram a tremer, pois eu entrava na escuridão da gruta e esta deixava de ser bela sem a claridade do dia para lhe revelar os detalhes espetaculares.

Os gemidos soavam mais fortes, como se fossem fruto de uma dor lancinante e eu não conseguia deter os meus passos, pois ia ficando cada vez mais curiosa e assim vencia o meu medo. Algo escamoso e frio passou por cima do meu pé e eu gritei. Surgiu uma voz no fundo da gruta:

- Me ajude... Alguém...

A voz era fraca, o gemido que se seguiu também foi mais fraco, como se quem quer que estivesse a sofrer ali dentro fosse perder a consciência a qualquer momento.

- Quem está ai? – Perguntei, com a voz embargada.

Mas, envolvida na excitação da aventura, não recuei. Aproximei-me um pouco mais e descobri um vulto. Pisei algo molhado e viscoso. Agachei-me, molhei os dedos e o odor férreo disse-me que era sangue. Gritei.

- Me ajude…

Uma mão agarrou-se ao meu pulso e puxou-me. Gritei outra vez e comecei a ter dúvidas se queria ser a heroína do momento e salvar quem quer que estivesse ali.

Mas eu já estava envolvida e não podia ir embora.


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